Os Magos e as Testemunhas De Jeová

Os magos do Oriente que visitaram Jesus, ainda bebê, eram astrólogos, isto é, feiticeiros? Sei que as ‘Testemunhas de Jeová’ ensinam que eles eram servos ou mensageiros do Diabo. Gostaria de um esclarecimento bíblico sobre este assunto.

A palavra mago (do grego mágos, do lat. magu) tem vários sentidos, dos quais mencionamos os seguintes: a) Feiticeiro, mágico, especialista em magia, encantador, bruxo;  b) Astró­logo e sacerdote da religião de Zoroastro, entre os Medos e os Per­sas. (1); c) Sacerdote, sábio em astrologia, religião e ciências ocul­tas. (2); d) Palavra usada tanto no bom sentido de astrólogos eruditos, como no mau sentido, dos que prati­cavam magia. (3)

Os magos, citados na Bíblia, que adoraram ao Jesus Infante não passariam de bruxos, de feiticeiros? Não o cremos. Seriam eles mensageiros de Satanás? Consideramos isso inverossímil.

O texto de Mateus 2.12 revela que os magos foram por divina revelação avisados em sonhos, para que não voltassem para junto de Herodes, coisa improvável se se tratasse de feiticeiros.

Eles tinham também conheci­mento do nascimento do Salvador – o rei dos judeus, e pela fé procuraram-no até encontrá-lo. Deus guiou-os através de uma estrela. Os magos adoraram o Filho de Deus, cheios de regozijo, e ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra, dádivas que poderão ter um significado espi­ritual.

Apesar de uma pequena minoria de Pais da Igreja (Inácio, Justino, Tertuliano e Hilário) entender que a narrativa bíblica dos magos em causa era um símbolo da vitória da fé cristã sobre a feitiçaria e a magia, a maioria deles e de parte significativa dos exegetas cristãos rejeita seme­lhante interpretação.

Os magos viviam em Babilônia, Pérsia, Egito, Grécia e outros paí­ses. Muitos deles eram bastante considerados pelos monarcas e imperadores, exercendo preponde­rância nas esferas política, religiosa, cientifica e social. Cultivavam, via de regra, a astrologia, a alquimia, a matemática e a medicina.

A astronomia, que é uma fasci­nante ciência, nasceu da astrologia (arte proposta de prever o futuro das pessoas através da observação dos astros). Homens famosos como Tácito, Galileu, Tomás de Aquino, etc., estudaram a astrologia, em especial os sábios Kepler e Newton, os quais criaram as bases da astro­nomia hodierna.

Assim, não nos repugna aceitar os magos que visitaram Jesus como astrólogos (no sentido positivo da palavra). Eles seriam sábios, filóso­fos, eruditos, e nunca meros adivi­nhos ou feiticeiros, cujas práticas são condenadas por Deus. (êx. 22.18; Lv. 20.27; Dt. 18.10-12; Ap. 21.8)

Eles não eram, com certeza, indi­víduos do tipo de Simão (At 8.9-11) ou Elimas (At 13.6-11), mas talvez personagens oriundas de alguma ordem de sacerdotes ou grupo de sábios existentes em Babilônia nos dias do profeta Daniel. (Dn. 1.20; 2.1; 4.6,7). É interessante ser Daniel conhecido por príncipe dos magos (Dn. 4.9) ou chefe dos magos (Dn. 5.11), quando na realidade não era nenhum feiticeiro, encanta­dor ou necromante.

No intuito de se fornecer mais alguma luz sobre o assunto em cau­sa, tomamos a liberdade de reprodu­zir a opinião de alguns escritores relativamente aos Magos citados no Evangelho de Mateus 2:1 a 12.

