O professor Leandro Quadros, da Igreja Adventista do 7º Dia, disse em um de seus vídeos que eu, Pr Martinez, corroboro com o espiritismo ao afirmar que Moisés apareceu em espírito no Monte da Transfiguração em Mateus 17. Disse ainda que se Jesus teve essa conversa com um espírito desencarnado, cometeu um delito contra a lei de Deus que veta a “consulta aos mortos” (Dt 18.10,11).
Então, na cabeça do apologista do adventismo, só se pode refutar o espiritismo neste episódio se considerarmos o fato da ressurreição de Moisés antecipada como um cheque pré-datado (palavras dele). Seria isso verdade?
Bem, aqui o articulista adventista demonstra, não só escassa noção da doutrina da imortalidade da alma, mas também do Kardecismo em si. Eu amo quando um espiritista usa esse texto da transfiguração para arvorar que Jesus era médium. Como eu havia prometido ao Sr. Quadros, vou explicar como nós imortalistas respondemos ao Kardecismo neste caso.
Primeiramente, antes das conclusões, vamos fazer uma definição muito relevante – o que seria um MÉDIUM?
“Ser médium É PODER ATUAR COMO INTERMEDIÁRIO entre o mundo espiritual e o físico”. (consultado em www.altoastral.com.br no dia 13/03/2019 – destaque meu)
Então, basicamente, esse médium é um canal entre o mundo dos vivos e a realidade dos mortos. Ele traz e leva informações entre vivos e mortos. Agora, teria Jesus agido assim no Monte da Transfiguração? Leiamos os textos:
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte, E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. Mt 17.1-3
E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. Lc 9.29-31
O teor da conversa era sobre a morte de Jesus em Jerusalém. E não existiu ali nenhuma mediunidade ou mensagem dos mortos para os vivos (ou vice versa). Simplesmente Jesus cumpriu a promessa que fez aos discípulos em Mt 16.27,28 – Ele mostra a sua glória, revela sua divindade e que era Senhor de todos, tanto no mundo físico como no espiritual.
Além dessa incongruência para os kardecista, já que não ouve mediação ou ato mediúnico, temos um fator complicador pra teologia espiritista. No capítulo 14 de Mateus, João Batista foi executado e, segundo Kardec, João era a reencarnação de Elias, vejamos:
João Batista era Elias reencarnado… (O Evangelho segundo o Espiritismo, pg. 59, edição 258º, Editor Instituto de Difusão Espírita, 2000).
A dificuldade para os adeptos de Kardec é que na Transfiguração não poderia ter aparecido Moisés e Elias, mas Moisés (que atingira o máximo na evolução espiritual e por isso ele não reencarnou mais) e João Batista que morrerá a algum tempo atrás. Como apareceu Elias e não João, a tese de que um era reencarnação do outro cai por terra. Também podemos mostrar aos espiritistas que em II Rs 2.11 Elias foi transladado ao céu e não viu a morte, por isso não poderia ter reencarnado. Lucas ainda joga mais uma pá de cal no argumento reencarnacionista, dizendo que João tinha o mesmo ministério de Elias e não que um era a reencarnação do outro: E irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado. (Lc 1.17). Ou seja, a Transfiguração é mortal ao argumento espírita e não favorável.
Outra ilação de Leandro Quadros é que, caso Jesus se comunicou com o Espírito de Moisés, teria Ele quebrado o mandamento de Deus em Dt 18.10, 11. Será? O que diz o texto? “Entre ti não se achará quem… consulte a um espírito adivinhador… nem quem consulte os mortos”. Deixei aqui também a porção que diz que Deus condena quem consulta a espíritos avinhadores – e quero lembrar ao Profº Quadros que sua profetisa tinha um espírito desses a tiracolo:
“DISSE O MEU ANJO ASSISTENTE. Ai de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens. A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O destino das almas depende da maneira em que forem elas recebidas. ”.(Primeiros Escritos, Pg.258)
Outro VERBO importante de se notar é o “CONSULTAR”. O texto é claro, a condenação é sobre consulta aos mortos e, na Transfiguração, Jesus não faz isso em momento algum, mas sim mostra sua glória e soberania. Jesus não pergunta a Elias e Moisés se eles tinham alguma mensagem de Deus pra ele e seus discípulos. Tais conjecturas somente nas mentes embotadas dos kardecistas e adventistas.
