O cristão e o sexo

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O sexo é um dos relacionamentos interpessoais no qual os indivíduos se engajam. É uma das forças mais poderosas do mundo, porém uma das mais pervertidas. Talvez uma das razões para sua perversão seja seu poder. Se o poder tende a corromper, neste caso um grande poder tende a corromper grandemente. Do outro lado, boa parte do abuso do sexo talvez resulte de um mal-entendimento acerca dele. Qual é o ponto de vista cristão, acerca do sexo? O que as Escrituras realmente ensinam acerca da atividade sexual?

 

I. A BASE BÍBLICA PARA O SEXO

Basicamente, a Bíblia diz três coisas acerca do sexo: (1) o sexo é bom, (2) o sexo é poderoso, e, portanto, (3) o sexo precisa de ser controlado. Na realidade, as primeiríssimas referências ao sexo dão a entender todos estes fatores.

 

A. A Natureza do Sexo

O sexo é intrinsecamente bom; não é mau. As Escrituras declaram que “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem… homem e mulher (isso é sexo!) os criou” (Gn 1:27). E depois de acabar: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (V. 31). O sexo é bom. Deus o fez, e dalguma maneira reflete a Sua bondade. Talvez seja por causa do poder criador do sexo que se assemelha a um aspecto do Ser de Deus. Ou talvez esteja na força dele de realizar o vínculo mais forte de unidade e unicidade. Seja qual for a maneira pela qual devamos entender que o sexo é bom como Deus, fica claro que, fundamentalmente, o sexo é bom porque Deus o fez e o declarou bom.

1. O Sexo É Essencialmente Bom — O sexo é bom em si mesmo e por si mesmo porque faz parte da criação de Deus. Diferentemente de muitas filosofias não-cristãs (das variedades gnósticas e platônicas), a Bíblia declara que a matéria e o universo físico (inclusive o corpo do homem e os órgãos do corpo) são bons. Depois de cada dia da criação, está escrito repetidas vezes: “E viu Deus que isso era bom” (Gn 1:10, 12, 18, 21, 25). Depois do dia final, está escrito: “… e eis que era muito bom” (v. 31). O sexo era uma parte integrante desta criação muito boa. A Bíblia confirma este ponto de vista noutro lugar, dizendo: “Tudo que Deus Criou é bom.. .” (1 Tm 4: 4). Se o sexo parecer impuro a alguns, estamos lembrados que “Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro” (Tt 1:15).

Falando especificamente acerca do sexo, o escritor da Epístola aos Hebreus declarou: “Digno de honra entre todos seja o matrimónio, bem como o leito sem mácula” (Hb 13:4). O casamento é um estado honroso. O casamento dificilmente poderia ser considerado honroso a não ser que o sexo fosse bom, pois o sexo é parte integrante do casamento. O sexo é tão sagrado que é usado na Escritura para ilustrar a união mais íntima que se pode ter com Deus. Paulo escreveu: “Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja” (Ef 5:31,32).

A bondade intrínseca do sexo pode ser deduzida, também, do fato de que Deus ordenou a união sexual. Deus disse ao primeiro casal: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra. , .” (Gn 1:28) — mandamento este que a raça está cumprindo muito bem! Quando Eva teve seu primeiro filho, declarou: “Adquiri um varão com o auxilio do Senhor” (Gn 4:1), reconhecendo, assim, a aprovação de Deus do processo sexual. Decerto, a julgar pelas numerosas referências no decurso das Escrituras à bênção dos filhos (cf. Sl 127:4,5; Pv 17:6), Deus julga que o sexo é bom.

2.O Sexo É Poderoso — Não somente o sexo é essencialmente bom como também é muito poderoso. Isto foi subentendido no fato de que podia ser usado para “multiplicar” as pessoas e “encher” a terra (Gn 1:28). O poder do sexo não somente é dramaticamente demonstrado na sua capacidade de fazer o homem e a mulher “uma só carne” mas, sim, pelo tipo de criatura que está produzindo. Os filhos dos pais humanos são gerados à imagem de Deus. Adão foi feito à imagem de Deus, e “gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem…” (Gn 5:3; Tg 3:9). Logo, pelo processo da sexualidade humana são produzidos não somente muitos seres humanos como também muitos “deuses.” Jesus citou Salmo 82:6 que diz: “Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.” (João 10:35). Quando a natureza da criatura humana produzida através do sexo é plenamente apreciada, provavelmente não seja exagero considerar o sexo um dos poderes mais relevantes do mundo.

Quando um esperma masculino e um óvulo feminino se unem, um pequeno “deus” está sendo feito. Todas as demais condições sendo certas, o resultado daquela concepção será uma criatura que tanto se assemelha a Deus quanto O representa na terra.1 Sem decidir aqui a questão acerca do embrião ou feto, ainda não nascido, ser verdadeiramente humano,2 é um fato indisputável que, dadas as circunstâncias apropriadas, certamente se tornará uma criatura imortal. Os seres humanos são pessoas imortais, que nunca morrem. Viverão para sempre. Decerto, este não é nenhum poder comum que é dado aos filhos dos homens, que é capaz de transmitir para o mundo uma pessoa imortal, feita à semelhança do próprio Deus. O sexo humano, portanto, não somente é bom por natureza, mas também é grande no seu poder. É grande, tanto em virtude de quanto pode produzir, como também em virtude do tipo de criatura que é o produto, viz., uma pessoa que nunca morre.

