No terceiro século da nossa era, surgiu um movimento doutrinário a respeito da natureza de Deus, liderado por Sabélio, um presbítero da Igreja Cristã no norte da África.
O ensino de Sabélio consistia na negação da existência da Trindade, segundo o qual Jesus era o Jeová do Antigo Testamento e a Única Pessoa da Divindade. Os termos “Pai” e “Espírito Santo” se referiam apenas a certos aspectos do caráter de Jesus e não a outras pessoas. Assim sendo, “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” eram somente três diferentes nomes para o mesmo ser divino.
Esta concepção desapareceu antes do fim do século IV, porém ressurgiu neste século com uma nova roupagem, através do movimento chamado “Só Jesus” ou “Nova Luz”, e, com pequenas variações, através das “testemunhas-de-jeová”, que também negam a existência da Trindade, conforme já mostramos neste livro.
ORIGEM DO MOVIMENTO
A origem do movimento chamado “Só Jesus” ou “Nova Luz” está ligada à pessoa de John S. Scheppe, que no ano de 1913 afirmou ter recebido uma revelação, em forma de visão, acerca do poder do nome de Jesus. Nesse ano ele começou a estudar o assunto, chegando à conclusão de que o verdadeiro batismo tinha de ser ministrado só em nome de Jesus, conforme o texto de Atos 2.38: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados…”
John S. Scheppe ensinou ainda que era imprescindível ser batizado em água, para ser “nascido da água”, ou seja, ser salvo. Foi assim que muitos crentes de outras denominações, já batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, deixaram-se batizar novamente, dessa vez só em nome de Jesus.
1.1. Uma “Nova Luz”
Como conciliar o ensino defendido por Scheppe e seus seguidores com o fato de o próprio Jesus haver ordenado o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo? Para resolver este problema teológico, Scheppe disse ter recebido uma “nova luz” sobre o assunto. Segundo essa “revelação”, Pai, Filho e Espírito Santo seriam uma só pessoa, e seu nome é Jesus Cristo, Senhor, Jesus, Cristo. Jesus revelou aspectos distintos de sua natureza, apresentando-se como Pai e Espírito Santo, porém estes não eram distintas personalidades. Portanto, o novo ensino defendia que a Divindade era constituída somente de Jesus.
1.2. Expansão do Movimento
Entre as igrejas que surgiram como resultado desse movimento, a Igreja Pentecostal Unida é provavelmente a mais forte, possuindo trabalhos em vários países, inclusive no Brasil.
Outros grupos menores e muitas igrejas independentes têm aceitado a falsa interpretação concernente à Pessoa de Deus, adotada pela “Nova Luz”. Devemos esclarecer, contudo, que existem hoje igrejas que crêem na doutrina da Trindade, mas que também batizam apenas em nome de Jesus.
REFUTAÇÃO BÍBLICA
Todo e qualquer movimento religioso que eleva a revelação particular e as experiências pessoais acima da Bíblia Sagrada incide em graves erros de interpretação da doutrina cristã. Isto é o que acontece com os seguidores do movimento “Só Jesus”.
2.1. A Trindade na Bíblia
Existem muitos crentes sinceros que estão verdadeiramente confundidos com essa doutrina errônea. Porém, a Bíblia ensina claramente a Trindade e apresenta o Pai, o Filho e o Espírito Santo como Pessoas coexistentes, mas distintas. Observe os seguintes exemplos:
- O Pai dá testemunho do Filho como um Ser existente e independente (Mt 3.17).
- O Pai dá testemunho de si mesmo (Ex 20.2).
- O Pai dá testemunho do Espírito (Zc 4.6).
- O Filho dá testemunho do Pai (Jo 14.12).
- O Filho dá testemunho de si mesmo (Jo 14.16).
- O Filho dá testemunho do Espírito Santo (Jo 16.13,14).
- O Espírito Santo dá testemunho do Pai (Hb 3.7-11).
- O Espírito Santo dá testemunho do Filho (Jo 16.14,15). i. O Espírito Santo nunca dá testemunho de si mesmo (Jo 16.13).
O gráfico seguinte há de explicar melhor a doutrina bíblica da Trindade, em contraposição à doutrina esposada pelo movimento denominado “Só Jesus” ou “Nova Luz”.
A doutrina da Trindade é mostrada na Bíblia de Gênesis ao Apocalipse, e está presente:
- na criação do homem (Gn 1.26);
- na conclusão divina quanto à capacidade de o homem agora conhecer o bem e o mal (Gn 3.22);
- na confusão das línguas, em Babel (Gn 11.7);
- na visão e chamamento de Isaías (Is 6.8);
- no batismo de Jesus, no Jordão (Mt 3.16,17);
- na Grande Comissão de Jesus a seus discípulos (Mt 28.19);
- na distribuição dos dons espirituais (1 Co 12.4-6);
- na bênção apostólica (2 Co 13.13);
- na descrição paulina da unidade da fé (Ef 4.4-6);
- na eleição dos santos (1 Pe 1.2);
- na exortação de Judas (Jd 20,21);
- na dedicatória das cartas às sete igrejas da Ásia (Ap 1.4,5).
O PAI
2.2. A FÓRMULA BÍBLICA DO BATISMO
Quanto à fórmula do batismo em águas, o testemunho bíblico e a história da Igreja nos primeiros séculos confirmam que o batismo era ministrado no nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19).
Os mais piedosos líderes da igreja antiga provam que os apóstolos e pastores daqueles tempos batizavam em nome das três Pessoas da Trindade, e não no nome de Jesus apenas.
Um livro muito antigo, chamado Os Ensinos dos Doze Apóstolos, diz: “Agora, concernente ao batismo, batizai desta maneira: depois de ensinar todas estas coisas, batizai em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo… O batismo deve ser efetuado conforme nos ordenou o Senhor, dizendo: ‘Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo…'”
Justino Mártir, no ano 165 da nossa Era, escreveu: “São levados [os novos convertidos] a um lugar onde haja água, e recebem de nós o batismo em água, em nome do Pai, Senhor de todo o Universo, e do nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo”.
Tertuliano, Clemente de Alexandria e Basílio, nos idos de 156, 160 e 326, respectivamente, disseram: “Ninguém seja enganado nem se suponha que, pelo fato de os apóstolos freqüentemente omitirem o nome do Pai e do Espírito Santo, ao fazerem menção do batismo [não na fórmula quando estão batizando], não seja importante invocar estes nomes”.
Cipriano, no ano 200, falando de Atos 2.38, disse: “Pedro menciona aqui o nome de Jesus Cristo, não para omitir o do Pai, mas para que o Filho não deixe de ser unido com o Pai. Finalmente, depois de ressurreto, os apóstolos são enviados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.
Calvino, no ano 1550, em seu comentário sobre 1 Coríntios 1.13, diz: “Que é ser batizado em nome de Cristo? Respondo que por esta frase entende-se que o batismo estriba-se na autoridade de Cristo, dependendo de sua influência e, em certo sentido, consiste em invocar ou estar em seu nome”.
Na verdade, o fato de o movimento “Só Jesus” procurar impor-se como uma “Nova Luz” nada mais é que um dos velhos artifícios usados pelo príncipe das trevas para seduzir os incautos ao erro.
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Extraído do livro Seitas e Heresias, Raimundo de Oliveira, Ed CPAD