“Modernismo” ou “Neomodernismo Teológico” são expressões mui conhecidas, largamente usadas no mundo da teologia nos dias modernos. Em linhas gerais, designam o desvio teológico da linha de compromisso com a verdade divina, no ato de interpretar e comunicar as Escrituras.
O Modernismo Teológico, de acordo com estudiosos da teologia em nossos dias, está mais vinculado ao complexo sistema teológico e doutrinário de Karl Barth, teólogo suíço, nascido em 1886, e falecido em 1968, aos 82 anos de idade.
É sabido, porém, que o neomodernismo abriu fronteiras, rompendo os limites da teologia barthiana. Deste modo, este sistema teológico se faz presente no movimento ecumênico, levado a efeito por determinados segmentos do cristianismo, e, mais recentemente, na chamada “Teologia da Libertação”, que tanta confusão está causando.
- A TEOLOGIA DE KARL BARTH
Karl Barth foi, sem dúvida, um teólogo culto e um escritor prolifero. Dentre as principais obras que escreveu, destacam-se: A Palavra de Deus e a Teologia, A Teologia e a Igreja, O Novo Mundo da Bíblia, Questões Bíblicas, Necessidades e Promessas da Pregação Cristã, A Palavra de Deus como Dever da Teologia, Doutrina Reformada – Sua Essência e Dever e Fundamentos Dogmáticos. Mas, foi com a publicação do seu livro Comentários Sobre Romanos que ele tornou-se mundialmente conhecido.
1.1. Por que Karl Barth?
São duas as razões por que tomamos a pessoa de Karl Barth como ponto de partida da especulação da teologia neomodernista: Primeiro, grande número de teólogos mais conservadores da atualidade o consideram assim. Segundo, sua teologia tem contribuído para que determinados setores da teologia, nos dias hodiernos, dêem uma guinada, passando do verdadeiro e lógico para o absurdo e anti-bíblico.
A teologia barthiana tem influenciado tanto o pensamento teológico dos dias modernos, que muitos teólogos consideram Barth uma espécie de “profeta” e “reformador”. Porém, não há como esconder o erro embutido em suas conclusões teológicas, que infelizmente estão se infiltrando em vários seminários em nosso país e sendo adotadas por muitos ministros evangélicos brasileiros.
1.2. A Doutrina Neomodernista
Dentre os muitos pontos controversos da teologia barthiana e modernista liberal, destacam-se os seguintes:
1.2.1. A BÍBLIA
A Bíblia é “de capa a capa palavras humanas e falíveis… Segundo o testemunho das Escrituras sobre os homens, que também se refere a eles (isto é, aos profetas e apóstolos), eles podiam errar, e também têm errado, em toda palavra… mas, precisamente com essa palavra humana, falível e errada pronunciaram a palavra de Deus” (Fundamentos Dogmáticos, vols. I, II, pp. 558/588).
Segundo Barth, a infalibilidade da Bíblia é uma fantasia, só aceita por crentes ignorantes. Para ele, nem mesmo as palavras de Cristo, relatadas nos Evangelhos, são infalíveis. Ele vai mais além e afirma que os ensinamentos de Jesus, conforme dados no Evangelho, são tão afastados da verdade acerca de Deus como as mais cruéis idéias da primitiva religião.
Portanto, conclui ele, a Bíblia não é a divina e inspirada Palavra de Deus, a não ser que Deus resolva usá-la como meio de sua revelação, o que, segundo Barth, só se sucede quando ela é pregada pela Igreja.
1.2.2. O PECADO E A QUEDA
A pergunta: “Como o homem se tornou pecador?” responde Barth: “Não por uma queda do primeiro homem. A entrada do pecado no mundo, por Adão, não é um evento físico-histórico em qualquer sentido” (Comentário Sobre Romanos, p. 149). Isso, naturalmente, significa que o pecado não começou por uma livre escolha pela qual o homem preferiu desobedecer à lei divina. De fato, segundo Barth, o pecado pertence à natureza do homem como um ser criado. Desse modo, na qualidade de homem, até mesmo nosso Senhor Jesus Cristo foi carne pecaminosa — afirma Barth irreverentemente.
Se o pecado pertence à natureza do homem, na qualidade de ser criado, pode ele, nesse caso ser perdoado e salvo do seu pecado? Evidentemente Barth fala de perdão de pecado, mas “perdão” não significa, para ele, que o homem seja transformado e se torne uma nova criatura. Tudo quanto é criado é pecaminoso, e o crente é tão pecaminoso quanto o mais iníquo dos homens. Segundo Barth, “o pecado habitou, habita e habitará no corpo mortal enquanto o tempo for tempo, o homem for homem e o mundo for mundo”.
Não vemos esperança de real salvação para os neomodernistas, uma vez que crêem na Bíblia e em Deus ao seu próprio modo. Na realidade, eles mutilam a Bíblia e descrêem de Deus.
1.2.3. A Pessoa de Cristo
Quem lê o livro Credo, de Barth, tem a impressão de que ele crê no nascimento virginal de Jesus Cristo, o que não corresponde à verdade, à luz do contexto geral da teologia barthiana.
