Por que depois da conversão temos a impressão de que a luta espiritual aumenta? Por que pessoas convertidas sentem vontade de praticar o mal? É possível harmonizar o que sabemos que devemos fazer com aquilo que realmente desejamos praticar?
O próprio apóstolo Paulo não conseguia viver à altura dos princípios que conhecia. Por vezes sentia como que se dentro dele existissem duas pessoas que lutavam entre si para assumir o controle de sua vida.
Em varias ocasiões ele pensou que talvez não estivesse convertido. Ele descreve essa luta na carta que escreveu aos Romanos: Porque o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço… Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? (Rm 7:15-24).
Muitas vezes ouvimos a pergunta: Pastor, eu acho que não estou convertido. Constantemente sinto vontade de pecar. A minha vida é um permanente conflito. Quero servir a Jesus, mas ao mesmo tempo sinto vontade de fazer coisas erradas. Tem solução para mim?
Por alguma razão, temos a ideia de que no momento da conversão a nossa luta acaba e que, a partir desse momento, não pecaremos mais; seremos perfeitos, no sentido de ser exemplo de vida para outros. Mas por que é que a partir do momento em que nos entregamos a Cristo a nossa luta se torna maior e o conflito aumenta?
Precisamos entender o que acontece no momento da conversão. Muitos têem a idéia de que na hora da conversão Deus tira de nós a natureza pecaminosa e a joga fora para sempre, colocando em substituição a nova natureza que gosta de obedecer e amar.
Seria maravilhoso se fosse assim, já que nunca mais teríamos vontade de pecar. A fonte da “concupiscência e das paixões deste mundo” não existiria mais. Infelizmente não é assim que sucedem as coisas.
Ao converter-nos, Deus coloca dentro de nós uma nova natureza, a natureza de Cristo. Mas o que acontece com a velha natureza pecaminosa? Ela não sai, como muitos imaginam! Fica ali, agonizante! Aquela parte que existe dentro de nós, que gosta de pecar, foi esmagada e mortalmente ferida.
Depois da conversão passamos a ser pessoas com duas naturezas: a natureza de Cristo, nova, recém-implantada, e a velha natureza, pecaminosa, “esmagada e mortalmente ferida”, que continua dentro de nós.
O ideal seria que a velha natureza permanecesse sempre “mortalmente ferida”. Mas essa situação não é definitiva; é circunstancial. Na primeira oportunidade em que receber alimento, ela ressuscitará; e se continuar sendo alimentada, recuperará completamente as forças e lutará para expulsar de nossa vida a nova natureza.
É por isso que depois da conversão a luta aumenta. O homem sem Cristo tem uma só natureza: a natureza com que nasceu! E essa natureza faz as coisas erradas na hora que deseja. Não existe ninguém para se opor. Não existe luta, não há conflito. Mas a partir do momento em que entregou sua vida a Cristo, você experimentou o milagre da conversão: tem agora uma nova natureza e ela se opõe à velha.
Por isso, a vida da pessoa não convertida pode parecer mais leve. Ele só tem uma natureza e ela assume o controle da vida, não tem oposição. Mas logo depois da conversão, quando o homem pensa que a velha natureza foi embora, descobre que ela continua dentro e o conflito começa. São duas naturezas e as duas estão lutando.
Paulo conseguiu entender este conflito quando escreveu: Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o espírito para as coisas do espírito… Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele (Rm 8:5-9).
As duas naturezas estão em luta e uma delas vencerá; uma delas assumirá o controle completo de sua vida e sobreviverá, enquanto a outra morrerá. Qual delas será a vitoriosa? Isso vai depender da sua decisão. Só uma das naturezas poderá assumir por completo o domínio de sua vida, e, sem dúvida, será aquela que for melhor alimentada.
Ocorre que os indivíduos, geralmente, alimentam mais a natureza pecaminosa, sendo esta a causa de nosso fracasso constante, mesmo depois de nossa conversão. Deus realizou em nós o milagre da conversão, implantou em nosso coração a nova natureza, mas não cuidamos dela, não a alimentamos e, em consequência, a velha natureza está sempre tomando o controle de nossa vida.
A nossa vitória e, em consequência, a nossa felicidade na vida cristã, depende de como alimentamos a natureza de Cristo e matamos de fome a outra. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências(Gl 5:24).
Temos de manter nossa velha natureza pregada na cruz. Enquanto estivermos neste mundo, não há como nos livrarmos da natureza velha completamente. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (Fl 4:8).
Ele está falando do alimento da nova natureza. Tinha descoberto, finalmente, o segredo da vida vitoriosa. Não alimentava mais a velha natureza. A natureza de Cristo tinha assumido, agora, o controle de sua vida. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus.(Gl 2:20).
Cristo garantiu a sua vitória na cruz. Nos momentos em que você achar que todo mundo o terá abandonado, que você nunca conseguirá comportar-se segundo a vontade de Deus, que você se sentir um fracasso completo, lembre-se de que Ele está junto de você, amando-o, perdoando-o, sustentando-o.
Autor: *Araripe Gurgel
Fonte: http://www.ictrindade.com.br