3.O Sexo Precisa Ser Controlado — É óbvio que qualquer coisa tão poderosa quanto o sexo precisa ser controlada. Ninguém em sã consciência deixaria crianças imaturas brincar com dinamite. Nem qualquer agente responsável tornaria as armas atômicas disponíveis ao público em geral. Mesmo assim, o sexo, de muitas maneiras, é mais poderoso do que a dinamite ou o poder atômico. A única posição razoável que se pode adotar a respeito de qualquer força tão poderosa como o sexo é que ele deve ser controlado ou regulado. Deve haver maneira de canalizar e dirigir o poder do sexo para o bem dos homens. Porque se o poder do sexo, como o poder do átomo, não for aproveitado para propósitos bons, então seu abuso pode ameaçar a destruição da humanidade.

Conforme a Bíblia, o meio ordenado por Deus de dirigir e regular o poder bom e grande do sexo, é chamado casamento. “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2:24). Jesus acrescentou: “De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19:6). Ou seja: o casamento que junta o homem e a mulher num relacionamento sem igual e permanente é o canal estabelecido por Deus a fim de regular o poder do sexo.

Naturalmente, o sexo não é somente o poder para procriar; também é um poder para o prazer. Mas seja qual for o tipo do poder do sexo, deve ser controlado. Nenhuma paixão deve ser deixada desenfreada.4 O estupro e os crimes sexuais sadísticos não podem ser justificados meramente porque trazem prazer a quem assim abusou. Mesmo se fosse verdade que somente os prazeres são intrinsecamente bons, não se segue que todos os prazeres são bons. Alguns prazeres danificam a si mesmos e/ou aos outros. Por exemplo, os prazeres que alguns obtêm de serem cruéis, ou injustos, ou odiosos não são prazeres bons. Além disto, nem todos os prazeres são igualmente bons; alguns são superiores aos outros. Logo, não se pode justificar um exercício descontrolado do sexo meramente pelo motivo dele dar prazer. Todos os prazeres devem ser controlados, e há satisfações espirituais superiores aos meros prazeres físicos do sexo. Segundo as Escrituras, o canal para controlar o poder do prazer das relações sexuais (bem como seu poder procriador) é o casamento. Esta conclusão está amplamente apoiada por um estudo da função do sexo dentro das Escrituras.

 

B. A Função do Sexo

A função do sexo pode ser vista de vários ângulos: (1) antes do casamento, (2) dentro do casamento monógamo, (3) fora do casamento, (4) dentro do casamento polígamo, (5) e para divorciados.

1. O Papel do Sexo Antes do Casamento — No que diz respeito à Bíblia, não há papel algum para as relações sexuais antes do casamento. A relação já é um tipo de casamento. Se estiver fora de um compromisso vitalício do amor, então é um “casamento” ruim. Na realidade, é um pecado que a Bíblia chama de fornicação (cf. Gl 5:19; 1 Co 6:18). A primeira referência ao casamento declara que o homem e a mulher ficam sendo “uma só carne” (Gn 2:24), o que dá a entender que o casamento ocorre quando dois corpos são juntados. Que a relação sexual é casamento fica sendo ainda mais claro pela maneira comum de descrever o ato como sendo um homem “deitando-se” com uma mulher. Moisés ordenou: “Se um homem for achado deitado com uma mulher que tem marido, então ambos morrerão…” (Dt 22:22).

O Novo Testamento confirma isto, ainda mais, pelo uso das palavras “matrimónio” e “leito nupcial” em paralelo (Hb 13:4). Neste sentido, não há relações sexuais antes do casamento. A relação Já inicia um “casamento.” Se não for empreendida dentro de um compromisso vitalício do amor, então foi uma união má, um ato de fornicação. E quando um par tinha relações, o homem era obrigado a pagar indenização do casamento ao pai da moça e tomá-la por sua esposa (Dt 22:28). E quando um homem vai para uma prostituta, a Bíblia considera isto como um “casamento.” Paulo escreveu: “Não sabeis que o homem que se une à prostituta, forma um só corpo com ela?” citando como sua prova que as Escrituras dizem: “Serão os dois uma só carne” (1 Co 6:16). Em síntese, não existem relações sexuais pré-nupciais na Bíblia. Se o casal não fosse casado, então as relações o tornaria casado. Se já estivesse casado, então as relações com outra pessoa formariam para eles um segundo casamento, adúltero. A prostituição é considerada um casamento ilegítimo.

Um casal de noivos que tem relações sexuais consumou, desta forma, o seu casamento diante de Deus e deve legalizá-lo diante do estado tão logo quanto possível, visto que Deus ordena os cidadãos a serem obedientes aos regulamentos do governo (Rm 13:1; 1 Pe 2:13). Casais e noivos, segundo Paulo, devem ou controlar seus impulsos sexuais, ou, senão, casar-se. Escreveu: “Entretanto, se alguém julga que trata sem decoro sua noiva (filha — ARA), estando já a passar-lhe a flor da idade, e as circunstâncias o exigem, faça o que quiser. Não peca; que se casem.” (1 Co 7:36). Do outro lado, “o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas domínio sobre o seu próprio desejo (arbítrio — ARA), e isto bem firmado no seu ânimo, para conservar virgem a sua noiva (filha — ARA), bem fará” (v. 37) (N. Tr. O conceito de se tratar de uma “noiva” aparece no inglês na RSV). Ou seja, as relações sexuais não são apropriadas para casais de noivos. Devem ou refrear suas emoções, ou casar-se. E quando realmente se dão às relações sexuais, então já estão casados aos olhos de Deus e devem legalizar o caso diante do estado, se assim fizer a lei do país.