Dr Champlin explica: “… Em breve período Jesus demonstrou a glória da presença de Deus, que é Luz… transbordava da presença de Deus! Assim demonstrou a glória que o aguardava, a glória do reino dos céus; e ao mesmo tempo deu garantias das realidades espirituais e dos céus…” (O NT Interpretado, Pg 452, Ed. 2002)
Logo, o argumento teológico de que Moisés estava ali em espírito não tem nada a ver com o kardecismo, mas com a fé na palavra e na verdade de Deus – confira na Bíblia:
Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme a palavra do Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, em frente de Bete-Peor; e ninguém soube até hoje o lugar da sua sepultura. Era Moisés da idade de cento e vinte anos quando morreu; os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor. E os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta dias, nas campinas de Moabe; e os dias do pranto no luto de Moisés se cumpriram. Dt 34.5-8
Moisés, meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. Js 1.2
E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. Mt 17.3
O que temos aqui? A prova irrefutável da imperecibilidade da alma após a morte. Claro, não existem almas penadas, pois tais almas ao morrer são recolhidas ao Paraíso/Céu ou ao Hades (Lc 16.19-31; Ap 6.9). Neste caso, Jesus revela aos discípulos, através do discernimento de espíritos, o mundo espiritual, sua divindade e autoridade sobre todas as coisas!
E me chama muito a atenção o fato dos adventistas ficarem estupefatos com essa verdade bíblica! Afinal de contas, EG White fez várias viagens a outros mundos, ao céu e falou dos acontecimentos espirituais do mundo intangível. Tem até um livro muito interessante chamado VISÕES DO CÉU. Então, muito me surpreende o Prof Quadros não aceitar uma verdade bíblica tão simples e objetiva. Diga-se de passagem, verdade bíblica que não tem nada a ver com a doutrina kardecista.
O engraçado nessa história toda é a similaridade da interpretação entre adventistas e kardecistas com relação a vidas em outros mundos, pois ambos acreditam na pluralidade de mundos habitados por ETs.
“Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência” (O Livro dos Espíritos, questão 55)
Deus tem inumeráveis mundos obedientes a Suas leis, e dirigidos para Sua glória. Quando os homens avançarem em suas pesquisas científicas até aonde lhes permitam as limitadas faculdades, existe ainda para além uma infinidade que lhes escapa à apreensão. Conselhos aos Pais, Professores página 66.
Inclusive, EG White acreditava que Enoque estivesse em um dos nossos planetas do sistema solar, veja:
“Então fui levada a um mundo que tinha sete luas. Vi ali o bom e velho Enoque, que tinha sido trasladado” (Primeiros Escritos, p. 40, edição de 1967).
Teria Deus permitido a saída do seu servo Enoque do céu (Jo 14.2-3; Hb 12.23) para uma visita a Saturno?
Conclusão
Em vista de todos esses argumentos, tenho comigo que a “teoria da ressurreição de Moisés” não encontra amparo bíblico algum e ainda é antagônica ao ensino de I Co 15.20-23 – pois só Jesus é o primeiro ressurreto e mais ninguém! E se Moisés não ressuscitou, então não foi o corpo dele que apareceu no Monte da Transfiguração. Em resposta as conjecturas deste texto, só posso responder que não é possível explicar a aparição de Moisés sem crer na imortalidade da alma. Foi o espírito de Moisés que apareceu no Monte da Transfiguração!