O tinhoso está de volta às telas depois de quatro anos de relançamento (2000) do primeiro filme que deu origem a série “O Exorcista” (1973).
Com “O Exorcista – o Início”, (1) o diretor Paul Schrader procura perpetuar a fama da mais tenebrosa história de terror do cinema: a da menina Regan de 12 anos cujo corpo foi possuído por um demônio. O primeiro filme ficou tão famoso que figura entre os 54 filmes mais famosos do mundo e tem até fã clube.
Cabe aqui uma pergunta: qual o segredo que está por trás de tanto sucesso quando se trata de filmes de terror com a invocação de demônios? Porque ao invés de rejeitar tais filmes que por vezes exaltam as forças das trevas as pessoas os admiram?
Segundo alguns especialistas a predileção por este tipo de entretenimento encontra sua razão nas necessidades psicológicas e emocionais latentes na mente humana de querer extravasar suas neuroses. Outros, porém, como os neurologistas, procuram explicações do ponto de vista biológico. Afirmam que o fenômeno está associado a um conjunto de estruturas nervosas que ativa o chamado “sistema de recompensa” responsável pelo prazer após intenso estresse causado pelo pânico. Isso geraria um tipo de bem estar ao final da euforia.
Não obstante, é enganoso levar em conta somente fatores naturais quando se sabe que o protagonista desse contexto é quase sempre o príncipe das potestades do ar, as forças espirituais da maldade. Logo não seria nada inconveniente ver nas palavras dos apóstolos quando dizem que o mundo jaz no maligno e este lhes cegou o entendimento uma explicação possível e necessária para o caso. (I Jo. 5.19;II Co. 4.4)
Mas seja como for, o fato é que desde épocas imemoráveis a presença do demônio sempre mexeu com o imaginário popular.
Isto porque as forças do sobrenatural exercem um fascínio mórbido sobre a curiosidade humana. O medo do que não se pode ver e do misterioso causa um controle quase hipnótico em alguns indivíduos.
O EXORCISMO NOS POVOS PRIMITIVOS
Um demônio pode possuir uma pessoa? Ou seria ignorância acreditar em possessão demoníaca hoje? Contudo a milenária Bíblia nos dá mostras de exemplos claros deste tipo de fenômeno como no caso do rei Davi que exorcizava o possesso rei Saul através de tanger sua harpa (I Sm. 16.23) e mais claramente no Novo Testamento (Mc. 7.24-30; 9.17-29).
Mas Israel não é um caso isolado; as autoridades dentro do campo das ciências humanas tais como antropólogos, sociólogos e historiadores são unânimes em atestar casos de exorcismos dentro da cultura de diversos povos primitivos como os Egípicios, babilônicos, assírios e outros que para afastarem a presença dos espíritos maus, recorriam à praticas de encantamentos, rezas, esconjuros e fetiches.
Os adeptos do judaísmo esotérico conhecido por Cabala acreditavam na existência dos dybbykim, ou demônios, de quem o príncipe é Samael, a serpente que seduziu Eva.
Similarmente na tradição islâmica, acreditava-se que os dijinn, ou demônios criados do fogo, eram capazes de possuir pessoas e para isso eram exorcizados em rituais violentos.
O livro apócrifo de Tobias 6:19 ; 8:2,3, conta como um anjo por nome Rafael ensina Tobias a exorcizar o demônio com o fígado de um peixe.
Na idade Média a prática do exorcismo havia se transformado em algo corriqueiro sob o comando da Igreja Católica. Não era raro ver cenas que mais pareciam shows macabros aos gritos de “exconjuro-te em nome de Cristo” por padres, enquanto aos gritos e convulsões o possuído era arremessado violentamente ao chão.
Mas para quem acha que o demônio ficou enclausurado dentro das masmorras dos tempos medievais, está enganado!