Quanto às relações sexuais pré-nupciais entre os que não estão prontos a casar-se, a resposta é “Não”. Se a pessoa não está pronta para tomar sobre si as responsabilidades de uma pessoa e família, não deve mexer com o sexo. A exortação de Salomão é aplicável aqui: “… a adúltera anda à caça de vida preciosa. Tomará alguém fogo no seio, sem que as suas vestes se incendeiem?” (Pv 6:26, 27). Não se deve “começar” nada a não ser que se esteja disposto a ir até ao fim. E não deve ir até ao fim até que seja casado, porque as relações sexuais estão reservadas para o casamento aos olhos de Deus.

No que diz respeito à autossexualidade (i.e., a masturbação), é geralmente errada. A sublimação (drenar a energia sexual através do exercício) e as emissões noturnas naturais são consideradas maneiras legítimas de queimar energia sexual excessiva. A masturbação é pecaminosa (1) quando seu único motivo é mero prazer biológico, (2) quando é permitida tornar-se um hábito compulsivo, e/ou (3) quando o hábito resulta de sentimentos de inferioridade e causa sentimentos de culpa. A masturbação é pecaminosa quando é realizada em conexão com imagens pornográficas, porque, conforme disse Jesus, a concupiscência é uma questão dos interesses do coração (Mt 5:28). A masturbação pode ser certa se for usada como um programa limitado e temporário de controle-próprio para evitar a concupiscência antes do casamento. Se a pessoa se comprometer plenamente a viver uma vida pura antes do casamento, talvez seja permissível ocasionalmente usar o estímulo autossexual para aliviar sua própria tensão. Enquanto não se tornar um hábito nem um meio de gratificar sua concupiscência, a masturbação não é necessariamente imoral. De fato, quando o motivo não é a concupiscência, porém o controle-próprio, a masturbação pode ser um ato moral (cf. 1 Co 7:5; 9:25). A regra bíblica é que tudo quanto possa ser feito para a glória de Deus, tudo quanto não escraviza o praticante (1 Co 10:31; 6:12) é moral até àquele ponto. A masturbação usada com moderação para o propósito de manter sua pureza, não é imoral.5

2. O Papel do Sexo no Casamento — Há várias funções básicas do sexo no casamento, são: (1) levar a efeito uma unidade íntima sem igual entre duas pessoas; (2) fornecer êxtase ou prazer para as pessoas envolvidas neste relacionamento sem igual, (3) levar a efeito uma multiplicidade de pessoas no mundo por meio de ter filhos. Respectivamente, as três funções básicas do sexo no casamento são a unificação, a recreação, e a procriação.

Primeiramente, o casamento visa trazer dois seres humanos à unificação mais estreita possível. “Os dois se tornarão uma só carne” é repetido uma vez após outra na Escritura (Gn 2:24; Mt 19: 5; 1 Co 6:16; Ef 5:31). Tão sem igual é esta união conjugal levada a efeito pelo sexo, que a Bíblia a usa para ilustrar a união mística que o crente tem com Cristo (Ef 5:32). É a natureza única, de um só relacionamento do seu tipo, que exige que o homem mantenha relações sexuais com uma só mulher. Não é realmente possível ter dois relacionamentos de um tipo único ao mesmo tempo. O casamento — na realidade, o casamento monógamo — é a única maneira controlada para manter um relacionamento continuamente único entre o marido e a esposa. Na poligamia, há a ameaça sempre-presente dos ciúmes e a questão de quem é a esposa “predileta.” Realmente, não é possível ter duas esposas “prediletas” no mesmo sentido. Logo, é possível para um homem ter um relacionamento sem igual com uma só esposa. O casamento monógamo é o ideal divino para atingir este relacionamento ideal entre duas pessoas.

A segunda função do sexo no casamento é recreacional. As relações sexuais são literalmente uma re-criação da grande felicidade da união nupcial original. É uma lembrança sacramental da alegria do seu primeiro amor. A união sexual é a reunião feliz daqueles que foram feitos um só pelo casamento. A satisfação que o sexo fornece é o prazer obtido da reafirmação do preito original do mútuo amor. Quanto a isto, as funções re-creacionais e reunificacionais do casamento são inseparáveis. Porque o prazer real do sexo é aquele que é obtido da reafirmação e do reforço da união sem igual que o casamento efetuou no início. Destarte, a tentativa de ter o prazer do sexo sem o relacionamento igual e permanente do casamento e ilusório. A alegria verdadeira vem somente com a união verdadeira, e a união verdadeira somente vem se houver um relacionamento sem igual e permanente entre duas pessoas do sexo oposto (1 Tm 4:3; 6:17).

