Morte de Joseph e Hyrum Smith em Carthage

morte de J smith

Nesta altura Willard Richards, que era agora o único com autorização para entrar e sair da prisão, trouxe a Joseph a notícia de que Ford tinha quebrado a sua promessa e dirigia-se a Nauvoo sem ele. O profeta apercebeu-se de que estava encurralado quase sem esperança. Só havia um trunfo fraco nas suas mãos, que ele agora receava ter esperado demasiado tempo para jogar. Apressadamente, rabiscou uma ordem para Jonathan Dunham trazer a Legião, forçar a entrada na prisão e salvá-lo a todo o custo. Segundos depois, dois mensageiros transportando esta ordem e a carta para Emma estavam a caminho num galope frenético fazendo a viagem de 24 quilómetros até Nauvoo.

Um por um, os amigos que tinham estado a visitar Joseph e Hyrum foram obrigados a sair de Carthage sob a ameaça de baionetas. Só Willard Richards e John Taylor continuavam na prisão. Cerca das 5 horas [da tarde], quando o guarda sugeriu que estariam mais seguros na cela, Joseph virou-se para o seu funcionário de face rosada e sério: “Se formos para a cela, vais connosco?”

“Irmão Joseph”, respondeu Richards, “não me pediste para atravessar o rio contigo — não me pediste para vir para Carthage — não me pediste para vir para a prisão contigo — e pensas que te abandonaria agora? Mas dir-te-ei o que farei; se fores condenado à forca por traição, eu serei enforcado em teu lugar, e tu poderás ir em liberdade.”

Joseph sorriu para ele com ternura. “Não podes fazer isso.”

“É o que vou fazer”, insistiu, e todos sabiam que ele falava com toda a seriedade.

Aborrecidos e com o espírito pesado, os prisioneiros por fim pediram algum vinho, e todos excepto Hyrum beberam um pouco.9 Quando Richards passou a garrafa ao guarda, este começou a descer as escadas. Nesse momento ouviu-se um barulho na porta exterior, seguido de gritos para se renderem e o som de tiros.

Não era a Legião de Nauvoo galopando para uma salvação dramática. Por alguma razão nunca divulgada, Jonathan Dunham tinha metido no bolso a ordem e negligenciou agir de acordo com ela, e nenhum outro homem em Nauvoo tinha conhecimento do perigo que o seu profeta corria.10 Eram os homens da milícia de Warsaw, que tinham marchado para fora da cidade como sinal para o Governador, esperaram até que ele estivesse bem adiantado no seu caminho para Nauvoo, e depois voltaram aos gritos para se juntarem aos Carthage Greys.

Joseph tinha uma pistola de 6 tiros e Hyrum tinha uma pistola de cano único, que tinham sido secretamente introduzidas na prisão por amigos no dia anterior. Os outros dois homens não tinham nada para se defender excepto duas bengalas de nogueira. Todos os quatro se atiraram contra a porta, mas recuaram quando a primeira bala penetrou na espessa almofada da porta.

Quando a porta foi aberta à força, três dos prisioneiros saltaram agilmente para a esquerda. Mas Hyrum foi apanhado pelo fogo de uma da meia dúzia de armas que estavam maldosamente apontadas em direcção à porta. A primeira bala acertou-lhe no nariz e ele tropeçou para trás gritando: “Sou um homem morto!” Ao cair, mais três balas vindas da porta acertaram-lhe e uma quarta bala vinda da janela estilhaçou-lhe o lado esquerdo.

Joseph neste momento disparou os 6 tiros pelas escadas abaixo. Três deles falharam o alvo, mas os outros três acertaram. Um dos feridos desceu apressadamente as escadas, com o braço numa massa de sangue e carne mutilada. “Estás ferido com gravidade?” alguém gritou.

“Sim, o meu braço está todo feito em pedaços pelo Velho Joe”, gritou ele, “mas não me importo; vinguei-me; abati o Hyrum!”

Uma chuva de balas estava agora a inundar o quarto. John Taylor foi atingido 5 vezes, mas a única bala que o poderia ter morto acertou no seu relógio, que estava no bolso do colete, e fez ricochete sem o ferir. Willard Richards, que era tão alto como Joseph, escapou miraculosamente de ser atingido, excepto por uma bala que arranhou ligeiramente a sua garganta e lóbulo da orelha, embora ele permanecesse perto da porta batendo em vão nas armas com a sua bengala. A maior parte das balas que entravam através da janela estavam a bater inofensivamente contra o tecto, enquanto os homens do corredor que não tinham sido atingidos ou afugentados pelos tiros que Joseph disparara estavam a tentar fixar o alvo nele.

