Maria é a mãe de Deus ou apenas mãe de Jesus homem?
De um lado a teologia católica argumenta em prol de sua tese o seguinte pressuposto:
Se Jesus é Deus e Maria gerou Jesus, logo Maria é mãe de Deus.
Jesus não é metade Deus e metade homem, ele é 100% Deus e 100% homem, logo Maria é mãe de Deus.
Agarra-se ainda na tradição da igreja e na devoção popular.
Silogismos e Erros de Raciocínio
Como bem sabe qualquer estudante de teologia, este é um silogismo válido no campo da lógica. Todavia, é bom saber que existem vários tipos de silogismos.
Existem silogismos cujas premissas são verdadeiras e as conclusões também. Eis um deles:
Deus não pode errar.
A Bíblias é a Palavra de Deus.
Portanto, a Bíblia está isenta de erros.
Se as premissas são verdadeiras as conclusões também o serão.
Por outro lado, existem também, silogismos cujas premissas são verdadeiras, mas as conclusões falsas. Eis um exemplo:
Jesus era um ser humano.
Os seres humanos pecam.
Logo, Jesus pecou.
Todo estudante de lógica saberia que esta premissa apesar de ser válida não é verdadeira. A Pessoa erra raciocinando mal com dados corretos.
Quando o silogismo leva a pessoa ao erro dizemos que tal processo se transformou em um sofisma.
O sofisma tem como objetivo induzir a audiência ao engano, o raciocínio falacioso decorre de uma falha de quem argumenta.
O erro pode, portanto, resultar de um vício de forma – raciocinar mal com dados corretos – ou de matéria – raciocinar bem com dados falsos.
Para sabermos se as conclusões de uma premissa teológica são verdadeiras ou não, devemos analisar todo o seu silogismo através da Bíblia Sagrada. Ela irá mostrar onde a lógica se perde ou se confirma.
Raciocinando com as Escrituras
Será que o silogismo católico quanto a Maria ser a Mãe de Deus procede?
Maria é mãe de Jesus
Jesus é Deus
Logo, Maria é mãe de Deus
Terá ele apoio bíblico como confirmação? Observe logo abaixo porque esta resposta tem de ser respondida na negativa.
Primeiro, falta prova escriturística. A Bíblia nunca menciona Maria como a Mãe de Deus, mas sempre como “Mãe de Jesus” meter ton Iesous. Se tal doutrina fosse algo desembaraçado e fácil de constatar como alegam os católicos é claro que nenhum dos evangelistas e apóstolos deixariam de mencionar este pormenor nas escrituras. Eles deixariam explícito que Maria é Mãe de Deus. Mas não foi este o caso. Maria deve ser corretamente chamada, assim como mostra a Bíblia, de “Mãe de Jesus” João 2.1-3 – 19.25; Atos 1.14. Esse título Mãe de Deus nasceu numa confusão teológica no ano 431 ou seja, no 4º século, ou 3 séculos após a morte do último apóstolo como veremos mais adiante. Demais disso, Jesus é o nome humano da 2ª pessoa da Trindade, aliás, este nome, tudo indica, será mudado conforme Ap. 3.12.
Segundo, Falta unânime prova histórica nos escritos primitivos: Nenhum pai da igreja anterior ao século II jamais se referiu a Maria com essa conotação distintivamente católica. Há aqueles que defendiam a perpétua virgindade de Maria, por influencias extrabíblicas, mas não todos…
Terceiro, falta prova lógica. Maria apenas foi um receptáculo para o corpo humano de Jesus. Não se pode provar que a semente vinda de Deus fecundou o óvulo de Maria. Isso são apenas conjecturas sem provas. Assim como tudo foi um milagre em sua concepção, Jesus também poderia ter sido preservado sem ter que se alimentar durante a vida uterina.
Outra: Deus não tem mãe, apenas Pai. O credo Atanasiano diz que o Filho procede do Pai, “Deus de Deus”, em nem um momento menciona Maria. Apesar de Jesus ser único em sua natureza, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, o caso é que a Bíblia nunca chama Maria de Mãe de Deus e isto é prova definitiva contra este termo mal cunhado pela Igreja Católica. O Concílio de Éfeso
Um dos motivos desse entendimento católico se dá devido à interpretação incorreta do título Theotókos (mãe de Deus) dado a Maria. No Evangelho de João 2.1-2, diz: mãe de Jesus, que na língua grega como já vimos é meter ton Iesous. O título Mãe de Deus do grego Theotókos, foi dado a Maria no Concílio de Éfeso, em 431 a.C.
O concílio foi aberto irregularmente por Cirilo e Menom de Éfeso, sob os protestos de Nestório.
A finalidade de Cirilo era combater as concepções nestorianas sobre a Pessoa de Cristo. concepções que salientavam duas hipóstases na Pessoa de Cristo. praticamente levando à idéia de duas pessoas em Cristo. Por isso, querendo salientar a unidade divina/humana da Pessoa de Cristo. Cirilo falou em Theotókos, palavra impropriamente traduzida por Mãe de Deus”. Como lembra I-Ienrv Bettenson, Theotókos quer dizer Deípara. “termo menos assustador do que o português mãe de Deus”: realçava mais a deidade do Filho do que o privilégio da mãe” (Documnenios dci Igreja Cristã. ASTE, S. Paulo. 1967, p. 80). Exaltava a pessoa de Jesus, reafirmando sua divindade (basta verificar nos documentos da Igreja Os Anátemas de Cirilo de Alexandria, que toda ênfase é dada à pessoa de Jesus).