O terceiro papel do casamento é a procriação. O fruto da união no matrimónio é a multiplicidade da prole. É lógico, os filhos são o resultado natural, porém não necessário, do casamento.6 Embora casar-se seja a coisa natural a se fazer, não é necessário casar-se. Um solteiro pode resolver não casar, sem pecar (cf. Mt 19:12; 1 Co 7:7,8). Semelhantemente, um casal pode resolver não ter filhos, sem pecar (cf. 1 Co 7:5), embora seja natural tê-los. Quando os filhos resultam do casamento são uma razão adicional para manter o casamento com um relacionamento sem igual e permanente entre os pais. Os filhos precisam da disciplina amorosa (Pv 22:15; Ef 6:4; Cl 3:31). Precisam da união e da segurança fornecidas pelo casamento feliz dos seus pais. Nem a poligamia, nem o divórcio, nem a anonimidade, nem a comunidade de pais têm se revelado fatores fortalecedores nas personalidades dos filhos. Quase nada é superior a uma união perpétua entre a mãe e o pai para a criação de filhos saudáveis e felizes.

Uma palavra de resumo agora é necessária. A função do sexo dentro do casamento é tríplice: a unificação, a recreação, e a procriação. Todos estes papéis demonstram a necessidade da fidelidade conjugal. Sempre que o relacionamento sem igual do casamento é quebrado pelas relações sexuais extra-conjugais, a pessoa não somente destruiu a união sem igual do casamento como também diminuiu a possibilidade do prazer verdadeiro, sem falar do enfraquecimento da base da estabilidade para quaisquer filhos desta união.

A partir destas três funções positivas do sexo no casamento, um papel negativo pode ser deduzido. O sexo dentro do casamento é o modo de satisfazer aquilo que seria concupiscência e que levaria à promiscuidade fora do casamento. “Por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa e cada uma o seu próprio marido,” escreveu o apóstolo (1 Co 7:2). Todos os solteiros devem manter-se sob controle-próprio sexual, “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1 Co 7:9). Semelhantemente, aos jovens cristãos tessalonicenses Paulo escreveu: “Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição, que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios …” (1 Ts 4:3-5). Numa palavra, juntamente com os três propósitos positivos do sexo dentro do casamento há uma razão negativa, viz., o casamento fornecerá um canal preventivo para o impulso sexual, de modo que a pessoa possa evitar a imoralidade.

3. O Papel do Sexo Fora do Casamento — Tendo em mente os propósitos do casamento podemos compreender mais facilmente as proibições fortes na Escritura acerca das relações extra-conjugais ilícitas. O adultério, a fornicação, a prostituição, a sodomia (a homossexualidade) são todos fortemente condenados. Cada um destes pecados, da sua própria maneira, viola um relacionamento interpessoal divinamente instituído.

O adultério e a prostituição são errados por duas razões básicas, viz., são casamentos múltiplos. Em primeiro lugar, são tentativas para levar a efeito muitos relacionamentos intimíssimos ao mesmo tempo. Em cada caso, a pessoa está enganando a pessoa a quem realmente mais ama e, provavelmente, mentindo a quem não ama. A segunda razão porque a fornicação é errada, é porque visa ser apenas uma união temporária, ao passo que Deus deseja que a união sexual seja duradoura e permanente (Mt 19:6). Não há maneira de assegurar o máximo prazer numa união conjugal a não ser que se ache dentro do contexto de um compromisso mútuo vitalício do amor.

A Bíblia é enfática: “Não adulterarás” (Êx 20:14). No Antigo Testamento os adúlteros deviam ser executados (Lv 20:10). O Novo Testamento também é enfaticamente contra o adultério. Jesus o pronunciou errado até mesmo nos seus motivos mais básicos (Mt 5:27,28). Paulo o chamava uma obra má da carne (Gl 5:19), e João teve visão da presença de adúlteros no lago do fogo (Ap 21:8).

A palavra “fornicação” é frequentemente usada na Escritura para relações sexuais ilícitas fora do casamento, embora o modo geral de entender é que ela subentende que pelo menos um membro do relacionamento não era casado. Os apóstolos conclamavam todos os cristãos a abster-se da fornicação (também chamada incastidade) (At 15:20). Paulo disse que o corpo não é para a fornicação e que o homem deve fugir dela (1 Co 6:13, 18). Os efésios foram informados que a fornicação nem sequer deveria ser mencionada entre eles (5:3). A fornicação é má porque ela, também, é um “casamento” fora do casamento, porque junta as pessoas de uma maneira ilícita sem elas pretenderem levar a efeito as implicações permanentes e sem igual do seu relacionamento.

