Aceitando que a narrativa é apenas uma parábola, e não baseada em fatos reais, dizem:
“Embora alguns estudantes superficiais da Bíblia se atrevam a dizer que a narrativa não é parábola, mas um fato real contado por Jesus, a esmagadora maioria dos mais conspícuos teólogos creem que é parábola” (Subtilezas do Erro, p. 255).
Os que admitem não ser parábola são tidos como estudantes superficiais da Bíblia, e continuam:
“Fosse real, não conteria enredo eivado de ideias pagãs, conceitos talmúdicos e metáforas judaicas. Eram ideias populares nos dias de Jesus, mas não eram conceitos bíblicos. Nos escritos de Flávio Josefo, por exemplo, encontramos referência a “Seio de Abraão” e “Hades” como lugar de tormento, aliás, de acordo com ideias persas e egípcias. Jesus, como recurso didático, serviu-se de ideias populares, embora errôneas, para chegar a conclusões corretas” (Subtilezas do Erro, p. 256).
Imagine: Jesus contando uma parábola onde se encontram “enredo eivado de ideias pagãs, conceitos talmúdicos e metáforas judaicas. Não passavam de ideias populares nos dias de Jesus, mas não eram conceitos bíblicos”. Como é possível conceber que Jesus se utilizasse de tais meios para transmitir verdades eternas? Até que ponto se pode confiar nos ensinos de Jesus, e como podemos distinguir o que era verdade e o que estava “eivado de ideias pagãs”? Vale tudo para os adventistas sustentarem seu “crasso materialismo” sobre a natureza do homem, desde que a posição de Ellen G. White não seja arranhada com o seu ensino do JUÍZO INVESTIGATIVO (ou redenção incompleta de Cristo), ensejando que o adventistas ao morrer entre num estado de inconsciência.
Vejamos agora o relato de Lc. 16.19-31 como se encontra na Bíblia:
“Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.
Comparemos o conceito expendido por Jesus, em Lc 16.19-31 (acima), com o conceito que mantinham os judeus sobre o mesmo assunto:
“O Talmude (Kiddushim 72b) refere-se ao “regaço de Abraão”, e Josefo ao “seio de Abraão”. No mesmo Talmude se diz que Abraão “está assentado ao lado das portas do Sheol e não permitirá que nenhum israelita lá entre”. Consoante a literatura judaica, o Hades compunha-se de duas câmaras, uma para os justos e outra para os ímpios (Midrash sobre Rute 1:1). Também o livro Sabedoria de Salomão 3.1 alude à “câmara dos justos”. Que o Hades tem uma câmara onde os ímpios são atormentados se tem notícia pelo livro de Enoque 22-9-13 e ainda no Talmude (Erubim 19a). Também que os habitantes de ambas as câmaras mantêm diálogo se tem notícia através do Midrash sobre Ecles. 7.14. Que os justos, como recompensa, entram para o “regaço de Abraão” se lê no Talmude (Kiddushim 72b). Por onde se vê a origem não bíblica, mas apócrifa dessa esdrúxula escatologia” (Subtilezas do Erro, p. 257).
Dentre as citações de livros e escritores acima, está indicado o historiador Josefo. Logo, a fonte é apócrifa. Entretanto, em que conceito têm os adventistas o mesmo escritor Josefo, quando se trata de sustentar os ensinos da Igreja Adventista? Josefo é citado como fonte de autoridade discutível:
“De fato, o citadíssimo historiador judaico Flávio Josefo, escreveu também: “Não há cidade dos gregos, nem dos bárbaros, nem nação alguma, em que nosso costume de repousar no sétimo dia não tenha chegado. Por aí se vê que as nações não judaicas observavam o sábado original” (Subtilezas do Erro, p. 180).
Mas, na verdade, os Adventistas não ignoram o sentido óbvio da narrativa de Jesus em Lc 16.19-31, tanto é que afirmam:
“O Mestre quis ensinar que o procedimento humano aqui na Terra reflete-se na vida por vir, e que não há uma segunda oportunidade de salvação. Na parábola do rico e Lázaro, Cristo mostra que nesta vida os homens decidem seu destino eterno. Durante o tempo da graça de Deus, esta é oferecida a toda a alma. Mas, se os homens desperdiçam as oportunidades na satisfação própria, segregam-se da vida eterna” (Subtilezas do Erro, p. 259).
Concordamos que os Adventistas estão certos quando afirmam que “O Mestre quis ensinar que o procedimento humano aqui na Terra reflete-se na vida por vir, e que não há uma segunda oportunidade de salvação“, e foi isto justamente que aconteceu com o rico do outro lado da vida, que, em tormentos no Hades, não podia mudar sua posição irreversível, enquanto Lázaro no Seio de Abraão se achava consolado (Mt 7.13-14, Hb. 9.27).
Mas dentro dessa condição de consciência após a morte, entendemos que:
a) os mortos seguem conservando o sentido de vista (v.23);
b) conservam a fala e tem algum meio de comunicação com outros seres da mesma condição espiritual (v.24);
c) conservam o sentimento de dor (v.24);
d) conservam a recordação das coisas da terra (v.28,29);
e) conservam o sentimento de culpabilidade e o sentem mais claramente do que nesta vida (v.28);
f) a passagem bíblica mostra-nos finalmente, que é preciosa a oportunidade de ter conhecimento da vontade de Deus, mediante a Bíblia Sagrada e que este conhecimento aumenta a responsabilidade dos desobedientes (v.31).