O fim da ideologia?

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Pat Buchanan: Tradição de polos opostos em conflito deu lugar a nacionalismo

Nos talk shows, editoriais e think tanks americanos há uma preocupação crescente com acontecimentos no exterior, e em geral o presidente Obama é considerado culpado pela queda do respeito mundial pelos Estados Unidos.

Mesmo assim, não se vê a classe média americana pedindo providências para alterar a percepção de que os EUA estão regredindo.

Se uma única frase pudesse expressar a aparente indiferença da maioria silenciosa dos americanos sobre o que acontece no exterior, poderia ser uma simples pergunta: “É problema nosso?”

Se uma bandeira russa ou ucraniana tremula sobre a Crimeia, por que isso deveria preocupar os americanos ao ponto de mandarem navios, armas e tropas? Se o Japão e a China brigam por ilhotas a mais de 10.000 km de distância, lugares que poucos americanos conseguiriam localizar no mapa, por que deveriam se envolver?

E, verdade seja dita, a resposta das elites intelectuais não convence.

Uma das explicações para os EUA ignorarem essas guerras é que não veem interesse vital nesses conflitos; da Síria à Crimeia, do Afeganistão ao Iraque, do Mar da China Meridional às Ilhas Sentaku.

Além disso, a principal motivação que fez o país se sacrificar por meio século em uma Guerra Fria que custou trilhões de dólares e 90.000 vidas na Coreia e no Vietnã, a convicção de que estavam liderando forças do bem contra forças do mal que governavam o império Russo-Chinês, não existe mais.

A grande luta ideológica do século XX entre totalitarismo e liberdade, comunismo e capitalismo, ateísmo militante e cristianismo acabou.

O império comunista desmoronou. Sobraram apenas restos esquecidos, como Cuba. O marxismo-leninismo como uma ideologia que orientava grandes potências está fadado ao fracasso. O Partido Comunista pode governar a China, mas o capitalismo de estado gerou bilionários chineses que não andam por aí com exemplares do Livrinho Vermelho.

Os restos mortais de Lenin podem estar depositados na Praça Vermelha, e os de Mao na Praça da Paz Celestial, mas são pontos turísticos e não santuários em honra a salvadores seculares nem objetos de culto.

A única região onde a religião e a ideologia impelem os homens a lutar e morrer para criar um mundo baseado nos dogmas da fé é o mundo islâmico. Mesmo assim, como observou o diretor da CIA Richard Helms, todas as três nações que adotaram a ideologia islâmica, o Afeganistão do Talibã, o Irã dos aiatolás e o Sudão, tornaram-se estados falidos.

Mas quando a fé ou a ideologia de uma civilização morre, algo deve substituí-la. E parece que, pelo mundo, as pessoas e os regimes estão se voltando para o nacionalismo.

Vladimir Putin tomou a Crimeia de volta e se declarou protetor dos povos russos das antigas repúblicas soviéticas.

As exigências da China ao Japão no Mar da China Meridional têm base em mapas do século XIX e nacionalismo do século XXI, estimuladas por um ódio nascido da brutalidade japonesa na conquista da China entre 1931 e 1945.

A resposta do Japão não foi reafirmar a divindade do imperador. O Primeiro-Ministro Shinzo Abe está invocando o nacionalismo, tentando contornar a constituição pacifista imposta ao Japão após a 2ª Guerra Mundial.

Os EUA também estão à procura de um substituto para o anticomunismo para justificar compromissos globais que parecem ter cada vez menos a ver com interesses nacionais vitais.

Bush pai falou em construir uma “Nova Ordem Mundial”. A frase se tornou um epiteto. George W. Bush declarou que a missão dos EUA era “acabar com a tirania no mundo”. A nova divindade com que o país parecia querer converter a humanidade era o bezerro de ouro da democracia.

Mas quando a democracia (um homem, um voto) produziu o Hamas na Palestina e a Irmandade Islâmica no Cairo, começaram as mudanças de opinião e as apostasias.

Ao fim da Guerra Fria, Francis Fukuyama previu que estaríamos nos aproximando do “Fim da História”, em que a democracia se mostraria a forma final de governança, abraçada por toda a humanidade.

No entanto, não apenas na Rússia e na China, mas também na Europa e no terceiro mundo, a democracia parece menos um fim em si mesma para os povos e mais um meio para se chegar a uma causa maior.

O apelo pelas tribos e nações parece mais convincente. E o evangelho ocidental segundo o qual todas as religiões, raças, nações e tribos são iguais e deveriam ser tratados igualitariamente, embora seja uma retórica eficiente, está descreditado.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, chamou a democracia de um ônibus do qual você desce quando chega à sua parada. E a parada acabou sendo um estado islâmico moderado que obedece aos seus próprios princípios e aos do seu partido.

É compreensível que países por todo o mundo queiram que os EUA vão lutar suas guerras. Mas embora seja interesse deles, será ainda também dos americanos?

O império americano, o último dos grandes impérios ocidentais, pode estar prestes a cair tão repentinamente quanto os outros impérios do século XX.

Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do presidente Ronald Reagan.

Patrick J. BuchananTradução de Luis Gustavo Gentil do original do WND: THE END OF IDEOLOGY?

Fonte: www.juliosevero.com

 

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