A homossexualidade não está na mesma classe dos pecados heterossexuais do adultério, da prostituição e da fornicação. A homossexualidade é diferente destes três porque não ocorre nenhuma relação sexual no sentido rigoroso da expressão, e nenhum nascimento pode resultar dela. Mesmo assim, a homossexualidade no sentido de sexualmente estimular e manipular uma pessoa do mesmo sexo é especificamente proibida na Escritura. No Antigo Testamento, este pecado era chamado sodomia, segundo o nome da cidade iníqua, Sodoma, que foi destruída por causa desta perversidade (Gn 19:5-8, 24). Mais tarde, a lei de Moisés proibiu qualquer “sodomita” (ARC)7 de fazer parte da comunidade de Israel (Dt 23:17). Mais tarde, durante as reformas do rei Asa, “tirou da terra os prostitutos-cultuais…” (1 Rs 15:12). Há muitas referências aos pecados de Sodoma (cf. Is 3:9; Ez 16:46). O Novo Testamento é igualmente claro sobre o assunto. Romanos, capítulo um, fala da homossexualidade como sendo aquilo que mudou “o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza” (v. 26). É uma “torpeza” que resulta de paixões vis (v. 27). Noutra passagem, Paulo escreveu: “Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas… herdarão o reino de Deus” (1 Co 6:9). Estas todas são perversões do uso apropriado do sexo. Atos heterossexuais são errados fora do casamento porque estabelecem um relacionamento de marido e esposa entre aqueles que não são marido e esposa. Os atos homossexuais são errados porque estabelecem um relacionamento sem igual de marido e mulher entre os que não podem ser marido e mulher, por serem do mesmo sexo.

Naturalmente, as proibições bíblicas contra a homossexualidade não se referem a amizades estreitas (com afeição física) entre os do mesmo sexo. Tais amizades são tanto normais quanto belas. Davi e Jonatas são um exemplo clássico. As Escrituras dizem: “A alma de Jonatas se ligou com a de Davi; e Jonatas o amou, como à sua própria alma” (1 Sm 18:1). A amizade íntima é uma coisa; os encontros sexuais ilegítimos e não naturais são coisa bem diferente.

4. O Papel do Sexo nos Casamentos Múltiplos — Há pouca questão de que a poligamia era permitida por Deus nos tempos bíblicos. Até alguns dos grandes santos tinham, várias esposas (cf. Abraão, Davi, Salomão). O problema verdadeiro não é se Deus permitiu a poligamia mas se Ele a planejou. Ou seja: a poligamia, como o divórcio, era algo que Deus tolerou mas realmente não desejou?

Há bastante evidência, mesmo dentro do Antigo Testamento, que a poligamia não era o ideal de Deus para o homem. Que a monogamia era Seu ideal para o homem fica óbvio de várias perspectivas. (1) Deus fez uma só pessoa para Adão (Gn 2:18ss.), estabelecendo, assim, o precedente ideal para a raça. (2) A poligamia é mencionada pela primeira vez como parte da civilização cainita ímpia (Gn 4:23). (3) Deus claramente proibiu os reis de Israel (os líderes eram as pessoas que se tornavam polígamos) dizendo: “Tão pouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie” (Dt 17:17). (4) Os santos que se tornaram polígamos pagaram seus pecados. 1 Rs 11:1, 3 diz: “Salomão amou muitas mulheres estrangeiras… Tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.” (5) O maior polígamo do Antigo Testamento, Salomão, deu testemunho do fato de que tinha um só verdadeiro amor, para quem escreveu Cantares. Este livro é a maior repreensão contra a poligamia, escrita pelo maior polígamo. Até mesmo Salomão com suas 1.000 esposas somente tinha um amor verdadeiro. (6) A poligamia usualmente está situada no contexto do pecado no Antigo Testamento. O casamento de Abraão com Hagar era claramente um ato carnal de descrença (Gn 16:1-2). Davi não estava num ponto alto espiritual quando acrescentou Abigail e Ainoã como esposas (1 Sm 25:42, 43), nem Jacó quando se casou com Lia e Raquel (Gn 29: 23, 28) (7) O relacionamento polígamo era menos do que ideal. Criava ciúmes entre as mulheres. Jacó amava Raquel mais do que a Lia (Gn 29:31). Uma esposa de Elcana era considerada uma rival ou adversária pela outra, que “a provocava excessivamente para a irritar…” (1 Sm 1:6). (8) Quando a poligamia é referida, o condicional, e não o imperativo é empregado. “Se ele der ao filho outra mulher, não diminuirá o mantimento da primeira, nem os seus vestidos, nem os seus direitos conjugais” (Êx 21:10). A poligamia não é o ideal moral mas o polígamo deve ser moral. (9) O Novo Testamento preceitua a monogamia como condição prévia para os líderes da igreja. “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher…” (1 Tm 3:2), escreveu o apóstolo. (10) A monogamia não somente era exigida para os líderes da igreja como também era recomendada para todos os homens. Paulo escreveu: “Mas por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa e cada uma o seu próprio marido” (1 Co 7:2).

Há outros argumentos contra a poligamia, tais como o número relativamente igual de homens e mulheres no mundo, que daria a entender que uma só mulher é feita por um só homem. Mesmo assim, deve ser reconhecido que a poligamia é melhor do que a imoralidade, ainda que não seja tão boa quanto a monogamia. Pelo menos a poligamia é um sistema fechado; não é o amor livre. É melhor tomar uma mulher como uma segunda esposa do que fazer uso dela como meretriz, embora as duas ações estejam abaixo do ideal de Deus. A poligamia, pelo menos, é um relacionamento em que a outra pessoa pode ser tratada como uma pessoa e não meramente como objeto. Mesmo assim, a poligamia é inferior à monogamia porque não se pode ter um relacionamento único (de um só tipo) com mais do que uma só esposa. As demais esposas nunca serão mais do que uma segunda escolha, e não farão parte daquela união mais íntima que Deus designou para o casamento. Os ciúmes e o ódio serão os resultados naturais do relacionamento polígamo.

