Os mortos, é evidente, dividem-se em duas classes: os justos e os injustos – Dn 12.2; Jo 5.28,29. Em estudo anterior consideramos a ressurreição dos corpos, mas agora pesquisaremos acerca da habitação de seus espíritos enquanto aguardam o juízo final. A Bíblia ensina que à morte, a alma é o espírito do homem, no caso do injusto, não seguirão imediatamente para o lugar final de castigo, mas sim que irão a um lugar temporário, à espera do juízo do Grande Trono Branco (Ap 20.4), depois do qual irão para o lugar de suplício eterno, ou seja, o Lago de Fogo (Geena).
Os Mortos – Justos. Todos os justos, de Adão até à ressurreição de Cristo ao morrerem, suas almas (com a possível exceção de Enoque e Elias), desciam ao “Paraíso”, que naquele tempo constituía um “compartimento” do “Seól” (Hades no grego). Entre esse lugar e o lugar dos injustos, no mesmo “Seól”, havia uma separação, Lc 16.26. O Seól ou Hades, como descrito nas Escrituras, é um mundo sombrio, um lugar de espera, até para os mais santos. No Velho Testamento a morte dum patriarca é descrita como sendo “reunido” ao seu povo – Gn 25.8; 35.29; Nm 27.13. É o que significa a expressão em Lc 16.22, quando os anjos conduzem Lázaro para o “seio de Abraão ou paraíso“. A morte dum santo era uma “descida” da alma a certo lugar para baixo, Is 5.14; Gn 37.35; 42.38; Nm 16.33. Em Is 5.14 os ímpios descem à boca aberta do “Seól” (não “cova ou sepultura”, como traduzida em Almeida). Nas passagens de Gênesis temos Jacó pensando em sua morte, dizendo: “… descerei a meu filho à “sepultura” (a palavra no hebraico é “Seól” e não “queber” (vala ou cova), outro caso de má tradução! Jacó cria que seu filho José estivesse vivo no Seol. Em Nm 16.33 Core, Data e Abirão “desceram vivos ao abismo”, a terra literalmente os tragando. Nesta passagem a palavra “abismo”, no original é “Seól”. Consequentemente, concluímos, pela leitura destas e outras correlatas passagens, que o Seól, ou Hades, o mundo invisível, está localizado em algum ponto abaixo da superfície da terra (pode ser literal ou metaforicamente). Cf. Ez 31.16,18; 32.18. O suposto profeta Samuel, na cena de I Sm 28.13-15, é descrito como “subindo” da terra, A parte do Seól em que estavam Abraão e Lázaro é o “Paraíso” de que Jesus falou ao ladrão crucificado ao seu lado (Lc 23.43), dizendo que ali estaria com Ele naquele dia. A palavra “Paraíso” é de origem persa e significa uma espécie de jardim, usada simbolicamente quanto ao lugar dos justos mortos. No Paraíso, Lázaro podia ver de longe o rico que ali sofria o tormento dos ímpios, havendo entre eles um “abismo” intransponível. Lc 16.18-31. Depois de Sua morte, Jesus esteve “três dias e três noites no coração da terra“. Mt 12.40; At 2.27; V. Ez 31.15-17. Paulo descreve esse lugar como “as regiões inferiores da terra“. Ef 4.9. Portanto, concluímos que o Paraíso em que Jesus e o malfeitor entraram estava no coração da terra (literal ou metaforicamente). Nesta descida ao Hades Cristo efetuou uma grande e permanente mudança na região dos salvos, isto é, nas condições dos justos mortos. Ele “anunciou ou proclamou” a Sua vitória aos espíritos ali retidos. E o que significa a expressão de Pedro, que “Cristo… pregou aos espíritos em prisão…” 1 Pe 3.18-20. A palavra usada no original implica em anunciar, proclamar, comunicar; não pregar, como se entende em homilética. (Mas quando Cristo “subiu às alturas” levou cativo o cativeiro, isto é, uma multidão de cativos, os quais eram as almas dos justos que estavam em descanso no Paraíso – Ef 4.8-10. Assim Cristo transferiu o Paraíso, do Seól ou Hades, para as regiões celestiais. Algumas dessas pessoas foram até ressuscitadas nessa ocasião, segundo