Convidamos você a ler abaixo o debate entre o Prof. Paulo Cristiano e o senhor Kleverlande, adepto da Igreja Católica Romana. Esse debate teve como tema principal o seguinte assunto: O cristão pode interpretar a Bíblia sozinho?
O senhor Kleverlande sustenta que a interpretação cabe unicamente à Igreja Católica Romana, por meio de seu Magistério. Eu sustentarei que a Bíblia nos dá total direito de interpretá-la com a ajuda do Espírito Santo.
As respostas do meu adversário estão em cor vermelha, enquanto minhas réplicas estarão em cor preta.
Esperamos que as respostas dadas a estes e outros questionamentos levantados pelas seitas sirvam para o enriquecimento do conhecimento e a edificação de todos aqueles que procuram em nosso site argumentos para a defesa da fé cristã.
Debatedores: Paulo Cristiano (protestante) X Kleverlande (católico)
Tema Geral: A livre Interpretação da Bíblia
Tema secundário: Sola Scriptura
Prof. Paulo Cristiano:
Prezado Kleverlande!
Sinceramente, fiquei chocado com sua resposta neste e-mail, um misto de decepção devido à pobreza da dialética utilizada, e pena por ainda estar preso a sutilezas das filosofias humanas habilmente empacotadas em forma de dogmas.
Aprouve a Deus que por intermédio destes nossos diálogos seus olhos possam ser abertos para a verdade do evangelho puro e genuíno de nosso Senhor Jesus Cristo, aquele que é a verdade absoluta.
Antes de adentrar às refutações propriamente ditas de suas argumentações convém analisar através da história a “estima” com que a ICR teve para com a Bíblia.
Para começar a ICR nunca quis realmente que o povo lesse a Bíblia, simplesmente, porque mesmo uma singela leitura da Bíblia iria colocar em relevo a falsidade doutrinária do catolicismo romano com seus dogmas cada vez mais anti e extrabíblicos.
A solução então era não traduzir a Bíblia para o vernáculo do povo, mantendo-a trancafiada em latim, monopolizada por uns poucos padres agraciados que falavam essa língua. Lê-la somente em latim. Em vernáculo popular nunca! Durante séculos foi um pecado mortal possuir e ler a Bíblia no próprio idioma nativo da pessoa.
Em 1709 quando o rei Vratislau da Boêmia pediu permissão ao Papa Gregório VII para traduzir a Bíblia para a língua de seus súditos recebeu a resposta de que Deus havia preservado as Escrituras em segredo com receio de que ela fosse pouco estimada ou mal entendida. O importante era manter a Bíblia “em segredo”, trancafiada no latim, uma língua morta.
Já em 1199, Inocêncio III, escreveu uma carta tão autoritária ao arcebispo de Metz, na Alemanha que este queimou todas as Bíblias na língua alemã que encontrou.
O Sínodo de Tolosa na França (1229), nos seus artigos III, IV,V,VI ordenava a destruição total das casas e que os leitores da Bíblia na língua vernacular fossem perseguidos até as florestas. Essa punição inquisitorial era para retirar o gosto pela leitura da Bíblia na língua do povo.
Em 1233, o Sínodo de Tarragona, na Espanha, ordenou que as Escrituras fossem queimadas.
Em 1407, O Sínodo de Oxford proibia expressamente a tradução da Bíblia para o inglês.
O conselho de Valencia, o Conselho de Trento (1545) e o Papa Clemente XI (1713) e muitos outros, tudo fizeram para impedir as pessoas de possuir a Bíblia no próprio idioma. Muitos que ousavam desafiar a ditadura fascista de Roma eram torturados e mortos como foi Wyclif (1382), tradutor da primeira Bíblia em inglês, mesmo antes de Gutemberg inventar a imprensa. Por isso foi excomungado, morto e seus ossos foram queimados e as cinzas lançadas ao rio.
Tyndale (1525) foi outro que desafiou Roma e por isso acabou sendo queimado por ordem do Clero.
Enquanto homens como Wycliff, Tyndale e Lutero lutaram para dar a Bíblia no idioma comum das pessoas, os papas colocavam ao seu serviço a inquisição e milhares de exemplares de Bíblias foram queimadas repetindo os feitos do tirânico Imperador Diocleciano.
Mas a coisa mudou quando Gutemberg inventou a imprensa – a sua primeira impressão foi justamente uma Bíblia. Isso colocou o Clero em sobreaviso, pois corria o perigo do povo ler a Bíblia e não encontrar nela as principais doutrinas católicas. O clero anti-bíblia continuou a decretar suas bulas contra o uso público do Santo Livro:
Paulo IV em 24 de março de 1564 na bula “Domini Gregis” (regra 4), proibiu o uso das traduções da Bíblia no vernáculo do povo.
Por sua vez Pio VII, em sua carta “Magno et Acerbo”, de 3 de setembro de 1816, atacou violentamente as traduções vernáculas da Bíblia.