 

II. A BASE HIERÁRQUICA PARA UM CONCEITO CRISTÃO DO SEXO

O caso especial da poligamia não fornece uma exceção ao princípio moral de que o sexo deve ser um relacionamento pessoal, único e permanente entre um homem e uma mulher? Além disto, o caso justificável do divórcio (viz., quando o cônjuge foi infiel) mencionado por Jesus (Mt 19:9) fornece uma exceção à moralidade do vínculo matrimonial? De um ponto de vista bíblico e hierárquico, a resposta às duas perguntas é “Não.” Não há exceções à singularidade do relacionamento conjugal (i.e., um homem para uma mulher); há, apenas, algumas isenções tendo em vista as obrigações superiores. Semelhantemente, não há exceções legítimas à permanência do vínculo conjugal (o divórcio como tal é errado); há apenas algumas obrigações transcendentes que podem intervir. Ou seja: alguns deveres são superiores a outros. Há algumas circunstâncias em que até mesmo o relacionamento conjugal monogâmico é eclipsado por uma responsabilidade superior.

 

A. A Poligamia e uma Hierarquia de Dever

Moisés ordenou que o irmão sobrevivente levantasse descendência para seu irmão com a viúva deste. Esta lei do parente foi cumprida por Boaz com Rute (Rt 4). Há, no entanto, vários fatores que fazem disto uma forma muito limitada e excepcional da poligamia. (1) Era vinculada ao sistema da herança da terra como o povo escolhido de Deus (cf. Rt 4:3). (2) Era ligada à benção de Deus através dos filhos; era uma maldição não terem filhos na situação deles (Dt 25:5). (3) Devia ser levada a efeito em prol do irmão falecido. (4) A pessoa não era forçada a praticá-la (Dt 25:7), embora fosse considerado um gesto de amor para com o próprio irmão, para perpetuar seu nome na terra (v. 7).

Com todos estes fatores qualificantes, não há maneira de usar esta situação especial para os homens em geral. Nem sequer em Israel era normativa. De fato, a poligamia como tal não era planejada para o povo de Deus nem para qualquer povo. Era permitida por Deus, como o divórcio, como uma concessão à dureza do coração dos homens (cf. Mt 19:8), e foi ordenada por Deus somente para uma circunstância muito especial, viz., de modo que ninguém passasse totalmente sem herdeiros, numa cultura em que os herdeiros eram uma parte essencial da bênção de Deus.8

Em termos da hierarquia da responsabilidade, pode ser dito que a poligamia como tal nunca é certa. É menos do que o melhor. Não é o melhor relacionamento possível entre o marido e a esposa (ou as esposas). Quando, no entanto, há uma obrigação moral transcendente, neste caso a monogamia pode ser suspendida em prol deste bem maior. Ou seja: se (e somente se) a poligamia é o relacionamento que será um bem maior para um número maior de pessoas (conforme ocorreu na lei do parente próximo), a pessoa deve participar dela. Em síntese, se Deus ordenar que um uso especial da poligamia é justificado, então é moralmente certo transcender assim o relacionamento monógamo moral. Mas a suspensão do dever moral da monogamia nalguns casos não nega, de modo algum, a universalidade do ideal da monogamia. A monogamia é sempre o relacionamento conjugal correto, a não ser que seja transcendida por uma obrigação superior instituída por Deus em circunstâncias especiais.

Em quais condições, portanto, o relacionamento monógamo pode ser transcendido pela poligamia? Há vários destes deveres superiores que talvez justifiquem casos especiais da poligamia. (1) Quando é uma ordem direta de Deus por razões talvez plenamente conhecidas somente por Ele. (2) Quando alguém poderia fazer aquilo que é melhor para a maioria das pessoas através da poligamia. Por exemplo, teria sido um ato de egoísmo se um homem no Antigo Testamento não tivesse continuado a herança do seu irmão mediante o gerar de filhos para a esposa do seu irmão. (3) Se um homem fosse o único no mundo e sua esposa não pudesse ter filhos, neste caso a poligamia seria justificável a fim de propagar a espécie.9 Mas todos estes são casos especiais; não são normativos. A monogamia é a norma.10 Mas até mesmo uma boa norma não deve ser seguida tão legalisticamente a ponto de destruir mais pessoas do que salvar. Em síntese, a poligamia é justificada somente se há um princípio moral sobrepujante tal como a obediência a Deus ou a preservação da vida (ou mais vidas), que a exija.

 

B. O Divórcio e uma Hierarquia do Dever

O divórcio não é uma exceção à ética bíblica: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.6). Mesmo assim, a regra bíblica não é: “O divórcio é sempre errado.” A regra é esta: “Um relacionamento permanente, contínuo e sem igual é sempre certo.” Noutras palavras, as Escrituras estão interessadas na permanência do casamento. A regra é conservar em andamento um relacionamento de amor, sem igual, custe o que custar, posto que não importe na perpetuação de um mal, ou de um bem menor ao invés de um bem maior.