De acordo com Barth, na história tudo é relativo e incerto. Isso, evidentemente, aplica-se à vida terrena de Cristo. Por conseguinte, ele pode falar sobre o nascimento virginal de Cristo, mas como um “mito”.
1.2.4. A morte de Cristo
Barth ensina que Cristo morreu em desespero, e que isso é a indicação mais clara de que o homem não tem meios de chegar a Deus por sua religião! Em um de seus sermões, disse ele acerca de Cristo crucificado: “Ele se tornou humilhado, derrotado e sacrificado, pois não queria outra coisa senão vencer o eu humano e dar tudo nas mãos do Pai”. O significado da morte de Jesus, dessa forma, é apenas que Ele se sacrificou, e nada mais.
1.2.5. A ressurreição de Cristo
No seu livro Comentários Sobre Romanos, Barth chega a dizer que o ateu D. F. Strauss talvez tivesse razão em explicar a ressurreição de Cristo como “um embuste histórico”. Mas é Barth mesmo quem afirma: “A ressurreição de Cristo, ou o que dá no mesmo, a sua vida, não é um acontecimento histórico”.
1.2.6. ESCATOLOGIA
Ensina o barthianismo que a escatologia nada tem a ver com o futuro, e que a segunda vinda de Cristo não é um acontecimento vindouro. Ensina que esperar pela vinda do Senhor é acrescentar ansiedade à nossa situação real.
1.2.7. A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
Segundo a teologia neomodernista, a palavra “ressurreição” na Bíblia nada tem a ver com a ressurreição do homem da morte física. De fato, Barth ensina que a ressurreição já aconteceu.
1.2.8. O CÉU
Barth destaca em seu ensino que a esperança que o crente nutre de ir para o céu é uma prova do cristianismo egoísta que está vivendo. Por isso, diz ele que o verdadeiro crente não necessita da imortalidade da alma, nem do julgamento final e nem do céu.
1.3. A Bíblia Refuta as Doutrinas Neomodernistas
Ao refutar o neomodernismo ou barthianismo, a Bíblia nega toda e qualquer possibilidade de salvação aos neomodernistas aprisionados nos seus próprios erros. Veja o que dizem as Escrituras a respeito dos temas abordados:
1.3.1. A BÍBLIA
A Bíblia é a Palavra de Deus, e, portanto, é:
- o Livro infalível e imutável dos séculos (SI 119.89);
- divinamente inspirada (2 Pe 1.21);
- absolutamente digna de confiança (1 Rs 8.56; Mt 5.18);
- pura (SI 19.8);
- santa, justa e boa (Rm 7.12);
- perfeita (SI 19.7; Rm 12.2);
- verdadeira (SI 119.142).
1.3.2. O PECADO
Deus não é autor nem cúmplice do pecado, pois:
- Ele não pratica perversidade, nem comete injustiça (Jó 34.10);
- Ele fez o homem reto (Ec 7.29);
- o homem foi advertido de não pecar (Gn 2.16,17);
- o homem caiu em pecado por sua própria escolha (Gn 3.6,7);
- aquele que confessa o seu pecado e o deixa, alcança do Senhor misericórdia e perdão (Pv 28.13; 1 Jo 1.9).
1.3.3. A Pessoa de Cristo
Cristo era uma Pessoa real:
- Ele nasceu duma virgem (Is 7.14; Lc 1.27);
- Ele foi isento de pecado (Hb 7.26);
- Ele foi visto por João Batista (Jo 1.29), Anás (Jo 18.12,13), Pilatos (Jo 18.28,29) e Herodes (Lc 23.8).
1.3.4. A morte de Cristo
A morte de Cristo foi um fato histórico e real:
- foi testemunhada pelo centurião romano (Lc 23.45-47);
- foi testemunhada pelos soldados romanos (Jo 19.32,33);
- José de Arimatéia e Nicodemos tomaram seu corpo, embalsamaram-no e o enterraram (Jo 19.38-42).
1.3.5. A ressurreição de Cristo
A ressurreição de Cristo foi um fato histórico e real. Após ressurreto Ele foi visto:
- pelos guardas do sepulcro (Mt 28.11-23);
- por Maria Madalena (Jo 20.16);
- por dez dos seus discípulos (Jo 20.19-23);
- por Tome (Jo 20.26-29);
- por sete dos seus discípulos (Jo 21.1-14);
- por Simão Pedro (Jo 21.15-19);
- por mais de quinhentos irmãos (1 Co 15.6).
1.3.6. ESCATOLOGIA
A escatologia bíblica é clara, e, segundo ela, os acontecimentos finais obedecerão à seguinte ordem:
- O arrebatamento da Igreja (1 Ts 4.17).
- O comparecimento dos crentes ao tribunal de Cristo, nos céus (2 Co 5.10), enquanto na Terra ocorrerá a Grande Tribulação (Mt 24.15-28).
- A manifestação de Cristo em glória acompanhado dos seus santos e anjos (Mt 24.30).
