A Igreja tem enfrentado perigos e sofrido ameaças as mais diversas ao longo da sua história. No princípio Satanás usou os governantes déspotas, principalmente os imperadores romanos, com o fito de destruir a Igreja. Nesse período da história, a começar com o martírio de Estêvão (At 7.59), milhares de fiéis discípulos de Jesus foram mortos por causa da fé que professavam. Deus, porém, reverteu os intentos do Diabo, transformando as perseguições numa das principais causas do triunfo da Igreja. Os próprios imperadores, patrocinadores das perseguições à Igreja, foram forçados a constatar que o sangue dos cristãos que ensopava a areia das arenas, era como semente lançada em terra fértil. Sucumbia um cristão fiel e isto se transformava em elemento germinador de novos cristãos.
Vendo frustrados os seus intentos de destruir a Igreja por meio da perseguição, Satanás lança mão doutra arma, segundo ele desta vez infalível. Ele semeou o joio das heresias no meio do trigal de Deus (Mt 13.39).
FALSOS PROFETAS NO ANTIGO TESTAMENTO (v.1)
Profetas do embuste (Êx caps. 7 e 8). Toda a grande verdade de Deus sofre a oposição duma mentira paralela. Moisés teve de enfrentar esta realidade cedo no seu ministério de libertação no Egito. Note que os magos do Egito, que assistiam junto a Faraó, repetiram a dois dos milagres operados por Deus através do seu servo Moisés. Assim como Moisés, pela magia eles foram capazes de transformar água em sangue, e de reproduzir a praga das rãs (Êx 7.20-22; 8.7). Porém, incapazes de reproduzir a praga dos piolhos, foram forçados a reconhecer que os milagres operados através de Moisés, eram resultantes da ação do “dedo de Deus” (Êx 8.18,19).
Profetas do desânimo (Nm 13.31-33). Após vários dias de peregrinação dos filhos de Israel, ao longo do deserto de Parã, por orientação de Deus, Moisés enviou doze espias para inspecionarem a terra (Canaã) a ser conquistada. Após vasculharem a terra, todos foram unânimes em afirmar que a terra percorrida “verdadeiramente mana leite e mel.” E como prova da abundância da terra, trouxeram a Moisés um grande cacho de uva ali colhido (Nm 13.27). Todos estavam de acordo de que as cidades da terra a ser conquistada, eram guarnecidas por grossas muralhas, e que entre os seus habitantes havia os filhos de Anaque, uma raça de gigantes que precisavam ser vencidos para que a terra fosse tomada. Até aí tudo bem. Porém, ao contrário de Josué e Calebe, os outros dez espias enviados, disseram a Moisés e à congregação dos filhos de Israel: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte que nós… A terra, pelo meio da qual passamos a espiar, é terra que consome os seus moradores; e todo o povo que vimos no meio dela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos nós aos seus olhos.” (Nm 13.31-33).
Profetas da mentira (1 Rs 22.3-8). Tendo de lutar contra o rei da Síria, Acabe buscou e achou apoio na pessoa de Josafá, rei de Judá. Porém, antes de partir para o campo de batalha, disse Josafá ao rei Acabe, rei de Israel: “Consulta, porém, primeiro hoje a palavra do Senhor” (1 Rs 22.5). Então o rei de Israel ajuntou cerca de quase quatrocentos profetas, e lhes perguntou: “Irei à peleja contra Ramote de Gileade, ou deixarei de ir? E eles disseram: Sobe, porque o Senhor a entregará na mão do rei” (1 Rs 22.6).
Era grande o coral dos profetas de Acabe, porém, por razões que o texto bíblico silencia, Josafá indaga: “Não há aqui ainda algum profeta do Senhor, ao qual possamos consultar?” (1 Rs 22.7). É evidente que havia um profeta do Senhor, que não estava naquela reunião, a quem Acabe conhecia mui bem, porém o detestava. Por quê? Respondeu Acabe a Josafá: “Ainda há um homem por quem podemos consultar ao Senhor; porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim bem, mas só mal; este é Micaías, filho de Inlá” (1 Rs 22.8).
Micaías era “impopular” como profeta junto ao rei Acabe. É que ele não se deixou levar pelo “discurso” da maioria, que a despeito de saber que o monarca vivia em aberto e declarado pecado, ainda assim só “profetizavam” o bem a seu respeito.
UM FUTURO SOMBRIO (2 Pe 2.1-3)
O apóstolo Pedro, bem como os apóstolos João, Judas e Paulo, pelos olhos do Espírito, previram dias sombrios quanto ao futuro da Igreja. Estes apóstolos do Senhor Jesus Cristo vislumbraram o surgimento dos falsos profetas e o estrago espiritual que eles causariam no meio do rebanho do Senhor.
