O Mundo de Plágios de EG White

Análise Crítica do Artigo “Ellen White Me Comoveu!” Publicado na Revista Adventista de Junho de 1982.

Quando alguém pesquisa na internet alguma coisa a respeito dos plágios de Ellen White, logo essa pessoa se depara com muitos links postados pelo Centro White (que é o departamento da Igreja Adventista que responde pelos seus escritos) onde eles, logicamente, procuram, por todos os meios, defendê-la de tal acusação.

Este artigo, “Ellen White Me Comoveu!”, (acesse a entrevista na íntegra no seguinte link: http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-sobre-ellen-g-white/entrevista-com-o-dr-ramik/), que é uma entrevista com um advogado chamado Dr. Ramik, que como diz o artigo, foi pago pela IASD para efetuar uma investigação onde se comprovaria se Ellen White cometeu plágio, ou não, em seus escritos. Esta entrevista é muito utilizada por eles, como sendo muito persuasiva, por se tratar de um advogado especialista em direitos autorais, e sendo ele católico, passa a ideia de neutralidade na execução da investigação.

Analisando o artigo, já pelo título, “Ellen White me comoveu!”, é possível notar a maneira tendenciosa de como o artigo foi escrito. Fica nítido a intenção de mostrar como o Dr. Ramik ficou tocado ao ler os escritos de Ellen White e o quanto isso se torna o ponto mais importante em sua investigação, e o de maior peso em sua conclusão final, deixando o lado jurídico em segundo plano. O Dr. Ramik assume  que, ao princípio da investigação, ele ficou “pensando que Ellen White era (se é que posso usar a expressão usada por outros) uma pessoa ‘que usava material literário emprestado’ de outras fontes. E que havia utilizado grande quantidade desse material com pouca honestidade”, mas que mudou a sua opinião ao ler o conteúdo dos livros dela, pois a sua mensagem o comoveu. Não tenho nada contra o fato de ele se comover ao ler os livros de Ellen White, mas sim, por adicionar isso à sua investigação como sendo a prova da inocência dela. Agindo assim, o seu papel no caso, passa a ser mais de um advogado de defesa, ou no mínimo um apologista, do que de um investigador imparcial.

Imagine ele, sendo o advogado de Ellen White, defendendo seu caso perante uma corte. Qual seria o juiz que a absolveria da acusação de plágio simplesmente por que seus livros comovem as pessoas? É o mesmo que dizer que plágio é permitido, desde que a obra do plagiador comova alguém. Isto é ridículo! Seria defender que “os fins justificam os meios”.

Há um raciocínio lógico que logo vem à mente, que é: Se o conteúdo dos livros de Ellen White o comoveu, e se ele assume que ela “emprestou” as ideias de outros autores, não se conclui que o que o comoveu foram em grande parte fruto das fontes de onde ela tirou? Tire dos livros dela tudo o que foi “emprestado” e veja o que sobra. Teria o Dr. Ramik sido comovido com o que sobrou?

O Dr. Ramik diz: “De onde provêm as palavras, nesse caso, não é o mais importante.” Nesse caso, então, não existe plágio. Pois todos poderão dizer a mesma coisa. O músico poderá dizer: “De onde provêm as notas musicais, não é o mais importante.” O pintor poderá dizer: “De onde provêm os traços e cores, não é o mais importante.” O arquiteto poderá dizer: “De onde provêm as ideias arquitetônicas, não é o mais importante.”, e assim por diante. A verdade é que: não importa o que você faz com o material que você plagiou; nada irá mudar o fato de que você se apoderou de algo que não te pertence, e o  chamou de seu.

Ele continua: “Não faria nenhuma diferença para mim ainda que ela tivesse tomado tudo emprestado de outros autores.”

Que declaração! Isto é próprio de um advogado de defesa, desesperado para provar a inocência de seu cliente. Agora nada mais importa, mesmo se tudo fosse copiado por ela. Para ele, o que importa é se o leitor “foi tocado” ao ler seus livros. Como se os fins santificassem os meios, mesmo se eles fossem atos imorais.

Ele diz: “Não se pode, ao ler os escritos de alguém, encontrar uma palavra, uma frase, uma sentença, e dizer: ‘Aqui está! Encontrei! Isto pertence a outro escritor!’. Permita-me explicar melhor: Na noite passada reli o meu parecer legal sobre este caso, e descobri que havia utilizado o adjetivo ‘prodigiosa’

ao me referir a Ellen White como escritora. Por coincidência, li também ontem à noite um livro que me foi emprestado, chamado The Vision Bold. Esse livro falava de Ellen White como ‘prodigiosa’ escritora. Quando cheguei aqui hoje à tarde, alguém referiu-se a ela como ‘prodigiosa’ escritora. Bem, eu não usei esse termo porque outros o usaram; utilizei-o porque é uma palavra que emprego normalmente. Entretanto, os críticos tomam esse tipo de coisas e os transformam em verdadeiras montanhas que são, porém, inconsistentes.”

Aqui, o Dr. Ramik coloca palavras soltas, ferramentas de escrita, no mesmo nível de ideias que são o produto da mente criativa do escritor. É claro que no caso citado por ele, não se caracteriza plágio, pois foi somente uma palavra, um adjetivo utilizado, e adjetivos são ferramentas da língua utilizadas na escrita. Quando você pensa em alguém talentoso e quer descrevê-lo, você não terá muitas opções em  se tratando de sinônimos de adjetivos, e, aí, fatalmente, outros repetirão a palavra que você utilizou. Plágio se caracteriza pelo uso de ideias originais de outros escritores e não de algumas palavras soltas. Eu tenho visto várias análises feitas por apologistas adventistas, onde eles apontam para as palavras em verbatim que Ellen White copiou de outros e dizem: “Vejam como ela copiou pouco! Isto é um “empréstimo” dentro do “uso honesto”. Eles pegam as paráfrases, e nelas, eles isolam somente as palavras que são iguais ao original. Mas, quando você lê as mesmas passagens, analisando o conteúdo, você vê que o que foi plagiado foi a ideia, o pensamento, e não as palavras em verbatim. Você pode constatar isso em alguns exemplos que apresento neste artigo, começando pelo último parágrafo desta página.

