“Mas nada há encoberto que não venha a ser revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido” (Lucas 12.2).
O caso do médium curandeiro brasileiro – João de Deus, que atraiu milhares de pessoas por cerca de 40 anos, pode ser abordado de muitas maneiras. Neste texto olharemos a questão do ponto de vista de Allan Kardec, e faremos duas reflexões:
1- Qual é a definição de espírita?
2- É possível que um médium desregrado moralmente, que tem um desvio de caráter de tal monta, se relacione com os ”espíritos superiores”?
Como não poderia deixar de ser, responderemos os argumentos kardecistas à luz da Palavra de Deus.
Introdução
Antes de focalizar as duas questões propostas, faz-se necessário lembrar que o Brasil detém o triste título de maior país espírita do mundo. Os espíritas nominais, aquelas pessoas que respondem ao IBGE que são espíritas, no último censo demográfico, realizado em 2010, somaram apenas pouco mais de três milhões de pessoas, número insignificante diante do contingente populacional de 180 milhões à época. Entretanto, o número de “simpatizantes” do espiritismo está estimado atualmente acima de 60 milhões. Quem são essas pessoas? Na sua imensa maioria, quase totalidade, são os chamados “católicos não praticantes”, que vão à missa aos domingos, casam-se e batizam seus filhos na igreja católica, mas frequentam centros espíritas durante a semana, regularmente ou eventualmente. Quando se deparam com alguma adversidade inesperada, diante de uma grande dor ou tragédia, não buscam socorro no Salvador – para os católicos Jesus Cristo é Senhor e Salvador –, mas apelam para algum agente do espiritismo, uma pessoa especial capaz de intermediar um “acordo” com os espíritos, que têm poder para curar doenças e resolver todo e qualquer problema.
O drama de alguém desesperado, que não tem comunhão com Deus, é tão relevante, que o Senhor deixou essa situação registrada na sua Palavra, para nos servir de advertência. A narrativa da busca desesperada do rei Saul por um conselho de seu mentor morto, o profeta Samuel, em ISamuel 28, quase três mil anos atrás, apresenta as mesmas características que encontramos nessas pessoas no século XXI:
– O desespero lhes cega o entendimento e não são capazes de buscar o favor de Deus com humildade e arrependimento de seus erros, ao contrário, se veem como vítimas sofrendo uma injustiça;
– Acreditam que Deus é um ser distante, indiferente e omisso diante de sua dor, que não lhes dá resposta, e não quer curar suas dores do corpo e da alma;
– Perderam algo que possuíam e que era a razão de sua vida: no caso de Saul o reino de Israel; hoje pode ser a saúde, os bens materiais, uma posição de autoridade e poder, um ente querido etc.;
– Recusam-se a aceitar a realidade inexorável que a morte física chega para todos, e o relacionamento com aquela pessoa amada nesta terra terminou;
– Rebelam-se contra Deus e acreditam que exista outro ser capaz de revogar Seus desígnios;
Esse conjunto dramático de sentimentos tornaram Saul extremamente vulnerável à ação do espírito enganador. Ele também estava fisicamente debilitado, não comera nada há mais de vinte e quatro horas (v. 20). Habilmente o demônio dá o golpe final, mencionando o objeto que desestabilizaria o rei definitivamente: a capa de Samuel (I Sm 28.14), aquela que se rasgou (I Sm. 15.27-28) e marcou o fim de seu relacionamento com Deus e com o juiz, profeta e sacerdote que o ungira rei de Israel!
Saul não se recuperou do trauma, não recebeu o reino de Israel de volta, não se reconciliou com Deus, trilhou o caminho da morte até o suicídio (ISm. 31.4).
Qualquer semelhança com os métodos utilizados hoje no espiritismo não é mera coincidência.
Com a palavra, Allan Kardec
1- Qual é a definição de espírita?
Livro dos Espíritos, Introdução, Parte I – Espiritismo e Espiritualismo
Lemos aqui a definição de Allan Kardec para as palavras espírita e espiritismo, que pode ser encontrada no segundo parágrafo da primeira página do Livro dos Espíritas: Espírita é toda pessoa que mantém relações com os espíritos.
No Livro dos Médiuns, Kardec volta a tratar do assunto. No Capítulo II – Método, parágrafo 28, ele apresenta quatro diferentes tipos de espíritas, não deixando porém de considerá-los como tal.