Mt 27.52,53. Cristo havia dito que as portas do Hades (ou seja, esse lugar de detenção em que estavam guardados os justos mortos) não prevaleceriam contra a Sua Igreja – Mt 16.18. E não prevaleceram mesmo! “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” I Co 15.55; Ap 1.18. O Paraíso continua sendo o lugar para onde vão os espíritos dos justos que ora morrem, só que agora não se acha mais no Seól e sim no terceiro céu (II Co 12.1-4). O Paraíso está “na presença de Cristo“. II Co 5.8; Fl 1.23. Sendo que Cristo está sentado à destra do Pai, concluímos que agora o Paraíso também está na presença imediata do Pai – Hb 12.2; Ap 3.21; 6.9. Os justos “não dormem” no Paraíso no sentido de estarem inconscientes. Lá eles são “confortados” (Lc 16.25), permanecendo num estado de perfeita felicidade, em contraste com o sofrimento horrível que experimentam os ímpios lançados no Hades – Lc 16.24. Os mortos justos podem clamar em alta voz, fato que indica consciência e a posse das faculdades mentais – Ap 6.9,10. Paulo descreve o seu estado como “incomparavelmente melhor” a este nosso, da presente vida. Fl 1.23. Quando Cristo voltar, Ele trará consigo as almas dos que “dormem” (seus corpos apenas) no Senhor – I Ts 4.14. Essas, unidas aos corpos ressuscitados, seguirão para o Tribunal de Cristo onde receberão seus galardões. Participarão das Bodas do Cordeiro e depois reinarão com Cristo durante o Milênio de paz. A Nova Jerusalém, o lugar que Cristo foi preparar para o Seu povo (Jo 14.2), será o seu lar por toda a eternidade e provavelmente durante o Milênio também – Ap 21 e 22. 2.
Os Mortos ímpios. Desde o tempo de Adão até ao tempo do Julgamento do Grande Trono Branco, as almas dos ímpios seguem para o “Mundo Invisível”, ou seja o “Seól” ou “Hades”, aguardando o julgamento final quando serão lançados no Lago de Fogo. Infelizmente, estes nomes “Seól” e “Hades” têm sido traduzidos incorretamente em certos casos, em algumas versões das Escrituras, por exemplo como “inferno”, “sepultura” e “abismo”. A palavra hebraica “Seól” consta sessenta e cinco vezes no Velho Testamento. (O autor se dispõe a fornecera lista completa a quem a pedir). A palavra grega “Hades” consta onze vezes no Novo Testamento. Mt 11.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; At 1.18; 6.8; 20.13; I Co 15.55. Exemplos do uso da palavra “Seól”: o rei da Babilônia encontrado no Seól, Is 14.4-20; o Egito degradado ao Seól, Ez 32.21; tanto os justos como os injustos “descendo ao Seól”, Is 5.14; Gn 37.35; 42.38; Nm 16.30,33; a alma no Seól, SI 30.3; 89.48; 16.10; 86.13; At 2.27,30; conversação no Seól, Ez 32.21; Is 14.9-20; Lc 16.19-31; cadeias, II Sm 22.6; tristeza, tributação e angústias, SI 116.3; mais profundo do que o Seól, Jó 11.8; profundezas do Seól, Pv 9.18; Seól em baixo, Pv 15.24; portas do Seól (Hades), Mt 16.18; descerem vivos ao Seól, Nm 16.30,33. Depois da ressurreição de Cristo somente os ímpios são enviados ao Seól ou Hades. A palavra “Queber” (hebraica) usada no Velho Testamento é corretamente traduzida por “sepultura”, “cova”, e “túmulo”. Embora haja grande diferença de sentido entre a palavra “queber” e a palavra “Seól”, certas versões das Escrituras têm feito confusão entre as mesmas. A fim de esclarecer o verdadeiro sentido, faremos uma comparação do uso destes dois vocábulos. “Queber” é usada na forma plural 29 vezes (Êx 14.11), enquanto “Seól” é sempre usada na forma singular. Existe só um “Seól”, mas há muitas “québeres”. “Queber” abriga ou recebe cadáveres37 vezes (I Rs 13.30), enquanto o “Seól” jamais recebe cadáver (salvo se o caso de Core for considerado uma exceção). “Queber” é localizado sobre a superfície da terra 32 vezes, enquanto o Seól é localizado abaixo da terra, nas profundezas. II Sm 3.32; II Cr 16.14. Há um “queber” para cada indivíduo, 44 vezes. II Sm 3.32; II Cr 16. 