E eles cantavam um cântico novo: “Tu és digno de receber o livro e abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5:9).
Nós te enviamos como testemunha e como anunciador de boas e como admoestador. Para que vós, habitantes de Meca, acrediteis em Deus e no Seu Mensageiro e possais socorrê-los e honrá-los e glorificar Deus pela manhã e à noite (surata 48:8-9).
LÍDERES EXIGEM OBEDIÊNCIA. Qualquer grande religião deve ser conhecida, em primeiro lugar, por intermédio dos olhos do seu fundador. Tanto no cristianismo quanto no islã, os fundadores requerem respeito e submissão. Tanto Maomé quanto Cristo disseram a seus seguidores para dar ouvidos a suas palavras e observar suas vidas como um modelo para agradar a Deus. Paulo diz aos cristãos em Filipenses capítulo 2 verso 5: “Seja a atitude de vocês a mesma que houve em Cristo Jesus”. No Alcorão, o profeta explica: “O Mensageiro de Deus é um belo exemplo para os que confiam em Deus e que no último dia recordam Deus com freqüência” (surata 33:21).
O exemplos não precisam ser seguidos meticulosa e precisamente em cada uma das religiões. Mas os discípulos devem ser aptos a confiar nos mandamentos e ensinos de seu líder. O primeiro critério para avaliar o valor do islã ou do cristianismo é determinar se Maomé e Jesus Cristo são modelos dignos.
Visto que os muçulmanos e não-muçulmanos têm escrito biografias grandemente divergentes de Maomé, a fonte de informação primária é a mais segura. Uma das fontes disponíveis mais confiáveis é o Hadith, a tradição oral que os muçulmanos tem guardado com muito cuidado quase desde os dias da vida do profeta.
A VIDA
Nascimento, infância e tragédia
O cristianismo e o islã ensinam que Jesus nasceu da virgem Maria. A origem de Maomé é mais complexa e menos favorecida do que a infância de Cristo com José e Maria. Nascido em torno de 570 d.C, em Meca, Maomé fazia parte de uma tribo cujo dever era guardar a Caaba, a pedra usada para diversas oferendas a deidades pagãs. Abdulá, o pai de Maomé, morreu antes de seu nascimento e sua mãe, Amina, morreu quando Maomé tinha apenas seis anos de idade. O avô, Abd al-Muttalib, cuidou do menino por dois anos e depois também morreu. Finalmente, o tio de Maomé, Abu Talib, tomou conta dele. Apesar de todas as calamidades que ocorreram com Maomé, ele teve uma infância normal, com a exceção de nunca ter participado das atividades pagãs em Meca.
O amor da sua vida
Ó Profeta, dize a tuas esposas: “Se é a vida terrena que quereis, com seus adornos, vinde: dar-vos-ei vossa provisão e libertarvos-ei com benevolência” (surata 33:28).
De acordo com Fahd no Santo Alcorão, as esposas (de pureza) se referem às esposas do santo profeta. Elas foram mulheres extraordinárias que tinham deveres especiais e responsabilidades devido a seu casamento com Maomé.
Quando jovem, Maomé recebeu o patrocínio de uma viúva rica, Khadija e conduziu uma bem-sucedida caravana comercial para a Síria. Em seguida, casou-se com Khadija, que era quinze anos mais velha do que ele. O casamento foi bom para ambos, embora seus dois filhos homens tenham morrido na infância. Eles também tiveram quatro filhas, duas das quais casaram-se com futuros califas, líderes espirituais e políticos do islã.
Khadija morreu quando Maomé tinha cinqüenta anos. Por 25 anos, Maomé conheceu apenas uma mulher, que foi o amor da sua vida e seu maior apoio. Maomé era, na verdade, exceção em sua cultura. A maioria dos homens de posição elevada tinha inúmeras mulheres. Somente mais tarde, Maomé teve mais onze mulheres como esposas e concubinas, a mais jovem das quais tinha nove anos quando consumaram o casamento.
A primeira revelação: divina ou demoníaca?
Dize: “Não sou um inovador entre os Mensageiros. Eu não sei o que será feito de mim e de vós. Não faço senão seguir o que me é revelado. Sou apenas um admoestador fidedigno” (surata 46:9).
Graças a seu casamento financeiramente confortável, Maomé desfrutou quinze anos de tempo livre para meditar. Quando tinha quarenta anos, ele acreditou que o anjo Gabriel o chamou para ser o último profeta e o de maior autoridade. A narrativa mais aceita relata:
Na noite em que Deus o honrou com sua missão e mostrou misericórdia ao seu servo, Gabriel trouxe a ele o mandamento de Deus. “Ele veio a mim”, diz o Apóstolo de Deus, “enquanto eu estava dormindo, com uma colcha decorada sobre a qual tinha algo escrito, e disse: ‘Recita!’. Eu disse: ‘O que devo recitar?’. Ele me comprimiu com ela tão firmemente que eu pensei que era a morte; então ele me deixou ir e disse: ‘Recita!’. Eu disse: ‘O que devo recitar?’. Ele me comprimiu com a colcha novamente e eu pensei que era a morte; então ele me deixou ir e disse‘Recita!’. Eu disse: ‘O que devo recitar?’. disse: ‘O que devo recitar?’. Ele me comprimiu com ela pela terceira vez e eu pensei que era a morte e ele disse: ‘Recita!’. Eu disse: ‘O que, então, devo recitar?’ eu disse isto apenas para libertar-me dele, a fim de que não voltasse a fazer a mesma coisa comigo. Ele disse: ‘Recita em nome do teu Senhor que criou, criou o homem de sangue coagulado. Recita! O teu Senhor é o mais generoso, Que ensinou com a pena, Ensinou ao homem o que não sabia’ [surata 96:1-5]. Assim eu recitei o que estava escrito, e ele me deixou. E eu acordei do meu sono e foi como se estas palavras tivessem sido escritas em meu coração” 2.
O “chamado” de Maomé cria dificuldades. O futuro profeta expressa ceticismo em relação ao encontro, embora ele tenha visto um dos arcanjos de Deus em sua visão. Por que o maior dos profetas duvidaria da validade de sua própria visão? Duas possíveis razões podem ser citadas: ou, por um lado, Maomé era fraco e ingênuo demais para entender a profecia; ou, por outro, Alá não se revelou claramente, ou não entendia a fraqueza do homem. Maomé estava com um medo mortal acerca da fonte da revelação, acreditando inicialmente que ele estava possuído por um espírito mal ou djim. Ele contou a sua confiável esposa o que tinha experimentado. O relato, descrito no Hadith de Sahih Al-Bukhari, explica:
Então o Apóstolo de Alá retomou com a Inspiração e com seu coração batendo aceleradamente. Ele foi falar com Khadija bint Khuwailid e disse: “Cubra-me! Cubra-me!”. Eles o cobriram até que seu medo passasse e depois contou a ela o que aconteceu e disse: “Eu temo que alguma coisa possa acontecer comigo”. Khadija respondeu: “Nunca! Por Alá, ele nunca causará desgraça a você. – Mantenha boas relações com sua parentela, ajude os pobres e os desamparados, sirva seus hóspedes generosamente e auxilie os honestos atingidos pela miséria” (Hadith 1:1,3).
