Na história da Igreja o Senhor sempre levantou mestres para edificar seu povo. Nomes como Tertuliano de Cartago (155 a.D.), Atanásio e Orígenes de Alexandria (295 a.D.), Agostinho de Hipona (354 a.D.), Anselmo de Canterbury (1033), Tomás de Aquino (1225), João Calvino (1509), C. S. Lewis (1898) estão entre os gigantes da doutrina bíblica. Hoje, entre outros nomes mais antigos, como Josh McDowell, Norman Geisler, Natanael Rinaldi, destaca-se o do jovem dr. William L. Craig.
Com doutorado em filosofia (Ph.D.) pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha, atualmente ele leciona filosofia na Talbot School of Theology, na Califórnia, Estados Unidos, é autor de dezenas de artigos e livros no campo da filosofia e da apologética e articulista de vários periódicos, entre eles a revista APOLOGÉTICA CRISTÃ.
No ano que antecede a sua primeira visita ao Brasil, em março de 2012, como palestrante do Congresso Vida Nova de Teologia, nossa revista tem a honra de entrevistá-lo.
Apologética Cristã: Sabemos do seu foco no evangelismo universitário. O que o trouxe para este ministério em particular
William Craig: Bem, eu venho de uma família não cristã, então, quando me converti no ensino médio, eu queria compartilhar minha fé com meu irmão e com amigos não cristãos na escola. Eu fui imediatamente confrontado com a necessidade de prover razões para minha fé recém- -descoberta. Este interesse foi acentuado assim que cheguei à faculdade, onde eu fui ensinado a integrar minha fé com o conteúdo aprendido. Foi lá que eu senti o chamado para esta área do evangelismo que atrairia tanto minha mente quanto meu coração.
Quais são os maiores desafios para os cristãos que querem apresentar argumentos intelectuais para sua fé nos campus universitários hoje?
Eu acho que o maior obstáculo hoje é pluralismo religioso ou o relativismo. Os estudantes não acham que as crenças religiosas são conhecimento. Para eles, crenças religiosas são meramente expressões de gosto pessoal, somente opiniões. Como resultado, quando um cristão afirma que conhece a verdade sobre estes assuntos, as pessoas ficam profundamente ofendidas e pensam que ele é fanático e exclusivista. Outro problema relacionado a este diz respeito á nossa moral. Um estudante não cristão me pressionou da seguinte forma: “Por que os cristãos sempre são tão maus, posicionando-se do lado errado em questões como o aborto, o homossexualismo e assim por diante?”. Para ele cristãos são realmente pessoas más, logo imorais, e este é um gigantesco obstáculo ao recomendar nossa fé.
Como devemos enfrentar a problemática do relativismo e do pluralismo do mundo atual?
Quando palestro sobre isso e disponho os problemas de uma maneira gráfica, costumo apresentar essa questão com o maior grau de dificuldade, antes de tentar solucioná-los. Com isso, a reação dos estudantes é muito positiva e não sou hostilizado, nem visto com ceticismo. Na sequência vou apresentando a solução para aquele problema aparentemente insolúvel, com respostas racionais, bem- -argumentadas e sólidas, e isso parece satisfazer a necessidade intelectual do auditório, o que abre uma grande porta para a pregação da mensagem cristã. A estratégia é essa, confrontar os assuntos objetivamente e o mais francamente possível.
Qual a razão de tantas pessoas abandonarem a fé, mesmo aquelas não cristãs?
Eu penso que indiscutivelmente é o problema do sofrimento inocente. Este tem um tremendo apelo emocional, especialmente entre os diversos estudantes que vêm de famílias cujas estruturas são disfuncionais e perniciosas e, portanto, carregam profundas feridas de alma. Eu penso que em muitos casos os estudantes ficam questionando: “Por que Deus permitiu que eu nascesse em um lar que me deixou com problemas emocionais?”. Este problema, eu penso, ressoa entre os estudantes e é muito difícil de ser superado.
E o que se pode fazer num contexto de desolação espiritual?