O Dr. Ramik continua dizendo: “Outro aspecto que geralmente os críticos ignoram é: as declarações supostamente plagiadas de outro escritor eram originalmente deste, ou teria também este se utilizado consciente ou inconscientemente de matérias de outro autor? Falemos agora de Walter Rea. Ele leu as obras de Ellen G. White e afirmou: encontrei uma frase aqui, um parágrafo ali, que pertenceram a outros escritores. Bem, isso não prova nada; é apenas uma suposição. Creio que o primeiro passo para se fazer uma crítica correta e consciente é através do exame da obra original – que pode ser Virgílio, Homero, ou mesmo a Bíblia. Porém, como saber se esta é realmente original, ou se o seu autor também não se valeu de outras fontes mais antigas? Não afirmou Salomão que ‘não há nada novo debaixo do Sol’”?

Olha, sinceramente, não dá para acreditar que ele tenha dito isso! Ele, então, quer dizer que não se pode acusar ninguém de plágio pelo simples fato de que não se pode provar que o suposto escrito original é na verdade original? Se de onde Ellen White plagiou foram escritos onde também se  comprova que houve plágio, isso não vem ao caso. Se for provado que eles não são originais, os autores deverão enfrentar a justiça ou no mínimo a Deus pelo ato imoral cometido, mas isso não livra a culpa dela por plagiá-los. Na vida real, ladrão que rouba ladrão não tem cem anos de perdão.

O Dr. Ramik discorda de Walter Rea em relação à questão moral e ética envolvendo o plágio. Aqui eu concordo plenamente com ele. Ele diz: “Ele está totalmente equivocado ao dizer que não há elementos morais em questões de plágio.” Ele cita H. N. Paull, autor de Literary Ethics, que contrasta o plágio com a pirataria: “Ao pirata literário não importa que o identifiquem; porém, aquele que comete plágio se preocupa com a possibilidade de vir a ser descoberto.” Aqui se vê, que quem comete plágio, comete um ato imoral, pois, o fato de esta pessoa tentar esconder o que fez, denota que ela sabe que está fazendo algo errado. Ao examinar como Ellen White “emprestou” do livro Life and Epistles of Saint Paul dos autores Conybeare e Howson, eu tenho constatado que é justamente isso o que ela fez. Vou dar alguns exemplos de trechos que foram copiados por ela; note como ela usa paráfrases para esconder o plágio:

Em seu livro “Sketches from the Life of Paul”, Capítulo I, página 17, Ellen White diz: “As Stephen stood face to face with his judges, to answer to the crime of blasphemy, a holy radiance shone upon his countenance. ‘And all that sat in the council, looking steadfastly on him, saw his face as it had been the face of an angel.” Those who exalted Moses might have seen in the face of the  prisoner the same holy light which radiated the face of that ancient prophet.”

Tradução: “Quando Estêvão ficou face a face com os juízes, para responder sobre o crime de blasfêmia, uma santa luz brilhou de seu rosto. ‘E todos os que estavam assentados no concílio, olhando fixamente para ele, viram o seu rosto como sendo o rosto de um anjo.’ Aqueles que exaltavam Moisés viram na face do prisioneiro a mesma santa luz que radiou da face do antigo profeta.”

A Bíblia não fala da luz que radiou da face de Estevão, apenas diz que: “Seu rosto era como de um anjo.” E muito menos faz uma correlação dessa luz com a luz que radiou do rosto de Moisés. De onde Ellen White tirou isso tudo? Pode ser de sua imaginação, o que é esperado para este tipo de relato, pois o escritor tenta imaginar o que poderia ter acontecido a partir do relato bíblico. Ou pode ter sido dado pelo Espírito Santo em visão, como ela alegava. Mas, quando você vai para o livro Life and Epistles of Saint Paul, página 65, você encontra o seguinte:

“Before these judges Stephen was made to stand, confronted by his accusers. The eyes of all were fixed upon his countenance, which grew bright, as they gazed on it, with a supernatural radiance and serenity. In the beautiful Jewish expression of the Scripture, “They saw his face as it had been that of an angel.” The judges, when they saw his glorified countenance, might have remembered the shining on  the face of Moses…”

Tradução: “Perante aqueles juízes, Estêvão, em pé, confrontou seus acusadores. Os olhos de todos estavam fixos em seu rosto que começou a ficar radiante, enquanto eles olhavam para ele, com uma luz supernatural e serena. Na bela expressão judaica das Escrituras, ‘Eles viram sua face como se fosse a de um anjo.’ Os juízes, quando viram seu rosto glorificado, podem ter se lembrado da face brilhante  de Moisés.”

Assim, fica revelado de onde ela tirou a ideia da luz radiando do rosto de Estêvão e da alusão à luz que irradiou do rosto de Moisés. Note que até mesmo a sequência dos detalhes é seguida.

Ela toma essas ideias, que não são delas, e através de paráfrases, procura esconder a fraude. Paráfrase é a maneira mais sutil de se plagiar, e, é o que mais revela a intenção do escritor, que é o de ocultar o roubo literário.

Outro exemplo, na mesma página: “Stephen was questioned as to the truth of the charges against him, and took up his defense in a clear, thrilling voice that rang through the council hall.”

Tradução: “Estêvão foi interrogado sobre a verdade das acusações feitas contra ele, e ele fez a sua defesa em uma voz clara e emocionante, que ecoou através da sala do concílio.”

Não encontramos esse detalhe da voz de Estevão ecoando pelas salas do concílio, na Bíblia. Mas, na página 66 do Life and The Epistles of Saint Paul, encontramos o seguinte: “And then Stephen answered; and his clear voice was heard in the silent council-hall.”