Para aqueles que deveriam seguir o modelo de fé do fundador de sua religião, as dúvidas de Maomé são preocupantes: por que o maior profeta duvida da fonte de sua própria revelação profética? Os profetas da Bíblia ocasionalmente se perguntam como Deus demonstrará suas palavras, mas nunca houve dúvida alguma de que ele havia falado. Certamente, nenhum grande profeta da Bíblia atribuiu a revelação de Deus a demônios, como foi o caso de Maomé, que acreditava que estava possuído por um demônio depois de receber a revelação de Alá.
Finalmente, a teologia islâmica afirma que as mulheres são intelectualmente inferiores aos homens. Um Hadith explica: “O Profeta disse: ‘O testemunho de uma mulher não equivale à metade do testemunho de um homem?’. As mulheres responderam: ‘Sim’. Ele disse: ‘Isto é por causa da deficiência da mente de uma mulher’ ”. No entanto, foi Khadija que confirmou as revelações de Maomé.
É importante mencionar que Maomé recebeu sua primeira visão no mês do ramadã, o mês sagrado do islã, quando os muçulmanos fazem jejum de comida e bebida, abstinência sexual e de outras atividades. Portanto, quando alguém ataca a visão de Maomé, está atacando o mês mais sagrado do calendário islâmico.
Mais revelações
Eles o chamarão de mentiroso. Eles o perseguirão; eles o banirão e eles lutarão contra você (Waraqa para Maomé).
Depois de sua primeira revelação, Alá ficou em silêncio por cerca de três anos. O profeta ficou desesperado, pois tinha dúvidas, de que Alá estivesse se agradando de sua conduta e obediência.
Mesmo sua fiel esposa Khadija perguntou: “Não parece que o seu Senhor está descontente com você?”. Maomé procurou conforto em seu refúgio favorito – o monte Hira. Ali, o profeta experimentou a escura noite de sua alma, chegando a pensar em pular do monte e acabar com a vida. De acordo com um biógrafo muçulmano, no entanto, o profeta experimentou a paz por meio das palavras de Alá:
Como as asas da manhã e da noite se estendem sobre o mundo em paz, seu Senhor não abandonou você; nem está descontente com você. Certamente, o fim lhe será melhor do que o início. Seu Senhor logo lhe mostrará sua generosidade e você ficará satisfeito. Ele não o encontrou órfão e lhe deu um abrigo? Não o encontrou errante e o guiou para á verdade?… A generosidade de seu Senhor sempre prevalece 3.
O chamado de Maomé foi finalmente confirmado depois de uma busca obsessiva de sua alma. Devido a seu estado mental, surge a pergunta óbvia se aquele chamado é confiável. Lembre que o profeta torturado acreditou repetidas vezes que estivesse possuído por um demônio. O que subitamente o convenceu de que agora recebia o que desejava tão desesperadamente – a autêntica voz de Deus?
Em primeiro lugar, o desejo de sua esposa precisa ser avaliado. Ela renovou a confiança do marido de que ele seria “o Profeta desta nação”.
Em segundo lugar, a confirmação das revelações pode ser questionada. As esposas de Maomé acreditavam que as visões eram autênticas devido às convulsões incontroláveis de Maomé. Aishah, a esposa mais jovem, racionalizou:
Pensando que algo nefasto pudesse acontecer, todos na sala estavam com medo, exceto eu. Eu não estava com medo de coisa alguma, sabendo que era inocente e que Deus não seria injusto comigo. Quanto a meus pais, quando o Profeta recobrou-se da convulsão, eles estavam tão pálidos a ponto de morrer antes que o mexerico pudesse ser provado como verdadeiro. Depois que Maomé se recuperou, ele sentou-se e começou a enxugar o suor da testa. Ele disse: “Boas notícias! Ó, Aishah, Deus enviou provas de sua inocência” 4.
Em terceiro lugar, revelações posteriores tornaram-se cada vez mais excêntricas. Em um dado momento, Maomé afirmou ter falado com os mortos. Questionado acerca do incidente por seus discípulos novatos, o profeta respondeu: “[Os mortos] me ouvem tanto quanto vocês, exceto que são incapazes de me responder”. Maomé não só afirmava que se comunicava com os mortos, como também orava pelos mortos no cemitério de Baqi aI Gharqad. Estudiosos muçulmanos não dão explicações sobre esse fenômeno. Ao contrário, acreditam que ele era um paranormal, dotado de percepção e sensibilidade muito elevadas. Um autor diz que a comunicação entre os vivos e os mortos é um “fato indubitável” 5.
Maomé oscilava entre as revelações de Satanás e de Alá. A mais famosa dessas visões resultou nos conhecidos “versos satânicos”. Maomé revelava a seus seguidores as palavras de Alá:
Vocês consideraram al-hat e al-Uzza
E al-Manat, o terceiro, o outro?
Estes são os poetas exaltados;
Suas intercessões são esperadas;
Seus gostos não são negligenciados 6.
Essa revelação, ordenando que permitissem a intercessão a certos ídolos, chocou os discípulos de Maomé. Reconhecendo a discrepância teológica e a concessão ao paganismo, Maomé retirou sua revelação, explicando que Satanás o havia induzido a escrever os versos. O anjo Gabriel foi ao profeta e declarou: “Deus cancela o que Satanás insere”. Como era de esperar, Maomé prontamente recebeu outra revelação que cancelava as últimas três linhas (versos).
Em quarto lugar, Maomé sentia a necessidade de aperfeiçoar as palavras de Alá, visto que ele substituiu a sabedoria de Alá por sua própria sabedoria em várias ocasiões. Um hadith fala das correções descuidadas de Maomé:
Em uma série de ocasiões ele tinha, com o consentimento do Profeta, mudado as palavras de certos versos. Por exemplo, quando o Profeta tinha dito: “E Deus é poderoso e sábio” [‘aziz, hakim], ‘Abdollah b. Abi Sarh sugeriu escrever “conhecedor e sábio” [‘alim, hakim], e o Profeta respondeu que não havia objeção. Tendo observado uma sucessão de mudanças desse tipo, ‘Abdollah renunciou ao islã pelo fato de que as revelações transmitidas por Deus não poderiam ser mudadas por um escriba como era seu caso. Depois de sua apostasia, ele foi a Meca e uniu-se aos coraixitas 7.
Quase quatrocentos anos mais tarde, o pesquisador curioso deve fazer a mesma pergunta do escriba ‘Abdollah: como pode um simples mensageiro de Alá ter o direito, o poder ou a arrogância de mudar as próprias palavras de Deus? Mesmo se a fonte fosse o próprio Deus, o Alcorão não pode ser de confiança, visto que seu autor humano foi descuidado e desatencioso com a revelação.
