O Estado da Alma entre a morte e a ressurreição

Como existe diversidade de interpretações, para evitar confusão de ideias acerca do estado intermediário dos mortos, devemos aclarar essa doutrina.

– A VIDA DEPOIS DA MORTE

São vários os argumentos que reforçam a doutrina bíblica sobre a vida após a morte.

Argumento histórico: Se a questão da vida após a morte estivesse fundamentada apenas em teorias e conjecturas filosóficas, ela já teria desaparecido. Mas as provas da crença na imortalidade da alma estão impressas na experiência da humanidade.

Argumento teleológico: Procura provar que a vida do ser humano tem uma finalidade, além da própria vida física. Há algo que vai além da matéria dos nossos corpos, é a parte espiritual do homem. Quando Jesus Cristo aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção, estava, de fato, desfazendo a morte espiritual e concedendo a vida eterna, a imortalidade (2Tm. 1:10). A vida humana tem uma finalidade superior, uma razão de ser, um desígnio.

Argumento moral: Há um governador moral dentro de cada ser humano, chamado consciência, que rege as suas ações. Sua existência dentro do espírito humano indica sua função interna, como um sensor moral, aliado à soberania divina.

Argumento metafísico: Os elementos imateriais do ser humano denunciam o sentido metafísico, que compõe sua alma e seu espírito, e esses elementos são indissolúveis. Portanto, como evitar a realidade da vida após a morte? É impossível! A palavra imortalidade no grego é ‘athanasia’ e significa literalmente ausência de morte. No sentido pleno, somente Deus possui vida total, imperecível e imortal (1Tm. 1:17). Ele é a fonte da vida eterna, e ninguém mais pode dá-la. No sentido relativo, o crente possui a imortalidade conquistada pelos méritos de Jesus no Calvário (2Tm. 1:8-12).

– O QUE NÃO É ESTADO INTERMEDIÁRIO

Não é Purgatório. Essa é uma heresia lançada pelos católicos romanos para identificar o Seol (hebraico) (Hades no grego) como lugar de prova, ou de segunda oportunidade, para as almas daquelas pessoas que não conseguiram se purificar o suficiente para galgarem o céu. Declara a doutrina católica romana, que essa é uma forma desses mortos serem provados e submetidos a um processo de purificação. Entretanto, isso não tem base na Bíblia, é uma doutrina feita sobre premissas falsas. Se o Purgatório fosse uma realidade, então a obra de Cristo não teria sido completa. Se alguém quer garantir sua salvação eterna, precisa garanti-la na sua vida física. Depois da morte, só resta a ressurreição.

b) Não é o ‘Umbus Patrum’. O vocábulo ‘Umbus’ significa borda, orla. Essa ideia é paralela ao Purgatório, e foi criada pelos católicos romanos para denotar um lugar na orla, ou na borda do inferno, onde as almas dos antigos santos ficavam até a ressurreição. Ensina ainda essa igreja que o ‘Umbus patrum’ (pais) era aquela orla do inferno onde Cristo desceu após sua morte na cruz, para libertar os pais (os santos do Antigo Testamento) do seu confinamento temporário, e levá-los em triunfo para o céu. Identificam “o seio de Abraão” como sendo o ‘Umbus patrum’ (Lc. 16:23). Mas o ‘Umbus patrum’ não tem apoio bíblico, nem existe uma orla para os pais (os santos antigos).

c) Não é o ‘Limbus Infantus’. A palavra ‘infantus’ refere-se a crianças. Na doutrina romana, havia no Seal (Hades) um lugar especial de habitação das almas de todas as crianças não batizadas. Segundo essa doutrina, nenhuma criança não batizada pode entrar no céu. É inaceitável a ideia do ‘limbus infantus’ como um lugar de prova, também para crianças.

Não é um estado que antecede a reencarnação. Não é um lugar de migrações e perambulações espaciais dos espíritos dos mortos.

Os espíritas gostam de usar o texto de Lucas 16:22-23, para afirmarem que os mortos podem ajudar os vivos. Mas, Jesus declarou, ao ensinar sobre o assunto, que era impossível que Lázaro, ou algum outro morto que estivesse no Paraíso, saísse daquele lugar para entregar uma mensagem aos familiares do rico. Jesus disse que os vivos tinham “a Lei e os Profetas”, isto é, eles tinham as Escrituras. Os mortos não podiam sair de seus lugares para se comunicar com os vivos. Portanto, é uma fraude afirmar essa possibilidade de comunicação com os mortos. Os espíritas usam também equivocadamente João 3:3, para defender a doutrina da reencarnação. Vários textos bíblicos anulam essa falsa doutrina (Dt. 18:9-14; Jó 7:9-10; Ec. 9:5,6; Lc. 16:31, Hb. 9:27).