Tradução: “E, então, Estêvão respondeu; e sua voz clara foi ouvida na sala do concílio que estava em  silêncio.”

 Ela continua, no mesmo parágrafo:  “He (Stephen) proceeded to rehearse the history of the chosen people of God, in words that held the assembly spell-bound. He showed a thorough knowledge of the Jewish economy, and the spiritual  interpretation of it now made manifest through Christ.”

Tradução: ”Ele (Estêvão) prosseguiu repassando a história do povo escolhido de Deus, em palavras que deixou a assembleia boquiaberta. Ele mostrou completo conhecimento da instituição judaica, e a sua interpretação espiritual agora manifestada através de Cristo.”

O Life and The Epistles of Saint Paul, no mesmo parágrafo,diz: “…as he (Stephen) went through the history of the chosen people, proving his own deep faith in the sacredness of the Jewish economy, but suggesting, here and there, that spiritual interpretation of it which had always been the true one, and the truth of which was now to be made manifest to all.” Tradução: “…enquanto ele (Estêvão) repassou a história do povo escolhido, mostrando sua profunda fé na sagrada instituição judaica, mas sugerindo, aqui e ali, a sua interpretação espiritual que tinha sempre sido a verdadeira, e a verdade que agora seria manifestada a todos.”

Através de paráfrase, como se pode ver, ela copia os comentários dos autores, seguindo a mesma sequência de detalhes. Detalhes que não são encontrados nas Escrituras.

Observem agora como ela plagiou este trecho, que se encontra no capítulo IX, página 93: “The judges sat in the open air, upon seats hewn out in the rock, on a platform which was ascended by a flight of stone steps from the valley below.”

Tradução: Os juízes assentaram-se ao ar livre, sobre assentos escavados na rocha, em uma plataforma que foi erguida por um lance de degraus de pedra do vale abaixo.”

Na página 324 do Life of Paul, encontramos: The judges sat in the open air, upon seats hewn out in the rock, on a platform which was ascended by a flight of stone steps immediately from the Agora.”

Tradução: Os juízes assentaram-se ao ar livre, sobre assentos escavados na rocha, em uma plataforma que foi erguida por um lance de degraus de pedra próximo ao Agora.” A sentença é quase toda em verbatim. Se isso tivesse acontecido nos dias de hoje, diríamos que ela teria se utilizado do famoso Control V + Control C, apenas mudando duas palavras no final da sentença.

O que diz Dr. Ramik sobre este específico plágio?

Ora, acusar Ellen G. White de ter plagiado Life of Paul de Conybeare & Howson, livro não protegido por direitos autorais, é um absurdo, pela simples razão de haver ela recomendado publicamente  que os seus leitores adquirissem o referido livro e o lessem por si mesmos.”

Quando ele diz que o livro Life and Epistles of Saint Paul by Conybeare & Howson não estava protegido por direitos autorais, ele está certo. O livro era estrangeiro e não havia ainda uma lei que protegesse os autores internacionais, lei essa que só foi assinada em 1891.

Entretanto, não estar protegido por leis de direitos autorais, ou estar em domínio público, somente significa que o autor não tem o direito de receber royalties pelo uso de seu livro por outro escritor. Não significa que a obra deixe de lhe pertencer. Você pode utilizar trechos de uma obra não protegida, sem precisar pagar royalties ao autor, mas você deve ainda dar crédito a ele. Se você não o faz, apesar de não ter que pagar pelos direitos autorais, você estará cometendo plágio, o que é moralmente incorreto, pois isto seria um roubo literário.

O fato de Ellen White ter recomendado o livro à igreja é baseado na seguinte declaração: “The Life of Saint Paul de Conybeare e Howson, eu considero um livro de grande mérito, e um livro de rara utilidade para um cuidadoso estudante do Novo Testamento.” Isto é no mínimo estranho, pois, ao fazer isso, ela estaria recomendando um livro que se opunha à guarda do sábado e reconhecia o domingo como sendo o dia no qual os primeiros cristãos se reuniam para o culto a Deus, indo diretamente contra as teorias adventistas. Na página 396, desse livro, após citar a adoração aos anjos como sendo uma das heresias enfrentadas pela igreja primitiva, nós encontramos o seguinte:

“Mas isto não foi o único elemento judaico nos ensinos dos heréticos colossenses. Nós encontramos que eles fizeram uma questão de consciência o observar os sábados judaicos e festivais, e a eles eram impostos os rituais, e o fazer distinção entre os diferentes tipos de comida.”

Na página 385, descrevendo as práticas da igreja apostólica, nós lemos:

“Os festivais observados pela Igreja Apostólica eram, a princípio, os mesmos que os dos judeus; e a observância deles foi continuada, especialmente pelos cristãos nascidos judeus, por um tempo considerável. Um maior significado e mais espiritual, entretanto, foi agregado a sua celebração; e particularmente a festa da Páscoa foi observada, não mais como uma sombra de boas coisas porvir, mas como a comemoração das bênçãos outorgadas na morte e ressurreição de Cristo. Assim, nós vemos o germinar de um nosso festival de Páscoa na exortação que São Paulo dá aos coríntios concernentes a maneira que nós devemos celebrar a festa pascal. Não era somente nesta festa anual que eles mantinham a memória da ressurreição do seu Senhor; cada domingo, da mesma forma, era um festival em memória do mesmo evento; a igreja nunca falhava em se reunir para orar e louvar juntos  naquele dia da semana; e esse dia logo recebeu o nome de ‘O Dia do Senhor’, que desde então, assim  permanece.”

