P.1 – A Folha de São Paulo* publicou uma notícia com o seguinte título “GLOBALIZAÇÃO É O BODE EXPIATÓRIO DA MODA”. Continua o artigo dizendo: “A sucessão de crises está ressuscitando um velho esporte: a busca de bodes expiatórios.” Nessa notícia existem uma palavra nova e uma expressão muito antiga, que poucos conhecem o significado. A palavra é GLOBALIZAÇÃO e a expressão é “bode expiatório”. Em primeiro lugar quero perguntar: O que é globalização?
Resposta: A ‘globalização’, na verdade, é um neologismo surgido ultimamente e muito utilizado na mídia, para referir-se a esse movimento de integração de países em uma comunidade mundial única. Estão começando com a remoção das barreiras alfandegárias que existem entre países. Na Europa, existe o Mercado Comum Europeu que removeu as barreiras territoriais das nações que integram esse mercado. Aqui na América do Sul, existe o chamado Mercosul, que são países que integram esse mercado e que removeram as barreiras nacionais, formando um só bloco de nações e assim se aplica a outros blocos de nações, de modo que aquilo que acontece num país tem reflexo mundial, como está se observando no mercado de bolsas. Assim, pode-se afirmar que globalização é um termo moderno que se refere a necessidade de uma transformação das atuais divisões de estados-nações em uma comunidade mundial única.
P.2 – E o que significa a expressão “bode expiatório”?
Resposta: A expressão ‘bode expiatório’, aplicada diariamente em nosso falar, é de origem bíblica. Refere-se ao que ocorria numa das festas judaicas, a Festa da Expiação. Deus instituiu sete dias de festas no calendário do povo de Israel. São eles: Festa dos Asmos, Festa da Páscoa, Festa de Pentecostes, Festa das Trombetas, Festa da Expiação e Festa dos Tabernáculos. A mais importante dessas festividades era o dia da Festa da Expiação, que caía no 10º dia do sétimo mês. Nesse dia havia uma cerimônia especial que está descrita em Lv. 16.5-23. Nos vs. 5-7 está escrito: “E da congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes para expiação do pecado. E também tomara ambos os bodes, e os porá perante o Senhor, à porta da tenda da congregação. E Arão lançará sortes sobre os dois bodes: uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário. Então Arão fará chegar o bode sobre o qual cair a sorte pelo Senhor, e o oferecerá para expiação do pecado. Mas o bode sobre o qual cair a sorte para ser bode emissário, apresentar-se-á vivo perante o Senhor, para fazer expiação com ele, para enviá-lo ao deserto”. Explicando mais pormenorizadamente esse relato bíblico, observamos que: dois bodes eram escolhidos para fazer expiação pelo pecado do povo de Israel (v. 5-10). Um dos bodes era escolhido para ser o bode expiatório e era morto para com o seu sangue abrir o caminho para o sumo sacerdote entrar no lugar santo dos santos do santuário, que era o local de culto dos judeus.
Havia dois compartimentos no santuário: o lugar santo, onde o sacerdote entrava diariamente duas vezes. E no lugar santíssimo, ou santo dos santos, o sumo sacerdote entrava uma vez no ano como sangue do bode expiatório. O sumo sacerdote borrifava o sangue do bode morto sobre o santo dos santos, sobre o propiciatório, que era a tampa da arca da aliança, e depois saía e confessava os pecados da nação israelita durante o ano. Em seguida o segundo bode, o bode emissário, era enviado ao deserto por um guia que o soltava no deserto para nunca mais retornar ao arraial de Israel. Assim, quando usamos em nossa linguagem do dia a dia a expressão “bode expiatório”, estamos usando uma figura tirada da Bíblia. Da maneira como o bode expiatório sofria a morte pelos pecados do povo, muitas vezes usamos essa figura como se estivéssemos sofrendo no lugar de outros que são culpados por certos acontecimentos tristes. Numa pequena expressão: somos bodes expiatórios quando sofremos no lugar de outros sem termos culpa no que está acontecendo.