O fascínio pelo maligno tem sido resgatado através das telinhas dos cinemas. Os ataques do demo foram ficando cada vez mais impressionantes com a ajuda das modernas técnicas cinematográficas Hollywodianas. Filmes como os macabros “Estigmata”, “O bebê de Rosemary”, “Profecia”, “Fim dos Tempos” e muitos outros figuram entre os sucessos do horror. Contudo, nenhum se igualou ao “O Exorcista”.
UM FILME AMALDIÇOADO
O fato é que “O Exorcista” não ficou famoso apenas por arrecadar a melhor bilheteria da história da Warner Bros sendo o único filme de terror indicado ao Oscar de melhor filme. Os incidentes que o acompanharam permitiram que sua fama horripilante subisse ainda mais deixando tênue a linha entre o fictício e a realidade.
Quando o diretor John Boorman negou dirigir o filme por considerar a história cruel demais, ele não estava exagerando. O impacto das cenas nas salas de cinema na época foram tão fortes que muitas pessoas passavam mal e deixavam o cinema antes mesmo do filme acabar. Finalmente os cinemas de Washington proibiram a entrada de menores de 17 anos para assistir ao longa-metragem.
Diz o ditado popular que com o demônio não se brinca. Coincidência ou não, o filme foi interrompido inúmeras vezes devido a vários acidentes misteriosos.
O primeiro grande incidente envolvendo o primeiro filme foi um incêndio no set de gravações num fim de semana quando não havia ninguém por perto. O diretor Friedkin pediu ao padre Berminghan para exorcizar o set mas o padre se negou.
Durante os 21 meses de filmagens morreram 9 pessoas ligadas diretamente ao filme e muitas outras que estavam ligadas indiretamente como parentes dos atores e funcionários da gravadora.
Em uma das cenas em que Ellen Burstyn é arremessada para longe, por sua filha com possessão demoníaca, Burstyn bateu violentamente com o coccix contra a cama se ferindo de verdade.
No segundo filme da série o diretor John Boorman contraiu um raro vírus que obrigou a suspensão das filmagens por 5 semanas.
Em “O Exorcista – O Início” mais uma morte: a do diretor John Frankenheimer, que abandonou o projeto um mês antes de falecer.
O que diríamos sobre tais incidentes: que foi coincidência? Maldição? Fraude para ganhar publicidade? Creio que ainda ninguém pode dar uma resposta satisfatória a todas estas questões, mas de uma coisa temos certeza: as pessoas que não estão debaixo das potentes mãos de Deus e cobertas com o sangue de Jesus são presas fáceis nas mãos dos espíritos das trevas.
Estava errado Tomás de Aquino quando dizia que apenas “a força de vontade e o intelecto humano eram a proteção contra a possessão demoníaca”.Não. Somente revestido das armas espirituais poderemos vencer o maligno. (Ef. 6.12)
Para os verdadeiros cristãos a Bíblia deixa a seguinte promessa:
“…aquele que nasceu de Deus, o Maligno não lhe toca.” (I Jo. 5.18)
A HISTÓRIA POR TRÁS DA HISTÓRIA
O que muitos não sabem é que a história contada no filme em 1973 é uma adaptação do livro de William Peter Blatty (diretor de “O Exorcista III”) publicado dois anos antes, que por sua vez foi baseado numa história real. Blatty quando ainda universitário, leu um artigo publicado no Washington Post em 20 de agosto de 1949, relatando um exorcismo de um garoto de 14 anos ocorrido em Mount Rainier, no estado de Maryland, subúrbio de Washington.
Segundo suas pesquisas o garoto começou a manifestar sinais de possessão quando tentou comunicar com sua falecida tia através da mesa de Ouija.(2)
O garoto a partir daí começou a manifestar uma personalidade nefasta, agindo violentamente e falando palavrões; também segundo relatos ocorreram cortes de sangue em seu corpo onde apareciam as palavras, inferno e ódio. Alguns padres foram chamados para exorcizar o demônio, mas não obtiveram sucesso a não ser depois de um mês. Este é o fundo histórico por trás da ficção no qual podemos ver como as práticas espíritas abrem as portas para os demônios se apossarem das pessoas.