Assim, nós vemos que ao elogiar e recomendar o livro, ela estaria colocando a sua igreja em contato com as “heresias” que ela tanto combatia. Como, esse livro poderia ser “um livro de grande mérito, e um livro de rara utilidade para um cuidadoso estudante do Novo Testamento”, se ele mostra a guarda do sábado como sendo uma das heresias combatidas pela Igreja Apostólica? Que grande mérito teria esse livro que descreve essa mesma igreja se reunindo todos os domingos para adoração a Deus, dia este que, para ela, é a “marca da besta”? E sendo o domingo já observado na era apostólica, como fica a sua teoria de que o sábado continuou sendo observado pela igreja primitiva até o Século IV, quando ele, então, foi mudado para o domingo pelo papado?

Um detalhe importante é que Ellen White fez essa declaração no dia 22 de Fevereiro de 1883, e o seu livro foi publicado em Junho do mesmo ano. Se, no momento em que fez a declaração, ela já estava escrevendo o seu livro, porque ela iria aconselhar a sua igreja a adquirir um livro que claramente, pelo conteúdo similar, concorria com o seu? Porque recomendar o livro, se o seu livro estaria à disposição da igreja em quatro meses, e segundo os seus apologistas, muito superior ao que foi copiado? Porque na mesma época, ela não mencionou o livro que estava escrevendo?

Tudo leva a crer que quando ela fez a declaração em prol do livro de Conybeare & Howson, ela nem sequer havia pensado em escrever o seu livro. Ela gostou muito do livro Life of Paul, e, não era para menos. A obra é de uma qualidade insuperável, no que tange em descrever a vida de Paulo. As informações históricas e geográficas juntamente com uma narrativa envolvente são tão bem apresentadas que até hoje o livro é tido como uma referência no assunto, sendo considerado um clássico.

Em minha opinião, após recomendar o livro à igreja, foi detectado que o livro continha ideias contrárias às doutrinas adventistas, como eu mostrei acima. Assim, ela teve a ideia de escrever o Sketches from The Life of Paul; para isso, ela copiou extensivamente do livro de Conybeare & Howson utilizando-se de paráfrases para esconder o plágio, retirou as “heresias”, e no lugar delas, ela inseriu as doutrinas adventistas. Aí, alguém pode dizer, “como ela faria isto em somente quatro meses?” O próprio Centro White dá a resposta:

“Durante sua vida, Ellen White escreveu um total estimado de 25.000.000 de palavras em suas cartas, manuscritos, artigos e livros. Frequentemente, em seus anos mais produtivos, ela escrevia uma média de 4.500 palavras (18 páginas) por dia.” Ellen White e o Uso de Fontes Não Inspiradas, Centro de Pesquisas Ellen White.

Calculemos: ela escrevia 18 páginas por dia, o livro contem 328 páginas; assim sendo, ela precisaria de somente 19 dias para escrevê-lo sobrando ainda um bom tempo para o trabalho de revisão e impressão.

Outra coisa, se Ellen White não cometeu o plágio, como a igreja alega, então, por que o seu livro foi retirado de circulação após a acusação de plágio ser levantada? Eles dizem: “Nunca Ellen White foi acusada de tal delito em seus dias; copiar de outros era comum naquela época, pois, a sociedade não  via plágio como nós o vemos hoje.” Eu vou apresentar dois exemplos para provar que isso não é verdade:

1º. Na edição do Jornal Healdsburg Enterprise de 20 de Março de 1889, Healdsburg, Califórnia, foi publicado um artigo com o título “É a Sra. White Uma Plagiadora?” O artigo, que é referente a um debate que ocorreu entre D. M. Canright e o pastor Healey, apologista adventista, diz o seguinte, em sua introdução: Webster (Dicionário Americano) define um plagiador da seguinte forma: ‘Alguém que rouba os escritos de outrem e toma-os como sendo seus’. Plágio, de acordo com a mesma autoridade, é ‘o ato de roubar os trabalhos literários de outra pessoa, ou introduzir passagens dos escritos de outra pessoa em seus escritos tomando-os como sendo seus’; roubo literário’. Nós desejamos neste artigo, comparar alguns trechos dos seguintes livros: ‘História do Sábado’ de Andrews; ‘Vida de Guilherme Miller’ de James White; História dos Valdenses’ de Wylie; ‘O Santuário’ de Uriah Smith e História da Reforma’ de D’ Aubigne, com trechos do ‘Grande Conflito’ e do ‘Espírito de Profecia’ Vol. IV, para vermos se a Sra. White tem ‘introduzido passagens de escritos de outra pessoa tomando-as como sendo dela’. Se ela tem feito isso, então, de acordo com o Webster, a Sra. White é uma plagiadora, uma ladra literária”. Em seguida, o artigo apresenta, lado a lado, alguns exemplos tirados dos livros de Ellen White comparando-os com os outros livros. Em conclusão, ele diz: “Observe que Wylie dá o devido crédito quando ele cita a bula papal e a Sra. White não. Certamente é notável, para se dizer no mínimo, que Wylie, um escritor não inspirado, seja mais honesto nesta questão do que a Sra. White, que alega que todos os fatos históricos e até as citações são dados a ela em visão. Provavelmente um instante de visão defeituosa! Agora nós perguntamos: Não concluiria qualquer crítico literário, julgando pelas citações mencionadas e as comparações das passagens indicadas com as citações, que a Sra. White, ao escrever o seu ‘Grande Conflito’, Vol. IV, teve perante si os livros abertos e deles tirou as ideias e palavras? Nós perguntamos ao leitor sincero se nós temos sustentado a nossa posição. Ela (Sra. White), não se torna assim culpada de ‘introduzir passagens de escritos de outra pessoa e tomá-las como se fossem suas’? Se sim, nós temos provado o ponto em questão, e, de acordo com Webster, a Sra. White é uma plagiadora, uma ladra literária.”

Assim, nós vemos que, já na sua época, ela foi acusada de plágio, e isto, publicamente.