O importante documento intitulado Tomo de Leão declara: “o Senhor tomou da mãe a natureza, não a culpa”. Leão, bispo de Roma (440-461), acreditava que Maria deu a Jesus a natureza humana e não cria na Imaculada Concepção de Maria, já que ele acertadamente diz que o Filho não herdou a culpa da mãe. Finalmente, temos de considerar ainda que o título Theotókos foi aplicado como: mãe de Deus, segundo a humanidade.
Assim disse o Concílio de Calcedônia: em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado, gerado, segundo a divindade, antes dos séculos pela Paz, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]. Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis (“Definição de Calcedônia”- 451).
Portanto, o título dado a Maria não tencionava ensinar que, de alguma maneira misteriosa, Maria dera à luz a Deus; o termo fazia parte de um argumento contra a cristologia duvidosa dos nestorianos. A intenção da mensagem era: Maria não deu à luz a um mero homem. Mas não havia qualquer intenção de ensinar que Maria era a origem da natureza divina de Cristo. Assim sendo, Maria não possui atributos divinos. Os títulos Redentor; Advogado; Refúgio dos Pecadores; Salvador; Mediador etc. são exclusivos do Senhor Jesus (Mt 1.21; 1 Jo 2.1; Mt 11.28-30; Jo 14.6; 1 Co 3.11; 1 Tm 2.5), nunca deve ser aplicado à sua mãe.
Nos Bastidores do Concílio
Depois de muita confusão, João de Damasco chegou, fez a abertura oficial do concílio e depôs e excomungou Menom e Cirilo.
Tão confuso e tão marcado por partidarismo de grupos foi o tal Concílio de Éfeso” que um dos seus participantes, ‘Feodoreto (opp. iv: 1335. apud História de las Doctrinas, de Reinhold Seebers, tradução de José Miguez Bonino, Casa Bautista de Publicaciones, Tomo 1. p. 265), descrevendo aquele concílio, afirmou: Nenhum comediógrafo jamais compôs uma farsa tão ridícula;nenhum dramaturgo trágico uma tragédia tão lúgubre”.
Os pontos cristológicos fundamentais (sobre a Pessoa de Cristo) foram extraordinariamente definidos pelo Concílio de Calcedônia, em 451, quando foram rejeitados os exageros de Cirilo, que constam em seus “anátemas” a Nestório, e foram rejeitados os conceitos nestorianos (exagerada separação das duas naturezas em Cristo) e eutiquianos (exagerada união — praticamente fusão das duas naturezas em Cristo). A palavra Theotókos referente à Maria é colocada em termos mais apropriados. Houve conflitos posteriores, que mostram que os “pais da Igreja” e os concílios erraram e se contradisseram não poucas vezes, e a própria definição de Calcedônia sofreu reveses, apesar de seus méritos indiscutíveis (ver Creeds qf íhe Churches. edit. por John LI. Leith, Nova York, Doub]eday & Company, mc., 1963, p. 34-35). Esses conflitos, erros e contradições confirmam a tese de Cristo de que infalível é a Palavra de Deus (João 10:35) e que as Escrituras Sagradas devem ser a pedra de toque para distinguir entre a verdade e o erro.
Demais disso, devemos levar em consideração o fato de que há 3 séculos atrás o apóstolo Paulo havia duelado com os seguidores de um outro ícone feminino – Diana dos Efésios, Atos 19. Maria tomou lugar de Diana na devoção popular, principalmente na ala feminina.
Os Paradoxos Cristológicos
A questão em lide é apenas uma dos muitos paradoxos teológicos que envolvem a pessoa de Jesus Cristo: Cristo é Deus e homem ao mesmo tempo. Todavia, existem coisas que ele fez não como Deus, mas como homem apenas, por outro lado existem coisas que ele fez não como homem, mas como Deus, à guisa de conhecimento – perdoar pecados.
Isaías diz que um menino frágil nasceria de uma virgem, mas este menino frágil também é o Deus Poderoso. Deus é Um, mas Jesus é a terceira pessoa da Trindade e assim por diante.
Jesus como Deus não morreu, mas Jesus como homem morreu. Jesus como Deus não se cansa, mas Jesus como homem se cansava; Jesus como Deus sabe todas as coisas, mas Jesus como homem não sabia o dia de sua volta. Assim também Jesus é Deus, mas Maria é apenas mãe de Jesus Cristo – homem. Caso contrário, poderíamos com muita justiça também chamar seu pai José, de pai ou padrasto de Deus, e seus irmãos e irmãs, de irmãos de Deus o que seria um absurdo!
Conclusão
Reflita um pouco: não é por que o cavalo tem quatro patas que todos os animais de quatro patas tem de forçosamente serem todos cavalos. Jesus como Deus nunca foi tentado mas como homem sim, foi tentando em tudo. Assim também Jesus é Deus e homem em uma só pessoa, mas Maria é apenas mãe do homem Jesus. Pode parecer contraditório, mas este faz parte dos muitos mistérios que envolvem a pessoa do Filho de Deus!