Desde os primórdios da Igreja Cristã, já existia muita confusão doutrinária no meio do povo de Deus. Por esse motivo, tanto Paulo como Pedro – e creio que outros apóstolos também – se preocupavam com a saúde doutrinária do Corpo de Cristo e exortavam os cristãos a terem cuidado com os falsos ensinamentos que muitos falsos mestres e profetas estavam introduzindo na igreja.
Nos últimos tempos, bênção e maldição têm sido um dos assuntos em voga, tomando lugar de destaque, especialmente a maldição. Isso tem levado alguns líderes (entre os quais me incluo) a preocuparem-se muito. Segundo o dicionário da língua portuguesa, maldição é o ato de amaldiçoar, jogar praga, desejar o mal para alguém, e bênção é a ação de abençoar, ato divino. Podemos definir a maldição como o ato de recorrer a uma força superior para que outra pessoa a quem se quer prejudicar seja atingida. Isso acontece em momentos de raiva, ira, humilhação e vingança.
De acordo com o prisma bíblico, bênção e maldição estão em lados totalmente opostos, pois a primeira se recebe quando estamos perto de Deus e a segunda – no sentido inverso – quando estamos longe dos desígnios de Deus. A maldição pronunciada contra alguém não possui poder em si mesma, precisando da permissão de Deus para se fazer concreta. Maldição não é o que se diz com a boca, mas sentimentos que enchem o coração como amargura, azedume, frustrações e recalques. Biblicamente, o verdadeiro prejudicado não é o indivíduo contra quem se pronuncia a maldição e, sim, o sujeito de onde ela partiu. A Bíblia não se preocupa com o fato de a maldição pegar ou não, mas com o indivíduo que a profere, pois vem do desejo carnal de destruir (Números 24.9; Salmo 109.17-20).
Maldição Hereditária
Entre as heresias que têm surgido no meio da igreja evangélica, está a doutrina da quebra de maldições hereditárias, que tem aprisionado e exercido um efeito funesto sobre muitos crentes sinceros, mas que não possuem um embasamento bíblico para suas vidas espirituais – na maioria das vezes por culpa das lideranças de suas igrejas locais. A base dessa doutrina diz que o indivíduo está preso a práticas e alianças feitas por seus antepassados com entidades pagãs e demoníacas, trazendo maldições a várias gerações. Os defensores dessa doutrina baseiam-se nos seguintes textos: Êxodo 20.5 e Levítico 26.39-42.
Os textos acima referidos falam do pecado da idolatria e da iniquidade que existia na vida do povo de Israel. Em ambas as oportunidades o sujeito da ação é o próprio Deus – o que nos leva a concluir que o homem que está sob maldição é aquele que quebrou uma lei estabelecida pelo próprio Deus. Para que se aceite a doutrina da maldição hereditária, é necessário que se creia na visitação demoníaca às gerações futuras. Esse desvio de pensamento anula a maldição como consequência do pecado individual de cada ser humano.
O interessante é que os defensores dessa doutrina herética afirmam que Jesus levou toda a maldição na cruz, contudo faz-se necessário que, apesar de o homem se arrepender de seus pecados e aceitar o sacrifício de Cristo, ele vá até a cruz pegar a promissória do seu pecado paga por Jesus e volte ao passado com essa promissória para fechar as portas que tenham ficado abertas. Esse tipo de pensamento é uma aberração, pois não tem embasamento algum na Bíblia, insinuando que a Obra de Jesus não foi suficiente e nem completa, precisando assim da interferência humana.
Não existe poder algum no ser humano, ou mesmo em suas verbalizações, para se quebrar qualquer maldição, se é Deus quem age visitando a maldade dos pais até a terceira e quarta geração. Quem é o homem para se interpor a uma ação do Deus onipotente, onisciente, onipresente e totalmente soberano em todo o universo? O único que pode quebrar qualquer maldição é Deus, e isso Ele fez na pessoa de Jesus na cruz do Calvário, atestando a eficácia da Obra de Cristo por intermédio de sua ressurreição (Colossenses 2.14-15). Para os que estão em Cristo não há maldição ou condenação, pois foram reconciliados com Deus (Romanos 8.1). A Bíblia é categórica: Cristo nos resgatou da maldição imposta pela lei (Gálatas 3.13).
Pr. Alexandre Lopes
Nota: Artigo publicado no jornal Desafio das Seitas, 3º trimestre/1999.
Bênção e maldição estão atreladas à obediência e à desobediência aos ditames de Deus.
Logo, só Ele pode desfazer maldição na vida do crente desde que este se volte para o Senhor convertendo-se dos seus maus caminhos.