. Este outro exemplo vem de dentro da Igreja Adventista. Ele foi registrado numa das reuniões da Conferência Bíblica de 1919. No dia 30 de Julho, tendo como tema de discussão: “O Uso do Espírito de Profecia em Nosso Ensino da Bíblia e História”, o presidente A. G. Daniels, sendo o moderador da reunião, faz a seguinte declaração: “…agora, tomemos esse pequeno livro, The Life of Paul (é assim que eles se referiam ao Sketches from the Life of Paul de Ellen White) . Suponho que todos saibam das acusações que foram levantadas contra ela, alegações de plágio, até pelos autores da obra, Conybeare e Howson, e estavam a ponto de trazer problemas para a denominação por haver grandes porções do livro deles introduzidas no The Life of Paul sem quaisquer créditos ou aspas. Algumas pessoas de lógica estrita podem sair dos trilhos quanto a isso, mas não sou dessa estrutura. Descobri o fato, e li-o com o Irmão Palmer quando ele o encontrou; apanhamos Conybeare e Howson, e o História da Reforma de Wylie, e lemos palavra por palavra, página após página, e nenhuma citação, nenhum crédito, e realmente eu não sabia a diferença até que comecei a compará-los. Eu supunha que era obra da própria Irmã White! Ali eu vi a manifestação do humano nesses escritos.

Sobre este ocorrido, a IASD diz que, o então presidente A. G. Daniels se equivocou. Que ele mencionou o ocorrido de memória e que aquilo tudo não ocorreu. Entretanto, é interessante notar que, presentes naquele evento, estavam mais de 50 participantes da liderança da igreja, entre eles, teólogos, redatores, editores, eruditos e professores; e que ali se encontravam grandes nomes da instituição, como: G. B. Thompson; W.W. Prescott; C.S. Longacre; F. M. Wilcox; L. L. Caviness; W. E. Howell e outros; e que quando A. G. Daniels diz: “Suponho que todos saibam das acusações que foram levantadas contra ela, alegações de plágio, até pelos autores da obra, Conybeare e Howson, e estavam a ponto de trazer problemas para a denominação por haver grandes porções do livro deles introduzidas no The Life of Paul sem quaisquer créditos ou aspas.”, ele deixa bem claro que o fato ocorrido era de conhecimento de todos e nenhum dos presentes o interpelou dizendo que ele estava equivocado, que ele estava tendo um lapso de memória. Como se pode verificar, ao se ler a transcrição da reunião (que está disponível em vários sites, inclusive no site do Centro White) a participação dos membros era livre, em diálogos francos e abertos. Todos os presentes se calaram, mostrando com isso que o fato realmente havia acontecido.

Assim, por esses dois exemplos acima citados, comprova-se que ela foi acusada de plágio já na sua época. O primeiro a chamar a atenção para o costume de Ellen White de copiar de outros foi o ex-pastor adventista D. M. Canright, em seu livro Seventh Day Adventism Renounced, (O Adventismo do Sétimo Dia Renunciado) escrito em 1889, mas a igreja conseguiu de alguma forma abafar e negar o fato pelas décadas seguintes; mas após a investigação feita por Walter Rea, e apresentada em seu livro The White Lie (A Mentira Branca) de 1982, onde o autor apresenta vasto material onde se comprova o plágio de Ellen White, negar o fato ou procurar uma explicação plausível para o mesmo tornou-se agora um grande problema para igreja adventista.

Vamos continuar a ouvir o Dr. Ramik: “Não havia nenhuma razão que impedisse Ellen G. White de usar ideias de outros para expressar os pensamentos que ela queria transmitir.”

Como não? Em 31 de Maio de 1790, George Washington assinou a primeira Lei Federal de Direitos Autorais, isto é, 37 anos antes de Ellen White ter nascido. Apesar de rudimentar ao princípio, essa lei recebeu em anos posteriores (como as Emendas de 1802 e 1831, para citar alguns exemplos anteriores aos trabalhos de Ellen White) atualizações que a aperfeiçoou, dando mais proteção aos escritores, e adicionando outras categorias como os compositores, pintores, etc.. Assim, a história confirma que na época em que viveu Ellen White, plágio e pirataria literária já eram considerados por lei como um ato criminoso. Copiar de outros, após 1790, não era mais tolerado pela sociedade, e a originalidade, então, passou a ser desejada. O artigo acusando Ellen White de plágio publicado no Jornal Healdsburg Enterprise e a declaração do presidente A. G. Daniells em relação à acusação de plágio feita pelos escritores Conybeare e Howson, relatada acima, demonstra isso; mas quero apresentar agora três outros exemplos, todos de dentro da Igreja Adventista, mostrando como, para eles e para a sociedade da época de Ellen White, plágio era tido como algo repugnante, criminoso, totalmente contrário ao espírito cristão:

1º. Uriah Smith, em 1864, escreveu um artigo na Review and Herald, com o título “Plágio”, acusando uma poetisa de plagiar a letra de um hino composto por sua sobrinha Annie R. Smith que havia sido postado na Review, em 1851. Ele diz: “Estamos perfeitamente dispostos a que trechos da Review ou de

qualquer de nossos livros sejam publicados até certo ponto, porém, tudo o que pedimos é que se nos façam simples justiça, dando-nos o devido crédito!” Plágio, Review 24, Uriah Smith, 6 de Setembro de 1864.

2º. Outro exemplo é da própria Sra. White: David Paulson, em 30 de Janeiro de 1905, solicitou a Ellen White a autorização para utilizar trechos de seus escritos em sua revista chamada Lifeboat. Em 15 de Fevereiro, o filho de Ellen White, Willie White, respondeu-lhe assim: “Minha mãe me pediu que dissesse ao senhor que pode sentir-se livre para selecionar de seus escritos, artigos curtos para a Lifeboat. Você pode fazer resumos destes artigos curtos e de escritos similares, dando o devido crédito em cada caso.” Vida de Ellen G. White, cap. 10, de D.M.C.

Aqui, vemos Ellen White, que, em sua carreira de mais de 70 anos como escritora, nunca deu crédito aos autores de quem copiava, agora exigindo crédito daqueles que queriam utilizar trechos de seus escritos. O que dizer disso?

