Larry King me fez essa mesma pergunta depois que trinta e uma pessoas deram fim a suas vidas no maior suicídio em massa da história dos Estados Unidos. Ele continuou perguntando se o Cristianismo poderia ser mencionado de forma legítima como uma seita. Como expliquei no programa Larry King Live, a palavra ‘seita’ tem várias conotações.
Primeiro, uma seita pode ser definida sociologicamente. Dessa perspectiva, trata-se de um ritual religioso ou semi-religioso, cujos seguidores são controlados por uma forte liderança em quase todas as dimensões de suas vidas. É característico dos devotos demonstrar uma lealdade desordenada a um guru e ao grupo, e são estimulados por táticas de intimidação físicas e/ou psicológicas. Os praticantes desse tipo de culto, mais do que nunca, demonstram uma mentalidade “nós/eles” e rompem com todas as outras associações, incluindo seus familiares mais próximos.
Além disso, uma seita pode ser definida teologicamente. Nesse sentido, pode ser uma organização pseudocristã que se declara cristã, mas compromete, confunde ou contradiz a doutrina cristã essencial. Tais seitas existem com aparência de Cristianismo, mas se desviam dos ensinamentos ortodoxos da fé cristã histórica, sistematizados pelos antigos credos ecumênicos. Tipicamente, devotos tornam-se mestres em extrair textos do contexto a fim de desenvolver pretextos para seus desvios teológicos.
Finalmente, deve-se observar que embora a cultura orientada pela mídia dê ao termo “seita” uma exclusiva conotação pejorativa, no sentido denotativo a palavra “seita” pode ser definida como um grupo de pessoas centradas em torno de uma estrutura de crença religiosa. Assim, o Cristianismo poderia ser citado como um ramo do judaísmo do Antigo Testamento. Na verdade, o verbo latino cultus, de onde vem a palavra “culto”, simplesmente significa adorar a uma divindade. Portanto, ao lidar com seitas, é fundamental ser cuidadoso na definição dos termos.
“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis” (2Coríntios 11.3-4).
- HANK HANEGRAAFF