Leão XII, na sua encíclica “Ubi Primum”, de 5 de maio de 1824, chama de PESTE as Sociedades Bíblicas por divulgarem estas versões indesejáveis…
O papa Pio IX (1866) em sua encíclica Quanta Cura, reafirmou que as “Sociedades Bíblicas” era “uma peste” e deveriam ser exterminadas.
Mas o tempo forçou a Igreja romana a mudar sua estratégia devido a pressão exercida pela Reforma Protestante em dar a Bíblia na própria língua do povo. Hoje muitos católicos têm livre acesso às escrituras graças ao esforço destes homens de Deus. Contudo, esta liberdade concedida de mal grado pelo catolicismo vem mascarada pela interpretação do tal Magistério da Igreja. Os católicos continuam sendo manipulados pela cúpula romana!
No Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática Dei Verbum está escrito:
O Ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo” e mais: “Pois tudo o que concerne a maneira de interpretar a Escritura está sujeito em última instancia ao juízo da igreja, que exerce o mandato e ministério divino de guardar e interpretar a Palavra de Deus”
O catolicismo não conseguindo impedir que a Bíblia fosse traduzida para a língua do povo para que todos a entendessem, agora tenta manipular não mais sua leitura, mas sua interpretação. Antes se privava o conhecimento, agora se priva o entendimento.
Essa, pois foi a linda história de amizade da ICR para com a Bíblia e seus leitores. Que entre nós dois se faça o julgamento: quem é realmente amigo da liberdade de expressão e de pensamento? Quem é realmente a maior amiga da Bíblia?
Por ai percebe-se que a ICR não possui envergadura moral para se auto-intitular como guardiã dos oráculos divinos, pois ela foi seu maior carrasco.
Vamos adentrar agora às refutações de sua última missiva.
Kleverlande:
Caro irmão em Cristo, Paulo.
Você com seu preconceito contra a única igreja de Jesus Cristo,faz questão de não reconhecer que a sua tese da “Interpretação pessoal” é falida, digo faz questão, porque vejo que você é uma pessoa culta e tenho absoluta certeza que com seus estudos da Bíblia ,já percebeu o que abaixo descrevo, a questão fundamental está nos millhares de ditos “Evangélicos” que se acreditam verdadeiros doutores em Bíblia, pelo fato de usarem a “decoréba” de versículos como diploma , e irem atrás do que dizem “suas luzes pessoais” e seu subjetivismo quando se trata de Sagrada Escritura. Eis a razão para a proliferação de tantas seitas Cristãs.
Prof. Paulo Cristiano:
Não. Não há de se falar em preconceito, Kleverlande. O meu conceito é bem fundamentado na história (como você pode acabar de ler) e na Bíblia. Isso basta para desconfiar desta falsa preocupação que a cúpula católica, que do seu ponto de vista (mas não do bíblico) é considerada a única igreja de Cristo, tem pela interpretação das Escrituras. Hoje mudou apenas o método, mas a norma continua sendo a mesma: deixar o povo ignorante quanto a verdade contida nas Escrituras. Repete-se hoje, de maneira mais sofisticada e sutil o que se processava na idade média.
Ora, qual a maneira mais fácil de um governo corrupto manipular o povo? Não é justamente privando-o da educação e do conhecimento? Educação precária, povo ignorante. Com o nível educacional da nação no vermelho, ninguém irá se opor ás corrupções do governo. A manipulação se torna mais fácil. Esta analogia serve muito bem para o contexto do qual estamos tratando.
Jesus deixou bem claro para os manipuladores religiosos de seu tempo, aqueles que se consideravam os guardiões da Palavra de Deus, mas que eram os que mais a adulteravam em causa própria: “ERRAIS POR NÃO CONHECERDES AS ESCRITURAS…”
É necessário tanto o conhecimento da letra, quanto do espírito das Escrituras. O católico é uma pessoa que come pela mão de terceiros, pois ele só come o que os clérigos dão. Se a interpretação estiver errada 1 bilhão de católicos vão engolir este erro, pois foram dopados durante todo o tempo a acreditar piamente na interpretação particular de seus líderes.
Veja o que dizia o Cardeal Hosius in “Expresso Verbo Dei, pg. 623, Edt. 1584”
“Se alguém tem a interpretação da igreja de Roma sobre qualquer texto da Escritura, ainda que não entenda como esta interpretação convém ao texto, tem, todavia, a mesma palavra de Deus”.
Quer uma manipulação maior que essa? Tal é o estado de letargia espiritual em que se encontra o fiel católico.
Mas para estes líderes interpretarem trechos das Escrituras tiveram que primeiro fazer um julgamento pessoal da passagem, e nisso como já provei dezenas de vezes a você não passa de interpretação pessoal. Não há para onde fugir, a cúpula católica faz, ela mesma, uso da livre interpretação da Bíblia, mas priva isto aos seus fiéis.
Não vou negar que alguns desavisados entre nós, fazem uso desordenado das Escrituras. Mas isto não é a regra, são as péssimas exceções entre a grei evangélica. A reforma não permitiu a anarquia no livre exame das Escrituras. Por desconhecer isso os católicos laboram em grave erro ao acusar o método usado pelos evangélicos ao lidar com a Bíblia. Mas como veremos, nem mesmo a ICR escapa de usar e abusar do subjetivismo na interpretação das Escrituras. Passamos agora para o próximo tópico.