3º. Neste próximo exemplo, veja como é refutada a ideia de que naquela época “era algo normal copiar de outros” ou que “eles não entendiam plágio como nós entendemos hoje”. Na revista The Youth´s Instructor, famosa revista adventista da época, de 25 de Dezembro de 1917, traz um artigo intitulado “Plágio”, onde se lê o seguinte: “Alguém enviou para o Instructor um poema que pretendia ser seu, o qual havia sido escrito por outra pessoa e impresso na Review sob o nome do real autor. É assim que as coisas são! Por todo lado, existem evidências de semelhante desonestidade. É tão errado o apropriar-se do crédito de produções escritas de alguém como roubar um cavalo. Aquele que ousadamente assina o seu nome em um artigo que é de outra pessoa, e permite que ele apareça impresso como se fosse seu, é um ladrão do mais alto nível. Tomando o conhecimento de outro e desfilando com ele como se fosse seu, é uma coisa desprezível de ser feita. O estudante que copia na hora do exame é desonesto; mas o plágio é um tipo de roubo ainda mais cruel, se existem graus de desonestidade. Por que as pessoas fazem isso? É um crime punível por lei! É tão vergonhoso, para não falar do pecado, quanto o de entrar na casa de um vizinho e roubar os seus bens. Todos os que professam a decência comum, ou no mínimo o cristianismo, devem evitar todas as formas de desonestidade. Vamos ser verdadeiros e puros em tudo o que fazemos para que o Senhor possa reivindicar-nos como seus, e que não o entristeçamos novamente desempenhando na vida um papel de Judas.” Mal sabiam o autor desse artigo e os editores da revista que eles estavam descrevendo os próprios atos de sua profetisa.

O Dr. Ramik, em defesa de Ellen White, menciona um caso, em 1845, em que “a circunscrição judicial de Massachusetts exonerou um escritor que havia utilizado as palavras e as ideias do outro em sua própria composição.” O juiz absolveu o réu dizendo que “somente os tolos tentam fazer novamente aquilo que já havia sido bem feito no passado; realmente, ninguém pode produzir uma linguagem exclusivamente sua. Em outras palavras, as palavras existem há anos e anos. O ponto crucial encontra-se na sua combinação, e qual o efeito que se deseja produzir por seu intermédio. Todavia, se alguém no passado, de acordo com a afirmação do referido juiz, escreveu algo esplêndido, admirável – algo que é histórico, da experiência comum e cotidiana do ser humano por que perder tempo tentando inutilmente achar uma maneira melhor de dizer aquilo que já foi dito de forma perfeita?”

Imagine se alguém resolvesse plagiar os livros de Ellen White, e então colocar seu nome como sendo o autor e vende-los livremente, com preços mais acessíveis do que os da Casa Publicadora Brasileira. Se isso acontecesse, será que a Igreja Adventista seguiria o raciocínio desse juiz?

Ele prossegue no mesmo parágrafo dizendo: “Ellen White utilizou o que fora escrito por outros; porém da maneira como o fez, transformou e enriqueceu os textos de forma tão ética quanto legal.”

Em primeiro lugar, como eu disse antes: “Os fins não justificam os meios!” Em segundo lugar, o “transformar e enriquecer os textos” é muito relativo. Depende de quem lê os escritos. Logicamente, para um adventista, isso é verdade, pois ela adiciona as teorias adventistas aos seus escritos. Para um não adventista, por não estar pré-concebido, a impressão pode ser outra. Eu tenho os dois livros comigo, o Sketches from the Life of Paul e o Life and Epistles of Saint Paul. Comparando os dois, fica

evidente que o livro de Ellen White é bem inferior ao outro. Não há como dizer que, copiando deles, ela tenha enriquecido a visão sobre Paulo, a não ser através da ótica adventista.

Para poder minimizar o que Ellen White fez, o Dr. Ramik “define” o que vem a ser “uso honesto” ao copiar de outrem:

“A situação se assemelha à de um construtor que deseja edificar uma casa. Há certos elementos básicos, essenciais, como janelas, portas, ladrilhos, etc., que tem à sua disposição. Há também, diversos projetos criados anteriormente por outros construtores através de diferentes combinações dos mesmos elementos básicos. O construtor reúne esses elementos e os utiliza. Sem dúvida, o projeto da casa, sua aparência final, seu tamanho, estilo e outros detalhes são patrimônio exclusivo do construtor (ou projetista). Ele coloca o seu próprio selo no produto final – o projeto é de sua autoria e lhe pertence. (Ele não precisa dizer que este ladrilho veio daqui, a janela dali, a porta de outro lugar.) Creio que foi desta forma que Ellen G. White utilizou palavras, frases, sentenças, parágrafos, e até mesmo páginas de obras de autores que a antecederam. Ela permaneceu dentro dos limites legais do “uso honesto”, e ao mesmo tempo criou algo substancialmente melhor (e ainda mais belo) do que uma simples recopilação de trechos já produzidos.”

Fica bem claro que o Dr. Ramik está misturando ferramentas de escrita como letras, palavras, gramática, etc., com aquilo que já é produto da criação do autor, como frases, sentenças, parágrafos, etc., o que pela lei, já se torna propriedade literária do autor. Os ladrilhos, janelas e portas são como as letras, palavras e a gramática utilizada na obra. Todos podem se utilizar delas. Isto não é plágio, pois são as ferramentas necessárias para que a comunicação exista. São como as notas musicais. Todos os músicos podem se utilizar delas, mas uma simples frase musical já é propriedade de alguém, produto de sua criatividade.

Essa comparação com um projeto de um construtor para descrever o método utilizado por  Ellen White é falha. Ela é uma tentativa de minimizar o plágio feito por ela. Compare essa descrição de “empréstimo honesto” feita pelo Dr. Ramik com a definição de plágio feita por grandes dicionários atuais:

“Plágio: O ato de se apropriar de uma composição literária de outrem, ou partes ou passagens de seus escritos, ou de ideias ou linguagem do mesmo, e tomá-los como produção da sua própria mente.” The Law Dictionary.

