O Sexo e a Vivência Cristã

SUA NATUREZA

A natureza do sexo em si não é pecaminosa nem má, como ensinavam certos filósofos. A Bíblia diz que quando acabou de criar todas as coisas, incluindo o homem, “… viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã: o dia sexto” (Gn 1.31). O sexo fez parte da constituição física e emocional do ser humano, no momento de sua criação. Assim, não é correto ver o sexo como coisa imoral, feia ou suja. Deus não faria nada ruim. Ele planejou o corpo humano, incluindo o sexo.

O desconhecimento dessa realidade tem levado muitos a formar uma visão distorcida do sexo. Certa jovem procurou-me, quando lecionava na universidade, e me trouxe um sério dilema. Ela estava noiva, com a data de seu casamento já definida, mas sentia-se assaltada por uma grande preocupação. Ao conversar com uma senhora da igreja em que se congregava, aquela irmã lhe advertira que, indo casar-se, deveria ficar sabendo que “uma mulher casada não passa de uma latrina do esperma do seu esposo”. A jovem noiva ficou perplexa com a afirmação daquela mulher de mais idade, que deveria ser conselheira das mais jovens. Ao ouvir tal aberração, disse para a aquela moça: “Não sei o nome dessa mulher. não sei de quem se trata, mas posso lhe adiantar que se trata de uma pessoa frustrada com o seu casamento”. A jovem, admirada, indagou: “Como o senhor sabe?”. Respondi-lhe que a mesma tinha o perfil de uma mulher frustrada segundo o que ela me contara. Diante dessa explicação, a jovem confirmou, dizendo que a tal “conselheira” era de fato uma mulher que não vivia bem com seu marido.

Orientei aquela jovem, mostrando-lhe que o sexo em si nada tem de feio ou sujo, mas que é uma bênção de Deus para o relacionamento entre o casal, um meio para sua satisfação, além de ser a forma pela qual Deus planejou a procriação da espécie. Ela me agradeceu e ficou satisfeita com as explicações fundamentadas na Palavra de Deus.

SUA FINALIDADE

Não há só uma finalidade para a prática da relação sexual. Há quem pregue que só deve ser praticado o sexo com fins reprodutivos. De acordo com a Bíblia, não é bem assim. Há mais de uma finalidade na relação sexual:

O salmista teve a revelação de que o ser humano é formado. Em sua meditação sobre esse tema, ele exclamou:

Pois possuíste o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas as quais iam sendo dia a dia formadas, quando ainda uma delas havia… (SI 139.13-16).

A procriação “é o ato criador de Deus, através do homem. Para tanto, o Senhor dotou o homem de capacidade reprodutiva, instituiu o matrimônio e a família, objetivando a legitimação desse processo complexo, de significado transcendental” (A Família Cristã nos Dias Atuais, p. 150). “Frutificai e multiplicai-vos” (Gn 1,28), foi a ordem do Criador. Sem dúvida alguma, a finalidade primordial da relação sexual voltava-se para a multiplicação da espécie humana.

AJUSTAMENTO ENTRE O CASAL

Em 1 Coríntios7:1-5, vemos uma orientação muito importante do apóstolo Paulo sobre a ética cristã em relação ao sexo.

Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher, ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos defraudeis um ao outro, senão por consentimento mútuo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e, depois, ajuntai-vos outra vez, para que Satanás vos não tente pela vossa incontinência.

Nesta palavra do apóstolo, percebemos que quatro princípios estão sendo considerados:

“Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e uma tenha o seu próprio marido” (v.2). Com isso, dois aspectos são destacados. Primeiro, que o casamento monogâmico é remédio adequado para que se evite a prostituição, o adultério. Segundo, reforça a ■ :são de Cristo sobre a monogamia: “cada um… sua própria mulher”; “cada uma… o seu próprio…”. Ainda que no Antigo Testamento Deus tenha tolerado a poligamia, na nova aliança tal prática não tem a aprovação neotestamentária.

“O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher, ao marido” (v.3). E o dever do amor conjugal, no que tange ao atendimento da necessidade sexual (o direito) de cada cônjuge. Na ética cristã, a união sexual é tão importante, que é vista como um dever por parte de um, e um direito por parte do outro cônjuge. Não é uma opção, um favor. Por falta de entendimento desse aspecto, há casais que vivem em conflito, separados dentro de casa, u mesmo separados de fato ou legalmente. Há casos em que a esposa rejeita o marido e vice-versa. Nesse tipo de conflito, o Diabo encontra brecha, e destrói o casamento, o lar, e desagrega a família. É evidente que existem muitas causas para tamanho mau relacionamento, as quais precisam ser analisadas, e postas diante de Deus em oração, buscando sua resolução.

“A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher” (v.a O texto aqui não se refere à autoridade por imposição, mas pelo amor conjugaL Também não quer dizer que o marido pode fazer o que quiser com o corpo da esposa, incluindo relações ilícitas, ou vice-versa. Este princípio é consequência do anterior. Não autoriza a prática de atos imorais, como fazem os ímpios.

Esse é um ponto importante, no relacionamento entre o casal. Os cônjuges podem abster-se da prática sexual, porém mediante algumas condições. Um não pode impor sua vontade ao outro. Podem separar-se, no leito conjugal, sob três condições: por consentimento mútuo, por algum tempo, e para dedicar-se à oração. É também um exercício da disciplina da vontade.

Existem seitas ou religiões, e até evangélicos, que proíbem o prazer do sexo, alegando que sua finalidade é só a procriação. Isso não tem base na ética da Bíblia. Vários textos nos mostram que Deus, no seu amor, incentiva o casal a desfrutar desse prazer, que foi criado por Ele. Em Provérbios 5-18-23, lemos:

“Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, como cerva amorosa e gazela graciosa; saciem-te os seus seios em todo o tempo; e pelo seu amor sê atraído perpetuamente. E por que, filho meu, andarias atraído pela estranha e abraçarias o seio da estrangeira? Porque os caminhos do homem estão perante os olhos do Senhor, e ele aplana todas as suas carreiras. Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido. Ele morrerá, porque sem correção andou, e, pelo excesso da sua loucura, andará errado”.

Aqui, vemos o sábio exortar os cônjuges a desfrutarem o sexo, sem ao menos falar em filhos. O homem é advertido contra “a mulher estranha”, a adúltera, e é incentivado a valorizar a união conjugal honesta e santa, exaltando a monogamia, a fidelidade, e incentivando o prazer (ver Ec 9-9; Ct 4.1-12:7.1-9). No Antigo Testamento a “lua-de-mel” durava um ano! (Ver Dt 24.5.)

————-

Fonte: Ética Cristã – Confrontando as questões morais do nosso tempo, Elinaldo Renovato de Lima, 1ª Edição/2002, CPAD.

Sair da versão mobile