Morte e imortalidade

A morte anda no encalço de sua presa desde o início do registro da história do homem. O Senhor Jesus Cristo nunca acompanhou um enterro passivamente. Interrompeu um (Lc 7.11-17), impediu que se realizasse outro (Lc 8.40-56), e anulou o resultado de um terceiro (Jo 11.1-44). É interessante notar que Jesus falou com o morto como se estivesse vivo. Não que fosse errado sepultar os mortos, mas porque Jesus é o autor da vida (At 3.15), que veio para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo (Hb 2.14).

Definições de morte

A palavra grega TANATOS, traduzida como MORTE, significa meramente separação da alma do corpo, separação essa pela qual termina a vida neste mundo. Na Bíblia, o pensamento fundamental é esse: separação da alma do corpo. Assim, morte é separação, não importa a que morte se refira, se física, ou espiritual ou eterna ou segunda morte. Na morte física, o espírito (ou alma) separam-se do corpo, e este fica morto, isto é, sem vida. O cadáver não tem comunicação com nada ao seu redor. Sua relação com o ambiente em que está mudou completamente. Várias passagens nas Escrituras ilustram a verdade dessa definição. Há casos no Antigo Testamento em que os homens reconhecem a existência da vida além da morte. “Não temerei mal algum… habitarei na casa do Senhor por longos dias” (Sl 23.6).

Tiago escreveu “o corpo sem o espírito está morto” (Tg 2.26). Pedro reconheceu a proximidade da morte e a descreveu como uma partida do seu tabernáculo terreno, dizendo: “Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus já mo tem revelado” (IIPe 1.14-15). Isto é, o espírito põe de lado o corpo físico, porque este já serviu à sua finalidade. Essa ideia é apresentada também na história do rico insensato (Lc 12.16-20). Ele havia colhido uma ceifa abundante, construíra celeiros adequados para recolher a ceifa inteira, e disse então à sua alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma. Quando seu espírito for chamado do seu corpo, a vida do corpo cessar e os muitos bens não lhe serão mais úteis.

A morte traz a cessação da atividade corporal e não da espiritual. Que acontece ao espírito na ocasião da morte? Paulo diz que Jesus Cristo aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo Evangelho (IITm 1.10). E como trouxe à luz o que acontece ao espírito na ocasião da morte? Jesus contou a história do rico e do mendigo Lázaro (Lc 16.19-31). Contrastam-se nessa passagem a experiência e o destino dos dois homens. O mendigo, ainda que desprezado nesta vida, morreu e entrou imediatamente num estado de bem-aventurança, que descrito pela declaração de que ele estava no “seio de Abraão”. O rico, ainda que possuísse muitos bens materiais nesta vida, morreu e entrou imediatamente num estado de miséria. Deve-se notar que Jesus representou os dois como entrando imediatamente nos estados respectivos de bem-aventurança e de castigo. Na morte o corpo do crente volta à terra, mas seu espírito entra imediatamente num estado de bem-aventurança consciente. Semelhantemente, pela morte, o corpo do incrédulo volta à terra, mas o seu espírito entra imediatamente num estado de castigo consciente.

Outra expressão bíblica para a morte humana é DORMIR, porém deve-se entender que somente o corpo dorme no pó (Dn. 12.2) Estêvão, ao ser apedrejado, orou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” e em seguida adormeceu (At 7.60). Quando a alma saiu, o corpo dormiu, ficou inativo, sepultado, até a ressurreição dos justos.

Por acaso precisamos crer:

1- Que os redimidos no céu estão experimentando a plenitude de gozo e delícias para sempre (Sl 16.11) ENQUANTO DORMEM?

2- Que o homem rico, logo depois da sua morte, estava em tormentos, clamava e rogava (Lc 16.19-31) DORMINDO e que Lázaro foi consolado EM SEU SONO?

3- Que aqueles para quem Cristo pronunciou a sua formosa oração sacerdotal (Jo 17.24), na verdade, estão vendo a sua glória, em resposta a esta oração ENQUANTO DORMEM?

4- Que a glória do céu, com a qual as aflições do tempo presente não são para se comparar, há de manifestar-se em nós (Rm 8.18), estando PROFUNDAMENTE ADORMECIDOS?

5- Que veremos Deus face a face e O conheceremos plenamente (lCo 13.12-13) ENQUANTO DORMIMOS?

6- Que logo que nos ausentarmos do corpo estaremos com o Senhor, deleitando-nos na comunhão com Ele, melhor do que nunca (IICo 5.8) ENQUANTO DORMIMOS?

