O Brasil é do Senhor Jesus?

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Nota do CACP: O texto abaixo foi extraído do livro do Pr. Paulo Romeiro, Evangélicos em Crise. A observação é bastante propicia, visto estarmos novamente entrando em um período político – segue:

“O Brasil é do Senhor Jesus! Povo de Deus, declare isso!”

Já mencionamos esta frase anteriormente, como ela ganhou popularidade e tornou-se o grito de guerra de muitos crentes no Brasil. Mostramos também que tal frase não expressa uma idéia nova, pois por trás dela está a Teologia do Domínio, adotada, analisada e também já questionada nos Estados Unidos. Há várias frases semelhantes por lá, tais como: “America, a nation under God” (América, uma nação sob Deus), “Washington for Jesus” (Washington para Jesus) e outras, que expressam bem esta corrente doutrinária.

Paul Freston conta que o mesmo aconteceu na Guatemala, durante a campanha eleitoral do ex-presidente Serrano. Ele também desenvolveu “uma campanha de Guerra Espiritual chamada ‘Jesus é o Senhor da Guatemala’. Sendo de igreja de elite, os membros alugavam aviões para exorcizar o pedaço de território que sobrevoavam”. (Paul Freston, Evangélicos na Política Brasileira, p. 141.)

A gestão Serrano foi um desastre, como já descrevemos anteriormente aqui. O fato de sair por aí declarando frases ou supostas fórmulas mágicas de guerra espiritual não vai de forma alguma introduzir o Reino de Deus na Terra. Apesar das multidões de crentes que saem por aí decretando que o Brasil é do Senhor Jesus, o Carnaval continua a todo vapor, Aparecida do Norte tem recebido mais romeiros nos últimos anos do que nos anos anteriores e o Brasil ainda é o maior país espírita do mundo. A situação moral do país é simplesmente caótica, a ponto de homens de negócios contratarem assassinos profissionais para exterminar crianças. E há muitas, muitas coisas horrendas que nem precisamos mencionar aqui. Entretanto, é preciso entender que vivemos numa natureza e num ambiente afetado pela queda lá no Jardim do Éden, que transtornou tudo: a criação (terremotos, vulcões, maremotos, etc.), os relacionamentos, as emoções e, acima de tudo, a comunhão com Deus. Infelizmente, vivemos na presença do pecado, pois ainda não chegamos à glorificação, o que será viver na ausência do pecado. Mas, para isso, vamos ter que esperar pelo céu.

Eu também desejo ver a Palavra de Deus prevalecendo em todos os aspectos da vida nacional. Por outro lado, estou convencido pela Bíblia de que não é através de algumas frases feitas que a Igreja vai promover o reino de Deus, mas, sim, pela pregação constante e ousada da Palavra de Deus, causando conversões e desenvolvendo um discipulado saudável.

Não estou querendo dizer com isto que os cristãos não devem se envolver politicamente ou que os crentes não devam ocupar cargos políticos. Precisamos ter bons crentes em posição de liderança e causando influência positiva na sociedade como um todo. A Palavra de Deus mesmo afirma: “(quando se multiplicam os justos, o povo se alegra; quando, porém, domina o perverso, o povo suspira” (Pv 29:2).

Sempre que um cristão tiver a oportunidade, ele deve exercer o poder com justiça e com ética cristã, tendo em mente que ele terá que prestar contas a Deus dos privilégios e responsabilidades que lhe forem atribuídas. Não podemos esquecer, porém, que a missão principal da Igreja antes da volta do Senhor é o evangelismo e o discipulado, e não formar cruzadas para tomar o poder ou conquistar o domínio político numa nação ou no mundo.

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