Assim, quando Zezé de Camargo vai a público dizer que apesar de permanecer casado com sua esposa, seu casamento está aberto, é algo sintomático.
Podemos enquadrar nesta mesma situação o gol de mão do jogador argentino Barcos. Esse episódio reflete muito mais que a quebra de uma regra de futebol, ele é, a meu ver, emblemático, pois confirma uma tendência cada vez maior de deliberada aversão a critérios objetivos éticos dentro da nossa sociedade.
A reação do técnico, do jogador e de outros companheiros, ao tentar justificar (inclusive apelando ao tribunal esportivo) algo explicitamente ilegal, condenado pela regra do futebol, mostra que a categoria de pensamento utilizada hoje pelos grupos sociais mudou muito. Isso há cinquenta anos seria inaceitável.
Quando em 1914, o jogador argentino Leonardi marcou um gol contra o Brasil, dominando a bola com a mão, mesmo sendo validado pelo árbitro, nenhum jogador da seleção argentina comemorou. O capitão argentino juntamente com os demais jogadores, comunicou imediatamente ao juiz que, como o lance fora irregular, seu time não aceitava a validação do gol. O que aconteceu de lá para cá?
A verdade é que, naquele episódio, a ética foi jogada no lixo. O caso de Barcos é só um exemplo para nossa discussão, mas de modo geral tem sido essa a tendência cada vez mais comum. As pessoas não se importam mais com o erro, não há distinção clara sobre certo e errado. Certo e errado passou a ser questão de foro íntimo, subjetivo. Parece que verdades objetivas virou relíquia de antiquário em nosso século XXI.
O caso é que nossa sociedade assumiu como prática a inversão de valores e a relatividade destes para decidir questões de cunho moral. Toda essa desconstrução hodierna de valores tolerada pela sociedade já era prevista pelo profeta Isaías quando bradou “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo!” (Isaías 5.20).
Segundo Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, o agir ético seria o único caminho que levaria o homem a encontrar a verdade última que é ser feliz. Esse postulado não é antagônico ao que diz a Bíblia. Um comportamento correto, não só está em linha reta com os princípios morais objetivos da lei divina, “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tiago 4.17), como também com a lei natural gravada em nossa consciência por Deus, “pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Romanos 2.15).
Portanto, a verdade e a moral não podem ser niveladas por baixo, de acordo com nossos interesses, circunstâncias e conveniências. Ela emana da própria natureza de Deus e está indelevelmente gravada em nossas consciências (na imago dei) pela lei natural.
Quando a verdade se torna multifacetada não sobra critério válido para a ética. O comportamento individualista emerge como consequência natural e junto a ele o pragmatismo e o hedonismo, instalando o caos e a insatisfação.
Esse é, pois, o ambiente social que está despontando por aí, consequência de uma atitude deliberada de rebeldia contra Deus e seus mandamentos.