A questão, portanto, não é realmente do “divórcio” (a separação) mas, sim, de se realmente ainda há um “casamento” (uma união) de duas pessoas. Ou seja, naturalmente, o homem não deve dividir o que Deus uniu; a pergunta é: Deus uniu este casal? Se Deus não o uniu num amor sem igual e permanente, então pode ser igualmente errado procurar unir aquilo que Deus não uniu. A referência de Jesus à fornicação ou à incastidade como motivo para separação é um exemplo típico. Se um parceiro rompeu o relacionamento conjugal sem igual, ao juntar-se sexualmente a outra pessoa, logo, tanto a permanência quanto a qualidade sem igual do vínculo foram quebradas. Em semelhante caso, onde não há possibilidade de restaurar e perpetuar um relacionamento com relevância permanente, a separação é melhor.

Em 1 Coríntios 7 parece que Paulo está desenvolvendo ainda mais os fundamentos legítimos para terminar um casamento, ao incluir a indisposição do cônjuge descrente de continuar em andamento o contrato depois do outro ter-se tornado cristão. “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã (aos seus votos de casamento)” (v. 15).11 Se esta for a interpretação correta da passagem, logo, Paulo está apoiando a consideração de que Deus está primariamente interessado em tornar permanentes aqueles relacionamentos onde há uma disposição ou consentimento entre os parceiros. Naturalmente, isto não quer dizer que a mera incompatibilidade é um motivo para o divórcio. O amor exige um esforço para vencer as diferenças. Mas se não pode haver uma união sem igual e permanente, não há razão para forçar um impersonalismo permanente. Deus está interessado em juntar as pessoas de modo permanente num relacionamento pessoal. Se isto não for possível entre as pessoas A e B, então podemos tomar por certo que separá-las será mais útil para mais pessoas (inclusive os filhos) do que solidificar este mau relacionamento.

Sob quais responsabilidades superiores, pois, são justificados o divórcio ou a separação? (1) Quando Deus nunca os juntou num relacionamento de amor sem igual desde o início, e quando não há esperança de que ocorrerá no futuro (Mt 19:6). (2) Quando o relacionamento sem igual é irreparavelmente quebrado pela infidelidade (Mt 19:9). (3) Quando um dos parceiros “morre,” i.e., quando existe uma separação física permanente. Esta pode ser uma morte física real ou seu equivalente. Um soldado “perdido em combate” pode, no decurso de um prazo, ser pronunciado legalmente “morto” e sua esposa pode ficar livre para um novo casamento. Até a perda de um astronauta no espaço pode qualificar sua esposa para um novo casamento. Estas não são exceções à permanência do casamento, porque um casamento permanente depende de haver duas pessoas dispostas a continuar este relacionamento sem igual.

 

C. A Fornicação e uma Hierarquia do Dever

Se a poligamia e o divórcio ou a separação podem às vezes ser justificadas tendo em vista uma responsabilidade superior, a fornicação ou as relações sexuais fora do casamento podem ser moralmente corretas em qualquer tempo? Mais uma vez a resposta é “Não,” como tal. Pode, no entanto, haver algumas responsabilidades sobrepujantes que poderiam isentar a pessoa das suas responsabilidades normais. Por exemplo, alguém pode ser obrigado a ter relações sexuais fora do seu próprio casamento a fim de salvar uma vida. Tal seria o maior bem naquela situação. Decerto a recusa de salvar uma vida (ou vidas) por meio do sexo não seria certa. Naturalmente, a pessoa desejaria explorar todas as outras alternativas possíveis antes de ter certeza que realmente não haveria outra maneira de salvar a vida.

Encontros sexuais por razões puramente terapêuticas são moralmente injustificados. Há outras maneiras de aliviar a tensão e de curar. Além disso, a fidelidade sexual é um valor mais alto que a obtenção do equilíbrio físico. De fato, a infidelidade sexual pode contribuir para o surgimento de desequilíbrio físico. Fletcher está errado ao implicar que a prostituta estava certa na tentativa de ensinar auto-confiança ao jovem marinheiro.12 Há outros meios de ensinar auto-confiança sem pecar sexualmente. Responsabilidades éticas inferiores, como fidelidade sexual, só podem ser suspensas diante de valores mais elevados tais como salvar uma vida e, mesmo assim, unicamente se não há outro jeito de salvá-la.

Semelhantemente, a assim-chamada “prostituta patriótica” é uma atividade altamente questionável. Decerto, há outras maneiras, e melhores, de obter as informações secretas necessárias para a defesa da pátria. Ester casou-se para salvar seu povo, mas adulterar é outra questão (Et 4:14-15). Da mesma maneira, parece claro que a Sra. Bergmeier deveria ter explorado mais seriamente outras alternativas antes de concluir que a impregnação pelo guarda amigo era a alternativa certa. A fidelidade e a esperança de libertação com dignidade (e pureza) teria sido um caminho melhor.

 

D. Resumo e Conclusão

A fidelidade sexual está baseada no relacionamento altamente pessoal, sem igual, e permanente, que as relações sexuais estabelecem entre duas pessoas do sexo oposto. Deus fez o sexo como algo bom, e deu o bom canal através do qual deve ser exercido, viz., o comprometimento vitalício chamado casamento. Somente o relacionamento monógamo exemplifica perfeitamente este relacionamento sem igual (um só do seu tipo). Nenhum homem pode ter dois relacionamentos conjugais do tipo sem igual ao mesmo tempo. A poligamia, portanto, é eliminada do moralmente normativo. Somente se houver algum dever superior, transcendente, é que a pessoa pode ser moralmente isenta do seu relacionamento monógamo.

