Na religião védica indiana, Mitra, cuja primeira menção data aproximadamente de 1400 a.C., era o deus que assegurava o equilíbrio e a ordem no cosmo. Por volta do século V a.C., passou a integrar o panteão do zoroastrismo persa — primeiro, como senhor dos elementos; mais tarde, sob a forma definitiva de deus solar. Após a vitória de Alexandre o Grande sobre os persas, o culto a Mitra se estendeu por todo o mundo helenístico. Nos séculos III e IV da era cristã, as legiões romanas, identificadas com o caráter viril e luminoso do deus, transformaram o culto a Mitra na religião conhecida como mitraísmo. Os imperadores romanos Cômodo e Juliano o Apóstata foram iniciados, e Diocleciano consagrou, junto ao Danúbio, um templo a Mitra, “protetor do império”.
A religião mitraica tinha raízes no dualismo zoroástrico (oposição entre bem e mal, entre matéria e espírito) e nos cultos helenísticos, como os mistérios de Dioniso e de Elêusis. Mitra era um deus supostamente do bem, criador da luz, em luta permanente contra a divindade obscura do mal. Seu culto estava associado à crença na existência futura absolutamente espiritual e libertada da matéria — compatível com as idéias religiosas e filosóficas da época, como o gnosticismo e o neoplatonismo, e capaz de oferecer uma esperança de salvação, tal como o cristianismo.
Os mistérios de Mitra, acessíveis aos iniciados, celebravam-se em grutas sagradas. O evento central era o sacrifício de um touro, símbolo do sacrifício original do touro da fecundidade, de cujo sangue brotava a vida e que proporcionava a imortalidade. Com a ascenção do cristianismo, o mitraísmo entrou rapidamente em declínio. O dualismo do perpétuo conflito entre o bem e o mal, ou entre a luz e as trevas, sobreviveu na doutrina maniqueísta.
Fonte de pesquisa: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.