Certamente estamos diante de um médium que se classifica no segundo grupo de Kardec, mas isso não significa que ele não seja médium ou não seja espírita.
A Federação Espírita Brasileira, e alguns espíritas “famosos”, na falta de qualquer argumento que possa socorrer o espiritismo diante de tal escândalo, divulgam na imprensa e nas redes sociais notas e vídeos afirmando que o curandeiro criminoso não é espírita. Falta-lhes conhecimento do que escreveu e ensinou sobre fraudes, curandeirismo e charlatanismo o fundador da doutrina que abraçam e defendem.
Os espíritas são absolutamente imunes às tentações e às paixões humanas? Os espíritas são tão perfeitos que se alguém cometer qualquer erro (ou crime, como neste caso) significa que ele não é espírita, embora mantenha contínua comunicação com os espíritos ano a fio?
2- É possível que um médium sem retidão moral seja usado por “espíritos superiores”?
A teoria kardecista, de modo geral, diz que “SEMELHANTE ATRAI SEMELHANTE”. Poderíamos inserir aqui dezenas de textos, extraídos dos livros da chamada “codificação espírita”, que são livros escritos por Allan Kardec sob orientação dos “espíritos superiores”: O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e A Gênese.
Escolhemos o Capítulo XX do Livro dos Médiuns – Influência Moral do Médium, que trata com clareza desse tema, e também nos mostra que o espiritismo kardecista foi ferido de morte nesta que é uma de suas grandes bandeiras. Vejamos o que Kardec tem a dizer:
“Pergunta 226, item 2 – (…)por que se vê pessoas indignas que são dotadas de mediunidade em seu mais alto grau e dela fazem mau uso? – R. (…)pessoas indignas são dotadas dela, porque precisam mais dela do que as outras para se aperfeiçoarem; imaginais que Deus recusa os meios de salvação aos culpados?”
Atentemos para a gravidade desse ensinamento dos “espíritos superiores”: Deus permite (segundo os kardecistas) que pessoas façam mau uso de um dom concedido por Ele para serem aperfeiçoadas, sem levar em conta os sofrimentos infligidos às vítimas desse “mau uso” (o que ocorreu no caso do João de Deus).
“Pergunta 226, item 4 – Há médiuns aos quais é feita espontaneamente, e quase constantemente, comunicações sobre um mesmo assunto, sobre algumas questões morais, por exemplo, sobre determinados defeitos. Isso tem uma finalidade? – R. (…) não há médium que não esteja usando mal a sua faculdade, por ambição ou por interesse, ou comprometendo-a por um defeito capital, como o orgulho, o egoísmo a leviandade etc., que não receba de tempos em tempos algumas advertências da parte dos espíritos; o mal é que na maioria das vezes eles não as tomam para si mesmos”.
Mais um ensinamento chocante. No caso concreto, que estamos analisando sob o ponto de vista da doutrina kardecista, podemos concluir que durante mais de trinta anos os “espíritos superiores” periodicamente advertiram o médium, mas continuaram permitindo e participando dos crimes por ele cometidos?
“Nota acrescentada à resposta da pergunta 226, item 8: Deve-se observar, que quando os bons espíritos julgam que um médium deixou de ser bem assistido e torna-se, por suas imperfeições, presa dos espíritos enganadores, provocam quase sempre circunstâncias que desmascaram os seus defeitos e o afastam das pessoas sérias e bem intencionadas cuja boa fé poderia sofrer abusos…”
Com grande tristeza, constatamos que os “bons espíritos” demoraram mais de trinta anos para provocar uma circunstância que levasse ao afastamento desse médium das pessoas de boa fé que sofriam abusos!
Pela importância da informação, em nome do nosso compromisso com a verdade, e movidos pelo grande desejo de levar um esclarecimento libertador, àqueles que ainda não estão convencidos, inserimos o texto fotografado do Livro dos Médiuns, capítulo XX, perguntas 227 e 228:
O que se lê aqui é estarrecedor. Os “bons espíritos”, ou “espíritos superiores”, durante algum tempo – que não é possível precisar – fizeram uso da “bela faculdade” desse médium. Quando ele se encheu de orgulho, e suas imperfeições morais passaram a dominá-lo, ele foi advertido. Como não deu ouvidos às advertências que supostamente teria recebido, foi entregue nas mãos dos espíritos imperfeitos, embusteiros, enganadores e pervertidos.