Há milênios antes de Cristo Deus já advertia ao seu povo para não se contaminar com práticas ocultistas como por exemplo a invocação de mortos:
“nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos” (Deut. 18.11)
Toda prática espírita mesmo que seja aparentemente inofensiva como um simples “jogo do copo” é perigosa.
A IGREJA CATÓLICA E O EXORCISMO
O Papa João Paulo VI afirmou em 1972: “Nós sabemos que espíritos perturbadores existem e que agem com astúcia traiçoeira.”
O exorcismo é sem dúvida uma das práticas mais conhecidas da igreja católica.
A palavra “exorcismo” vem do grego “exousia”, que significa “rejeitar”.
É o ato pelo qual se expele o demônio da pessoa ou lugares através de fórmulas, água benta, sal, esconjuros, crucifixos etc…
Com o passar do tempo o exorcismo foi se institucionalizando a ponto de ser criado um conjunto de regras para praticá-lo. O Rituale romanum reuniu diversos ritos de exorcismos para situações variadas. (3)
Há até clérigos especializados neste ritual como é o caso do padre Gabrielle Amorth que diz ter praticado 50.000 exorcismos.
Apesar da igreja atualmente enxergar com reservas esta prática, recorrendo às ciências humanas como a psiquiatria para explicar o fenômeno, o papa João Paulo II alega ter exorcizado uma jovem garota em 1982.
O OUTRO LADO DA MESMA MOEDA
Apesar desta tradição ainda fazer parte da doutrina católica atual, hoje porém, um número cada vez mais crescente de padres estão se envolvendo com a chamada parapsicologia, buscando explicações psicológicas ou parapsicológicas para as manifestações demoníacas. Um desses nomes é o Jesuíta padre Oscar G. Quevedo que já escreveu dezenas de livros sobre o assunto e é fundador do Centro Latino-Americano de Parapsicologia.
Em um de seus livros “Antes que os Demônios Voltem”, ele não só entra em choque com as declarações do Ritual Romano da sua igreja, mas vai além, dizendo que as próprias possessões encontradas na Bíblia não passavam de fenômenos parapsicológicos. Em outro livro comentando o caso do possesso de Gadara (Marcos 5.1-17) ele chega às raias do absurdo ao declarar que “torna-se difícil dar ao caso uma explicação demoniológica, ao passo que, numa explicação parapsicológica, o fato se torna bem claro”.
A verdade é que tais declarações são perigosas. Elas não só sugerem que as narrativas bíblicas são falsas, como de quebra coloca em dúvida o próprio caráter de Cristo, pois se Jesus sabia (pressupondo sua onisciência) que aquilo não passava de uma histeria psicológica, fruto da mente doentia daquele homem, ele enganou o povo e seus próprios discípulos ao doar o mesmo poder para fazer algo que não funcionava (Marcos 16.17). Assim Jesus fica na mesma categoria dos charlatões e fraudulentos de hoje em dia. Por outro lado se Jesus desconhecia o fenômeno e o ensinou como possessão demoníaca ele não só foi vítima de sua própria ignorância como levou muitos ao erro. Desta maneira a Bíblia não é mais digna de crédito, pois ensina fábulas em lugar de verdade. Coisas que na verdade não funcionam, pois não há demônio algum para se expulsar!
O EXORCISMO FUNCIONA?
Quando lidamos com as forças do mal temos de ter em mente o seguinte pressuposto: o diabo é o pai da mentira! (Jo. 8.44)
Sendo assim, ele pode enganar sutilmente aqueles que não possuem discernimento bíblico para lidar com a questão.