7- Que a morte, para nós, os crentes, será lucro, e muito melhor do que qualquer coisa que tenhamos experimentado aqui na terra (Fp 1.21-23) ENQUANTO ESTIVERMOS TOTALMENTE ADORMECIDOS?

8- Que a congregação dos primogênitos que estão inscritos no céu (Hb 12.23) é uma CONGREGAÇÃO DE ADORMECIDOS?

9- Que as almas debaixo do altar clamam com alta voz (Ap 6.9-10) EMB0RA ESTEJAM DORMINDO?

10- Que os seus servos O servem de dia e noite no seu templo (Ap 7.15), MERGULHADOS EM SONO PROFUNDO?

Para que pensar no sono da alma?

A nossa comunhão com Deus tem sido de tal sorte que desejamos perdê-la, embora durante poucos anos ou séculos? Será com vistas ao sono, que o Espírito Santo operou em nós durante esta vida? Será o sono o “bem” de que fala Paulo (Rm 8.28), dizendo que todas as coisas cooperam em favor do salvo? Não nos parece um alvo ou meta digna do nosso Deus onisciente. Jesus disse em Jo 11.26: “Todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá”. Ele não estava falando da experiência da morte física. Estava, sim, dizendo que a morte física não trazia nenhuma cessação de existência consciente e de comunhão com Cristo.

O que e imortalidade?

Imortalidade será a união da alma e do corpo depois de ressuscitado. Sendo ressuscitado e transformado, na semelhança do corpo de Jesus, a morte receberá seu golpe final e os filhos de Deus serão revestidos de imortalidade, que significa isenção de morte. Não haverá mais a separação entre a alma e o corpo. A imortalidade virá a ser a dádiva da família de Deus, porque a morte é a separação da alma do corpo. A imortalidade é a união do espírito ao corpo ressuscitado (lTs 4.14-17). Escrevendo aos Coríntios disse Paulo: “Porque convém [para que não haja mais separação] que isto que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (ICo 15.53). Tendo o espírito novo tabernáculo, isento de fraqueza e corrução, jamais voltará a desocupar sua casa anterior, porque o Todo Poderoso Cristo a terá ressuscitado, renovado, adornado, glorificado e transformado à semelhança do Seu corpo glorioso (Fp 3.21).

Ao discutir a questão da imortalidade, tenha-se presente que a alma sobrevive à morte do corpo (Mt 10.28). Como prova de que o corpo é mortal e não o espírito, consideremos os seguintes textos: “Não reine por tanto o pecado em vosso corpo moral” (Rm 6.12). “E, se o espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo, também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rm 8.11). “Para que a vida de Jesus se manifeste também em a nossa carne mortal” (IICo 4.11). “E, quando isto que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: “Tragada foi a morte na vitória” (ICo 15.54).

A expressão nossa alma mortal não se encontra em toda a Bíblia. A única morte, da alma ou do espírito, é a morte espiritual, que é a morte que experimentamos quando vivemos separados de Deus, por causa da nossa condição pecaminosa: ”Mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.4). “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” (Ef 2.1). “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2.5). Esta foi a morte que experimentou o filho pródigo, quando desobedeceu seu pai, porque quando regressou à casa paterna, seu amoroso pai disse: “este meu filho estava morto e reviveu, havia-se perdido e foi achado” (Lc 15.24).

Da mesma forma falou o apóstolo Paulo, quando se referiu às viúvas que viviam separadas de Jesus: “Mas a que vive em deleites, vivendo está morta” (ITm 5.6). E, finalmente, em Ap 3.1, lemos: “Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives mas estás morto”. Mas, como já temos explicado, no sentido de cessação da existência, SOMENTE O CORPO É MORTAL. Assim que, IMORTALIDADE significa a ressurreição de corpo que nesta vida é mortal, para uma VIDA INTERMINÁVEL NA QUAL JAMAIS VOLTARÁ A MORRER. Maravilhosa a obra de Cristo em sua primeira vinda. Antes de voltar ao céu, libertou as almas redimidas do Seol-Hades – o mundo invisível dos mortos (Ef 4.8-9); em sua segunda vinda, antes de estabelecer o milênio na terra, libertará os corpos dos seus santos redimidos. Quando esse triunfo se consumar, por ocasião da volta de Cristo, o triunfo dos santos sobre o poder do diabo será completo. Todo o nosso ser – espírito/alma e corpo – pertence a Cristo. E ele nunca poderá estar satisfeito ao permitir que o diabo aprisione o nosso corpo, que foi comprado pelo seu precioso sangue. Esta gloriosa redenção do corpo se acha mencionada nos seguintes textos. “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima” (Lc 21.28). “E não só ela, mas nós mesmos que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). “O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória” (Ef. 1:14). “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção” (Ef. 4.30).

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