Kleverlande:
Sabemos, que é regra de sadia exegese procurar, antes do mais, o significado preciso do texto original; é necessário entender o texto como o autor sagrado o entendia e daí depreender a mensagem que ele queria transmitir. A inspiração do texto bíblico por parte do Espírito Santo não equivale a um ditado mecânico; supõe sempre as categorias de pensamento do escritor oriental, antigo. Estas, portanto, têm que ser, primeiramente, detectadas e reconhecidas para que se possa compreender genuinamente a página bíblica. Este procedimento exegético tem sido enfaticamente recomendado pela Igreja ,que em sua Constituição Dei Verbum ditou as normas seguintes: `Já que Deus falou na Sagrada Escritura através de homens e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e aprouve a Deus manifestar por suas palavras.
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos históricos, proféticos ou poéticos ou nos demais gêneros de expressão. Ora é preciso que o Intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura, quis exprimir e exprimiu por meio dos gêneros literários então em uso. Pois, para entender devidamente aquilo que o autor sagrado quis afirmar por escrito é necessário levarem conta sejam aquelas usuais maneiras nativas de sentir, de dizer e de narrar que eram vigentes nos tempos do hagiógrafo, sejam as que em tal época se costumavam empregar nas relações dos homens entre si”.
Verdade é que muitos desde o fim do século XVIII têm cedido ao racionalismo, a ponto de esvaziarem por completo o texto bíblico. É o que vem provocando a réplica do chamado “Fundamentalismo” que se apega à letra do texto como ele soa em suas versões vernáculas e se fecha aos estudos de lingüística, arqueologia, história antiga… Ora o Fundamentalismo é posição extremada, errônea, como o racionalismo, pois ignora o mistério da condescendência divina, que assume as modalidades da linguagem e da cultura dos homens antigos para falar à humanidade. Assim se lê num documento da Pontifícia Comissão Bíblica intitulado “A Interpretação da Bíblia na Igreja” e datado de 15/4/1993: “O problema de base da leitura fundamentalista é que, recusando levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica, ela se toma incapaz de aceitar plenamente a verdade da própria Encarnação. O
Fundamentalismo foge da estreita relação do divino e do humano no relacionamento com Deus Ele se recusa a admitir que a Palavra de Deus inspirada foi expressa em linguagem humana e que ela foi redigida, sob a inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e recursos eram limitados. Por esta razão, ele tende a tratar o texto bíblico como se ele tivesse sido ditado, palavra por palavra, pelo Espírito e não chega a reconhecer que apalavra de Deus foi formulada numa linguagem e numa fraseologia condicionadas por uma ou outra época. Ele não dá atenção ás formas literárias e às maneiras humanas de pensar presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas muito diversas.
Prof. Paulo Cristiano:
Tudo muito bonito, mas desnecessário e enfadonho. As regras de hermenêutica sagrada são os princípios que norteiam a interpretação do cristão em conjunto com a iluminação do Espírito Santo. Isso todos sabem de cor.
É necessário saber um pouco de análise histórico-cultural e contextual, assim como fazer uma boa análise léxico-sintática e teológica para extrair dela uma sadia exegese e não forçar nela uma eisegese.
Mas será que a Igreja católica respeita as próprias regras de exegese que ela mesma incentiva? Falaremos sobre isso mais à frente. Mas por enquanto fica uma pergunta intrigante: para que o católico vai usar regras de hermenêutica se no final das contas o que vale mesmo é a interpretação final que a igreja dá ao texto?
No frigir dos ovos o que o exegeta católico em ultima instância faz é somente confirmar o que já é opinião formada da igreja. Ele procura não a interpretação fiel do texto, mas a confirmação que a igreja dá ao texto. Isso de maneira alguma é exegese.
Isso que a igreja faz é apenas brincar de dar autonomia aos fiéis. Incentiva a leitura da Bíblia, ensina as regras de exegese, mas a interpretação que vale é a da igreja. Ora, isso é coisa para inglês ver amigo! É brincar com a inteligência humana! Por isso que o católico que começa a ler a Bíblia sozinho, sem a interferência de ninguém, acaba se tornando evangélico. Pois ele percebe que a interpretação oficial da igreja não bate com o que está na Bíblia e muitos de seus dogmas nem se encontram lá. O que o catolicismo faz é apenas contrabandear seus pressupostos doutrinários para uns poucos versos bíblicos e depois rechear tudo isso com citações catadas aqui e ali por alguns pais da igreja. Isso é forçar a interpretação para dentro do texto. Isso de maneira alguma é exegese.
Kleverlande:
O Fundamentalismo insiste também de maneira indevida sobre a inerrância dos pormenores nos textos bíblicos, especialmente em matéria de história ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes ele toma histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois ele considera como histórico tudo aquilo que é narrado ou contado com os verbos em tempo pretérito, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo”. Por conseguinte, nem racionalismo nem fundamentalismo… Mas é necessário que o exegeta proceda sempre em duas etapas:
Prof. Paulo Cristiano:
Vamos destacar aqui os termos, inerrância, histórico e pretensas verdades científicas, que são as chaves para entender este trecho do pensamento deste autor citado por você.
