Um irmão procurou-me, pedindo-me que fosse à sua casa, pois estava enfrentando um grave problema. Não obstante ganhar um bom salário, no órgão em que trabalhava, estava em dificuldade financeira, pois sua esposa não se continha em gastar com coisas supérfluas. Chegando àquela casa, pude sentar-me e conversar com o casal, ouvindo de ambos os problemas que enfrentavam.
A esposa daquele homem fora atingida por um desejo maligno de gastar e gastar, principalmente com joias, bijuterias, e outras coisas, utilizando, inclusive, o cartão de crédito para fazer compras desnecessárias. Fora dominada por um sentimento carnal que a levava a comprar coisas escusadas, para diante dos outros aparentar estar bem, e que era rica. Oramos por eles, depois de termos aconselhado, com base na Bíblia, como o casal cristão deve comportar-se em matéria de dinheiro, de gastos, para não ficar em situação difícil perante os homens, e perante a igreja, evitando levar a família à bancarrota.
Tempos depois, fui novamente chamado por aquele irmão para que fosse à sua casa. Ali fui tomado de uma em uma enorme surpresa! A casa estava quase vazia. Ouvindo-o, tive a tristeza de saber todo aquele aconselhamento houvera sido em vão, pois os problemas continuaram, as dívidas aumentaram, e os credores bateram à porta, exigindo o pagamento dos débitos. Para que não houvesse maiores escândalos, o irmão permitira que levassem todos os seus móveis e objetos de valor, causando tremenda vergonha à família. Orei por eles e saí decepcionado. Infelizmente, passados alguns poucos anos, aquele casamento chegou ao fim.
O fato acima, por mim anotado, em minha experiência ministerial., não foi o único, nem o último, em que um lar é atingido pelo mau uso do dinheiro. Graças a Deus, sua Palavra tem a orientação segura sobre como lidar com as finanças, sem cair no fosso das dívidas, da tristeza e da decepção por causa dos recursos financeiros. Uma administração financeira, baseada na ética bíblica, livra muitos de enfrentarem situações constrangedoras.
TUDO O QUE SOMOS E TUDO O QUE TEMOS VEM DE DEUS – SOMOS SEUS FILHOS
Todas as pessoas pertencem a Deus, por direito de criação: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). Todos os habitantes do planeta pertencem a Deus, uns, corno criaturas; outros, como seus filhos. Nós, cristãos, temos algo a mais, pois somos filhos de Deus por criação, e também por direito de filiação, através da nossa fé em Jesus: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). Este é um privilégio, concedido pelo Senhor, aos que crêem no nome de Jesus Cristo, e o aceitam como seu Salvador. Ser filho de Deus e participante da melhor e mais importante família que existe na face da terra, ainda que os cristãos, em muitos lugares, sejam vistos como pessoas de classe inferior. Pouco importa a opinião dos ímpios a respeito dessa família maravilhosa, que é formada por cidadãos dos céus, vivendo aqui, na terra, por um pouco de tempo, como peregrinos e forasteiros.
Mas é exatamente por sermos filhos de Deus que devemos ter consciência não só dos nossos direitos, mas, também, dos nossos deveres sociais, morais, familiares e espirituais. O trato com o dinheiro merece um cuidado especial, pois o chamado “vil metal” tem feito muitos se tornarem ricos materialmente, mas miseráveis espiritualmente. Há um corinho antigo e simples, que diz: “Quem tem Jesus, tem tudo; quem não tem Jesus, não tem nada. Quem tem Jesus tem tudo, no céu já tem morada”.
Assim, o dinheiro deve ser visto sob o ângulo das coisas passageiras, útil, necessário, mas que deve ser utilizado com sabedoria, prudência e bom senso. Disse alguém, com muita propriedade: “O dinheiro é um bom servo, mas um péssimo senhor”. Que Deus nos conceda a graça de sabermos lidar com esse meio de troca, que tanto facilitou o intercâmbio entre os países, as instituições e as pessoas.
DEUS NOS DÁ TODAS AS COISAS
Na condição de filhos, Deus nos concede todas as bênçãos espirituais de que necessitamos. Diz a Bíblia: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1.3); “O meu Deus segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória por Cristo Jesus” (Fp 4.19); “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1.17).
Além de nos propiciar todas as bênçãos por sermos seus filhos, Deus também nos dá as bênçãos materiais. No Pai Nosso, lemos: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11). Nos Salmos, está escrito: “Quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a águia” (Sl 103-5). Os não-crentes têm as coisas por permissão de Deus, sejam ricos ou pobres, na condição de suas criaturas. Nós, seus filhos, temos as coisas, incluindo o dinheiro, como dádivas de sua mão.
Davi tinha essa visão, quando disse: “Porque tudo vem de ti, e da tua mão to damos” (1 Cr 29.14). Assim, devemos entender que aquilo que chamamos de “nosso”, na verdade, não é bem nosso. É linguagem comum que não expressa a realidade das coisas, pois tudo é de Deus (cf. SI 24.1) A falsa ideia de que somos efetivamente donos de alguma coisa tem levado muitos a cometer erros e fraquezas, que resultam em grandes prejuízos morais, financeiros e espirituais.
O velho dilema entre “o ter” e “o ser” tem sido causa de muitos debates sociológicos, filosóficos e teológicos. A natureza carnal, contaminada e influenciada pelo pecado, leva o homem a deixar-se dominar pelo desejo de ter mais e mais, ainda que o ser seja prejudicado. A busca do dinheiro e das riquezas materiais tem levado muitos a cometer maldades, violência e crimes inomináveis. Quantas mortes por causa do dinheiro! Quantos crimes por causa de bens materiais, de terras, de ouro, de prata, de pedras preciosas! Quantos lares são destruídos porque seus líderes; não sabem administrar as finanças da casa, envolvendo-se em despesas desnecessárias, como o que ocorreu com o casal reportado no início deste capítulo.
Fonte: Ética Cristã – Confrontando as questões morais do nosso tempo, Elinaldo Renovato de Lima, 1ª Edição/2002, CPAD.