Anteriormente nós aprendemos que é parte da natureza de Deus o desejo de revelar-se a nós. Deus não está meramente interessado em nos dar regras pelas quais nós devemos viver. Ele quer que nós o conheçamos e entremos numa relação de aliança com ele através de Jesus Cristo. Esta natureza auto-revelatória de Deus aparece de muitas maneiras, incluindo na criação, em nossas consciências, na Escritura e finalmente em Jesus Cristo.
É importante entender que a salvação nunca começa com algo que nós fazemos, mas sempre como uma resposta a algo que Deus fez. Pensar que a salvação começa com nosso arrependimento de nossos pecados e convite para que Jesus entre em nossos corações não é a forma que as Escrituras entendem todo o processo de salvação. Antes, a salvação sempre começa com uma ação anterior de Deus. Ele age, e nós respondemos ou resistimos. Ela sempre segue esse padrão.
Uma abordagem de todas as maneiras que Deus nos prepara para receber o evangelho é usar o termo “graça preveniente (precedente)”. A graça preveniente diz respeito a todos esses atos da graça em nossas vidas que antecedem a nossa conversão. Sabemos que tal graça existe porque Jesus disse que “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44 Cf. Jo 12.32). Há uma “atração” ou “preparação” que precede nossa efetiva conversão.
A outra razão que sabemos que a graça de Deus deve preceder nossa decisão de seguir a Cristo é que as Escrituras nos ensinam que estamos mortos em nossos delitos e pecados à parte de Cristo (Ef 2.1). As Escrituras não ensinam que estamos meramente doentes ou que o nosso progresso espiritual geral é lento, mas que estamos espiritualmente mortos. (Esta é uma outra grande característica distintiva do Cristianismo.) Isto significa que somos incapazes de nos ajudar ou de nos salvar sem uma ação prévia de Deus.
Muitos cristãos creem na doutrina da depravação total. Isso significa que os seres humanos estão mortos em seus pecados e não podem fazer nada para ajudar ou melhorar seu estado espiritual diante de Deus. Entretanto, é também um ponto de vista cristão crer no livre arbítrio. Isto significa que afirmamos que Deus quer que agimos e tomamos decisões a seu favor. Este é o problema: Como uma pessoa espiritualmente morta pode agir ou decidir dar suas vidas a Cristo? A Bíblia está repleta de prescrições para agir – as pessoas são chamadas a se arrepender, crer, vir, decidir e assim por diante. A resposta é a doutrina da graça preveniente. Esta é a ponte entre a depravação humana e o livre exercício da vontade humana. A graça preveniente é um ato soberano de Deus pelo qual ele suspende a raça humana de sua depravação e nos concede a capacidade de respondermos à graça de Deus. Ela é um ato de Deus de favor imerecido. É a luz de Deus “que ilumina a todo o homem” (Jo 1.9, ACF), que nos levanta e permite que exercemos nossa vontade e respondemos à graça de Cristo.
Deus toma a iniciativa para criar uma capacidade universal para a raça humana para receber sua graça. Muitos, obviamente, ainda resistem a sua vontade e persistem em rebelião contra Deus. A doutrina da graça preveniente protege a igreja de visões que argumentam que não há nenhuma natureza pecaminosa. Ela também protege a igreja de visões que argumentam que Jesus morreu somente por aqueles que foram eleitos desde toda a criação para ser seguidores de Cristo. A graça preveniente preserva tanto a depravação da raça humana quando nossa confiança que Jesus morreu por cada pessoa que já viveu ou irá viver. De fato, a graça preveniente tecnicamente não afirma o livre arbítrio no sentido que todos podemos decidir seguir a Cristo sempre que quisermos, porque isto pressiona a salvação demais para a ideia que ela depende de nossa iniciativa. Pelo contrário, o que é algumas vezes chamado de “livre arbítrio” é na verdade “arbítrio liberto,” uma vontade escravizada que foi libertada por um ato imerecido da graça de Deus. Ela não é, obviamente, livre em todo aspecto possível, visto que todos ainda somos influenciados de muitas maneiras pelos efeitos da Queda; mas agora temos uma capacidade restaurada que possibilitou que nosso coração, mente e vontade respondessem à graça de Deus.
Leitura das Escrituras
Isaías 55.1
João 1.9
João 6.44
João 12.32
João 16.8-11
Atos 14.17
Atos 16.13-15
Romanos 2.4
1 Timóteo 2.4-6
Tito 2.11
Fonte: http://seedbed.com/feed/prevenient-preceding-grace-30-questions/
Timothy C. Tennent – Tradução: Paulo Cesar Antunes