Se por inerrância você quer dizer “acreditar na Bíblia como se apresenta”, então eu sou partidário dela. Essa pretensa cautela esposada acima não passa das artimanhas da corrente da alta crítica. Ela é que não toma os fatos históricos da Bíblia como reais, pois lhe soam como irracionais. Sendo assim, pretendem fazer uma reinterpretarão do texto. Lembra do padre Zezinho citado por mim? Ele afirma que muitos personagens bíblicos como Adão e Eva nunca existiram. Quem sabe, talvez, tenha seguido as regras citadas logo acima e tomou como simbólico aquilo que era realmente histórico, desmentindo Jesus os apóstolos, todo o Antigo Testamento e a igreja primitiva. Se ele fosse fundamentalista não teria incorrido neste erro grosseiro, mas parece que os teólogos católicos estão ficando cada vez mais racionalistas e menos fundamentalistas.
E por falar em pretensas verdades científicas, será que isto toca nas questões da origem das espécies? A igreja católica lentamente está deixando se influenciar pelo modernismo e ficando cada vez mais longe de dar uma autentica interpretação da Bíblia. Muitos católicos hoje já acreditam na interpretação grosseira de que o homem veio do macaco.
Quando se rejeita a Bíblia como incapaz de interpretar a sua própria história, passa-se então a procurar meios naturais de explicar certas passagens. E aí é que mora o perigo! Ora, se há conflitos entre ciência e Bíblia? Rejeite a Bíblia ora, bolas!!! Afinal é um livro humano e cheio de erros com uma linguagem arcaica…afinal para que leva-la ao pé da letra?!!!
Interpreta-se a Bíblia pela ciência e não está por aquela.
Não são poucos os católicos que apesar de acreditarem nos maiores absurdos e defenderem sua devoção aos santos e nas muitas “nossas senhoras” rejeitam a Bíblia como “livro escrito por homens” baseado no jargão de que “papel aceita tudo”. Tal é o conceito que vários católicos leigos têm da Bíblia – para eles – um livro não confiável!
Mas ainda no tocante as “pretensas verdades científicas” defendidas no molde do literalismo, vêm à minha mente a história de Galileu que muitos usam para taxar a Bíblia de anticientífica. A verdade, porém, é que não era a Bíblia que estava errada, mas a interpretação que a igreja romana dava a certos trechos das Escrituras. lembrando que Galileu Galilei foi vítima não de um fundamentalista, mas da cúria romana quando defendeu o heliocentrismo. A igreja defendia que a terra e o homem eram o centro do universo baseados em alguns versos como Eclesiastes 1.5 e Salmos 104.5 e nisso era irredutível. Agora, vem alguns estudiosos modernistas sem nenhum pudor falar que os fundamentalistas querem defender “pretensas verdades científicas”. É preciso muita coragem mesmo….só que a história ninguém consegue esconder, os fatos estão aí para contrapor as hipocrisias dos religiosos e pretensos interpretes infalíveis das Escrituras. Se a igreja fosse o interprete infalível e único das Escrituras ela nunca teria condenado Galileu. Mas isto mostra que a interpretação que a ICR tinha das Escrituras era precária.
Kleverlande:
Procure, mediante os recursos da lingüística, da arqueologia, da história antiga… definir claramente o sentido do texto original ou aquilo que o autor humano queria dizer;
– a seguir, coloque esses resultados no conjunto das proposições da fé. A Sagrada Escritura é um longo discurso de Deus, homogêneo, que tem suas linhas centrais e seus acordes, que devem projetar luz sobre cada secção desse discurso. É o que São Paulo chamava “a analogia da fé ou a proporção da fé” (Rm 12,6). Esta fé é vivida e proclamada pela Igreja, cujo magistério recebeu de Cristo a garantia da autenticidade (cf. Jo 14, 26; 16,13-15).
Assim o estudioso católico chega ao entendimento exato do texto sagrado. Não incute suas idéias ao texto (o que seria fazer in-egese), mas deduz do texto a mensagem objetiva (faz ex-egese). Quem assim não procede, corre o risco do subjetivismo ou de interpretações pessoais, semelhantes às que ocorrem no protestantismo.
Prof. Paulo Cristiano:
Releia o que você escreveu: “Assim o estudioso católico chega ao entendimento exato do texto sagrado.”
Assim como? Depois dele ( o estudioso católico) ajustar ao máximo a sua exegese à interpretação da ICR? Você chama isto de exegese? Pois é amigo, não exegese, mas eisegese é o que mais os exegetas católicos fazem.
E sabe por quê? Porque a ICR nunca publicou uma interpretação autorizada das Escrituras, e nem é possível saber ao certo qual é a interpretação que ela adota ou sustenta. Muitas das suas posições doutrinárias hoje colidem com o que ela já ensinou no passado sob a autoridade interpretativa de seus líderes.
