Presb. Paulo Cristiano, li seu artigo [artigo anteriormente publicado no jornal “O Alerta”] e faço as seguintes observações:
1) Suas explicações sobre a pobreza, doenças etc. são biológicas, políticas, sociais e econômicas. Mas não se trata disso. Trata-se de saber qual o critério usado por Deus para aquela criatura viver estas situações. Suas explicações apenas servem para que sejam entendidos os mecanismos de reparação de faltas cometidas contra as leis divinas, absolutamente justas. Não podemos nos esquecer que antes de sermos filhos de nossos pais carnais, somos filhos/criaturas de Deus.
2) Jesus Cristo fica fora desse tipo de análise, por ser um missionário divino. Ele não veio para pagar dívidas. Veio por amor às ovelhas do seu rebanho. Além do mais, onde está escrito que as pessoas devam ser medidas moral/religiosamente/espiritualmente pelas suas posses materiais? Quem disse que a pobreza é um castigo ou uma punição? Não está escrito que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus? A Doutrina Espírita não endossa a sua observação segundo a qual Jesus foi um dos maiores pecadores para nascer pobre e morrer na miséria como um criminoso. Não é assim que se conceitua a reencarnação. No atual estágio da Terra, planeta de provas e expiações, são mais perigosos para a humanidade, a riqueza, o poder, a beleza, que podem conduzir ao egoísmo, ao orgulho à vaidade. Que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Leia a parábola do Rico e Lázaro. Examine os ensinamentos contidos na parábola do Samaritano.
3) É leviandade afirmar também que milhares de pessoas que eram cativas por filosofias religiosas como estas e continuavam presas pelo sofrimento esperando que mais algumas reencarnaçoes fossem solucionar seus problemas obtiveram a solução e a paz tão almejadas através da pessoa do Filho de Deus-Jesus Cristo. Quem conhece a Doutrina Espírita não espera novas reencarnações. Procura se melhorar na atual existência, para não ter de recomeçar do mesmo ponto anterior. A Doutrina Espírita não mantém ninguém no cativeiro, respeita a sua liberdade de pensar, e embora muitos religiosos não acreditem, o Espiritismo passa para os seus seguidores que Jesus Cristo é mesmo o caminho, a verdade e a vida e somente colocando em prática o seu evangelho, será possível reduzir o número de reencarnações difíceis, como é a maioria hoje na Terra.
Que Jesus nos abençoe, como sinceros Aprendizes do seu Evangelho.
Mário Luiz
RESPOSTA
Olá Mario!
Espero que tenha lido o noticiário que lhe enviei, a primeira vista é um caso até hilariante, se não fosse a grosseira ignorância que está envolvida, o que torna a questão do ponto de vista espiritual, mui séria. Mas é claro que este “tipo” de reencarnação professada por esta mulher não é a mesma esposada por Kardec. Ela é muito mais antiga, conhecida como Metempsicose, isto é, acredita-se que o espírito da pessoa pode reencarnar em corpos de animais, um tipo de regressão na escala reencarnacionista oriental. Kardec por sua vez rechaçou tal possibilidade (cf. O Livro dos Espíritos), mas, no entanto, refinou esta doutrina ao gosto ocidental.
1) A explicação dada sobre o porquê de uns nascerem de um jeito e outros de outro jeito, é empiricamente compreensível. Não precisamos recorrer a reencarnação. Ainda o exemplo de crianças que nascem defeituosas, a mídia mostra abundantemente casos de pais que levam vida desregrada adquirindo uma série de doenças. Tais pessoas indubitavelmente vão gerar filhos doentes. De quem é o pecado? Do filho, na vida passada, ou dos pais, na presente vida? A reencarnação é aparentemente possível, mas não necessária para explicar o dilema do sofrimento!
Por exemplo, na segunda guerra mundial, Hitler, mandava seus médicos dar doses maciças de Talidomida às gestantes judias, para que seus filhos nascessem mortos. De quem era a culpa, de Hitler ou da pessoa? Demais disso, se a pessoa nasce morta, no exemplo ora analisado, quais eram as vantagens da reencarnação neste caso? Era este o critério usado por Deus? Hitler deveria, na concepção espírita, ser chamado de instrumento de Deus por aplicar os mecanismos usados para reparar tais faltas.