– O QUE É ESTADO INTERMEDIÁRIO

a) É uma habitação espiritual fixa, porém temporária. Biblicamente o estado intermediário é um modo de existência do espírito entre a morte física e a ressurreição final do corpo sepultado. No Antigo Testamento, esse lugar é identificado como Seol (no hebraico), e no Novo Testamento como Hades (no grego). Os dois termos dizem respeito ao reino da morte (SI. 18:5; 2Sm. 22:5-É um lugar espiritual onde os espíritos dos mortos habitam fixamente, até que seus corpos sejam ressuscitados para a vida eterna, ou para a perdição eterna. É o estado dos espíritos, fora dos seus corpos, aguardando o tempo em que terão que comparecer perante Deus.

b) É um lugar de consciência ativa e ação racional. Segundo Jesus descreveu esse lugar, o rico e Lázaro participam de uma conversação no Seol-Hades, estando apenas em lados diferentes (Lc. 16.19-31). O apóstolo Paulo descreve-o, no que tange aos salvos, como um lugar de comunhão com o Senhor (2Co. 5:6-9; Fp. 1:23). A Bíblia denomina-o como um “lugar de consolação”, “seio de Abraão” ou “Paraíso” (Lc. 16:22-25; 2Co. 12:2-4). Se fosse um lugar neutro para os espíritos dos mortos, não haveria razão para Jesus identificá-lo com os nomes que deu. Da mesma forma “o lugar de tormento” não teria razão de ser, se não houvesse consciência naquele lugar. Rejeita-se, segundo a Bíblia, a teoria adventista que o Seol-Hades é um lugar de repouso inconsciente. A Bíblia fala dos crentes falecidos como “os que dormem no Senhor” (1Co. 15:6; 1Ts. 4:13), e isto não se refere a uma forma de dormir inconsciente, mas de repouso, de descanso. As atividades existentes no Seol-Hades não implicam que os mortos possam sair daquele lugar, mas que estão retidos até a ressurreição de seus corpos, quando se apresentarão perante o Senhor (Lc. 16:19-31; 23:43; At. 7:59).

4- O SEOL-HADES ANTES E DEPOIS DO CALVÁRIO

a) Antes do Calvário. O Seol-Hades dividia-se em três partes distintas. Para entender essa habitação provisória dos mortos, podemos ilustrá-lo por um circulo dividido em três partes. A primeira parte é o lugar dos justos, chamada “Paraíso”, “seio de Abraão”, “lugar de consolo” (Lc 16.22,25; 23.43). A segunda é a parte dos ímpios, denominada “lugar de tormento” (Lc 16.23). A terceira fica entre a dos justos e a dos ímpios, e é identificada como “lugar de trevas”, “lugar de prisões eternas”, “abismo” (Lc. 16:26; 2Pe. 2:4; Jd. 6). Nessa terceira parte foi aprisionada uma classe de anjos caídos, a qual não sai desse abismo, senão quando Deus permitir nos dias da Grande Tribulação (Ap. 9:1-12). Não há qualquer possibilidade de contato com esses espíritos caídos, habitantes do Poço do Abismo.

b) Depois do Calvário. Houve uma mudança dentro do mundo dos espíritos dos mortos após o evento do Calvário. Quando Cristo enfrentou a morte e a sepultura, e as venceu, efetuou uma mudança radical no Seol-Hades (Ef. 4:9-10; Ap. 1:17-18). A parte do “Paraíso” foi trasladada para o terceiro céu, na presença de Deus (2Co. 12:2-4), separando-se completamente das “partes inferiores”, onde continuam os ímpios mortos. Somente os justos gozam dessa mudança e esperança pelo dia final, quando esse estado temporário se acabará, e viverão para sempre com o Senhor, num corpo espiritual ressurreto.

Essa doutrina bíblica fortalece a nossa fé, ao dar-nos segurança acerca dos mortos em Cristo, e é a garantia de que a vida humana tem um propósito elevado, além de renovar a nossa esperança de estar para sempre com o Senhor.

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Pr. Elienai Cabral – REBD CPAD

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