Considere que ‘Abdollah uniu-se aos coraixitas, que se devotavam à adoração do deus lua. Para ‘Abdollah, a teologia politeísta contra a qual Maomé estava lutando tinha se tornado mais convincente do que o novo monoteísmo.
Perseguição e tentativa de assassinato
Quando Maomé proclamou aos habitantes de Meca que suas deusas eram simples mitos e que Alá era o único deus verdadeiro, foi perseguido de imediato. Pouco tempo depois, sua esposa Khadija morreu, e também seu maior benfeitor, Abu Talib. Sem, a proteção deles, nem mesmo os homens de sua própria tribo se dispuseram a intervir em favor do profeta. A investida contra Maomé começou com uma disputa verbal e expressões de indignação. As pessoas acusavam o homem que se autoproclamou profeta de ser lunático, mentiroso e endemoninhado. Não se sentindo seguro em Meca, Maomé teve de buscar refúgio em outro lugar.
Antes de deixar Meca, Maomé afirmou ter sido transladado para o reino do céu, passando primeiro pelas terras ao redor de Jerusalém. Ali ele encontrou todos os grandes profetas, incluindo Moisés e Jesus. Alá usou essa jornada fantástica para explicar a seu profeta as orações diárias da adoração islâmica. Foi a gota d’água para muitos em Meca. Eles queriam ver aquele estranho profeta longe dali. Dois anos depois, em 621, alguns homens de Medina secretamente aceitaram a fé do islã na peregrinação anual a Caaba. No ano seguinte, o grupo recebeu novos adeptos que estavam zelosamente comprometidos com seu líder, a ponto de se dispor a morrer por ele como o fariam pelas suas próprias famílias.
Essa seita, que crescia gradualmente, enfureceu os líderes de Meca. Para eliminar essa nova religião, delinearam um plano para assassinar Maomé, acreditando que matando o profeta, a nova fé inventada também seria erradicada. No entanto, essa decisão tornou-se o ponto de partida cronológico e teológico da fé islâmica. Os muçulmanos hoje começam seu calendário lunar com a fuga (Hégira) de Maomé de Meca. Os muçulmanos consideram a proteção de Maomé por Alá durante essa perseguição como uma confirmação de sua fé.
Maomé e seu melhor amigo, Abu Bakr, escaparam de seus assassinos e chegaram em segurança a Medina, em 24 de setembro de 622. Aqui o novo grupo de crentes em Alá foi bem recebido em uma área que era conhecida pela forte tradição do monoteísmo judaico. O profeta aclimatou-se rapidamente a esses costumes culturais. Seguindo o exemplo dos judeus, os muçulmanos se voltavam para Jerusalém (não Meca) quando oravam a Alá, e os muçulmanos também adotaram o dia da propiciação judaico como o dia de jejum na comunidade islâmica.
Maomé, em pouco tempo, unificou uma região dividida em facções. Ele ensinou os cidadãos a viver em paz e a se protegerem mutuamente de inimigos externos. Os judeus, no entanto, logo perceberam as contradições entre a Escritura hebraica e o Alcorão e rejeitaram a mensagem e autoridade de Maomé. O Alcorão é ofensivo em sua avaliação sobre os judeus.
Dos adeptos do Livro [judeus e cristãos], combatei os que não crêem em Deus [Alá] nem no último dia e não proíbem o que Deus e Seu Mensageiro proibiram e não seguem a verdadeira religião – até que paguem, humilhados, o tributo (surata 9:29).
Encontrarás nos judeus e nos idólatras os inimigos mais duros dos crentes [muçulmanos] (surata 5:82a).
Os descrentes dentre os adeptos do Livro e os idólatras irão para o fogo da Geena onde permanecerão para todo o sempre. São eles as piores de todas as criaturas (surata 98:6).
O LEGADO
Jihad
Maomé havia unificado a região, no entanto, perdera a capacidade de prover seu próprio sustento. Já não podia mais sustentar sua família financeiramente por intermédio do comércio em caravanas. Portanto, os muçulmanos começaram a atacar caravanas para conseguir dinheiro. Eles se sentiam justificados a praticar esse tipo de ataques, visto que seus inimigos os haviam expulsado de suas casas; eles se tornaram combatentes a serviço de Alá. Nem todos os novos crentes estavam dispostos a fazer uso da espada para conseguir poder e governo teocrático. Por meio do profeta-guerreiro Maomé, Alá prometeu incentivos àqueles que lutassem a serviço de Alá.
Não há igualdade entre os crentes que permanecem em casa, sem serem inválidos, e os que combatem [jilzad]e arriscam bens e vida a serviço de Deus. Deus eleva os que lutam por Ele com seus bens e sua vida um grau acima dos outros [que permanecem em casa]. A todos, Deus promete excelente recompensa, mas conferirá aos combatentes paga superior à dos que permanecem em casa: Honrarias e o perdão de Deus e Sua clemência. Deus é indulgente e misericordioso (surata 4:95-96).
Aqueles que deixaram suas terras e foram expulsos de suas casas e perseguidos por Minha causa e sofreram danos e combateram e foram mortos, absolvê-los-ei dos pecados e os conduzirei a jardins onde correm os rios: uma recompensa de Deus. Deus dá grandes recompensas (surata 3:195).
O próprio Maomé deu o exemplo para o jihad (guerra santa; luta). Não havia uma conclamação governamental para a guerra, somente o desejo individual que levava às maiores recompensas no céu. Não havia também muito espaço para valores éticos. Qualquer coisa que os muçulmanos fizessem era justificado, visto que sua causa era justa. Os islamitas acreditavam que receberiam perdão por todos seus pecados somente ao lutar no jihad. Portanto, não deveria causar espanto que a guerra santa continue sendo uma convocação profética.
Maomé deu sua prescrição para a vitória, de acordo com o Alcorão, com significado eterno:
A guerra foi-vos prescrita, e vós a detestais. Mas quantas coisas detestais que acabam vos beneficiando, e quantas coisas amais que acabam vos prejudicando! Deus sabe, e vós não sabeis. […] Mas expulsar dos lugares santos os seus habitantes é uma transgressão maior ainda, pois o erro é pior que a matança. Ora, não pararão de vos combater até que vos levem, se puderem, a renegar vossa religião (surata 2:216-217).
As expedições militares de Maomé
Mas quando os meses sagrados tiverem transcorrido, matai os idólatras onde quer que os encontreis, e capturai-os e cercai-os e usai de emboscadas contra eles (surata 9:5).
Os muçulmanos sabem claramente contra quem devem combater: “Combatei os que não crêem em Deus nem no último dia” (surata 9:29). Essa admoestação somente acabará quando os inimigos forem “subjugados” e pagarem uma compensação contínua pela proteção islâmica. Esse programa de tributos une eternamente o islã ao Estado. Assim, a segurança de qualquer não muçulmano está nas mãos do mesmo muçulmano militante a quem é prometido o céu por matar o descrente. O Hadith explica que nenhum muçulmano que mata um infiel merece a morte.