De modo semelhante, o compromisso conjugal é vitalício. O casamento não somente é um relacionamento único como também é permanente. O que Deus ajuntou, o homem não deve separar. Isto não quer dizer que Deus juntou todos aqueles que se juntaram a si mesmos.13 Depois, também, há casos em que o dever inferior à esposa é transcendido por um dever superior à vida humana. Em tais ocasiões, as relações sexuais fora do casamento podem possivelmente ser moralmente justificadas. A obrigação superior, no entanto, não quebra a inferior; meramente a suspende temporariamente. Não há exceções à regra da fidelidade sexual; há apenas algumas isenções tendo em vista valores superiores. A fidelidade sexual é um alto valor moral, mas a vida humana e o dever direto a Deus são ainda mais altos. O cristão sempre deve praticar o máximo bem possível.

 

Leituras Sugeridas

Cavalcanti, R., Uma Bênção Chamada Sexo

La Haye, T., O Ato Conjugal

Trobitsch, W., O Amor, Sentimento a ser Aprendido

 

NOTAS DE RODAPÉ

1. As palavras “imagem” e “semelhança” podem ser paralelas, mas no contexto dão a entender que o homem representa Deus (como fazem as imagens) e se assemelha a Ele (como fazem as semelhanças).

2.Veja o capítulo doze para a discussão da natureza de uma criança não-nascida, se é verdadeiramente humana ou não.

3.O Novo Testamento não fala de uma alma imortal, mas, sim, ensina a imortalidade de um corpo com uma alma(cf. 2 Tm 1:10; 1 Co 15:51ss.; 2 Co 5:6-10; 1 Ts 4:13-18; Jo 5:28).

4.Conforme observou Platão há muito tempo, as paixões descontroladas têm um efeito despótico sobre o indivíduo bem como sobre a sua sociedade. Cf. República IX, 576-579.

5.A discussão aqui é resumida de um livro recente por Herbert J. Miles, Sexual Understanding Before Marriage, Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1971, págs, págs. 137-8.

6.O controle da natalidade será discutido no capítulo doze.

7.RSV traduz “sodomita” por “prostituto cultual”, como também faz ARA em 1 Rs 15:12.

8.Era de especial relevância para o israelita não ficar sem herdeiro, por causa da distribuição da terra prometida, e por causa do Messias prometido que deveria vir, possivelmente, por meio da descendência daquele israelita.

9.Abraão errou em tomar Hagar para ter filhos quando Sara era estéril, porque Deus prometera incondicionalmente filhos a Abraão; Deus não condicionou sua promessa a um mandamento que Abraão fizesse qualquer coisa para ajudá-Lo a cumprir a promessa. Do outro lado, Deus ordenou a raça a fazer alguma coisa para se auto-propagar. Logo, qualquer circunstância que ameaça a raça e que pode ser melhor vencida pela poligamia (digamos, que o único homem no mundo tivesse uma esposa estéril) justificaria o uso da poligamia. Adão não enfrentou nenhuma circunstância deste tipo. Sua única esposa era frutífera.

10.A poligamia não se justifica simplesmente pelo motivo de que o mandamento de Deus no sentido de encher a terra pode ser cumprido mais rapidamente. Se já houve tempo em que o mundo precisava de ser enchido, era no próprio princípio, e Deus deu a Adão uma só esposa. Esta é uma clara indicação de que Deus não estava com pressa e que Ele não desejava a poligamia.

11.Outros interpretam as palavras no sentido de não serem obrigados a continuar a viver juntos. Ou seja: o versículo está aprovando a separação mas não o divórcio.

12.Joseph Fletcher, Situation Ethics, págs. 126-127.

13.A questão de se a pessoa está certa ao “desligar” um casamento (não importa se chama “divórcio” ou “anulação”) pela razão de que Deus nunca o juntou no início é difícil. Neemias (13: 25-26) ordenou que os israelitas afastassem suas esposas descrentes. Paulo, do outro lado, aconselha os coríntios a permanecerem casados com seus cônjuges não-cristãos, a não ser que o descrente vá embora (1 Co 7: 10-15). Naturalmente, não há contradição alguma aqui, porque as situações são diferentes. Primeiramente, os cristãos em Corinto foram conclamados a manter o relacionamento somente se o descrente estivesse disposto, e também supondo que o cônjuge crente seria uma influência santificadora sobre o cônjuge descrente (w. 12-14). Em segundo lugar, no caso dos israelitas, foram suas esposas adicionais que deviam ser repudiadas (i.e., a poligamia era o pecado deles, e não um mau relacionamento polígamo) e a influência religiosa parecia estar indo na direção errada, viz., para longe de Deus. A única resolução que podemos sugerir aqui é que nunca se deve desfazer um relacionamento monógamo a não ser que mantê-lo esteja envolvendo um pecado maior. Em síntese, o princípio do maior bem exigiria que a pessoa se “desligasse” de um casamento que nunca foi a intenção de Deus desde o princípio, e que o levaria a pecados piores se continuasse.

Extraído do livro “Ética Cristã”, N. Geisler, Ed. Vida Nova

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