Eu, pessoalmente, gosto mais de argumentos científicos e filosóficos, baseados na ciência e na cosmologia. Mas descobri que eles não funcionam com o caso citado. Todavia, mesmo nesse caso, demonstrar a existência de Deus é funcional, pois se você está afirmando o valor de coisas como tolerância, amor, paz, fidelidade, ausência de sofrimento, e assim por diante, precisa ter uma sustentação transcendente. Você precisa ter Deus! Quando você demonstra que tirando Deus da jogada não há absolutos morais, consegue estabelecer uma linha de contato com aqueles que estão sofrendo. Então você pode ajudá-los a ver quão horrível é o mundo sem absolutos morais e que eles mesmos – se olharem para dentro de suas próprias consciências – já afirmam os absolutos morais, apesar de seus lábios trabalharem pelo relativismo.
Mudando de assunto: qual é o argumento menos eficiente junto a acadêmicos ateus?
Indubitavelmente, acho que os argumentos ontológicos seriam os menos eficientes. Eu sempre fico tentado a usar o argumento ontológico em debates, mas, sempre que eu tento explicá-lo, ele é tão abstrato e tão distante do pensamento das pessoas que, no fim, eu paro porque ninguém o compreende. Mas ainda vou saber usá-los algum dia (risos).
Muitos irmãos de igrejas pentecostais dizem que a conversão é toda pelo Espírito Santo e nunca vamos persuadir alguém para o reino de Deus com argumentos. Como você responde a este tipo de crítica?
Assim como o Espírito Santo pode usar a pregação e um hino, Ele também pode usar apologética e argumentos para trazer alguém para si mesmo. Esta é exatamente a forma como Paulo operava. Ele argumentava com as pessoas. Ele fazia conferências no salão de Tirano e discutia estas coisas com os filósofos no Areópago. Recentemente estive em uma grande igreja Assembleia de Deus em Edmonton, Canadá, onde havia cerca de 900 pessoas, cuja faixa de idade era de 20 e poucos anos. Eu falei do absurdo da vida sem Deus, e a recepção foi maravilhosa.
Você poderia sugerir uma lista de publicações para os leitores da nossa revista que querem construir seu arsenal filosófico em defesa da fé cristã?
Eu começaria por dominar alguns materiais bíblicos. Por exemplo, indico Introdução ao Novo Testamento, de D. A. Carson, Douglas Moo e Leon Morris, e Panorama do Novo Testamento, de Robert Gundry (ambos da Ed. Vida Nova), e Dictionary of Jesus and the Gospels (não disponível em português), publicado pela Intervarsity. Se você quiser uma boa introdução filosófica,]. P. Moreland e eu escrevemos um livro chamado Fundamentos filosóficos para uma cosmovisão cristã (Ed. Vida Nova). Este é, até certo ponto, um livro de nível intermediário a difícil, mas realmente seria uma ótima aquisição. Outro bom livro é Reason for the Hope Within (não disponível em português), editado por Michael Murray. Há uma série de livretos publicados por Ravi Zacharias International Ministries, escritos por filósofos cristãos, sobre uma enorme gama de assuntos apologéticos. Eu encorajaria as pessoas a obterem a série completa e trabalhar nela. Meu livro Reasonable Faith (não disponível em português) apresenta Deus e a ressurreição de Jesus como seus dois pilares. Também recomendo Jesus Under Fire (não disponível em português), editado por Wilkins e Moreland e publicado pela Zondervan. E um impressionante livro em resposta ao então chamado Seminário Jesus. Muito oportuno, eu penso.
E para alguém que não quer realmente ler a Bíblia, o que você recomendaria?
Eu acho que os livros Em defesa de Cristo (Ed. Vida), de Lee Strobel, Evidência que exige um veredito (Arte Editorial) e Mais que um carpinteiro (Ed. Betânia), de Josh McDowell, são bons livros para colocar nas mãos de um curioso. Eu creio que Deus tem usado estas obras para levar muitas pessoas a Cristo.
NOTA DA REDAÇÃO
Pelo fato de muitas obras atadas serem inéditas no Brasil, acrescentamos alguns títulos em português para preencheras lacunas: Dicionário de Novo Testamento e Jesus e os evangelhos, de Craig Blomberg (ambos da Ed. Vida Nova), Apologética cristã no século XXI, de Alister McGrath, Fundamentos inabaláveis, de Norman Geisler (ambos da Ed. Vida) e Ensaios apologéticos, de W. L. Craig (Ed. Hagnos). Além dessas obras, recomendamos a Bíblia de Estudo Defesa da Fé (ed. CPAD) e a Bíblia Apologética de Estudo (ed. ICP).
Fonte: Willian Lane Craig, Revista de teologia e doutrinas – Ano 3 – edição 11 – Apologética Cristã