A maior diferença entre Jesus Cristo, como Deus e Salvador, e Maomé, como profeta de Alá, se encontra neste ponto. Jesus Cristo derramou seu próprio sangue na cruz para que as pessoas pudessem ter acesso a Deus. Maomé derramou o sangue de outras pessoas para que seus seguidores pudessem ter poder político por toda a península arábica. Além disso, já que Maomé é visto como “um belo exemplo para os que confiam em Deus e no último dia” (surata 33:21), não precisamos procurar em outros lugares a explicação para os atos violentos dentro do islã além do próprio caráter de seu fundador. Será que Maomé era um homem de paz que derramou o sangue de pessoas somente como um último recurso? Quando ele matava os outros, seus atos faziam parte de uma guerra ou de uma vingança pessoal? A resposta a essas perguntas mancha a integridade ética da visão de mundo islâmica.
Uma batalha importante para o profeta ocorreu em Badr, em março de 624. Maomé estava liderando 300 homens contra uma grande caravana de mercadores a caminho de Meca. Conta-se que a pilhagem rendeu aos saqueadores o equivalente a 50 mil dólares (em valores atuais) – uma injeção de dinheiro necessária para a continuação de sua ação militar. Em resposta, os habitantes de Meca enviaram novecentos e cinqüenta guerreiros para desafiar os muçulmanos. Seu encontro foi uma vitória breve e convincente para os islamitas, que perderam quatorze homens. Os guerreiros de Meca perderam quarenta e cinco homens e mais setenta foram feitos prisioneiros. O profeta atribuiu a vitória ao poder de Alá. Para atrair mais homens a lutar pela causa do islã, Maomé revelava as palavras de Alá para o mensageiro: “ó Profeta, exorta os crentes ao combate. Se houver vinte dentre vós que sejam firmes, prevalecerão sobre duzentos, e se houver cem, prevalecerão sobre mil dos descrentes” (surata 8:65).
No entanto, na vitória, Maomé cometeu um ato de crueldade que demonstra sua necessidade de vingança. Entre os prisioneiros enviados para seu campo havia um poeta da Pérsia chamado Uqbah ibn Abu Muayt. Esse artista afirmava que seus contos eram mais prazerosos para se ouvir do que o Alcorão. Quando o profeta-guerreiro ordenou que ele fosse executado, o persa exclamou: “ó Maomé, se você me matar, quem vai cuidar de meus filhos?”. O profeta respondeu: “O fogo do inferno”. Outros prisioneiros tiveram melhor sorte do que a desse poeta. Muitos foram libertados sem uma pré-condição no caso de possuírem grandes famílias. Alguns foram soltos com a condição de ensinarem outros a ler e a escrever. Parecia que as ações do guerreiro eram excêntricas, dependentes de seu humor e de sua percepção sobre os defeitos do prisioneiro.
Ficava cada vez mais claro que Maomé estava progredindo e ganhando confiança. Ele e seus seguidores não toleravam mais insubordinação, nem que Maomé ou o nome de Alá fossem ridicularizados. Todo aquele que insultava o nome ou a causa de Alá era tratado com severidade. Um exemplo foi a poetisa Asma, que satirizava o profeta continuamente. Em uma noite, Umayr ibn ‘Awf, líder militar dos muçulmanos, atacou essa mulher enquanto ela estava amamentando um de seus sete filhos. Embora estivesse quase cego, ibn ‘Awf não deixou que sua inabilidade impedisse seu zelo. Arrancando o filho dos braços dela, o militante matou a mãe com prazer. Depois, ele retornou ao acampamento e contou a Maomé o que havia feito. Os estudiosos muçulmanos encontram conforto nesse acontecimento porque a tribo à qual a poetisa pertencia, Banu Khutmah, converteu-se ao islã.
O aborrecimento de Maomé com a comunidade judaica é mais claramente percebido por meio do conflito com um poeta de Meca chamado Ka’b. Filho de pai árabe e mãe judia, Ka’b criticava de modo persuasivo a incontestabilidade e o caráter do profeta. Maomé retrucou tanto intelectual quanto militarmente. Ele contratou um lírico talentoso chamado Hassan ben Thabit para enaltecer os atos de Maomé por meio do canto. Depois, ordenou a seus seguidores que eliminassem o antagonista. Certa noite, Ka’b foi arrancado de sua casa e imolado. Um dos algozes, Abu Na’ilah, agarrou Ka’b pelo cabelo, derrubou-o no chão e disse a seus amigos: “Matem o inimigo de Deus!”. Ka’b foi morto à espada.
Embora os muçulmanos parecessem invencíveis, eles logo aprenderam que a evangelização pela espada não era fácil. Na batalha de Uhud, por exemplo, os habitantes de Meca não tinham esquecido as derrotas e a humilhação em lutas anteriores. O povo de Meca também conhecia aquela região muito melhor do que os muçulmanos. A batalha que se seguiu foi violenta. O guerreiro muçulmano era particularmente conhecido pela sua crueldade: “Por Deus, matava homens, não poupando ninguém, como se fosse um enorme camelo furioso”. As forças muçulmanas usavam o grito de guerra: “Allah Akbar – Deus é grande!”. Hassan ben Thabit, o poeta de Maomé, clamava: “Nós os dispersávamos como gamos”. Mesmo as mulheres e os animais não foram poupados. Thabit escreveu mais adiante: “Nós os atacávamos golpeando, matando, punindo. […] Se a mulher Harithite não tivesse agarrado seu estandarte, teríamos levado todos para o mercado e os vendido como cabras”.
Mas a batalha mudou de rumo quando os arqueiros muçulmanos desprezaram as ordens de Maomé e ajudaram seus companheiros sitiados que estavam próximos deles. Os muçulmanos foram atacados pelos flancos pelos guerreiros tempestuosos de Meca e cercados. As mulheres de Meca, a seguir, uniram-se à causa, encorajando seus bravos homens com tamborins. Uma mulher, no meio do fervor da guerra, cortou as entranhas de um muçulmano caído e as colocou ao redor do seu corpo. Maomé e o restante dos muçulmanos recuaram para uma área mais elevada. Os guerreiros de Meca perceberam que o triunfo estava em suas mãos e acreditavam que o deus Hubal tinha sido vitorioso. Maomé gritou para seus adversários: “Deus é Altíssimo e glorioso! Nossa morte está no paraíso, a de vocês no inferno!”. Os muçulmanos foram derrotados e tiveram que se reagrupar.