Os falsos mestres sob a perspectiva de Pedro. Quanto ao surgimento dos falsos mestres nos arraiais cristãos, previu o apóstolo Pedro: “…entre vós surgirão… falsos doutores” (v.l). Quanto ao que eles farão e o que lhes sucederá, diz o apóstolo que: a) Eles introduzirão encobertamente heresias de perdição no meio do rebanho (v.l); b) Eles negarão o Senhor que os resgatou (v.l). Note que a algum tempo eles experimentaram o resgate pelo sangue de Jesus, c) Eles sofrerão repentina perdição (v.l); d) Muitos seguirão as suas dissoluções (v.2); e) Eles blasfemarão o caminho da verdade (v.2); f) Farão negociata envolvendo o povo de Deus como se esse fosse objeto e negócio de venda (v.3).
Os falsos mestres sob a perspectiva de João (1 Jo 4.1-6). A defesa da verdade alcançou ó seu apogeu nos escritos do apóstolo João. De forma especial o seu Evangelho, respondeu às principais questões levantadas pelo gnosticismo, acentuadamente quanto à divindade de Jesus Cristo.
O Gnosticismo. Palavra oriunda de “gnosis” (=conhecimento), gnosticismo é o nome comum aplicado a várias escolas de pensamento que surgiram nos primeiros séculos da era cristã. No que tange a gnósis cristã, isto se refere à tentativa de incluir o cristianismo num sistema geral filosófico-religioso. Os elementos mais marcantes neste sistema eram certas especulações místicas e cosmológicas, além da doutrina da salvação salientando o livramento do espírito de sua servidão à matéria. Como religião, o gnosticismo tinha seus próprios mistérios e cerimônias sacramentais, além duma ética que pregava ou o ascetismo ou a libertinagem.
Possíveis origens do gnosticismo. A maioria dos Pais da Igreja concorda que o gnosticismo iniciou com Simão, o mágico de Atos 8. Segundo um certo Hegesipo. citado por Eusébio numa de suas obras, o gnosticismo principiou entre certas seitas judaicas.
Os falsos mestres sob a perspectiva de Paulo (1 Tm 4.1-5). É realmente surpreendente a exatidão do cumprimento desta profecia de Paulo quanto ao surgimento da apostasia e abandono da fé, devido a ação deletéria dos falsos mestres e profetas da mentira. Segundo Paulo, estes são “homens que falam mentiras tendo cauterizado a sua própria consciência.”
Os falsos mestres sob a perspectiva de Judas (vv.3-19). Note a harmonia entre estes dezesseis versículos, do único capitulo da Epístola de Judas e o texto de 2 Pedro 2.1-3,11-20, usado como texto para leitura bíblica em classe, desta lição. Isto não se dá por um mero acaso. Pelo fato da Epístola de Judas ter sido escrita mais ou menos seis anos após a Segunda Epístola de Pedro, a idéia que nos vem à mente é que Judas tenha lido essa Epístola antes, e tenha tomado a mesma linha de pensamento deste apóstolo. Além do mais, não devemos nos esquecer que tendo estes dois apóstolos vivido num mesmo período da história da Igreja, era natural que eles encarassem os mesmos problemas na área da doutrina, pelo que demonstraram igual zelo ao combater os falsos mestres e os seus ensinos,.
III. OS FALSOS PROFETAS HOJE
As principais doutrinas inventadas e difundidas pelos falsos profetas e mestres, normalmente giram em torno da pessoa e obra de Jesus Cristo. O que os falsos profetas creem quanto à pessoa de Jesus Cristo, exerce forte influência no que eles creem quanto à Bíblia, ao pecado, à redenção, e ao porvir.
A pessoa de Jesus Cristo. Desde o princípio da Igreja, com exceção dos apóstolos e daqueles que realmente conhecem a Jesus, cada homem se vê no direito de pensar e responder a seu modo à pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (Mt 16.13).
Alguns que o viam citando a lei e confirmando-a, simplesmente diziam: “Este é Moisés”. Outros que testemunhavam o seu zelo em converter os homens ao único e verdadeiro Deus, simplesmente respondiam: “Este, sem dúvida, é Elias”. Outros que O viam chorar apaixonadamente sobre cidades impenitentes, diziam: “Este é Jeremias”. E outros que O viam pregar o arrependimento, confessavam a seu respeito: “Este é João Batista”. Somente Simão Pedro respondeu por revelação do Espírito divino: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16.16).
Um sinal dos tempos. O ensino deturpado a respeito de Cristo tem se constituído num dos mais evidentes sinais dos tempos.
O futuro dos falsos profetas. Pedro descreve os falsos profetas e mestres usando os mais diferentes adjetivos. Aponta-os como desobedientes às autoridades, blasfemadores da verdade, nódoas, tendo os olhos cheios de pecados, exercitados na avareza, filhos da perdição, seguidores do caminho de Balaão, servos da corrupção. A estes que estão carregados de tanto pecado, 2 Pedro 2.4, assegura que “se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para juízo”, sobre os falsos mestres virão o juízo e o castigo divinos.
Quanto a nós, exorta-nos Judas “a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” (Jd v.3).
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LIÇÕES BÍBLICAS – CPAD – 1986