PERGUNTA: Qual é a sua perspectiva sobre a escolha da pessoa de Noé no caso do dilúvio? De acordo com a visão não fatalista, parece que havia apenas um homem (Noé) com fé na face da terra que Deus conheceu de antemão e escolheu para salvação. Suponho que o fatalista (que acredita que tudo está determinado – aqui a heresia do estoicismo) diria que Deus incondicionalmente escolheu uma pessoa dentre todas as outras que eram totalmente incapazes de vir à fé. Para alguns – “Deus foi misericordioso o bastante para escolher apenas uma dentre todas as outras na terra nesta época”. Estas declarações pressupõem que todos os destruídos no dilúvio estavam sob o julgamento divino para a condenação eterna. Talvez haja uma visão melhor do que esta, mas para mim ela parece a mais provável.
MINHA RESPOSTA: Devemos distinguir entre condenação temporal e condenação eterna. O dilúvio, e a destruição dos cananeus, foram juízos temporais. Provavelmente a maioria daqueles assim destruídos foi também eternamente condenada, mas não podemos afirmar isso. Deixemos isso com Deus. (Obviamente, aqueles abaixo da idade da responsabilidade estavam sob a “graça original” de Deus e foram assim protegidos da condenação eterna). Mas no meu livro “What the Bible Says About God, the Redeemer”, eu pergunto se a graça é condicional ou incondicional. Os fatalistas obviamente afirmam o último e usam Noé como exemplo. Aqui está o que eu digo sobre isso nas páginas 389-390:
“Muita, se não a maioria, da alegada evidência da graça incondicional está no Antigo Testamento. Por exemplo, é dito que Noé demonstra o amor eletivo incondicional de Deus. Gênesis 6.8 diz, ‘A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência.’ De acordo com [Walther] Zimmerli: ‘Sem dúvida aqui está implícito o mistério da decisão livre divina, pela qual Noé veio a ter esta atratividade para Deus.’ Enquanto discute a palavra “chen”, uma palavra do Antigo Testamento para graça, [Hans-Helmut] Esser faz a declaração notavelmente presunçosa de que, com referência a Deus, ‘ela é usada, em sua maioria, no sentido de seu dom imerecido da eleição’ e cita Noé como exemplo principal.”
Na minha resposta a essa afirmação (“Redeemer”, pág. 395 e seguintes), eu digo de forma geral, “Podemos dizer que o favor de Deus para com as pessoas, e até mesmo para a própria nação [de Israel], estava, em muitos aspectos, condicionado a sua justiça relativa, com isso algumas vezes sendo entendido no sentido mais geral, de voltar o próprio coração para Deus em fé e arrependimento.” Eu então uso Noé como exemplo: “Isso é verdadeiro até mesmo daqueles exemplos geralmente citados como evidência da graça incondicional. Citar Gênesis 6.8, que ‘A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência,’ e omitir o versículo 9 é imperdoável: ‘Noé era homem justo, íntegro entre o povo da sua época; ele andava com Deus.’ Em Gênesis 7:1 o Senhor diz a Noé, ‘Entre na arca, você e toda a sua família, porque você é o único justo que encontrei nesta geração’ (NVI). Diante dessa última afirmação, é difícil ver como alguém poderia dizer que a escolha de Noé por Deus foi incondicional” (395).
Adaptado de jackcottrell.com/notes/was-noah-unconditionally-predestined-to-salvation/
Autor: Jack Cottrell – Tradução: Cloves Rocha dos Santos