Em 627, uma força da confederação árabe com dez mil homens lutou contra os muçulmanos em Medina. O povo de Meca não conseguiu atravessar o profundo fosso que havia sido cavado diante da fortaleza muçulmana; por isso retrocederam, deixando os judeus remanescentes de Medina sem proteção. Maomé, percebendo a oportunidade de exterminar a última tribo judaica, acusou os judeus de conspirar com o exército de Meca. Oitocentos homens judeus foram decapitados na extremidade de uma trincheira, um procedimento que durou o dia todo e entrou noite adentro. Alguns podem afirmar que aqueles que lutaram pela cruz de Cristo cometeram crimes semelhantes contra a humanidade durante as Cruzadas e em outras expedições militares. Mas a questão não é o que os seguidores fazem em tempo de guerra que mancha a suposta honra de Maomé ou Alá ou Cristo. Os dois lados cometeram graves violações. Na verdade, a guerra em si demonstra a extensão da pecaminosidade humana. O que estamos procurando trazer à tona é a dignidade do líder. Jesus não comandou os expedicionários sanguinários das Cruzadas. Os apologistas muçulmanos não apresentam argumentos vigorosos em favor da dignidade de Maomé quando comparam sua propensão para o derramamento de sangue com a dos exércitos cristãos, que desobedeceram as Escrituras.
Os fracassos pessoais de Maomé também são um sério problema. Embora os muçulmanos considerem Maomé um simples homem, eles o descrevem como tendo um caráter nobre, que os muçulmanos são chamados a imitar. Demasiadas vezes eles o fazem. Não é de admirar que alguns muçulmanos estão dispostos a morrer pela sua fé e que outros não sentem impedimento ético algum em matar por Alá e seu profeta. Claramente Jesus foi um profeta muito superior, cheio de paz e misericórdia. Maomé era implacável na guerra, não considerando condutas éticas quando estava no fervor da selvageria. A única vida que Jesus Cristo entregou voluntariamente foi a sua própria. Seu caráter mostra compaixão contínua e incontestável. Maomé foi inconstante e hostil com aqueles que não estavam dispostos a segui-lo.
Depois de exterminar os judeus em Medina, Maomé rapidamente avançou para seu alvo final: a conquista de Meca. Desejando governar sua cidade natal e crendo que ela era a cidade santa do islã, o profeta concentrou toda a atenção em seus inimigos. Os acontecimentos que levaram à guerra estão expostos na figura 1.
FIGURA I: OS ANOS DE SUCESSO |
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ANO |
627 |
Maomé subjuga os aliados de Meca/coraixitas.
Maomé sai com mil e quatrocentos seguidores para peregrinação a Meca.
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628 |
Maomé e os líderes de Meca assinam um tratado de paz de dez anos, concedendo permissão ao profeta para peregrinações. Finalmente, Maomé é considerado um adversário igual e não um bandido renegado. Maomé luta contra os judeus por Khaybar. Ele não acredita que pode controlar Arábia sem exterminá-los. Os judeus se rendem com a condição de permanecerem vivos e pagarem tributo anual.
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630 |
Ele casa com Sufia, uma mulher judia.
Os coraixitas quebram a trégua, matando diversos aliados de Maomé.
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Maomé estava injuriado com a quebra da trégua. Ele preparou dez mil homens para marchar contra a cidade de Meca e matar todos que resistissem. No entanto, quando chegou a Meca, o profeta não parecia inclinado a derramar sangue desnecessariamente. Maomé entrou na cidade com pouca resistência e seu maior rival, Abu Sufyan, converteu-se imediatamente ao islã. Imagens de deuses pagãos foram destruídas e a Ka’aba foi estabelecida como o centro do islã. Somente quatro pessoas foram executadas, incluindo uma poetisa, que tinha cometido o crime capital de compor poemas líricos satirizando o profeta.
Em geral, o profeta era misericordioso e benevolente, chegando a repartir igualmente o despojo obtido na guerra. Mas também era assassino, culpado de crimes contra a humanidade.
Ao analisar a vida militar de Maomé, várias observações são necessárias. Primeiro, Maomé foi menos cruel do que muitos outros guerreiros da península arábica. Segundo, o desejo de Maomé era ver seus companheiros de tribo convertidos ao islã, aos seus olhos a verdadeira religião e a única maneira de alcançar o paraíso. Terceiro, Maomé foi um incrível estrategista de guerra.
Mas as censuras surgem rapidamente. Primeiro, Maomé não tinha simpatia alguma para com seus críticos. Segundo, ele não fazia distinção entre combatentes e não combatentes: mulheres e crianças. Terceiro, a generosa misericórdia mostrada para com sua tribo de Meca não foi repetida em outros grupos. Os judeus e outras tribos não receberam a mesma benevolência. Quarto, Maomé permitiu a seus comandantes usar táticas bárbaras para subjugar o inimigo. Quinto, é significativo que ele raras vezes tenha realizado conversões, exceto por meio da coação. O alvo de Maomé era o completo controle da península árabe. Para esse fim, obrigava a conversão de todas as pessoas ao islã. Se a teimosia de grandes populações, como os judeus e os cristãos, tornava essa tática impraticável, o povo tinha de concordar em submeter-se ao islã e a seus adeptos e em pagar tributo por “sua proteção”.
Que explicações os historiadores e teólogos muçulmanos dão para essas conclusões? Muhammad Haykal, um conhecido defensor da fé islâmica, responde: “Acaso podemos comparar as nossas guerras, mesmo em proporção infinitesimal, à matança que ocorreu na primeira e segunda Grande Guerras? Acaso podemos compará-las aos acontecimentos da Revolução Francesa, ou a muitas outras revoluções que ocorreram entre as nações cristãs da Europa?” 8. Novamente, essa comparação é fraca. Primeiro, as guerras mundiais não ocorreram por motivo religioso, mas pela causa de uma paz mundial justa. Segundo, a maioria dos europeus foi para a guerra reagindo aos ataques contra sua própria soberania; eles não instigaram a guerra como foi o caso de Maomé. Seu alvo não era a conquista, mas a liberdade e a sobrevivência. Terceiro, os muçulmanos generalizam continuamente todas as atividades dos europeus ou ocidentais como representantes da ética cristã. Mas os islâmicos não percebem a ironia dessa generalização quando acusam os ocidentais de assumir que todos os terroristas são mulçumanos. Se a comparação fosse verdadeiramente equivalente, os ocidentais teriam razão em dizer que homens bombas suicidas representam o islamismo.
Precisando explicar as ações do profeta-guerreiro, Haykal arrogantemente afirma que, mesmo se todas as acusações contra Maomé fossem verdadeiras, ele poderia simplesmente “refutáIas com o argumento simples de que os grandes estão acima da lei”. Com esse raciocínio, Maomé, embora fosse apenas um profeta de Alá e seu mensageiro, estava acima do âmbito das responsabilidades e direitos humanos devido a sua “grandeza”. Ele podia matar quem quisesse e quando quisesse. Ele podia casar com mais de quatro mulheres, embora a lei islâmica na época proibisse isso. A ironia é que os estudiosos muçulmanos proclamam Maomé como alguém que deve ser ouvido e seguido. Haykal conclui: ”A vida [de Maomé] constitui o ideal mais elevado, o exemplo perfeito e a instância concreta do mandamento de seu Senhor” (grifos dos autores) 9. Será que precisamos nos perguntar de onde os militantes muçulmanos recebem sua inspiração e estímulo?