Jesus deixou claro que o único veículo utilizado para expulsar demônios era o seu nome (Marcos 16.17). Ritos para expulsar demônios se tornam ineficazes quando não há verdadeira conversão (Atos 19.13-17). Nenhuma recomendação há em todo o NT sobre preces, sortilégios e conjurações; apenas somos incentivados a fiarmos em seu poder usando seu nome (Lucas 10.17).
Embora muitos alegam ter expelido o demônio através de tais práticas é bom lembrar que isto não é garantia de que a pessoa é de fato de Deus (Mateus 7.22-23).
EXPULSÃO DE DEMONIOS NÃO É SHOW
Não devemos dar lugar ao diabo (Ef. 4.27). Nem mesmo na hora de combatê-lo. Devemos ter em mente que estamos lidando com seres inteligentes que maquinam o mal (Ef. 6.11).
É digno de nota também que não devemos fazer da expulsão alarido, chamando a atenção para a pessoa possuída. O espírito mal deseja justamente isso, humilhar o ser humano.
Por isso não é correto conversar com demônios, ou fazer com que as pessoas se arrastem de um lado para o outro demonstrando autoridade sob o espírito maligno. Isto na verdade está servindo aos propósitos dele, pois ao invés de estes atos demonstrarem autoridade sob o demônio eles acabam causando dores e escoriações no corpo do possesso.
Devemos tomar cuidado para ao invés de combate-lo não acabar cooperando com ele.
CONCLUSÃO
Sabemos que o diabo e seus anjos existem e as possessões são reais. Não exatamente como aparecem no filme, mas acontecem. No entanto, há aqueles que vêem demônios em tudo e por outro lado existem aqueles que negam qualquer ação demoníaca sobre os homens. Devemos então traçar uma linha de equilíbrio sobre a questão, o extremismo é prejudicial para ambos os lados.
Também devemos reconhecer que muitos casos aceitos como possessão não passam de distúrbios mentais, doenças psíquicas, por isso precisamos ter discernimento espiritual para agirmos de modo correto, distinguindo um do outro.
Vamos fazer uso das armas que Deus nos deu para combatermos as potestades do mal e resisti-las no dia mal. Uma dessas armas é o nome de Jesus. Somente uma pessoa verdadeiramente convertida poderá obter sucesso nessa luta, pois fiel é quem prometeu: em meu nome expulsaram demônios! (Marcos 16.17)
Obras consultadas
Revista Defesa da Fé edição especial 2000, pág. 74
Revista Galileu nº 147 outubro 2003 págs. 18-25.
McDowell, Josh & Stewart, Don, “Entendendo o Oculto” editora Candeia – São Paulo – 1996.
Quevedo, G. Oscar, “O que é Parapsicologia” ed. Loyola – São Paulo – 1982 pág. 75.
Sites consultados
www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith
_doc_19850924_exorcism_po.html
www.fenomeno.trix.net/fenomeno_fenomenos_1_exorcista.htm
www.exorcista.hpg.ig.com.br/
Notas de referências
1 – Este é o quarto de uma série de filmes que foi estrelado em 2004 com um orçamento de US$ 40 milhões contando a história do primeiro contato que o padre Merrin teve com o demônio.
2 – Esta mesa é uma variante do que é chamado aqui no Brasil de ‘jogo do copo” onde se tenta fazer comunicação com os mortos através de perguntas e respostas utilizando-se uma mesa e um copo.
3 – No site do Vaticano existe uma nota sobre exorcismo dada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé a qual afirma que o cânon 1172 do Código de Direito Canônico declara que a ninguém é lícito proferir exorcismo sobre pessoas possessas, a não ser que o Ordinário do lugar tenha concedido peculiar e explícita licença para tanto[…] Destas prescrições, segue-se que não é lícito aos fiéis cristãos utilizar a fórmula de exorcismo contra Satanás e os anjos apóstatas, contida no Rito que foi publicado por ordem do Sumo Pontífice Leão XIII; muito menos lhes é lícito aplicar o texto inteiro deste exorcismo.