P. 3 – Qual o simbolismo desses dois bodes hoje na Igreja de Jesus Cristo?
Resposta: O significado desses dois bodes é muito importante e devemos evitar as distorções que certas igrejas atribuem aos dois bodes. Os dois bodes tipificam as duas fases da obra de Cristo em nosso lugar. O bode expiatório tipifica a morte de Cristo. Pela sua morte ele propiciou o perdão de nossos pecados, como lemos em Rm 5.8, “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. Pela morte de Jesus na cruz, nossos pecados foram removidos no simbolismo do bode emissário. Isso é visto em Jo 1.29, que declara que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Isso é repetido em 1Pe. 2.24 “Levando ele nossos pecados sobre o madeiro…” Leiamos Lv. 16.21-22: “E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidade dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados. E os porá sobre a cabeça do bode, e envia-lo-á ao deserto, pela mão dum homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária; e enviará o bode ao deserto”.
P. 4 – Como poderíamos afirmar com certeza que essa explicação é a correta do simbolismo tirado do dia da expiação entre o povo de Israel?
Resposta: Ora, é só aplicar o paralelo de Lv. 16.22 que diz “Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidade deles à terra solitária…” com Is. 53.6-11 “Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. O trabalho da sua alma ele verá e ficara satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificara a muitos, porque as iniquidade deles levará sobre si”. Como sabemos, a escritura de Is.53 se aplica a Jesus. Ele mesmo o fez em Mt.8.14-17. Essa expressões repetidas “levará sobre si todas as iniquidades” mostram que Jesus foi quem tomou sobre si nossas iniquidades ou pecados. Repetindo o simbolismo do dia da expiação, pela morte do bode expiatório, representando a morte de Cristo, nossos pecados são apagados definitivamente, simbolismo esse representado no bode emissário conduzido ao deserto para nunca mais voltar ao arraial de Israel. Em Hb 1.3 lemos “havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas”.
P.5 – O irmão disse que existem igrejas que distorcem esse sacrifício do dia da expiação representado pelos dois bodes: o bode expiatório e o bode emissário. Que distorções são feitas e por quem ?
Resposta: Existem duas igrejas que conhecemos que distorcem essa explicação bíblica que demos e afirmam que o primeiro bode, o bode expiatório, tipifica Jesus Cristo que morreu por nós, mas discorda da explicação do bode emissário como exemplificando a remoção dos nossos pecados pelo perdão de Deus, e interpretam o bode emissário como sendo Satanás, sobre quem irão cair os nossos pecados. E depois de Satanás tomar nossos pecados ele será aniquilado e quando ele for aniquilado nossos pecados serão cancelados. Isto significa que só seremos livres dos nossos pecados quando Satanás os tomar sobre si.
P.6 – Poderia o irmão fazer alguma citação de publicações dessas duas igrejas que dão essa interpretação do bode emissário como símbolo de Satanás sobre quem vão cair nossos pecados?
Resposta: Sim. Vou ler no livro “O GRANDE CONFLITO”, de Ellen Gould White, profetisa da IASD na página 418: “No dia da expiação dois bodes eram trazidos à porta do tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles, uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário. Quando Cristo, pelo mérito de Seu próprio sangue, remover do santuário celestial os pecados de Seu povo, ao encerrar-se o Seu ministério, Ele os colocará sobre Satanás, que, na execução do juízo, deverá arrostar a pena final. O bode emissário era enviado para uma terra não habitada, para nunca mais voltar à congregação de Israel. Assim será Satanás para sempre banido da presença de Deus e de Seu povo, e eliminado da existência na destruição final do pecado e dos pecadores”(p. 421). Como se vê, o bode emissário é tipificado por Satanás e quando Satanás for eliminado, os pecados serão cancelados. Isso é tornar Satanás co-redentor, ou seja auxiliar de Cristo na obra da redenção. Jesus morre pelos nossos pecados e Satanás carrega com eles.
A Igreja Local, de Witness Lee, no livro LIÇÕES DA VERDADE – NÍVEL UM, p. 126, lemos: “Quando Deus fez com que o Senhor Jesus levasse os nossos pecados na cruz para sofrer o julgamento e a punição de Deus em nosso lugar, Ele também fez com que todos os nossos pecados fossem postos sobre Satanás, a fim de que este arcasse com eles para sempre. Isso é revelado em tipologia na expiação registrada em Levítico 16. Quando o sumo sacerdote fazia expiação pelos filhos de Israel, ele tomava dois bodes e os apresentava diante de Deus. Um era para Deus e devia ser morto para fazer expiação pelos filhos de Israel, enquanto que o outro era por Azazel, isto é para Satanás, para levar os pecados dos filhos de Israel.” Como se vê há uma distorção absurda da palavra de Deus e isso não passa de heresia de perdição de que falou Pedro em sua segunda carta 2.1-2.