- A batalha do Armagedom (Ap 16.16).
- O julgamento das nações (Mt 25.32).
- A prisão de Satanás por mil anos (Ap 20.1-3).
- A inauguração do reino milenar de Cristo na Terra (Is 2.2-4; 65.18-22).
- A soltura de Satanás por um breve espaço de tempo, para logo ser preso para sempre (Ap 20.7-10).
- O juízo do Grande Trono Branco (Ap 20.11-15).
- O estabelecimento dos novos céus e da nova Terra (Ap 21.1).
1.3.7. A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
A ressurreição dos mortos é um assunto tratado de forma abundante e inequívoca em toda a Escritura, sobre a qual falaram:
- Jó (Jó 19.25-27);
- Davi (SI 17.15);
- Jesus (Mt 22.31; Lc 14.14; 20.35,36; Jo 5.29);
- Marta (Jo 11.24);
- Paulo (At 23.6; 24.21; 1 Co 15.13);
- O autor da Epístola aos Hebreus (Hb 6.2);
- João (Ap 20.5,6).
1.3.8. Acerca do Céu
O céu existe, ele é real. Por que o crente o deseja e espera nele morar? Dentre outras razões sobressaem-se as seguintes:
- No céu está a habitação e o trono de Deus (At 7.49).
- Do céu foi derramado o Espírito Santo (Mt 3.16; At 2.33).
- No céu está a nossa pátria (Fp 3.20).
- Do céu virá Jesus (Mt 24.30).
- O verdadeiro crente aguarda o estabelecimento dos novos céus e da nova Terra, onde habita a justiça de Deus (2Pe3.13).
- UMA SOLENE ADVERTÊNCIA
Escrevendo a Timóteo, e, em extensão, a nós hoje, diz o apóstolo Paulo: “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento” (l Tm 6.3-6).
2.1. Detectando os Falsos Teólogos
De acordo com 1 Timóteo 4.1, abandonar a verdade e disseminar o erro é muito mais que uma preferência pessoal. Aquele que assim age está “dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina de demônios”. É aqui que se enquadram os neomo-dernistas. Mas como detectá-los? De acordo com 1 Timóteo 6.3-5, o falso teólogo é alguém que: a) ensina outra doutrina que não aquela ensinada pelo Senhor Jesus Cristo, que é segundo a piedade; b) é soberbo, dado a discussões fúteis que não levam a nenhum proveito.
Num ultrajante desrespeito à Escritura, os liberais ou teólogos modernistas fazem a interpretação que bem lhes convém. Chamam a isto emprego de “palavras conotativas”, uma forma de “contextualizar” a Escritura à realidade moderna. Exemplo: já não empregam a palavra “reconciliação” no sentido bíblico de o homem reconciliar-se com Deus. “Redenção” já não é empregada no sentido bíblico de o homem ser salvo do pecado e do castigo eterno. Em vez disso, dão-lhe diferente “conotação”, e opinam que esta tem a ver com a melhoria social e cultural da sociedade. “Missões” foi substituída por “diálogo”; e “conversão” passou ser um conceito inaceitável.
2.2. Evitando os Falsos Teólogos
Os teólogos comprometidos com o neomodernismo são pessoas que se deixaram enredar pela astúcia do diabo, o pai da mentira. Por lhes faltar genuína conversão, falta-lhes também a visão de Deus quanto ao real estado do homem sem Cristo. Um boletim publicado pelo Concilio Mundial de Igrejas, em uma grande cidade, para orientação de pregadores de rádio, ilustra este ponto:
“Os temas devem difundir amor, alegria, coragem, esperança, fé, confiança, boa vontade. Em geral, evite críticas e controvérsias. Na realidade, estamos ‘vendendo religião’. Portanto, preparar os cristãos para levarem a sua cruz, sacrificarem-se e servirem, ou convidar os pecadores ao arrependimento está fora de moda. Porventura não podemos, como apóstolos, convidar o povo a gozar dos nossos privilégios, fazer bons amigos e ver o que Deus pode fazer por ele?”
Alguém comparou os teólogos liberais ou neomodernistas a um comerciante que tem de reserva sob seu balcão toda espécie de artigos. Quando um liberal à moda antiga lhe vem pedir liberalismo, o neomodernista estende a mão sob o balcão e diz: “Mas é exatamente o artigo que vendemos aqui”. E se um cristão bíblico entra na loja, o neomodernista com o mesmo gesto, responde: “Mas é exatamente o artigo que vendemos aqui”.
Eis uma real descrição do neomodernismo, capaz de adequar a sua linguagem e o seu comportamento de maneira a agradar a quem quer que seja.
Ao crente fiel, porém, recomenda o Espírito Santo, através de Paulo, que se afaste dos falsos teólogos e seus ensinos, milite a boa milícia da fé, tome posse da vida eterna, e obedeça ao mandamento do Senhor, mandamento esse sem mácula e irrepreensível (lTm 6.5,12,14).
Extraído do livro “SEITAS E HERESIAS”, RAIMUNDO DE OLIVEIRA, Ed. CPAD