O maior perigo para os cristãos e judeus ocorreu quando eles foram subjugados e forçados a submeter-se à sociedade islâmica. Em um ambiente como esse, o conceito de pluralismo religioso e liberdade não faz sentido. A ordem do Alcorão é que qualquer pessoa culpada de “cometer excessos na terra” (surata 5:32), um julgamento totalmente subjetivo, está sujeito a uma das quatro punições:
O castigo dos que fazem a guerra a Deus e a Seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra é serem mortos ou crucificados ou terem as mãos e os pés decepados, alternadamente, ou serem exilados do país: uma desonra neste mundo e um suplício no Além (surata 5:33).
Os países muçulmanos diferem vastamente em relação à definição de “traição” contra Alá e o Estado islâmico. No exemplo perfeito de Maomé, os critérios se estendem desde a revolta violenta até a insurreição verbal. Os missionários são criminosos culpados de traição diante dessa interpretação.
PROFETA POLÍGAMO
Os homens têm autoridade sobre as mulheres pelo que Deus os fez superiores a elas e porque usam de suas posses para sustentá-las. As boas esposas são obedientes e guardam sua virtude na ausência de seu marido conforme Deus estabeleceu. Aquelas de quem temeis a rebelião, exortai-as [primeiro], [em seguida] bani-as de vossa cama e [por último] batei nelas (surata 4:34) 10.
As esposas de Maomé se orgulhavam de que ele era um grande homem, embora advogasse a idéia de bater na esposa – se bem que em casos extremos. Ele acreditava que aqueles que batiam em suas esposas não eram os “melhores entre os muçulmanos”, uma condenação dura dessa prática. Enquanto esteve casado com Khadija, sua primeira esposa, Maomé foi contra o status quo da poligamia, permanecendo monogâmico por vinte e cinco anos. No entanto, depois da batalha de Uhud, ele expandiu sua família, provavelmente devido a alianças políticas. Ao todo, casou-se com onze mulheres e teve duas concubinas (cf. figura 2).
FIGURA 2: AS ESPOSAS DE MAOMÉ |
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NOME DA ESPOSA |
ANO APROXIMADO DO CASAMENTO |
IDADE DA MULHER AO CASAR |
*Khadija |
595 |
40 |
Sawda |
620 |
30 |
Aisha |
623 |
9 |
Hafsah |
625 |
18 |
Um Salma |
626 |
29 |
Zaynab |
626 |
30 |
Juweyriyeh |
627 |
20 |
Zaynab bint Jarsh |
627 |
38 |
Rayhana (judia) |
627 |
(?) |
Maryam (cristã) |
628 |
(?) |
Um Habeeba |
628 |
35 |
Sufia |
628 |
17 |
Maimoona |
629 |
27 |
*Maomé tinha 25 anos quando se casou a primeira vez |
Maomé foi uma figura complexa. Seus padrões de fidelidade e bondade no casamento excediam a ética de seus dias entre as tribos pagãs da Península Arábica. Contudo, sua “permissão” para bater nas esposas não se enquadra nos padrões de nosso século, exceto nas sociedades muçulmanas. Sua poligamia é uma conduta aceitável no contexto histórico, quer cristão quer pagão. Mas se o padrão é aquele estabelecido em Gênesis 2:24, seu estilo de vida era pecaminoso e não deveria ser imitado. Exemplos de poligamia são encontrados nas páginas da Bíblia, mas a prática nunca foi defendida pelas Escrituras. De modo contrário, o Alcorão diz explicitamente que um homem pode ter mais de uma esposa. Em última análise, Maomé melhorou as condições das mulheres de sua época, mas aqueles melhoramentos são inadequados para o século XXI. O islã não apóia a valorização das esposas e não protege as mulheres de abusos praticados em sociedades islâmicas conservadoras atuais.
Que visão Maomé tinha de suas esposas? Ele expressou seu pensamento em certa ocasião: “Seja benevolente com as mulheres tiradas de sua costela. Se você tentar endireitar uma costela, vai quebrá-la. Aceite as mulheres como elas são, com todas as suas curvaturas”. Maomé gostava de passar o tempo com suas esposas: “Eu amo crianças pequenas, mulheres e perfume suave”. Mas ele explicou: “Nenhuma dessas coisas pode dar-me a felicidade que eu encontro na oração”. Isto explica por que Maomé passava muitas noites em pé orando, a ponto dos pés incharem, em vez de estar na cama com uma de suas inúmeras esposas.
Maomé mantinha um estilo de vida simples, mesmo depois que se tornou bem-sucedido financeiramente. Ele construiu apartamentos com tijolos de barro para suas esposas e, em certa ocasião, contou a Aishah que ela não deveria desfazer-se de nenhuma vestimenta que pudesse ser remendada. Depois de uma disputa invejosa entre as esposas, Maomé abandonou-as por um mês para meditar. Ele ponderava se deveria divorciar-se de algumas ou de todas devido às atitudes delas. De sua jornada solitária, ele trouxe uma revelação de Deus:
Ó Profeta, diga às suas esposas: se vocês desejam uma vida deste mundo com suas ostentações – vou provê-las generosamente e enviá-las para o mundo adornadas esplendidamente. Mas se vocês desejam Deus e o Profeta e o paraíso, então comportem-se como deveriam. Para aquelas que o fizerem, Deus tem preparado uma recompensa magnífica 11.
Os casamentos de Maomé podem ser separados em três categorias: amoroso, diplomático e parentescos tribais. Seu primeiro casamento com Khadija foi claramente de devoção, amor e dever mútuo.
Relações diplomáticas incluem Um Salma, uma viúva cujo marido morreu em Uhud. Maomé sabia que ela era descendente de sua tribo primitiva, e inimiga, Makhzum, e ele gostaria de se reconciliar com aquele clã e convertê-lo ao islã. Relacionamentos tribais incluem aqueles que estavam de alguma maneira aparentados a Maomé.
O mais famoso desses casamentos tribais foi com sua oitava esposa, Zaynab. Ela era prima de Maomé por parte de mãe, e um casamento foi arranjado entre Zaynab e o filho adotivo de Maomé, Zaid. Este casamento acabou se tornando infrutífero e miserável. Na verdade, os historiadores sugerem que Zaynab sempre quis casar-se com Maomé. Maomé estava preocupado com a proposta de casar-se com sua nora, embora ele racionalizasse que seu filho era apenas adotivo, e não biológico. Por conseguinte, Maomé recebeu uma revelação de Alá:
E quando disseste àquele a quem Deus conferiu favores e a quem tu conferiste favores: “Guarda tua esposa para ti e teme a Deus”, enquanto ocultavas em ti o que Deus revelaria. Agias assim por temor aos homens quando era mais decente temer a Deus. E quando Zaid satisfez seu desejo de sua mulher, nós ta demos em casamento para que os crentes soubessem que não é crime para eles casarem-se com as mulheres de seus filhos adotivos, uma vez que estes tenham satisfeito seu desejo delas. O mandamento de Deus é sempre cumprido (surata 33:37).