A sugestão espírita não responde de modo satisfatório a muitas questões. Por exemplo, os animais também sofrem, haja vista as muitas aberrações da natureza que acontecem (cavalo com 2 cabeças, cabras com cinco pés, aleijados atrofiados etc…).
Seria estes também conseqüências de pecados da vida passada? Como, se a vida dos animais são instintivas e não moral? E os vegetais? Também sofrem de certo modo com muitas disparidades semelhantes àquelas. Mas a vida dos vegetais não é moral e nem espiritual, é sensitiva.
O grande dilema em que a explicação reencarnacionista se encontra é conciliar esta suposta lei de causa e efeitos com a da caridade. Ora, se tais pessoas passam por estas situações é porque contraíram faltas nas vidas pregressas, e situações como estas, segundo a doutrina espírita, é a chance da pessoa purgar suas faltas contraídas. Sendo assim, não poderíamos praticar caridade com tais indivíduos se não estaríamos atrapalhando o seu progresso espiritual! Peço vênia…mas por estas incoerências e por outras é que não aceito de modo algum a fantástica mas ilusória doutrina reencarnacionista.
Quanto à questão de sermos filhos de Deus ou não, acredito que minha posição ficou patente em nosso debate na TV.
2) Quanto a Jesus Cristo, realmente se levarmos à cabo o pensamento esposado pelo espiritismo deveria ter sido um grande pecador em sua última reencarnação. Segundo os kardecistas afirmam, Jesus foi maior espírito de luz que já veio a este planeta. Ora, se ele era o maior espírito de luz deveria ter alcançado através de muitas reencarnações a perfeição tão almejada por esta doutrina. Mas então por que ele sofreu tanto a ponto de morrer numa cruz, e Diga-se de passagem, que os romanos destinavam a cruz apenas para criminosos cruéis, patifes e outros adjetivos não tão agradáveis.
Essa exceção na doutrina espírita é apenas um eufemismo para esconder a falha exposta quando analisamos de modo racional a questão.
Lembra que o senhor me disse na emissora que João Batista era a reencarnação de Elias? E para provar seu argumento invocou de modo indireto a lei da causa e efeito, ou seja, disse que Elias havia decapitado 400 profetas de Baal, então concluiu que a decapitação de João era devido a este fato. Um ótimo episódio para exemplificar a lei de causa e efeito. Mas, por que Jesus seria exceção neste caso? Ora, não foi o mesmo Senhor Jesus quem afirmou categoricamente que dentre todos os homens da terra não havia NINGUÉM maior do que ele [Mateus 11:11]. Seria esta a caricatura de alguém que estava reparando dívidas contraídas em vidas passadas? Jesus considerava o profeta João como um santo ou um pecador? É esclarecedor elucidar ainda que Elias nunca foi João Batista reencarnado por muitos motivos, que não mencionarei agora.
Realmente Jesus não foi um dos maiores pecadores para nascer pobre e morrer na miséria, mas infelizmente é isto que propõe a doutrina reencarnacionista levada às suas últimas conseqüências.
Sua sugestão de analisar a “história” do “Rico e Lázaro” é um tiro pela culatra, haja vista que aquele ensinamento é uma pedra de tropeço na doutrina espírita. Além do rico não ter outra oportunidade de se reencarnar – tendo assim perdido a chance de purgar seus pecados em futuras reencarnações – foi para o inferno, jogando por fim uma pá de cal em cima das objeções do kardecismo quanto a existência do inferno (cf. Céu e Inferno) e a chance de remissão em apenas uma vida. Mas a Bíblia ratifica tanto uma quanto a outra.
Só um adendo: é que a expressão “Veio por amor às ovelhas do seu rebanho” mais parece um resquício de seu antigo calvinismo do que uma expressão tipicamente espírita.
Quanto a pobreza & punição, de certa forma a pobreza se torna um “castigo” para o espírita sim, levando em conta que se ele nasceu pobre, é porque talvez em outras reencarnações tenha sido um rico egoísta que utilizou seu dinheiro para o mal.
