Os aniquilacionistas, com o propósito de contestar a verdade sobre a vida após a morte ensinada por Jesus na passagem do rico e Lázaro, afirmam que se trata de uma parábola. E, ensinar ou criar uma doutrina por meio de uma parábola é um erro metodológico que deve ser evitado. Antes de tudo, é bom que se diga que a passagem de Lucas 16.19- 31 se trata de um fato histórico contado em forma de parábola, como ficou provado, e não de uma parábola. Não obstante, mesmo que fosse uma parábola, devemos atentar para a seguinte verdade, Jesus jamais iria lançar mão de uma lenda, de uma fábula, de uma crendice mentirosa para ensinar uma verdade espiritual tão profunda como essa sobre a vida após a morte. Outro detalhe muito importante, para o qual devemos atentar, emerge do fato de que essa narrativa de Jesus, em Lucas 16.19-31, está em perfeita harmonia com os ensinos gerais das Escrituras sobre a vida após a morte. Por exemplo:
01 – Jesus fala sobre o destino do corpo após a morte, ao dizer que o rico foi sepultado (Lc 16.22). Da mesma sorte, a Bíblia, em outras passagens, diz a mesma coisa.
02 – Jesus fala sobre a existência do Hades (Lc 16.23). A Bíblia também faz alusão a esse mesmo lugar em outras passagens (Ap 20.14).
03 – Jesus faz alusão a Abraão (Lc 16.23-31). A Bíblia confirma a existência desse personagem.
04 – Jesus faz alusão a Moisés e aos Profetas (Lc 16.31). A Bíblia, em outros textos, confirma o mesmo.
05- Jesus faz alusão ao tormento para o rico (Lc 16.23-25). A Bíblia
em vários lugares fazem alusão a esse tormento para os ímpios (Mt 25.46).
06 – Jesus ensinou sobre a impossibilidade de comunicação e trânsito dos que já se foram entre o céu e o inferno (Lc 16.26). A Bíblia, cm outras passagens, mostra que isso realmente é impossível (Hb 9.27). Jesus fala sobre a ressurreição dos mortos (Lc 16.31). A Bíblia confirma o mesmo em outras passagens (Dn 12.2; ICo 15; lTs 4.13-18).
Agora, uma vez que tudo isso que Jesus demonstra nessa passagem é verdade, por que somente a questão sobre a vida consciente da alma, após a morte, não é verdade, uma vez que, de igual modo é confirmada pelas Escrituras? (Mt 10.28; Fp 1,23; 2Co 5.8; 12.1-4; Ap 6.9-11). Logo, tudo que temos a fazer é concordar com Jesus, crendo no seu ensino sobre a imortalidade da alma.
07 – Jesus, antes de morrer, entregou o seu espírito ao Pai (Lc 23.46).
08 – Estêvão, antes de expirar, entregou o seu espírito ao Senhor Jesus (At 7.59).
09 – Paulo deixou claro que o crente, ao deixar esse corpo, por causa da morte, passa a habitar com o Senhor (2Co 5.8).
10 – Paulo ensinou aos filipenses que, quando partirmos deste inundo, ou seja, morremos fisicamente, automaticamente passamos a estar com Cristo, o que é muito melhor (Fp 1.23).
11 – Paulo admite a possibilidade de ter ido ao paraíso, em espírito, por ocasião do seu arrebatamento, ao dizer que isso ocorreu fora do corpo, ou seja, seu corpo ficou aqui na terra e ele, por meio do seu espírito, foi arrebatado ao terceiro céu, a saber, ao paraíso (2Co 12.1-4). Alguns aniquilacionistas, na tentativa de refutar a verdade sobre a imortalidade da alma, mostrada por Paulo nesta passagem, têm apresentado Colossenses 2.5, como prova dessa objeção, onde Paulo diz:
“Porque ainda que esteja ausente quanto ao corpo, contudo, cm espírito, estou convosco…”. (Cl 2.5).
Ora, neste texto em momento algum Paulo está dizendo que o seu “espirito” estava presente com os irmãos de Colossos, mas sim, que “em espírito”. Logo, aqui, devemos entender espírito não como uma entidade separada do corpo (visto como esse vocábulo é polissêmico, isto é, possui uma gama de significados, ele deve ser interpretado à luz do contexto da passagem em que ele se encontra), mas sim, como pensamento, sentimento, propósito e objetivos. Sendo assim, o que Paulo quis dizer com essas palavras é: “Fisicamente eu não posso estar com vocês, mas no meu pensamento, no meu sentimento, no meu coração, nas minhas orações, estou presente convosco”. Mas, no caso de 2Co 12.1-4, ele deixa bem claro que ele não foi ao terceiro céu no pensamento ou no seu sentimento, ao contrário, ele diz que a sua experiência foi fora do corpo. Ele diz que foi arrebatado até o terceiro céu, o paraíso. No que diz respeito às visões e revelações, por exemplo, ele não diz que esteve lá em uma visão, mas apenas disse que teve visões e revelações, isto é, ele viu muita coisa por lá. Pois é impossível alguém ter ido a algum lugar sem que tenha visto alguma coisa. Não obstante, ele destaca apenas que ouviu palavras inefáveis, sem, contudo, achar que devam ser compartilhadas em sua carta.
12- O escritor aos Hebreus fala a respeito dos céus como o lugar dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).
13 – Na ilha de Patmos, João, o Evangelista, por divina revelação, viu as almas daqueles que foram martirizados lá na glória, no paraíso, debaixo do altar de Deus (Ap 6.9-11).
14 – Moisés, por meio de uma visão, foi visto pelos apóstolos no monte da Transfiguração. Ora, como Moisés poderia ter sido visto se, de acordo com os aniquilacionistas, a morte é a aniquilação e, portanto, a inexistência? A grande maioria dos aniquilacionistas crê que Moisés apareceu, literalmente, com corpo físico, no monte. Ora, isso não contribui com a doutrina deles, muito ao contrário, piora a situação, pois, se ele apareceu com corpo físico, no monte, ao lado de Elias, o profeta, como justificar essa aparição física e literal, uma vez que ele não ressuscitou? Se acreditarmos que ele apareceu com corpo físico, temos que admitir que não há aniquilação e, ao mesmo tempo, damos ocasião para a doutrina espírita, uma vez que Moisés estava morto e não poderia aparecer de forma literal, visto que, como afirmamos, ele não ressuscitou (Mt 17.13).
Nessa passagem de Lucas 16.19-31 o mendigo não é um anônimo, seu nome é Lázaro. E vale lembrar que as parábolas não registram os nomes dos personagens. Logo, isso depõe contra o fato de que a história do rico e Lázaro seja uma parábola.
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Fonte: Livro – Perguntas Difíceis de Responder – sobre a imortalidade da alma entre a morte e a ressurreição, Elias Soares de Moraes, Editora Beit Shalom, 2016.