Assim, esse casamento devia ocorrer para destruir o tabu pagão de casar-se com alguém que tinha parentesco por adoção. Maomé afirmou que estava protegendo e cuidando de Zaid por meio do casamento. A surata citada também revela muito acerca do casamento islâmico. Incompatibilidade mútua é motivo suficiente para dissolver o casamento. Como escreve um comentarista do Alcorão: “Mas casamentos são feitos na terra, não no céu, e não faz parte do plano de Alá torturar pessoas em uma aliança que deveria ser fonte de felicidade, mas, verdadeiramente, está sendo fonte de miséria” 12.
Geralmente, as mulheres recebem direitos, mas não igualdade em relação aos homens. O Alcorão afirma: “As mulheres têm direitos correspondentes a suas obrigações; mas os homens as superam de um degrau. Deus é poderoso e sábio” (surata 2:228). Embora alguns comentaristas considerem essa superioridade proveitosa, mais uma vez as escrituras islâmicas são ambíguas, deixando a interpretação para o leitor. Perceba também que os homens podem se divorciar das mulheres, mas as esposas não têm esse tipo de direito expresso no Alcorão.
De todos os casamentos de Maomé, o mais questionado foi o com Aishah. Maomé fez um contrato de casamento com Aishah quando ela estava apenas com seis anos de idade e consumou o casamento quando ela estava com nove. Ela foi, na verdade, a única virgem de todas as mulheres com quem o profeta se casou. Aishah se tornou uma apoiadora fiel de Maomé, mas também era uma mulher muito ciumenta. Quando Alá revelou a Maomé o direito de “chamar a ti quem quiseres” (surata 33:51), a jovem mulher respondeu: “Parece-me que o Senhor se apressa em satisfazer os seus desejos”. Mas ela amava Maomé ardentemente e o serviu mesmo depois da morte dele. Ela transmitiu mais de dois mil ahadith (tradições), serviu como conselheira para os líderes muçulmanos e visitava diariamente o túmulo de seu ex-marido. Maomé morreu em seu colo, evidenciando a superioridade dela sobre as outras esposas. Ela estava apenas com dezoito anos de idade.
Como um profeta de tão nobre caráter poderia se casar com uma criança, mesmo para a cultura daquela época, permanece um mistério. Muitos encobrem esse ato. Talvez Maomé não amasse Aishah inicialmente, mas quisesse fortalecer os laços com a tribo dela. Parece improvável sugerir que Maomé queria robus tecer a comunidade islâmica emergente ao desposar uma menina de nove anos de idade. O estudioso muçulmano Haykal argumenta: “É contrário à lógica afirmar que ele poderia ter-se apaixonado por ela nessa tenra idade”. Mas isso não responde o problema ecoante: como é possível a um homem consumar o casamento com uma menina de nove anos de idade? Uma pergunta normalmente ignorada.
CENTRALIZANDO O ISLÃ: MAOMÉ E MECA
Quando Maomé conquistou Meca, foi direto para a Caaba, circundando-a sete vezes com seu camelo para depois ordenar que a porta fosse aberta. Quando entrou no santuário da pedra sagrada, tomou um ídolo tombado, feito em madeira, e espalhou o material destruído pelo chão. Depois de remover trezentos e sessenta ídolos, Maomé declarou: “’A verdade veio e a falsidade se dissipou”. Ele arrancou quadros e telas das paredes, mesmo aquelas que retratavam Cristo e a virgem Maria. Quando a Caaba ficou vazia ele falou para a tribo:
Não existe outro Deus além de Deus. Nada existe além dele; Ele cumpriu sua promessa a seu servo; Ele colocou seus inimigos em fuga. Quraysh! Deus agora tira de vocês seus ídolos E sua arrogância ancestral já não existe mais, Porque o homem se originou de Adão, E Adão se originou do pó 13.
A base do islã estava estabelecida, agora e para sempre. Maomé exigiu que todos os muçulmanos fizessem uma peregrinação à Caaba, que, até hoje, é o ponto central da fé islâmica. Anualmente, milhões vão até esse local para orar ao redor dela.
Depois desse acontecimento, as coisas mudaram rapidamente. Muitas mulheres começaram a colocar véu sobre suas faces, semelhante às esposas do profeta. Em 631, também conhecido como o “ano das delegações”, as tribos da Arábia enviaram representantes a Meca para submeter-se a Alá e seu mensageiro. Maomé enviou missionários por toda a península para converter muitas pessoas à nova fé. Seu alvo estava agora firmemente estabelecido. Espiritual e politicamente, Maomé possuía a Arábia. Lutas entre tribos foram abafadas e a comunidade solidificada debaixo do nome de Alá à medida que a fé substituía o sangue como o vínculo mais íntimo. Assim a vida islâmica permanece até hoje.
A MORTE AOS OLHOS DE MAOMÉ
Todos os homens provarão a morte. Mas só no dia da Ressurreição haverá plena retribuição. Quem for afastado do Fogo e introduzido no Paraíso, a vitória será dele. Pois a vida eterna nada é senão o gozo da ilusão (surata 3:185).
Em fevereiro de 632, o mensageiro de Alá sem saber fez sua última peregrinação de sua casa em Medina para Meca. Ali, ele falou suas últimas palavras a seus seguidores:
Ó crentes, ouçam atentamente a minhas palavras, visto que não sei se terei permissão de estar entre vocês mais um ano. Suas vidas e posses são sagradas e invioláveis [e isto vocês devem observar] uns para com os outros, até que apareçam diante do Senhor, como este dia e mês é sagrado para todos; e lembrem-se que vocês terão de apresentar-se ao Senhor que exigirá que prestem contas de suas obras. […] Ouçam as minhas palavras atentamente. Saibam que todos os muçulmanos são irmãos. Vocês formam uma irmandade; e nenhum homem deverá pegar qualquer coisa de seu irmão, a não ser o que foi dado livremente para ele. Afastem-se da injustiça. E que os que estão aqui reunidos informem àqueles que não estão aqui, que, quando ouvirem posteriormente, possam se lembrar melhor do que aqueles que agora estão me ouvindo 14.
Maomé voltou para sua casa em Medina, onde passou seus últimos dias com sua amada Aishah. Reunindo sua família e seus amigos mais íntimos, falou-lhes: “Eu tornei lei somente o que Deus me ordenou em seu Livro”. Então falou com sua filha Fátima e sua tia Safiyah e explicou: “Façam aquilo que é aceitável ao Senhor; porque verdadeiramente não tenho poder para salvá-las de maneira nenhuma”. Em 8 de junho de 632, Maomé morreu. Foi enterrado em sua casa, onde, mais tarde, foi erguida uma mesquita. Seu fiel companheiro Abu Bakr disse a seus seguidores: “Ó, muçulmanos! Se qualquer um de vocês tem adorado Maomé, então saibam que Maomé está morto. Mas, se vocês realmente adoram a Deus, então saibam que Deus está vivo e nunca vai morrer!”.