É por isso que os padres parapsicológicos interpretam as passagens de milagres e expulsão de demônios nos evangelhos como atos puramente psicológicos, enquanto o papa e o manual de exorcismo da igreja leva isto ao pé da letra. E os padres da teologia da libertação? Quantas passagens são distorcidas em prol do seu evangelho socialista, onde cada ato de Jesus é interpretado de maneira a causar uma revolta social. Este tipo de influência tem levado os coitados de nossos “sem terra” para o abismo, pois fiando-se nessas interpretações agarram-se a luta armada e acabam correndo o risco de ficar não só sem terra aqui nesta vida, mas até mesmo sem o céu na outra.
O que dizer dos carismáticos e tantos outros grupos dentro do catolicismo que interpretam de uma ou de outra maneira os mesmo trechos das Escrituras. Isso amigo, é interpretação particular, não há como fugir! Cadê o tal magistério?
Veja o que dizia o credo criado para o fiel católico em 1564:
“Admito também as Escrituras, conforme o sentido em que as tem e conserva a Santa Madre Igreja, a quem pertencem o direito de julgar a cerca do seu verdadeiro sentido e interpretação, e jamais as receberei ou interpretarei em desacordo com o unânime consenso dos padres.” (Credo do papa Pio, art. 3º; Concil. Trid., Apud. Bullas, pg. 311, Roma, 1564)
Isso nada mais era do que uma grosseira repetição do que estava decretado na 4ª sessão tridentina, isto é, que ninguém se atrevesse a interpretar as Escrituras “em desacordo com o sentir unânime dos padres”
Contudo, desafiamos qualquer católico a provar o consenso unânime de qualquer pai da igreja mesmo que seja em uma só doutrina professada hoje pelo catolicismo. Mesmo aquele em que há mais ênfase tal como Mat. 16.18. Ora, quem mais está em desacordo com essa regra é justamente a igreja católica, sua criadora. Onde na história da igreja poderemos encontrar o dogma do celibato clerical, de que existiu um papa universal cabeça da cristandade, de que Maria foi assunta ao céu em corpo e alma, que se poderia ter imagens nas igrejas, que a ceia é permitida apenas sob uma espécie aos fiéis, e tantos outros dogmas, inclusive este de que em interpretação da Bíblia só cabe a igreja romana dar a autentica e fiel interpretação; este é o pior deles, ninguém jamais sustentou isto. Nenhum pai, nenhuma igreja. Simplesmente ninguém!
Procure nos livros de Ireneu, Orígenes, Tertuliano, Hipólito, Clemente e outros. Veja se a exegese deles não eram baseadas no livre exame das Escrituras! Sim, senhor, eles eram estudiosos das Escrituras não dependia da cúpula romana.
Repito: esse direito de interprete infalível das Escrituras é uma inovação, pois tal nunca houve dentro do seio da igreja cristã. A doutrina cristã era um depósito da igreja universal como um todo e não da romana.
Kleverlande:
Nenhuma revelação particular é endossada oficialmente pela Igreja. Esta não pode colocar no mesmo plano a revelação feita por Jesus Cristo e pelos autores bíblicos e qualquer revelação ocorrida em caráter particular após a era dos Apóstolos. A revelação oficial e pública termina com a geração dos Apóstolos;. Em conseqüência torna-se difícil crer que Deus queira continuar e explicitar a revelação outrora feita pelas Escrituras servindo-se de revelações não oficiais ou fazendo destas o complemento daquelas.
Prof. Paulo Cristiano:
Gostaria de destacar aqui a expressão “A revelação oficial e pública termina com a geração dos Apóstolos”
Então o que dizer do dogma da Imaculada conceição? Dogma este apresentado como “revelação” aos fiéis. Que eu saiba, e não precisa ser teólogo para descobrir isso, em nenhuma parte das Escrituras ele se encontra. Os apóstolos nunca o ensinaram, aliás, eles nunca falaram nada sobre Maria em suas epístolas. Levando em consideração ainda que a igreja de modo geral NUNCA CREU NISSO, tendo até mesmo em Tomás de Aquino (e muitos outros) um de seus maiores adversários, declaramos que este dogma é antibíblico e antiapostólico. Além de estar em franca contradição com a frase que acabo de destacar. Que, diga-se desde logo, que a revelação oficial das doutrinas cristãs acabaram com a geração apostólica. Todas as doutrinas que nós temos na Bíblia foram deixadas pelos apóstolos para serem seguidas. Mas o catolicismo em nome de uma suposta tradição e/ou revelação inventou várias doutrinas que na verdade são heresias encobertas. Qualquer um pode ver que elas não possuem base bíblica.
A fato é que todos os dogmas católicos inventados debaixo da chamada tradição são extra-bíblicos e não passa num exame acurado e rígido de exegese e diga-se de passagem, a verdadeira exegese, e não esta manipulada pela cúria da igreja romana. Se os exegetas romanos tivessem liberdade de usar as regras da hermenêutica aplicando os princípios de exegese, logo cairia por terra o catolicismo.