14. O Seól é sempre o lugar onde há muita gente. O homem-coloca corpos no “queber”, 33 vezes (II Sm 21.14), mas somente Deus envia o homem ao Seól. Lc 16.22,23. O homem escava o “queber”, 6 vezes, mas jamais escava -o Seól. O homem apalpa o “queber”, 5 vezes, mas jamais apalpa o Seól. Gn 50.5. Concluímos, afirmando que o uso ,da palavra “queber” prova que ela significa sepultura, que acolhe o cadáver, enquanto Seól acolhe o espírito do homem. As Escrituras mencionam mais um lugar do “Mundo Invisível”, chamado “Abaddon”, no hebraico, e “Abussos”, no grego. Em alguns lugares no Velho Testamento esse vocábulo é traduzido “destruição”. É traduzido “Abismo” no Novo Testamento. Jó 26.6; 28.22; 31.12; Pv 15.11; 27.20; SI 88.11; Lc 8.31; Rm 10.7; Ap 9.1-11; 17.8; 20.1-3. O erudito Dr. Seiss comenta sobre este assunto: “Abaddon e o Abismo parecem ser a morada de demônios, uma espécie de abismo ainda mais profundo do que o Hades, lugar em que os espíritos dos mortos os mais ímpios, e outros espíritos imundos das ordens mais baixas, são prisioneiros melancólicos, aguardando o dia do juízo. O termo “Tártaro” (Tartarus no grego), traduzido “inferno” na Versão Brasileira e em Almeida, em II Pe 2.4, que versa sobre anjos decaídos serem lançados nos “abismos” (Edição Revista e Atualizada) de escuridão, provavelmente refere-se a este mesmo “Abussos” ou “Abismo”. Na ocasião do Julgamento do Grande Trono Branco, a morte e o Hades entregarão os que neles estiverem retidos. Serão lançados no Lago de Fogo, que é o lugar final de suplício. Ap 20.13-15; 21.8. Os mortos ímpios retidos no Hades serão ressuscitados na Segunda Ressurreição para comparecerem perante o Julgamento do Grande Trono Branco, revestidos novamente de corpos. Mas não são corpos glorificados como os que os salvos receberam na Primeira Ressurreição, pelo menos mil anos antes. Após o julgamento, esses ímpios serão lançados no Lago de Fogo. Este é o terceiro dos grandes “infernos” mencionados nas Escrituras e deve ser considerado como O VERDADEIRO INFERNO FINAL E ETERNO. A palavra hebraica que descreve este lugar, como usada no Velho Testamento, é “Tofete”. Is 30.33; Jr 7.31,32. A palavra grega é “Geena”. Mt 5.22,29,30; 10,26; 23.14,15,33. “Geena” refere-se literalmente ao “Vale de Hinom”, vale este fora da cidade de Jerusalém que servia de lixeira da cidade e onde queimavam os cadáveres de criminosos e de animais. Ali sempre havia fogo aceso, servindo desta maneira para figurar o Lago de Fogo que arde eternamente. No Vale de Hinom os israelitas apóstatas queimavam seus filhos em sacrifício a Moloque, o deus pagão. Jesus empregou o termo “Geena” 11 vezes, sempre no sentido literal. Uma vez que o Hades é lançado no Lago de Fogo, e que os anjos decaídos serão julgados no grande dia de julgamento, concluímos que o Abismo também será lançado no Lago de Fogo, formando desta maneira um só inferno eterno – Mt 25.41 confirma este pensamento porque vemos os homens e os anjos sofrendo juntos.(Os primeiros seres a serem lançados no Lago de Fogo são a BESTA, isto é, o Anticristo, e o FALSO PROFETA. Em seguida será o DIABO ali lançado – Ap 19.20; 20.10. Depois serão os homens que rejeitaram a salvação em Cristo que ali serão encarcerados – Mt 25.41. O Lago de Fogo terá duração eterna, pois os ímpios sofrerão tanto tempo quanto os justos terão de regozijo e enquanto existir o próprio Deus, que é o Deus eterno! Ap 14.9-11; 19.3; 20.11; Mt 25.46; Ap 10.6; 14.9-11. Amém!
Extraído do livro “O Plano Divino Através dos Séculos”, Olson, Ed CPAD.