Plágio: O ato de usar as palavras e ideias de outro sem dar crédito àquela pessoa; o ato de plagiar alguma coisa.” Merriam-Webster Dictionary.

“Plágio: Usar ideias ou obra de outra pessoa e tomá-las como suas.” The Cambridge Dictionary.

“Plágio: A prática de tomar a obra e ideias de alguém e faze-las passar como suas.” The Oxford Dictionary.

Mas eles dirão: “Ah, mas isso é anacronismo! Essa definição de plágio feita pelos dicionários atuais não reflete o que se entendia por plágio na época de Ellen White”. Pois bem, tomemos o Dicionário Webster, um dos mais renomados dicionários americanos, como citado no artigo do Jornal Healdsburg Enterprise, de 1889, que citei acima. O que ele dizia? “Plagiador: Alguém que rouba os escritos de outrem e toma-os como sendo seus. Plágio: é o ato de roubar os trabalhos literários de outra pessoa, ou introduzir passagens dos escritos de outra pessoa em seus escritos tomando-os como sendo seus; roubo literário”.

Assim, vemos que o que a sociedade, de hoje e daquela época, define como plágio,  o  Dr. Ramik define como “uso honesto”. Fica bem claro que não é só o produto final que se torna propriedade do autor, mas também as ideias contidas nos trechos que compõem a obra.

Ele continua: “Agora, eu, pessoalmente, não tenho nada contra a ideia de que Deus a tenha inspirado a escolher algum trecho de um determinado livro. E se Deus a inspirou a selecionar algo que já havia sido escrito antes talvez de forma melhor do que ela mesma poderia fazê-lo, qual é o problema?” Sim, eu concordo com isso, só que ela deveria usar aspas e referências, dando crédito aos autores copiados, só isso! Desta forma ela estaria representando melhor o Deus da honestidade e justiça.

Ele complementa: “Realmente, numa análise final, penso que tudo se resume em uma questão de fé. E no que me diz respeito, não tenho problemas em aceitar o que ela escreveu como um assunto de fé.” Eu concordo com ele neste ponto. Eu também penso que é uma questão de fé. Se você por anos tem crido que Ellen White é uma profetisa verdadeira, e tem crido em tudo o que ela tem ensinado e pautado sua vida por esses ensinamentos, será difícil você enxergar o trabalho dela como sendo plágio, mesmo se alguém lhe mostrar dois textos postos lado a lado, um tirado de seu livro, e outro, de onde ela copiou. Será mais confortante ler artigos apologéticos adventistas, como esse que estou criticando, e descansar no pensamento de que “temos doutores na igreja; se eles dizem que ela não plagiou, ela não plagiou; ninguém sabe mais que eles”. Assim, a fé em sua profetisa e nos seus doutores torna-se, assim, mais forte do que a verdade que lhes é apresentada.

E ele diz mais: “O enfoque principal de tudo é: o que realmente conta é a mensagem de Ellen G. White, e não meramente a mecânica da escrita – palavras, cláusulas, frases.” Novamente, a filosofia de os fins justificarem os meios. Na sentença: “…e não meramente a mecânica da escrita – palavras, cláusulas, frases.” Eu continuaria assim: …sentenças, parágrafos inteiros, paráfrases, sequências de ideias, organização de capítulos, etc. Aqui fica visível a sua tendência em minimizar o que Ellen White fez!

E ele volta a repetir que: “Pessoalmente, fui tocado, profundamente tocado, por esses escritos. Fui transformado por eles. E desejo que os críticos possam descobrir isso.” Para quem disse que havia sido “contratado para pesquisar os assuntos legais envolvendo o uso de fontes por Ellen White”, ele menciona com frequência o lado emocional e espiritual dessa experiência e pouco do lado legal. Eu segui os conselhos de Ellen White por 35 anos, e assim, como o Dr. Ramik, me senti tocado muitas vezes pelos seus escritos. Mas, eu não posso usar isso para inocentá-la do plágio. Se ela me tocou, foi com mensagens e ideias tiradas de outros e apresentadas como vindas de Deus.

E ele finaliza: “Se eu tivesse que atuar em semelhante caso, preferiria atuar na sua defesa e não na promotoria. Simplesmente as acusações são inconsistentes. Não se configura aí um caso jurídico.” É visto, claramente, que nesta entrevista, ele já está atuando como um advogado de defesa, e sim, as acusações são consistentes! Ellen White pode não ter sido condenada judicialmente, a ponto de nunca ter tido que indenizar os autores que foram plagiados; a igreja pode ter tido sucesso “passando panos quentes” no assunto, e por muitos anos ter conseguido esconder os plágios; e agora mesmo reconhecendo os “empréstimos”, podem os seus apologistas, através de defesas ardilosamente construídas, como esta do Dr. Ramik, terem convencido a muitos irmãos sinceros, mas pré-concebidos,  a continuarem a acreditar nela; podem os membros da igreja, os que, de alguma forma, se depararam com o assunto, ter superado suas dúvidas pela forte fé que eles depositaram nela, e assim fecharam os olhos às evidências; mas, a verdade estará sempre aí para o sincero que a procura. “Contra fatos não há argumentos”, diz o ditado. E assim, não há como refutar a verdade de que: Ellen White copiou extensivamente de outros autores; procurou esconder o plágio através de paráfrases; não deu os devidos créditos a eles; recebeu royalties por seus escritos; e ainda negou os “empréstimos” quando questionada, o que foi ainda pior. Não mais creio nela como profetisa, pois o Deus a quem sirvo é um Deus que ama a honestidade, a integridade, a retidão, o falar a verdade. Se as mensagens que ela escreveu foram “os preciosos raios de luz brilhando do trono”, como ela alegava, então, como elas poderiam vir misturadas com o engano, fraudes e mentiras? Deus não condescende com o mal, e não se utiliza de meios pecaminosos para atingir seus objetivos, pois ele diz: “Que comunhão pode ter a luz com as trevas?” 2 Cor. 6.14.