Por isso a cúria romana precisou inventar este monopólio. Fica fácil encobertar heresias debaixo desta artimanha de um colégio apostólico!
Repito: não há nada na Bíblia ou na história da igreja dos primeiros séculos que prova uma só destas invencionices doutrinárias católicas como procedentes dos apóstolos.
Kleverlande:
Disso tudo se vê a necessidade do colégio apostólico meu irmão. Ao longo da história da Igreja primitiva, vemos que ela lutou continuamente contra as heresias e contra quem as promovia. Vários foram os concílios que responderam aos desafios dos detratores e recorreram à Roma para dar um fim às disputas doutrinárias e disciplinares.
Prof. Paulo Cristiano:
Recorreram a Roma algumas vezes por ela ser a capital do império e não porque o bispo de Roma era superior aos demais ou cabeça da cristandade como insinua hoje o catolicismo. Não vamos passar a carroça na frente dos bois!
Apesar dos bispos das igrejas de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém serem iguais uns aos outros na administração dos ritos litúrgicos e na doutrina, eles começaram a distinguir-se em dignidade de acordo com a importância dos lugares onde estavam localizadas suas dioceses. Ao Bispo de Roma foi concedida a precedência honorária simplesmente porque Roma era então a capital política do mundo, ele foi considerado “o primeiro entre os iguais”.
Kleverlande:
Por exemplo, o Papa Clemente interveio em uma discussão na comunidade de Corinto no fim do primeiro século e acabou com um cisma por lá. No segundo século, o Papa Vitor excomungou uma grande parte da Igreja no Oriente por motivos de divisões sobre quando a páscoa deveria ser celebrada.
Prof. Paulo Cristiano:
Lembre-se que Clemente só interveio porque aquela igreja estava sem líderes. Inácio já havia escrito cartas a Corinto para corrigir o mesmo erro. Não podemos ver aí nenhuma supremacia de Roma ou de um suposto papa. Foi apenas uma intervenção fraternal e nada mais, já que a igreja não possuía líderes. Ademais, Clemente não pune ninguém com excomunhão, apenas aconselha a igreja.
Quanto a Vitor, é certo que tentou impor seu ponto de vista. Mais tarde, porém, sofreu severas criticas por parte de Ireneu e outros bispos quando arbitrariamente quis impor sua autoridade desligando as Igrejas da Ásia por causa da tão chamada controvérsia
“Quartodécima”. Eusébio relata que o bispo romano foi, por muitos, duramente repreendido, “Também restam as expressões que empregaram para pressionar com grande severidade a Vitor. Entre eles também estava Ireneu…”
“Inácio… à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada ‘feliz’, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai, eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (Inácio de Antioquia, +107, Carta aos Romanos [Prólogo]).
Percebeu o limite da autoridade de Roma? Ela presidia na região dos romanos e não em toda a cristandade.
Tanto é assim que no ano de 418, reuniu-se em Cartago um Concílio de todos os bispos africanos, no qual foi sancionado o seguinte Cânon:
“Igualmente decidimos que os Presbíteros, Diáconos e outros Clérigos inferiores, nas causas que surgirem, se não quiserem se conformar com a sentença dos bispos locais, recorram aos bispos vizinhos, e com eles terminem qualquer questão… E que, se ainda não se julgarem satisfeitos e quiserem apelar, não apelem se não para os Concílios Africanos, ou para os Primazes das próprias
Províncias: – e que, se alguém apelar para a Sé Transmarina (de Roma) não seja mais recebido na comunhão…”
Por esta Regra conciliar se vê que os Bispos africanos não aceitavam e não admitiam que fosse aceita a jurisdição do bispo de Roma sobre eles!
Kleverlande:
No início do século três, o Papa Calixto condenou a heresia sabeliana.
Prof. Paulo Cristiano:
Tertuliano acusava o bispo Calixto de querer ser o bispo dos bispos e Hipólito não poupa críticas a este bispo romano. Calixto só excomungou Sabelio quando sua heresia já estava bastante volumosa. Mas muitos outros já haviam combatido esta heresia e até a condenado em seus escritos como Epifanio, Tertuliano, Hipólito e outros. Nada mostra uma superioridade de Calixto. E ele precisava condenar tal heresia mesmo, pois estava dentro de sua jurisdição, a de Roma.
Quanto a Ário, ele já havia sido excomungado ou deposto por um Sínodo em Alexandria e Alexandre seu bispo havia pressionado o próprio bispo Silvestre a tomar cuidado e providencias quanto às artimanhas de Ário. Onde a supremacia de Roma no caso de Ário? Nenhuma!
Kleverlande:
Nestes casos, quando estas heresias ou conflitos disciplinares ocorrem, as pessoas envolvidas defendem seus erros através de sua própria interpretação das Escrituras, excluindo a participação da Tradição e do Magistério da Igreja. Um bom exemplo disto é o caso de Ário, sacerdote do quarto século que declarou que o Filho de Deus era uma criatura e não co-substancial ao Pai.