Nenhuma palavra sobre as “pessoas sérias, bem intencionadas, de boa fé, vítimas dos abusos”.
Essa é a caridade espírita!
O QUE NOS DIZ A PALAVRA DE DEUS?
A mensagem central das Escrituras Sagradas é a salvação do homem pela graça de Deus, através da fé no sacrifício perfeito de Seu Filho Jesus Cristo, que desceu da Sua glória, se fez carne, habitou entre nós e foi oferecido como sacrifício perfeito, único e suficiente para resgatar a humanidade reconciliando-a com Deus. A reencarnação e a comunicação com os mortos não estão contempladas positivamente na Bíblia, longe disso. Diversos textos poderiam ser aqui citados, mas nos restringimos a quatro deles, suficientes para demonstrar a condenação bíblica das crenças e práticas espíritas
Dt 18.9-14 – Is 8.19 – Lc 16.19-31 – Hb 9.27
De seu lado, Allan Kardec tem como pilares da sua religião exatamente essas duas crenças, e a partir delas elaborou um conjunto de doutrinas e ideias que antagonizam em tudo com a Palavra de Deus.
No Livro O Que É o Espiritismo, Kardec apresenta noções básicas do Kardecismo, seguidas de um resumo do Livro dos Espíritos e do Livro dos Médiuns. Logo de início ele explica que partiu da seguinte premissa: o homem tem uma parte material e outra espiritual; essa parte espiritual sobrevive à morte do corpo e se chama alma; como não morre, a alma vai para algum lugar. A partir da segunda metade do século XIX, os espíritos dos mortos passaram a se comunicar com os homens para explicar que lugar seria esse, na verdade são vários lugares; que há um trânsito constante de almas chegando e saindo do planeta terra; que tudo que se sabia sobre a vida após a morte estava errado, e finalmente a humanidade conheceria a verdade. E os espíritos também estavam empenhados em auxiliar no progresso da humanidade, e receberam autorização de Deus para disseminar conhecimento em todas as áreas da ciência. Essa é uma síntese resumidíssima do pensamento kardecista.
Lemos na Bíblia que a comunicação dos vivos com os mortos não teve início nos anos 1850, mas remonta aos primórdios da humanidade. Dizemos, inclusive, que a primeira sessão espírita aconteceu no Jardim do Éden, onde Satanás (que é um espírito) se utiliza da serpente como médium para comunicar-se com Eva. Quando o povo de Deus vai entrar na terra prometida o Senhor os adverte para não adotarem os costumes daqueles povos e permanecerem fieis a Ele: “a ti o Senhor teu Deus não permite tais coisas” (Dt. 18.14). Por intermédio do profeta Isaías séculos depois o Senhor renova a mesma advertência (Is. 8.19). Passados 700 anos o Senhor Jesus fala da impossibilidade de comunicação entre vivos e mortos, mencionando a existência de um grande abismo que faz uma intransponível separação (Lc. 16.19-31). E o escritor de Hebreus pouco depois registra: “ao homem é dado morrer uma vez, e depois disso o juízo”.
E sobre as profecias, as curas, os prodígios e os milagres realizados pelos médiuns? Muitos dizem ter sido realmente curados; outros afirmam que lhes aconteceu algo como um médium previra; outros presenciaram fenômenos inexplicáveis racionalmente. E o que dizer àqueles que creem sinceramente estar recebendo conselhos e palavras de carinho de um ente querido falecido? Como negar a realidade dos fatos espíritas?
A Bíblia não nega a existência dos espíritos nem sua atuação entre os vivos. O que ela nos diz é que eles não homens que morreram, são demônios que se comunicam, e inclusive operam sinais, prodígios e maravilhas para enganar a muitos, especialmente os que se encontram aflitos.
“Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (II Co. 11.13-15).
“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt. 24.24).
“Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (ICo. 10.20-21).
Nossa oração é que esse caso resulte em milhões de olhos abertos, milhões de pessoas libertas das mentiras do espiritismo, milhões de vidas rendidas ao Senhor Jesus Cristo, milhões de almas resgatadas das trevas para Sua maravilhosa luz, que viverão para sempre com o Senhor.
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Autora: Maria Cândida da IEPAZ