É interessante notar que esta entrevista foi publicada na Revista Adventista, em 1982, e já estava em processo uma investigação mais minuciosa feita pelo Dr. Veltman, chefe do departamento de Religião do Pacific Union College e especialista em análise literária, que, assim como o Dr. Ramik, foi pago para fazer o mesmo trabalho de investigação. Devido ao impacto negativo causado na igreja pelo lançamento do livro de Walter Rea, The White Lie, onde ele trata dos plágios de Ellen White, a igreja se viu pressionada a esclarecer o assunto. Foi aí que eles contrataram o Dr. Veltman, tendo gasto para isso a soma de US $ 500.000. Ele começou o seu trabalho em 1980 e terminou em 1988.

Faço a seguinte pergunta: porque a igreja dá tanto valor ao trabalho do Dr. Ramik, que, como ele próprio diz, gastou somente 300 horas de estudo (parece muito, mas isso dá uns 2 meses de trabalho), quando o trabalho do Dr. Veltman foi muito mais minucioso exigindo dele 8 anos de pesquisa? A resposta é simples: Eles não esperavam que o resultado da investigação do Dr. Veltman, que foi apresentado de uma forma muito honesta e transparente, fosse tão negativo em relação à Ellen White. Assim, a investigação do Dr. Ramik, para eles, é politicamente a mais correta, pois nela, Ellen White é “investigada”, defendida a qualquer custo e declarada inocente; o que não se vê no trabalho do Dr. Veltman.

Veja alguns pontos do resultado dessa investigação, que foi intitulada de Veltman Report:

  1. “É de suma importância notar que foi Ellen G. White mesma, não seus assistentes literários, quem compôs o conteúdo básico do texto do livro O Desejado de Todas as Nações. Ao fazer isto, foi ela quem tomou expressões literárias das obras de outros autores sem lhes dar crédito como suas ”

Aqui, então, é confirmado que ela se utilizou de outros autores para escrever seus livros.

  1. “Segundo, deve-se reconhecer que Ellen G. White utilizou os escritos de outras pessoas consciente e intencionalmente (…). As semelhanças literárias não são o resultado de acidente ou memória fotográfica.”

E muito menos, de inspiração divina.

  1. “Implícita ou explicitamente, Ellen G. White e outros que falaram em nome dela, não admitiram e até negaram a dependência literária da parte dela.” (p. 11).

Esse fato é o que mais depõe contra ela! Veja o que Ellen White disse a respeito da possibilidade de ela ter utilizado material alheio em seus escritos:

Minhas visões foram escritas independentemente de livros e opiniões de outros.” (Manuscrito 27 de 1867).

“Nestas cartas que escrevo, nos testemunhos que dou, estou vos apresentando aquilo que o Senhor me tem apresentado. Eu não  escrevo  nenhum  artigo,  expressando  meramente  minhas  próprias  idéias. Eles são o que Deus me tem exposto em visão – os preciosos raios de luz brilhando do trono.”

Testemunhos, vol. 5, pág. 67, Mensagens Escolhidas, p. 29

“Estes livros contém a verdade clara, honesta e inalterável e certamente devem ser apreciados. As instruções que eles contém não são produção humana.” (Carta H-339, 26 de dezembro, 1904)

Em meus livros se afirma a verdade, protegida por um ‘Assim diz o Senhor.” – (Carta 90, 1906, citada em Ellen G. White, por Arthur L. White, tomo 4, p. 393)

É Deus, e não um falho mortal, quem fala para salvá-los da ruína.” (Testemunhos Seletos. vol. II, pág. 292).

Sei que a luz que tenho recebido vêm de Deus, nenhum homem me ensinou sobre ela.” (EGW a Bates, 13 de julho de 1847, MS B-3-1847 (Washington: EGW Estate).

“Quando minha pena vacila um momento, vêm a minha mente as palavras apropriadas… Quando escrevia estes preciosos livros, se eu titubeava, recebia a exata palavra que eu queria para expressar a idéia.” (3MS, páginas 51, 52).

  1. “Eu penso que qualquer tentativa de direcionar este problema deveria incluir uma consideração séria do que está se entendendo pelo tipo de inspiração de Ellen G. White e do papel dela como uma profetisa.”

Sim, pois, como pode uma profetisa dizer que sua mensagem vem de Deus quando ela vem de homens?

  1. “A maior parte do conteúdo do comentário de Ellen G. White sobre a vida e o ministério de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, é mais derivado do que original (…). Em termos práticos, esta conclusão declara que não se pode reconhecer nos escritos  de  Ellen    White  sobre  a  vida  de  Cristo nenhuma categoria geral de conteúdo ou conjunto [catálogo] de ideias que sejam somente dela.” (p. 12).

Aqui vemos que o “empréstimo” feito por ela não foi pequeno, como os seus apologistas afirmam.

  1. “Devo admitir desde o começo que, em minha opinião, este é o problema mais sério a ser deparado (a negação) com relação à dependência literária de Ellen G. White. Isto atesta um golpe ao coração de sua honradez, sua integridade, e, portanto, sua confiabilidade.” (p. 14).

Sim, como confiar em um profeta que mente?

  1. “Ellen G. White empregou um mínimo de 23 fontes de vários tipos de literatura, inclusive ficção, em seus escritos sobre a vida de Cristo”. “Na verdade, não há meios de saber quantas fontes [exatamente] estão representadas na obra de Ellen G. White sobre a vida de Cristo”. (p. 13).

Isso, sim, eu chamo de uma investigação honesta, neutra, sem parcialidade! Compare as duas investigações, analise todos os fatos apresentados neste artigo e tire as suas próprias conclusões.

Que Deus o abençoe na busca pela verdade!

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VALTER CONTESSOTO, Setembro de 2016

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