Prof. Paulo Cristiano:
Quanta ignorância da história, amigo! Querer usar a historieta de Ário para condenar a livre exegese da Bíblia e, por conseguinte a sola scriptura. Contudo, ledo engano!!!
Muitos erros foram cometidos aqui pelo senhor que precisam ser destacados:
Primeiro, não havia nenhum magistério da igreja naquela época, isso é inovação tridentina amigo. Segundo, as especulações de Ário eram mais filosóficas que teológicas. O problema girava em torno de palavras da filosofia platônica que foram incorporadas a teologia cristã da época, que prestava mais para trazer confusão, que esclarecimento. E por último, Ário apelou para a tradição da igreja sim, nesta época ele estava envolvido com os ensinos subordinacionistas e adocionistas de seu mestre Luciano de Antioquia. Os escritos de
Orígenes dava margens para uma suposta inferioridade do Filho perante o Pai, sem falar das fórmulas dos costumes litúrgicos das igrejas. Ário já estava convencido filosoficamente que Cristo era um deus inferior e depois, só então, foi buscar base nas Escrituras. O que ele fez foi uma eisegese.
Kleverlande:
Ário e todos os seus seguidores citavam versículos da Bíblia para provar seus argumentos .(como você hoje) Os debates que chegaram por causa desta doutrina tornaram-se tão volumosos que foi convocado o primeiro Concílio Ecumênico, em Nicéia, em 325 d.C. este concílio declarou serem as doutrinas arianas heréticas e elaborou declarações definitivas quanto à pessoa de Jesus, e fez isso baseada no que a Sagrada Tradição tinha a dizer sobre os versículos bíblicos em questão.
Prof. Paulo Cristiano:
Porque você omitiu o fato que este Concílio foi convocado e presidido pelo imperador Constantino e não pelo papa? Dos 318 bispos do Oriente só vieram 2 representantes de Roma.
Atanásio o grande adversário de Ário se baseou justamente nas Escrituras a fim de mostrar que ele estava errado. Como eu disse, a questão ali não era apenas teológica, pois se o fosse não teria como errar. As escrituras são claras em mostrar que o logos é Deus e não meio Deus. As questões eram mais de caráter filosófico, envolviam termos como hipóstase, homooúsios, ousía e outros termos gregos complicados. O problema é que Ário já tinha seus pressupostos formulados e não queria dar o braço a torcer. Mas Atanásio apelou somente para as Escrituras e não para o tal magistério da igreja que nem ao menos existia nesse tempo. Roma nem estava presente com seu bispo!
Kleverlande:
Aqui vemos a autoridade da Igreja sendo utilizada como última e extremamente importante palavra em matéria doutrinária. Caso não existisse autoridade alguma a quem apelar, a heresia de Ário poderia ter se apossado da Igreja.
Prof. Paulo Cristiano:
Vemos o quê? Apelo para a autoridade da igreja? De onde você tirou essa conclusão? Atanásio apelou foi para as Escrituras, amigo! Não para a igreja e muito menos Romana. A heresia de Ário não se alastrou devido aos esforços de Atanásio no combate com as Escrituras em punho, pois o partido de Ário se firmou mais forte que nunca, a ponto de muitos o seguirem e Atanásio ser deposto do império. Mas ele voltou e derrotou o arianismo não com a tradição da igreja, mas com as Escrituras em punho.
O papa Libério consentiu na condenação de Atanásio; depois, passou-se para o arianismo fato este confirmado até por Jerônimo e lembre-se que o papa Honório aderiu ao maniqueísmo. Que belo exemplo! O suposto papa para qual se devia apelar se debandou para a heresia.
Kleverlande:
A maioria dos bispos daquela época foi seduzida pela heresia ariana . Apesar de Ário ter fundamentado sua doutrina nas Escrituras – e provavelmente comparou a Escritura pela Escritura – o fato é que chegou a uma conclusão herética. Foi somente a autoridade do ensino da Igreja – hierarquicamente constituída – que o freou e declarou que estava errado.
Prof. Paulo Cristiano:
Primeiro você precisa provar pela história o que esta falando. Como já mostrei, não foi a hierarquia da igreja romana quem convocou presidiu e julgou o Concílio, isto coube ao imperador. Depois, Atanásio não apelou para o suposto papa da época, mas somente para as Escrituras. Também não podemos perder de vista que até mesmo Libério, bispo romano foi enganado pela heresia e condenou Atanásio. Ora, se o chefe do suposto colegiado infalível e interprete único das escrituras sucumbiu ao erro que dirá seus súditos! Que confusão! Essa tentativa de impor a igreja de Roma como interprete única das escrituras é furada amigo, não cola!
Kleverlande:
A implicação é óbvia. Se eu perguntar a você como protestante, se Ário estava ou não correto em sua doutrina de que o Filho fora criado, você com certeza responderia que não. Enfatizo, então, que mesmo que ele tenha utilizado as Escrituras pelas Escrituras, mesmo assim ele chegou a uma conclusão errada. Se isto foi verdadeiro para Ário garante a você que este não é o caso acerca de sua interpretação de uma dada passagem bíblica?
