Os males da murmuração

Para muitos, palavras são apenas palavras. Porém, segundo o ensino de Jesus, em Lucas 6.45, elas são a expressão fiel daquilo que nos domina. Através da fala expressamos nosso mundo interior. Assin que falamos produz resultados em nós mesmos. Se n sas palavras forem boas, todo o nosso comportamento minhará nesse sentido. Todavia, durante uma crise, há mal que nos rodeia: a murmuração.

Murmurar significa maldizer, difamar. Consiste em as­sumirmos uma postura incrédula, desesperançada e, não raro, temperada com ódio e revolta. Sem esforço, percebe­remos o caráter anticristão dessa atitude. A história bíblica é marcada pela murmuração. No Antigo Testamento, Isra­el foi o protagonista da cena, quando no Egito, ansiava por uma pátria. Bastou poucos dias no deserto para o povo ter saudade da escravidão. A murmuração foi generalizada. Re­clamaram da comida, da água, da saúde, do lugar e até da demora de Moisés no Monte Sinai. O libertador foi duramente provado. O homem mais manso da Terra irritou-se e acabou não entrando na sonhada Canaã (Nm 20.11-12). A murmuração sempre traz prejuízos.

À luz de Eclesiastes 3, existe tempo para todas as coi­sas. Nada é eterno. O mal que hoje nos incomoda vai pas­sar. Precisamos compreender que certas alterações no mun­do são absolutamente naturais. A vida é feita de contrastes. O dia mau também chega, mas termina, da mesma forma que a flor mais bela murchará ao anoitecer.

Senso crítico

Para afastarmos a murmuração, precisamos ter senso crítico perante todas as coisas. Seja na paz ou na tormenta, devemos perceber com clareza o que estamos vivenciando. Deus quer que refluamos cm meio à crise. Só assim tere­mos paz c conservaremos nossa identidade cristã.

Se não meditamos, e apenas murmuramos, perdemos visão da essência. Foi o que aconteceu com a nação judaica. Quando o Messias apresentou-se, eles estavam tão ei voltos em problemas com o Império Romano que não conseguiram reconhecê-lo. Devido ao murmúrio, Israel nà conheceu o tempo de sua visitação (Lc 19.44).

O que dizer de João Batista? O próprio Cristo declaro sua grandeza (Mt 11.11). Ao batizar o Senhor, o profel publicou a divindade do Messias. Porém, quando chegou crise, João duvidou de tudo. Do cárcere, enviou mensage: ros a Jesus, querendo saber se porventura não havia se er ganado (Mt 11.2-3). Essa atitude revela murmuração, ic credulidade, crise de auto-afirmação. Quando murmura mos, mesmo permanecendo cris­tãos, não conseguimos discernir bem a pessoa de Jesus.

Em nosso país. a situação não é das melhores. Enfrentamos proble­mas estruturais relacionados com saúde, educação, emprego, além dos frequentes escândalos públicos, envolvendo desvios de verba, jogos de interesse e corrupção quase ge­neralizada das instituições que nos dirigem. E nesse mar de dificulda­des que a murmuração surge.

Nossos problemas, porém, não se esgotam lá fora. Sem­pre haverá algo que nos incomode na igreja ou na comuni­dade cristã como um todo. Até aí, trata-se de um simples reconhecimento de um problema, nada de excepcional. Mas, esse é o limite. Se ultrapassarmos esse marco, daremos lu­gar à murmuração e, então, Deus se mostrará alheio ao nos­so sofrimento.

Biblicamente, nossa autojustiça impede a ação divina. Em outras palavras, o Senhor sempre está disposto a in­terceder por nós, mas quando tomamos a frente dos proble­mas, Ele se afasta para que ajamos com liberdade. A murmuração produz esse efeito. Ela revela uma alma duvidosa, incrédula quanto à provisão de Deus para nossas vidas.

Equilíbrio

Fomos alertados que teríamos problemas aqui, mas Jesus prometeu sempre estar conosco. Isso é suficiente. Eleja venceu o mundo que ainda nos incomoda. Mesmo suportando o maior sofrimento. Ele não abriu sua boca; entregou-se como ovelha muda perante os seus tos-quiadores (Is 53.7). Nunca reclamou, nunca murmurou contra Deus ou contra os homens. Suas atitudes e pala­vras revelavam uma alma equilibrada. Seus lábios só pro­duziam edificação.

Em Filipenses 2.14, Paulo adverte: “Fazei todas as coi­sas sem murmurações nem contendas”. Parece que os pri­meiros cristãos seguiram à risca esse mandamento. Quan­do rebentou a perseguição geral contra a Igreja, eles se mostraram serenos. Saudaram a morte com cânticos de vitória e, sem exceção, morreram abençoando seus car­rascos. Durante a agonia, aqueles mártires preferiam exaltar o bom nome de Cristo. Nem o fogo, nem a água, nem a espada, nem as pedras, nem as feras conseguiram mudar esse propósito.

Ainda o mesmo apóstolo ensina-nos a vencer a mur­muração, quando diz: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhe­cidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimen­to, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus”, Fp 4.6-7.

Sigamos os passos de Jesus e da Igreja Primitiva. Em tempos de crise, troquemos a murmuração pela interces­são. Assim, evitaremos o fatal destruidor (I Co 10.10).

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Fonte: Rui Raiol (Revista Pentecostes – Julho /2000).

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