Você, na denominação onde congrega, deve ter ouvido uma história a respeito do sumo sacerdote o qual, no Dia da Expiação, usava uma corda amarrada na cintura para fins de remoção do seu corpo, caso adentrasse no Lugar Santo e viesse a morrer por ter ousado fazer o sacrifício em um nível mais intenso de pecado. Pois bem, essa história, além de modificada, vem do Zohar, um escrito judaico o qual surgiu na Espanha por volta do século XIII, cujo conteúdo é extremamente MÍSTICO. Nele está escrito assim:
Uma corrente foi amarrada aos pés do Sumo Sacerdote quando ele entrou no Santo dos Santos, de modo que, se ele morrer lá, eles o tirarão, pois é proibido entrar lá. Como eles sabiam se ele estava vivo ou não? Por uma tira de cor carmesim. Se sua cor não se tornasse branca, era conhecido naquele tempo que o padre estava lá em pecado. E se ele saísse em paz, era conhecido e reconhecido pela cinta carmesim que ficava branca… Se não… todos sabiam que a oração deles não era aceita. Emor 102a[1]
Todavia, a tal fonte vai totalmente na contramão do Texto Bíblico pelo qual somos informados com todos os detalhes quais objetos o sumo sacerdote teria que usar no ritual do perdão (Ex 28 e Lv 16). Ademais, o grande comentarista do judaísmo, Flávio Josefo (37-103 d.C), não fala nada a respeito da prática do livro místico, mesmo tendo sido sacerdote em Jerusalém[2].
Contudo, ainda que algum historiador ou comentarista, inclusive o respeitável Josefo, tivesse corroborado com o Zohar, tal fonte não deveria ter qualquer credibilidade da parte da Igreja, pois, as Escrituras, é clara como o sol quando diz que o sumo sacerdote, antes de adentrar no Santo dos santos para fazer expiação pelos pecadores, se purificava (Lv 16.4), quer dizer, garantia sua entrada em estado de “pureza” para depois fazer sua expiação diante de Deus, o que já descarta totalmente a tal entrada em pecado.
Mas se em caso de mal subido (um infarto) como ele seria retirado do Lugar Santíssimo se era permitido apenas ao sumo sacerdote estar na Tenda, conforme (Lv 16.17)? É uma pergunta lógica que deve ser respondida também com uma resposta lógica. A resposta está no próprio versículo e na lógica do ritual:
Nenhum homem estará na tenda da congregação quando ele entrar para fazer propiciação no santuário, até que ele saia depois de feita a expiação por si mesmo, e pela sua casa, e por toda a congregação de Israel.
O texto diz: “até que ele saia”. Se os hebreus percebessem que o sumo sacerdote havia ultrapassado o tempo normal do ritual, poderiam verificar o que poderia ter ocorrido para atrasar ou interromper o ritual. Se a causa para o atraso fosse a morte do sumo, outro sacerdote poderia tomar o seu lugar e em seguida dar continuidade à obra (Ex 29.29-30), pois, O Dia da Expiação, não poderia ficar para o dia seguinte, haja vista ter data certa para acontecer (Lv 23.27).
Assim sendo, fiquemos com as Escrituras e desprezemos os ensinos sectários que adentram no seio da Igreja os quais tem o poder de nos levar além das escrituras (1Co 4.6).
[1] Disponível em:<https://news.ag.org/features/the-myth-of-the-high-priests-rope>.
[2] No início do livro, História dos Hebreus, Josefo diz: “Meu pai chamava-se Matatias. Meu nome é Josefo, e sou hebreu de nascimento, sacerdote em Jerusalém”.