Introdução:
Uma das principais doutrinas da STV, é a que afirma que Jesus está presente desde 1914. Esta doutrina foi inventada por Charles Taze Russel, o fundador da seita. Neste estudo, eu não irei comentar sobre a história desta doutrina (para isto, eu recomendo o livro Testemunhas de Jeová – Comenário Exegético e Explicativo, vol. II, de Esequias Soares da Silva, Editora Candeia), mas explicarei como Russel chegou ao ano de 1914, e por que tal doutrina não está baseada na Bíblia.
Em primeiro lugar, nós não podemos calcular datas. Não nos cabe saber quando e onde as profecias se cumprirão. A única coisa que devemos saber, é que se cumprirão. Não podemos saber quando Jesus virá:
“Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai.” Mateus 24:36
Mas quando Ele vier, todos ficaremos sabendo:
“Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do filho do homem.” Mateus 24:27
E neste momento, os mortos se levanarão dos túmulos, e os que ficarem serão arrebatados:
“Porque, se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, assim também aos que dormem, Deus, mediante Jesus, os tornará a trazer juntamente com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda * do Senhor, de modo algum precederemos os que já dormem. Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor.” I Tessalonicences 4:14-17
* Grego: parousia
Agora eu pergunto a STV: Os mortos ressucitaram em 1914? Creio que a resposta não se faz necessária…
Como Russel Chegou a 1914:
Mesmo com tantos textos, Russel fez cálculos surpreendentes. Vendo estes cálculos, nós percebemos que ninguém no mundo é capaz de se tornar Testemunha de Jeová somente lendo a Bíblia. É preciso fazer uma lavagem cerebral com as publicações da seita para assimilar o credo da STV.
Para chegar a 1914, Russel usou o texto de Daniel 4:10-17. O texto fala sobre um sonho do rei Nabucodonosor:
“Eram assim as visões da minha cabeça, estando eu na minha cama: eu olhava, e eis uma árvore no meio da terra, e grande era a sua altura; crescia a árvore, e se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até o céu, e era vista até os confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e dela se mantinha toda a carne. Eu via isso nas visões da minha cabeça, estando eu na minha cama, e eis que um vigia, um santo, descia do céu. Ele clamou em alta voz e disse assim: Derrubai a árvore, e cortai-lhe os ramos, sacudi as suas folhas e espalhai o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela, e as aves dos seus ramos. Contudo deixai na terra o tronco com as suas raízes, numa cinta de ferro e de bronze, no meio da tenra relva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e seja a sua porção com os animais na erva da terra. Seja mudada a sua mente, para que não seja mais a de homem, e lhe seja dada mente de animal; e passem sobre ele sete tempos. Esta sentença é por decreto dos vigias, e por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles.”
Este texto, que não tem nada a ver com a vinda de Jesus, mas se referia ao próprio rei (leia os capítulos seguintes de Daniel), Russel usou para basear suas heresias. Veja como ele interpretou o texto:
“…sete tempos significam sete anos literais no caso de Nabucodonosor, privado que foi do seu trono. Os sete anos correspondem a 84 meses, ou, concedendo biblicamente 30 dias a cada mês, 2520 dias. Em Ap 12:16-14, são mencionados 1260 dias que são descritos com “um tempo, tempos e a metade de um tempo” , ou então três e meio tempos. Sete tempos seriam duas vezes 1260 dias ou 2520 dias. Por intermédio de seu fiel profeta Ezequiel, disse Jeová “… te dei, cada dia por um ano” (Ez 4:7). Aplicando-se essa regra divina, os 2520 dias significam 2520 anos. Portanto, desde que o reino típico de Deus com sua capital Jerusalém cessou de existir no outono de 607 (antes do nascimento de Cristo), então contando os tempos designados daquela data em diante, os 2520 anos se estendem até outono de 1914 (depois no nascimento de Cristo).” Seja Deus Verdadeiro p. 246
Vamos agora analisar o que Russel concluiu. Em seus cálculos sobre esse acontecimento, os sete anos durante os quais o rei Nabucodonosor esteve fora de si, indicam os 2520 anos em que “o diabo dominaria o mundo” (Do Paraíso perdido ao Paraíso Recuperado p. 171), e a recuperação da saúde do rei significa a recuperação do reino teocrático, isto é, o reino de Deus reinicia em 1914.