Segundo os espíritas uma das três maneiras de se chegar ao estágio de espírito puro é através da “expiação”. Expiação segundo os espíritas é a “Pena que sofrem os Espíritos como punição das faltas cometidas durante a vida corporal.” (Ibidem, Vocabulário Espírita, p. 1252)
Uma das maneiras de sofrerem estas penas de acordo com o tipo de pecado cometido em outras vidas, é a utilização dos mecanismos (segundo suas palavras), um deles é a pobreza. Sendo assim, ela se torna no fundo uma ferramenta de punição.
3) Perdoe-me, com todo respeito, mas seu argumento de que “Quem conhece a Doutrina Espírita não espera novas reencarnações. Procura se melhorar na atual existência, para não ter de recomeçar do mesmo ponto anterior.” além de ser infantil, falta conhecimento de causa.
Primeiro, Ora, dentro deste ciclo karmático cada ser humano fica ligado às suas próprias decisões anteriores, de tal maneira que, na sua essência, ele não é nada mais do que o resultado dessas decisões anteriores. Veja que o próprio Allan Kardec ensinou que “Todo pecado cometido é uma dívida contraída que deve ser paga, numa ou em várias reencarnações”
O senhor tocou na questão da liberdade, e eu pergunto: se a minha situação atual é resultado de minhas vidas anteriores, e se minhas vidas futuras dependem de minhas decisões atuais, onde fica a verdadeira liberdade nisso tudo? A liberdade de sair de uma fatalidade! A liberdade de começar tudo de novo sem carregar o peso do passado!A liberdade de mudar radicalmente o meu destino! Essa expectativa de melhora é no mínimo ilusória!
Demais disso, o próprio Allan Kardec ensinou em sua obra “O Livro dos Espíritos” que o número de reencarnações é ilimitado. Vejamos:
“Pergunta: 168. “É limitado o número de existências corporais, ou o espírito reencarna perpetuamente?
Resposta: “Em cada nova existência o espírito dá um passo no caminho do progresso. Quando se tenha despojado de todas as imperfeições, não mais necessitará das provas da vida corporal”.
Em uma coisa estamos finalmente de acordo, qual seja, Jesus é o [único] caminho, a [única] verdade e a [única] vida. Ninguém vai ao Pai senão exclusivamente por meio dele [João 14:6]. E é por causa dessas palavras que nós precisamos rejeitar quaisquer tipos de atalhos que os homens inventam para se chegar a Deus. Lembre-se que o sábio diz: ” Há caminhos que ao homem parece direito, mas o fim deles conduz à morte.”[Provérbios 16:25]
Se formos colocar realmente em prática o que Jesus ensinou, teríamos que rejeitar a doutrina espírita completamente. Outra, não podemos ler e muito menos praticar o Santo Evangelho “segundo o espiritismo”, mas segundo o que ensinou Jesus e seus apóstolos o que passar disso é herético [Gálatas 1:6-8].
Não sou contra o espiritismo como religião e muito menos contra os espíritas. Assim como Deus ama o pecador e odeia o pecado, não precisamos necessariamente comungar com pontos de vistas extrabíblicos para amar as pessoas. Demais disso, devemos fazer jus ao que a nossa carta magna apresenta em seu artigo 5º e inciso VI – a liberdade religiosa.
Mas não é por isso que necessariamente todas essas religiões devem ser verdadeiras.
Que se pregue o espiritismo como religião, que se pregue-o como uma filosofia ou mesmo ciência, seja lá qual for. Todavia, uma coisa tem de ficar clara: Espiritismo e Cristianismo não se misturam. Querer casar as doutrinas espíritas com as doutrinas cristãs é querer unir o que Deus separou para sempre.
Conclusão: Gostaria que não levasse isso para o lado pessoal, já que estamos lidando no campo das idéias doutrinárias. Pessoalmente me simpatizei com o senhor e espero não perder essa nossa amizade.Que Deus possa dar-lhe compreensão das coisas escritas aqui.
Um forte abraço em Cristo,
Presb. Paulo Cristiano