Alguns movimentos insistem com seus adeptos afirmando que não devemos comer nem transfundir o sangue. Alguns chegam ao ridículo de afirmar que partes ou frações do sangue podem ou não ser recebidas na transfusão, e também a quantidade que pode ou não ser transfundida. Tais movimentos dizem que transfundir o sangue é o mesmo que comer. Se a Bíblia proíbe comer sangue, logo não devemos transfundi-lo também.
Bem, a questão em pauta é se o cristão pode ou não comer sangue. Para respondermos a essa pergunta precisamos antes ver a posição da Bíblia em relação ao assunto. Desde o Antigo Testamento as Escrituras atribuem ao sangue um valor representativo da vida (Gn 9.4). Quando a humanidade recomeçou, após o dilúvio, Deus alerta o homem sobre a questão da vida. O homem deveria ser responsável pela vida de seu próximo (Gn 9.5). Quanto à vida animal, o homem poderia comer carne, contudo, sem sangue (Gn 9.4). O Senhor sempre lembra, no Antigo Testamento, o respeito ao sangue como a própria vida, sendo necessário que seja derramado no solo. Quando o exército de Israel estava em guerra foi alertado que não comesse apressadamente a carne, sem permitir que o sangue saísse (1Sm 14.34).
O Novo Testamento também orienta sobre a questão do sangue. O evangelho estava-se expandindo e havia alguns que ensinavam à nova Igreja gentílica que seus membros deveriam observar os costumes de Moisés. O apóstolo Paulo, desde o primeiro momento, foi bastante claro, instruindo que, através das obras da lei, ninguém seria salvo. Os anciãos de Jerusalém e demais apóstolos chegaram então há uma posição: os costumes e as normas da lei de Moisés não deveriam ser guardados pelos cristãos: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde” (At 15.28,29). Fazemos bem em não usar o sangue como alimento, e jamais aceitaríamos utilizar o sangue de animais como ato litúrgico, como faziam os romanos em suas cerimônias pagãs!
Quanto ao uso do sangue em tratamentos medicinais, recebendo ou ofertando, temos o exemplo de Cristo: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos; e Ele disse também: Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 15:13; 13:34). Devemos amar ao ponto de doar a vida para nosso próximo, ou seja, doar sangue é um ato de amor e não tem nada a ver com comer sangue ou mesmo usar o sangue em rituais!
Fonte: Revista de Apologética do Instituto Cristão de Pesquisas – ano 7 – n°42 – janeiro de 2002