Regra Divina?
Há um grande problema nas afirmações de Russel. Ele diz que “um dia por um ano” é uma regra divina. Isto é mentira! Somente três vezes Deus indicou que um dia fosse contado por um ano. A primeira vez o fez quando os espias, que durante quarenta dias estiveram na terra de Canaã, desanimaram (exceto Josué e Calebe) o povo de Israel. Quando não creram que para Deus fosse possível vencer os gigantes dos quais os espias falaram, o povo de Israel teve de permanecer 40 anos no deserto, correspondendo aos 40 dias em que espiaram a terra prometida (Nm 14:34).
A segunda vez foi quando o profeta Ezequiel realizou uma demonstração durante 40 dias a respeito da educação que o povo de Israel deveria passar e que duraria 40 anos. Cada dia da demonstração significava para os israelitas um ano de sofrimento. (Ez 4:6). A terceira vez foi quando o profeta Daniel queria saber de Deus se a escola severa pela qual seu povo teria que passar terminaria com 70 anos de cativeiro. A resposta divina foi que não seriam somente 70 anos, mas sim 70 semanas. O contexto nos diz que cada dia dessas semanas correspondia a um ano.
Esses três acontecimentos referem-se somente à educação ao povo de Israel. Nas demais passagens, quando a Bíblia fala de dias, isso de maneira nenhuma tem de significar anos, e quando deve ser compreendido assim, é explicado. Sendo assim, Russel erra dizendo que é regra divina contar um dia por um ano. Se fosse assim, segundo a lei judaica, nós teríamos que trabalhar seis anos, e descansar no sétimo (Dt 5:13-14). Se um dia por um ano é regra divina, Jesus levou três anos para ressucitar. Assim nós verificamos uma das muitas falhas desta doutrina.
A Doutrina é Baseada em Material Extra-bíblico
Mas o maior problema do mito de 1914, e o que provavelmente as TJ não se dão conta, é que toda a doutrina está baseada em uma data: 607 aC. Não se pode chegar a esta data pela Bíblia. A STV baseia-se em material pagão e extra-bíblico para dizer que Jerusalem foi destruida nesta data. Pode-se pensar que é somente uma data. Mas esta data é que sustenta todo o mito de 1914. E o pior de tudo é que nada indica que Jerusalém tenha sido destruída em 607 aC, mas sim em 587 aC. Todas as obras de História, enciclopédias entre outras apontam para 587 aC e não 607 aC. É só conferir.
A datação da destruição de Jerusalém está baseada em dados contidos em uma tábua de escrita cuneiforme chamada de VAT 4956, e o ano de 539 aC. que é fornecido por um sacerdote caldeu chamado Beroso, que traça as linhagens dinásticas do império neobabilônico; e em Cláudio Ptolomeu(70-161 dC), um astrônomo e historiador grego, no Cânon de Ptolomeu. Dispondo das informações contidas nestas fontes, podemos datar eventos com exatidão. Só há um problema: se fundamentarmos uma doutrina nesses dados, estaremos nos baseando algo extra-bíblico, e é isso que a STV faz!
Se precisássemos de uma data para fundamentar uma doutrina, ela estaria na Bíblia. Não se pode chegar a 1914 usando somente a Bíblia. Isto prova que a STV não baseia suas crenças somente na Bíblia. Observe a seguinte afirmação:
“As crenças das Testemunhas de Jeová, baseadas inteiramente na Bíblia, impedem que se tornem uma seita ou um culto” Despertai! de 8 de outubro de 1997, página 10 (o grifo é meu)
Isto é verdade? Creio que a resposta não se faz necessária.
Extraído de material enviado a nossa redação.