Tasker escreve: Estes astrólogos especializados, com a sua caracte­rística curiosidade científica, tinham visto um notável fenômeno astroló­gico cuja exata natureza não é reve­lada. Familiarizados com a crença contemporânea generalizada de que o tempo estava propício para o apa­recimento de um rei que nasceria na Judeia, o qual reivindicaria homena­gem universal e introduziria um reino de paz, eles partiram para tal país a fim de testar a veracidade da sua conjectura. (4)

Referindo-se àqueles que especu­lam concernente aos magos, Orlando Boyer diz: Há tanta fanta­sia acerca desses magos do oriente que é difícil distinguir entre fábula e fato. Imagina-se que eram sábios, que eram três em número, que se chamavam Gaspar, Melchior e Baltazar, que vieram, um da Gré­cia, outro da Índia e ainda outro do Egito. Tudo isso pertence tanto à ficção como as descrições da sua viagem, seu batismo depois por Tomé, a descoberta dos seus ossos no século IV, os ossos transferidos ira a Igreja de St.a Sofia, em Consntinopla, depois levados para Milão, e, por fim, transportados, por Frederico Barba-Roxa, para Colônia, onde os três crânios dos magos(?)  estão guardados num santuário de ouro! (5)

O excelente expositor Ryle comenta: Nada sabemos a respeito dos magos; ignoramos não só os sus nomes como as suas nacionalidades. A Escritura apenas nos diz que vieram do Oriente. Não Sabemos, portanto, se eram caldeus ou árabes. Não podemos, por consequência, afirmar se foram informados da vinda de Cristo pelas dez tri­os levadas cativas, ou pelas profecias de Daniel. Aliás, isto pouco nos importa. Mateus 2:1-12 demonstra que há verdadeiros servos de Deus em lugares onde absolutamente não esperaríamos encontrá-los. Jesus tem muitos discípulos morando em lugares ignorados como estes magos; como Melquisedeque, Jetro e Job, são eles pouco conhecidos; seus nomes, porém, estão escritos no livro da vida, e eles falarão com Cristo no dia do juízo.

O proceder dos magos constitui exemplo admirável de fé. Creram em Cristo sem absolutamente O terem visto. Ainda mais: creram n’Ele apesar de os escribas e fari­seus se mostrarem incrédulos. Os magos não só creram n’Ele, quando O viram recém-nascido nos braços de Maria, mas também O adoraram como Rei e, por este ato, deram eloquentíssima prova de fé. Não foram testemunhas de milagres que os convencessem; não ouviram as doutrinas do Mestre; não viram sinais de divindade ou grandeza. Viram ape­nas um recém-nascido que, como outro qualquer, necessitava de cui­dados de Sua mãe. Apesar disso, quando O viram, não duvidaram que estavam diante do divino Salvador. Prostrando-se, adoraram-no. (6)

São da pena do teólogo John Broadus as seguintes palavras: É provável que estes magos do oriente não fossem astrólogos ou adivinhadores vulgares, mas pertencessem à velha classe persa, muitos mem­bros da qual ainda mantinham uma alta posição e caráter elevado. Semelhantemente não é certo que eles viessem da Pérsia ou da Babilô­nia; nesta última região os judeus eram então muito numerosos e influentes, e na Pérsia também eram objeto de interesse especial, desde o tempo de Ciro. De qualquer manei­ra, a visita e homenagem prestada pelos ‘magos do oriente’ seria esti­mada pelos judeus, e era de fato o tributo mais impressivo dado ao Messias infante. (7)

Parafraseando Cristo, em Mat. 12:41,42, diremos que os Magos, como os ninivitas e a rainha de Sabá, levantar-se-ão no dia de juízo conde­nando todos quantos tiveram mais luz acerca do Messias, e O despre­zaram.

Concluímos este artigo com a reflexão de Martinho Lutero sobre Mateus 2:1 a 12. Escreveu o Refor­mador alemão: Vemos aqui como Cristo tem três espécies de discípu­los: 1. Os sacerdotes e escribas, que conheciam a Escritura, e ensinavam a qualquer, mas eles mesmos não faziam. 2. Herodes, que cria no que a Escritura dizia, que o Cristo nascera, mas se opusera a isso, procurando anular o que a Escritura dizia. 3. Os magos piedosos, que deixaram seu país, casa e lar, e fizeram o que podiam para achar Cristo.

(1) Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse;

(2) Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa, de Antenor Nascentes;

(3) Mateus, Introdução e Comentário, pg. 32, de R. V. Tasker;

(4) Op. cit. pg. 29;

(5) Mateus o Evangelho de Rei, pgs. 31 e 32;

(6) Comentário Expositivo do Evangelho Segundo Mateus, de J. C. Ryle, pgs. 12 a 14;

(7) Comentário de Mateus, I Vol. pg. 72.

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FONTE: REVISTA NOVAS DE ALEGRIA – 1983

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