Quando a pistola se esvaziou, Joseph atirou-a ao chão gritando: “Defendam-se o melhor que puderem”, e correu para a janela. Olhou lá para fora e viu uma centena de baionetas cintilando sombriamente na luz fraca que se filtrava através das pesadas nuvens tempestuosas. Por detrás de cada baioneta estava uma horrenda face pintada, e deve ter parecido a Joseph como se o próprio inferno tivesse vomitado esta aparição.

É dito por alguns que o viram que ele fez o sinal maçónico de aflição e gritou: “Não há ajuda para o filho da viúva?”11 Depois uma bala vinda da porta apanhou-o nas costas e ele inclinou-se lentamente para fora da janela, as suas mãos ainda agarrando no parapeito a partir do qual se tinha estado a preparar para saltar. Durante um instante ele segurou-se ao parapeito da janela, balançando-se, enquanto o coronel que comandava a milícia de Warsaw gritava: “Abatam-no! Maldito seja! Abatam o maldito velhaco!”

Mas ninguém disparou. William Daniels,12 que estava em pé petrificado pela visão, ouviu-o dizer: “Ó Senhor, meu Deus!” e viu-o cair para o chão. Virou-se ao cair, batendo no chão com o ombro direito e as costas, e depois rolou sobre a face. Um homem da milícia, descalço e careca, sorrindo através da pintura negra, saltou para diante e arrastou-o contra o parapeito do poço no pátio.

O profeta mexeu-se um pouco e abriu os olhos. Não havia terror neles, mas se a calma era devida a resignação ou inconsciência não podemos saber. O coronel Williams agora ordenava a quatro homens que disparassem contra ele. Quando as balas o atingiram ele dobrou-se um pouco e caiu para a frente sobre a face.

A milícia começou a dispersar em pânico. Mas o mesmo homem que o tinha arrastado para o parapeito do poço agora levantava a sua faca de mato e precipitava-se para a frente para cortar a cabeça do profeta. Nesse momento as nuvens tempestuosas afastaram-se e o sol de Junho que se estava a pôr brilhou em cheio sobre a cena. Para William Daniels, parecia que um pilar de luz tinha descido do céu e ficado entre o profeta morto e os seus assassinos. “O braço do rufião que segurava a faca caiu impotente”, disse ele, “os mosquetes dos quatro que tinham disparado caíram ao chão, e todos eles ficaram imobilizados como estátuas de mármore, não tendo poder para mexer um único membro dos seus corpos. Nesta altura a maioria dos homens tinha debandado em grande desordem. Nunca antes vi um grupo de homens tão assustados.”

O corpo do profeta ficou abandonado durante algum tempo, até Willard Richards se ter aventurado a trazê-lo de volta para dentro da prisão e deitá-lo ao lado do corpo do irmão. Tendo conseguido arranjar um mensageiro, enviou a Ford a notícia do assassínio, e uma mensagem ao seu próprio povo para nada fazer como vingança. Só então se abandonou ao seu choque e dor interior.


Notas

9 Segundo o relato de John Taylor, History of the Church, Vol. VII, p. 101.

10 Esta história é contada por Allen J. Stout no seu diário manuscrito, 1815-1889, uma transcrição do qual pode ser vista na Biblioteca da Sociedade Histórica do Estado de Utah. Veja a p. 13. É confirmada por T. B. H. Stenhouse no seu Rocky Mountain Saints (Nova Iorque,m 1873), nota da p. 164.

11 Zina Huntington Jacobs, uma das esposas de Joseph, disse anos mais tarde numa palestra pública: “Sou a viúva de um mestre maçónico, que, ao saltar da janela na prisão de Carthage, cravado de balas, fez o sinal maçónico de aflição….” Latter-Day Saints Biographical Encyclopædia, Vol. I, p. 698.

12 Veja o seu Correct Account of the Murder of Generals Joseph and Hyrum Smith (publicado por John Taylor em Nauvoo em 1845). Daniels estava tão perturbado por ter sido uma testemunha do linchamento, senão mesmo um participante, que se converteu. Os mórmones mais tarde excluíram-no do rol de membros.

Extraído do site http://corior.blogspot.com/ em 15/04/2014

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