Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que por um pouco levassem para fora os apóstolos; E disse-lhes: Homens israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus. E concordaram com ele. E, chamando os apóstolos, e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus, e os deixaram ir. Atos 5.34-40
Uma prática que se tornou comum no evangelicalismo é o mau uso que alguns hereges fazem do conselho de Gamaliel em Atos 5.
Os apóstolos haviam sido libertos da prisão numa intervenção de Deus e ensinavam no templo, quando foram novamente levados ao Sinédrio para um interrogatório feito pelo sumo sacerdote.
Ao chegar ao Sinédrio, e depois dos apóstolos testemunharem de sua fé, os judeus queriam matá-los, quando então o fariseu Gamaliel, sendo instrumento nas mãos de Deus naquele momento, intervém:
Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco… Atos 5.34
A primeira característica que precisamos notar são as credenciais de Gamaliel. Ele era “fariseu, mestre da lei e acatado pelo povo”. Lucas, em nenhum momento menciona, nessa passagem em Atos, que Gamaliel poderia ser um cristão, pelo contrário, era judeu de uma casta extremamente rigorosa: os fariseus.
Gamaliel então faz seu discurso. Ele exemplifica a partir de movimentos anteriores ao cristianismo que contavam com muitos seguidores, mas que se dissiparam após a morte de seus líderes. Em seguida ele emplaca o trecho que os hereges de nossa época distorcem a seu favor:
Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele… Atos 5.38-39
A questão é: o conselho de Gamaliel é uma lei? É uma promessa? Respondo com um sonoro NÃO. Gamaliel sequer era cristão e o fato de seu conselho estar registrado nas Escrituras Sagradas não significa que é uma promessa. Deus utilizou Gamaliel para cumprir Seus propósitos tal qual utilizou o rei da Assíria para punir Israel.
Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor. Isaías 10.5
Não podemos dizer que as ações do rei da Assíria foram boas, mesmo que tenham sido ordenadas por Deus. Deus estava fazendo cumprir sua Justiça sobre Israel (algo bom, reto e justo), mas o rei da Assíria estava fazendo coisas cruéis, más, conforme seus desejos pecaminosos. E podemos ver, no mesmo capítulo em Isaías, que Deus reprovava as ações do rei:
Por isso, acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então, castigará a arrogância do coração do rei da Assíria e a desmedida altivez dos seus olhos… Isaías 5.12
Com Gamaliel não deve ser diferente. O conselho de Gamaliel não é uma regra, não é uma promessa. Se as seitas de hereges e falsos profetas crescem em número, se seus seguidores cegos abarrotam os templos suntuosos, isso não significa que a obra seja de Deus.
Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco. Mateus 15.14
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Rodrigo Macedo