Qual, portanto, era a visão de Maomé acerca da morte? Alcorão refere-se com freqüência aos mortos, tanto aos crentes em Alá quanto aos descrentes. Para o descrente, a situação é no mínimo horrível:
Possas ver os descrentes quando os anjos da morte os receberem, batendo-lhes no rosto e nas costas e dizendo-lhes: “Provai o castigo do Fogo! Foi o que vossas mãos prepararam. Deus nunca trata injustamente Seus servos” (surata 8:50-51).
E ele tentará engoli-lo sem o conseguir. E a morte o invadirá de todos os lados; mas ele não poderá morrer. Outro suplício pesado o aguardará (surata 14:17).
Obviamente, o crente em Alá tem um destino muito mais agradável na vida após a morte:
Aos piedosos perguntar-se-á: “Que foi que vosso Senhor revelou?”. Responderão: “O melhor”. Os que praticam o bem receberão sua recompensa neste mundo. Contudo, a mansão do Além é preferível. Magnífica é a morada dos piedosos! Entrarão nos jardins do Éden nos quais correm os rios. E lá ser-lhes-á dado tudo o que desejarem. Assim Deus recompensa os piedosos (surata 16:30,31).
Na mente de Maomé, Deus predestina tanto a morte quanto a vida pós-morte. Contudo, Deus olha para as obras da pessoa. O Alcorão determina: “E no pescoço de cada homem, prendemos seu pássaro de augúrio” (surata 17:13). Portanto, Maomé dependia de suas próprias boas obras, além da misericórdia de Alá, para herdar o céu. O muçulmano não conhece o conceito do pecado original, a insistência cristã de que os homens e mulheres nascem em pecado. Em vez disso, o pecado procede da ignorância e orgulho. Maomé via Alá como completamente removido da criação pela sua santidade, mas, paradoxalmente, Alá não parece estar demasiadamente preocupado com a falta de santidade no dia do julgamento. Alá exige somente que o bem vença o mau nos pratos da balança.
UM HERÓI MODERNO?
Será que Maomé é alguém que pode ser seguido como exemplo perfeito de obediência a Deus? A resposta deve ser um ressonante não. Como, então, podemos confiar em suas revelações e visões quando ele mesmo expressou dúvida se elas eram, de fato, revelações e, às vezes, pensava estar possuído por demônio? A própria mãe adotiva de Maomé, Halima, admitiu que pensava que ele estava “possuído pelo Diabo”.
Além disso, como podemos crer que as revelações vêm de Deus se o próprio Maomé as mudava ou modificava. Sua falta de cuidado com as palavras de Alá, palavras que ele próprio não se sentia obrigado a seguir, lança uma sombra em relação à sua integridade de caráter.
Moralmente, algumas ações de Maomé parecem repreensíveis. Ele matou críticos por falar o que estava em suas mentes, ordenava que uma mulher fosse severamente espancada se retivesse alguma informação, tinha relações sexuais com uma criança de nove anos de idade. Ele foi um general implacável e assaltava caravanas simplesmente por interesse financeiro ou com a finalidade de expandir seus negócios. Chegou a quebrar as convenções de guerra ao combater em um mês sagrado. Entretanto, é louvado como o profeta mais amado. Um estudioso muçulmano o descreveu da seguinte forma:
Maomé é o mais estimado entre os homens, o mais honrado dos apóstolos, o profeta da misericórdia, o cabeça ou imã dos fiéis, o condutor do estandarte do louvor, o intercessor, o portador de uma alta posição, o proprietário do rio do Paraíso, debaixo de cuja bandeira os filhos de Adão estarão no dia do julgamento. Ele é o melhor dos profetas e sua nação é a melhor das nações […] e seu credo é o mais nobre de todos os credos 15.
Qualquer narrativa honesta da vida de Maomé pode ser resumida nas palavras complexidade, conveniência e depravação. Comparativamente, a vida de Jesus Cristo na terra, o Filho de Deus, excede em muito a integridade, a graça e a sabedoria de Maomé.
Jesus nunca tirou a vida de ninguém. Ele não diminuiu as mulheres nem explorou meninas jovens para sua ascensão social. Cristo era a imagem do amor verdadeiro. Ele veio e foi rejeitado, e, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós (Rm 5:8). Maomé veio para derramar sangue e matar aqueles que discordavam dele. Cristo veio para buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19:10).
Maomé unificou um país, na verdade uma boa parte do mundo, em torno de uma pedra em Meca. Jesus Cristo unifica os pecadores por meio de sua morte e ressurreição.
Ninguém questiona a influência de ambos, mas o caráter de sua influência é tão diferente quanto a diferença entre a paz e a guerra. Discutir a vida de Maomé é uma coisa, imitar sua vida é outra coisa bem diferente. Maomé ordenou no Alcorão: “Matai os idólatras onde quer que os encontreis” (surata 9:5). Este texto permite duas interpretações: uma descritiva, explicando como Maomé combatia as tribos pagãs na península arábica no século VII. Outra, prescritiva, exigindo que os crentes continuem a lutar até que Alá seja completamente vitorioso. Os seguidores de Maomé têm entendido esse texto de maneira prescritiva. E, em um mundo que busca a paz, seguir a vida desse guerreiro resultará em derramamento de sangue.
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2 Ibn Ishaq, Sirat Rasul ALLAH, The life of Muhammad, NewYork: Oxford University Press, 1980, p. 106.
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3 M. H. HAYKAL, Life of Muhammad, Plainfield: American Trust Publications 1976,p.80.
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4 Ibid., p. 337.
5 Ibid., p. 496.
6 Norman GEISLER & Abdul SALEEB, Answering Islam: the crescent in light of the cross, Grand Rapids: Baker, 1993, p. 193.
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Ibid., p. 157.
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8 Op. cit., p. 238.
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9 Ibid., p. 298. V tb. Geisler e Saleeb, Answering Islam, p. 176.
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10 Deve ser mencionado que alguns tradutores usam a frase “batei nelas brandamente”, embora isso não esteja indicado no texto. Mais uma vez, o texto ambíguo tem levado a muita injustiça.
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11 HAYKAL, Life of Muhammad, p. 154.
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12 FAHD, Holy Quran, p. 1254 (nota de rodapé 3723).
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13 Betty KELE, Muhammad: the messenger of God (e-reads, 1975), p. 207.
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14 Caesar E. FARAH, Islam, beliefs and observances, Hauppauge: Barrons Educational Services, 2000, p. 58. Na tradução [em inglês], algumas palavras foram acrescentadas para maior clareza, conforme a necessidade.
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15 Apud GEISLER e SALEEB, Answering Islam, p. 84.
Extraído do livro “O Islã sem Véu” – Editora Vida