Prof. Paulo Cristiano:
Ário estava errado, não porque ele utilizou particularmente as Escrituras, mas porque ele tentou entende-la trazendo para dentro dela conceitos gregos alheios. Seus preconceitos teológicos-filosóficos foram seus piores erros. Ário usou versos isolados das Escrituras, ele não se importou com a exegese. Se houvesse comparado as Escrituras com as Escrituras certamente teria desistido de seu erro.
Kleverlande:
O fato de qualquer protestante reconhecer que a interpretação de Ário estava errada implica dizer que de fato houve uma base bíblica para seus argumentos. Este fato, portanto, transforma-se em um questionamento acerca do que seja uma verdadeira interpretação bíblica.
Prof. Paulo Cristiano:
Uma verdadeira interpretação bíblica é aquela que não fere ou extrapola o texto, mas que obedece como ele está. Vou lhe dar um exemplo do que não seja uma verdadeira interpretação bíblica: lembra quando o anjo fala a Maria que ela é agraciada perante Deus?
Pois bem, , de onde você pode inferir deste texto que ela aí está sendo chamada de imaculada, isto é, sem pecado? Aplique todas as regras de exegese que você citou, procure ainda na história da igreja, na semântica e outros recursos e veja se eles apóiam uma interpretação capciosa e adulterada como a da imaculada concepção de Maria? O dogma da imaculada conceição é um caso típico do total rompimento com a boa exegese. Passa-se por cima de todas as regras para impor um dogma inventado fora das Escrituras. Uma verdadeira interpretação bíblica deixa o texto falar por si mesmo, não força ele a dizer o que não diz. O que infelizmente não acontece com as interpretações católicas.
Kleverlande:
A única explicação possível é que deve haver, por necessidade, uma autoridade infalível que no-la diga. Esta autoridade infalível, a Igreja Católica, declarou Ário um herege. Se a Igreja Católica jamais foi infalível ou possuiu alguma autoridade em suas declarações, então os cristãos não teriam razão alguma em rejeitar Ário e aceitar a autoridade da Igreja, e a maioria do cristianismo atual seria baseado nos ensinamentos de Ário.
Prof. Paulo Cristiano:
Pura balela! Esse argumento fica por sua conta. Nunca houve uma autoridade infalível para controlar a interpretação das Escrituras, Jesus nunca deixou ninguém monopolizando sua Palavra. Torno a repetir, NUNCA A IGREJA CATÓLICA declarou Ário herege, mesmo porque nem o bispo romano estava lá, os prelados eram todos praticamente do oriente. Se a igreja reunida o fez, esta honra cabe a igreja oriental em conjunto e não a de Roma pelos motivos já expostos.
Kleverlande:
É evidente, portanto, que usar somente a Bíblia não é garantia de se chegar a uma doutrina verdadeira. O resultado acima descrito é o que acontece quando a falsa doutrina da Sola Scriptura é utilizada como princípio guia, e a história da Igreja e das inúmeras heresias que teve de combater são testemunhas inegáveis deste fato.
Prof. Paulo Cristiano:
É evidente que Ário não usou o princípio de Sola Scriptura, pois se o tivesse feito não teria cometido tamanha heresia. E o que dizer do bispo Libério que condenou Atanásio e aderiu ao arianismo? Ele não era o chefe do tal magistério eclesiástico? Porque caiu? Se esta tal autoridade para agir estivesse presente na igreja de Roma ela nunca haveria de errar. Mas os fatos apontam o contrário. Quantos erros, heresias e abusos foram cometidos em nome de uma hierarquia eclesiástica! O pior é que essa hierarquia posa como autentica interprete das Escrituras. Um absurdo!
Se o princípio do Sola Scriptura não é eficaz para se chegar a verdadeira doutrina, precisando para isso da tradição da igreja. Então me explique:
Por que a igreja católica e a igreja ortodoxa que se baseiam na mesma tradição, possui a mesma antiguidade e rejeitam o princípio do sola scriptura, crêem em coisas tão diferentes? Ora, se a tradição fosse a solução para todos os erros doutrinários elas deveriam ser coerentes em suas crenças, mas compare as doutrinas de ambas. Quando a igreja romana apela para a tradição e as Escrituras para sustentar uma doutrina particular, a mesma coisa faz os cristãos ortodoxos para rejeita-la. Um exemplo disso é a tal primazia do bispo de Roma através de Pedro. Ambas reclamam a interpretação das Escrituras e a Tradição para seus pontos de vista.
Por isso nós rejeitamos o tal colegiado romano e sua pretensão de controlar a interpretação da Bíblia e ficamos somente com as Escrituras.
Ele (Magistério Eclesiástico) já tem dado provas o bastante, durante todos estes séculos, de que não é confiável como intérprete único da Bíblia.
A Palavra de Deus é livre e qualquer um pode entendê-la. É lógico que para isso é necessário aplicar regras corretas de interpretação para não cometer erros grosseiros e contar sempre com a assistência do Espírito Santo, Ele afinal de contas é o perfeito intérprete das Escrituras.
Abraços, Paulo