O pecado de fazer contrapropostas a Deus

Às vezes o crente, na sua fraqueza, egoísmo, descuido, comodismo, superficialidade, frieza espiritual, e até mesmo desvio na fé, chega a fazer contrapropostas a Deus, apesar de conhecer a definida vontade divina.

E como se esse homem conhecesse a vida e tudo o que ela abrange melhor do que Deus, seu Criador, Redentor, Provedor, Salvador e Senhor.

É muito perigoso o homem, seja ele quem for, fazer contrapropostas a Deus. Elas são, via de regra, impensadas, inconsequentes, atrevidas e absurdas diante do Senhor, apesar de não parecerem assim ao homem.

A história, tanto a secular como a eclesiástica, registra resultados os mais confrangedores, desastrosos e graves, ocorridos a pessoas de todas as idades, posições e condições, que recusaram e largaram o plano de Deus para suas vidas. Elas seguiram suas próprias contrapropostas, que pareciam um paraíso de felicidade e progresso. Mais tarde, reconheceram com tristeza, pesar, remorso e arrependimento, o erro que cometeram em deixar de lado a vontade definida do Senhor e seguir suas próprias escolhas. Elas preferiram agir segundo seu próprio entendimento, olvidando Provérbios 3.5: “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento”.

A Bíblia registra algumas dessas contrapropostas do homem a Deus e também os penosos frutos disso.

Moisés, Israel e Saul

Em Êxodo 4.13, encontramos Deus chamando Moisés para cumprir uma missão que iria requerer bastante dele como comunicador. Consciente de que não era eficiente nesse campo, Moisés propôs como substituto o seu irmão Arão. Não muito tempo depois veio o fracasso da contraproposta de Moisés, no caso da idolatria e orgia generalizadas de Israel, no Monte Sinai, sendo Arão o líder interino do povo. A tragédia espiritual foi tão grande que naquela ocasião Deus quis destruir toda a nação, mas a intercessão quebrantada de Moisés, acompanhada de jejum, restringiu a justa ira divina (Dt 9.7-21).

Temos outro caso em Números 14.2 e 28. Aqui não foi uma pessoa, mas a nação inteira de Israel que fez uma contraproposta a Deus. Em lugar de continuarem a peregrinação para Canaã, eles preferiam morrer todos ali no deserto. Assim escolheram, assim ocorreu. De toda aquela vasta multidão que saiu do Egito sob a poderosa mão de Deus, morreram todos no deserto, com raríssimas exceções (Nm 26.65). Esta foi uma proposta atrevida e insolente que muito ofendeu a Deus.

Em I Samuel 8.5, é a vez dos líderes da nação de Israel fazerem uma contraproposta para Deus. Eles decidiram que a partir dali iam querer um rei como as demais nações à sua volta, e não mais juízes como Samuel, o homem a quem Deus colocara sobre eles. Ora, a época dos juízes, como prepostos de Deus, ainda não havia passado, segundo o relógio divino. Deus mesmo já havia dito que, ao chegar o momento de Israel ter um rei, deveria ser aquele que o Senhor mesmo escolhesse (Dt 17.15). Israel, ao rejeitar Samuel, estava rejeitando o próprio Deus, que o constituíra sobre aquele povo (ISm 8.7).

A contraproposta daqueles líderes era o jovem Saul, o qual, do ponto de lista humano, era a pessoa ideal para fazer um excelente governo como rei, mas todos sabem que Saul foi um fracasso como soberano. Nas provas a que Deus o submeteu, ele falhou sucessivamente, indo de mau a pior. Esta foi outra contraproposta humana fracassada no tocante às coisas de Deus.

Voltando a Números, vamos encontrar no texto de 11.4,6,18-20 o povo de Israel, desta vez instigado pelo “vulgo” que estava no meio dele, escolhendo alimentar-se de carne, em vez do maná provido por Deus, alegando que estava enjoado desse alimento durante a caminhada no deserto (Êx 16.35, Jo 6.31, Sl 78.24). Deus lhes deu carne, sim, mas muitos morreram de grande praga antes de engolirem a carne (Nm 11.33). A providência do maná tinha um antecedente negativo, relacionado com a murmuração do povo contra Deus, por causa de alimentação (Êx 16.2-4). Trazendo esse fato para os dias atuais e aplicando sua lição às nossas vidas, a proposta de carne em lugar de maná continua não dando certo nos dias de hoje.

A contraproposta de Jonas

Em Jonas 1.2, encontramos Deus ordenando ao profeta que fosse a Nínive anunciar a Palavra àquele povo perdido. Jonas, no entanto, decidiu seguir exatamente a direção oposta. Ele escolheu andar na contramão espiritual. Seguiu para Társis, que ficava no Ocidente, no sentido inverso a Nínive, no Oriente. Esta contraproposta do profeta custou-lhe caro. Deus fez surgir um temporal no alto-mar com todos os seus pormenores. Jonas, a seguir, teve um transporte bastante incômodo na direção de Nínive. Ele esteve três dias e três noites nas entranhas do grande peixe.

Após essa aventura, Deus falou ao profeta uma segunda vez (Jn 3.1). Agora, Jonas logo obedeceu (Jn 3.3), mas é bom saber que nem sempre Deus nos fala uma segunda vez. É bom obedecer na primeira vez.

Contraproposta no final dos tempos

O texto de IITessalonicenses 2.10-11 é uma importante passagem profética sobre os últimos dias deste mundo, quando o povo abertamente se rebelará contra Deus e rejeitará a sua verdade, e isso de modo sistemático e organizado: “…e com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira”.

Paulo deixa claro que em vista dessa escolha deliberada e provocadora, Deus lhes enviará “a operação do erro, para que creiam a mentira”, pois foi isto que escolheram. Esta é a contraproposta deles. Em Romanos 1.28, temos um desfecho idêntico: “E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém”. Esse texto faz referência ao humanismo perverso que prevalece hoje em todas as esferas de atividade da sociedade incrédula à nossa volta, ao endeusamento do ser humano, ao culto da personalidade.

No campo secular, e também religioso, as peças estão se encaixando no horizonte profético, conforme as passagens de IITessalonicenses 2.10-11 e Romanos 1.28. Que o povo de Deus esteja alerta, aguardando o Senhor na sua vinda.

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Pr. Antonio Gilberto, Artigo publicado na revista Pentecostes.

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