Missão Integral: Cavalo-de-Troia Teológico

É por demais conhecida a história da Guerra de Troia e do famoso cavalo que ali aparece. Segundo literatura atribuída a Homero, a guerra entre Grécia e Troia estava num impasse. As forças oponentes se equilibravam e, então, os gregos teriam tido a ideia de enviar um presente vistoso e bonito aos troianos, o que sinalizaria, ao menos, um período de trégua e de paz. É daqui que surge a expressão “presente de grego”, que faz referência à realidade das aparências e se aplica a sem número de atividades a situações concretas da vida. É o famoso “parece mas não é”. O cavalo era imponente e belo mas escondia, dentro da estrutura construída, os soldados que levariam Troia a pique.

Pois bem.

Hoje no Brasil, nos círculos evangélicos, aparece a chamada missão integral. Missão integral é um movimento de reinterpretação da atuação da igreja na sociedade e que tem crescido de importância nesse meio cristão.

Para C. René Padilla, uma das principais vozes desse movimento na América Latina e que influencia muitos no Brasil, missão integral é (Extraído do livro “O que é missão integral?”, Ultimato, 2009):

“…o meio designado por Deus para cumprir na história, por meio da Igreja e no poder do Espírito, seu propósito de amor e justiça revelado em Jesus Cristo” (p. 21 e 22)

Veja que a definição é perfeita, bela e imponente, no sentido de que se impõe. A definição atrai o leitor, inclusive é uma formulação trinitária. Isso fisga o cristão.

O conceito elaborado por Padilla, muito atrativo, é ponto de partida para minha sugestão de que a missão integral é um cavalo-de-troia teológico. Ela tem aparência de imponência e beleza, entretanto contém dentro de si os germes da destruição e da negação do próprio Evangelho. Isso porque se associa ao marxismo, ainda que seja “apenas” para colher instrumental metodológico na abordagem da realidade.

A imponência e a beleza da missão integral estariam na recuperação da tradição profética de Israel, que é a gênese da caridade cristã. Adiante, trago um pouco disso (Bíblia de Genebra, Cultura Cristã e SBB, 1999):

Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas. (Isaías 1,17)

Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Israel e por quatro, não sustarei o castigo, porque os juízes vendem o justo por dinheiro e condenam o necessitado por causa de um par de sandálias. (Amós 2,6)

Muito mais poderia ser trazido acerca dos profetas. Embora o contexto mais amplo da leitura deles mostre ligação entre justiça terrestre e elemento espiritual, o fato é que nenhum cristão de sã consciência pode se opor a esse traço “social” do ensino dos profetas. Só um louco, mal intencionado ou ignorante o faria.

Todavia, há o perigo. É quando surge o aspecto “bélico” do cavalo-de-troia de René Padilla e dos divulgadores da missão integral no Brasil (os mais conhecidos são Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz e Valdir Steuernagel).

Antes de avançar, porém, aviso que, no terreno pessoal, nada tenho contra esses pastores-teólogos. Pelo contrário, conheço gente que teve e tem contato com eles e as referências pessoais deles são boas. Minha ponderação é sobre a proposta da missão integral, que esses mestres advogam.

Voltando ao assunto, o aspecto sutil e que acompanha o “presente” missão integral é a tropa escondida do marxismo que, de ordinário, tem vindo com ela. Não é novidade para ninguém que o pensamento de Marx é antirreligioso na origem e que se contrapõe frontalmente à ideia de Revelação. Além do famoso e desgastado “a religião é o ópio do povo”, ensina também Marx:

“a autoconsciência do homem é a mais alta divindade que existe.” (“As Idéias de Marx”, David McLellan, Cultrix, 9ª Ed. 1993, p. 35)

René Padilla, por sua vez, se expressa assim sobre revolução:

“Nossa tarefa prioritária é criar consciência entre nós mesmos de nossa vocação revolucionária, estudando a fundo tanto a mensagem bíblica como as condições de vida das massas populares” (p. 46)

“Além disso, os feitos históricos dos últimos anos deixaram de se basear na utopia marxista de uma nova sociedade que seria criada por meio da ‘revolução do proletariado’. No entanto, ainda prevalece a necessidade de, como cristãos, vivermos nossa vocação revolucionária, atentos ao desafio de manter unidas a palavra e a ação na missão cristã” (p. 49).

Padilla entende que existe vocação revolucionária do cristão, mesmo lamentando que a utopia marxista tradicional, leninista, revolucionária, tenha de alguma forma capitulado. O convite de Padilla é para a revolução. Sobre isso, não há dúvida. Assim como não há dúvida, no contexto latino-americano e desse trecho de Padilla, da ligação da expressão “revolução” com marxismo.

No meu entendimento, porém, marxismo mesclado a cristianismo é como quadrado redondo, não dá sequer pra conceber. São opostos. O ponto de partida de Marx é que não há Deus, muito menos revelação; o ponto de partida do cristianismo é: – há Deus e Ele se revela.

Muitos ignoram que o judeu da dispersão tinha uma rede de ação social muito boa no primeiro século e que o cristianismo também a teve por muito tempo antes de Marx nascer. Por que, então, insistir numa doutrina e movimento contrários à Revelação da Escritura?

Afinal, muitas propostas morais que afrontam a Escritura e a compreensão das igrejas evangélicas de hoje – ideologia de gênero, aborto indiscriminado, enfraquecimento da autoridade – tem raízes e apoio no marxismo e em partidos de esquerda.

Por que insistir nisso?

A missão integral, quer seus advogados queiram ou não, traz em si o aspecto externo da boa teologia dos profetas hebreus, mas traz também, no lado de dentro, a ideologia marxista.

Para encerrar, pergunto mais uma vez: por que insistir nesse cavalo-de-troia teológico (nesse “parece, mas não é”), que ajuda a difundir – ainda que indiretamente – no meio evangélico, o marxismo?

Por Pr. Marcos Paulo do site voltemosadireita.com.br/ em 29/12/2015

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