Kardecismo: A parábola do jovem delinquente

Era uma vez um jovem com apenas 18 anos de idade, chamado Delin, cujo pai (Rei Paião, prezado e respeitado por todos os seus súditos) era um dos mais ricos de seu país. E, embora o Código Penal desta nação prescrevesse a pena de morte aos criminosos de alta periculosidade, o dito jovem, cobiçando riquezas maiores, empreendeu o primeiro de uma série de assaltos à mão armada. Ele não queria praticar latrocínio e, por isso, empunhava sua pistola só para intimidar os proprietários dos bens que ele pretendia tomar para si. Sua primeira vítima, porém _o senhor Robato, muito mais alto e robusto do que ele _, reagindo ao assalto, intentou dominá-lo. O referido jovem, tomado pelo susto, disparou sua arma, matando o senhor Robato.  Então o remorso invadiu o seu coração. Sua consciência o acusava ininterruptamente. Ele se sentia a escória da sociedade, bem como merecedor de uma severa punição. Como ele gostaria que tudo aquilo não fosse real, e sim, apenas um pesadelo! Mas, infelizmente, ele não estava sonhando! Ele deveras estava acordado e havia sim se tornado um latrocida! E, por isso mesmo, se julgava merecedor de uma severa punição! Seu ardente anseio pela longevidade, era mesclado com um forte desejo de ser enforcado, a bem da disciplina! E consigo mesmo tinha a certeza de que este prevaleceria sobre aquele, pois o seu crime era suficientemente hediondo para torná-lo digno da lei de talião, prevista na Carta Magna de sua nação, e pormenorizada no Código Penal da mesma. Mas integrava à Constituição de sua Pátria, que o Rei podia intervir em defesa de quem fosse sentenciado à morte, salvando-o da execução, desde que substituísse o réu, cumprindo por ele a pena.  Era ainda constitucional que, uma vez que o Rei manifestasse o seu desejo de se deixar imolar pelo condenado, ninguém podia questioná-lo, nem tampouco empreender malograr seu intento. E foi desta cláusula que o Rei Paião se valeu para dar ao seu filho Delin a chance de se regenerar, tornar-se um cidadão de bem, casar, perpetuá-lo através dos possíveis netos, usufruir das delícias da vida, e, finalmente, morrer bem idoso, farto de dias! Então Delin foi convocado a comparecer diante de Sua Majestade, o Rei Paião. Delin, enquanto era levado maniatado à presença do Rei, pensava: “Como irei encarar o meu Pai?! Certamente ele, dizendo que eu (seu imprestável filho) sou sua vergonha e tristeza, derramará inconsoláveis lágrimas!”  E, mais rápido do que Delin desejava, viu-se diante do Rei Paião, o qual lhe falou: “Sabes que teu pai sempre primou pela justiça. Logo, não posso e nem quero perdoar o teu crime. Seria ilegal fazê-lo. Portanto, anular tua sentença, nem pensar. Contudo, quero, posso e vou livrar-te da morte, morrendo em teu lugar. Mas, para eu morrer em teu lugar, terás que fazer três coisas:1ª) jurar-me que estás arrependido; 2ª) prometer-me que longe de ser reincidente, serás um cidadão de bem por todos os dias da tua vida; 3ª) pedir-me perdão pela tristeza e vergonha que me causaste”. E assim foi. Delin fez o que Paião exigiu. Sem delonga, portanto, fez o Rei passar pregão por todos os rincões do território sob seu poder régio, notificando a todos os seus súditos que ele, Rei Paião, por amor do seu culpado filho, se servia de um dispositivo legal, a saber, o sacrifício vicário, objetivando salvar Delin, da morte. Ademais exigiu, por escrito, que a Suprema Corte, cônscia de que dura lex, sed lex, (Lei é dura, mas é lei), jamais permitisse que seu filho sofresse qualquer conseqüência de seu bárbaro crime, já que a substituição era legal. O Rei Paião argumentava que sua atitude gozava não só de legalidade, mas também de moralidade, visto ser moral que os pais lutem por seus filhos até à morte. Então morreu Paião, e Delin foi viver a vida.

Que salvou Delin da forca? O arrependimento? A regeneração? O pedido de perdão? Não!!! Estes expedientes lhe foram necessários para que o Rei morresse por ele, mas foi a morte do Rei, e só ela,  que o absolveu. Ele deve, pois, a sua absolvição exclusivamente à morte de Sua Majestade. Se ele não se arrependesse, o Rei não morreria por ele; mas é se o Rei não morresse por ele, que ele não seria salvo. Delin já estava arrependido e desejoso de mudar de vida, muito antes de seu pai lhe fazer a proposta de morrer em seu lugar, mas isso não alterou em nada a sua condição de condenado; nem mesmo o amor de Paião por seu filho delinqüente, anulou a sentença de Delin; mas quando Paião foi enforcado no lugar de Delin, este foi absolvido. O crime de Delin não foi perdoado nem mesmo por seu Pai, mas castigado na pessoa de Sua Majestade, o Rei Paião.

Sobre o presente conto informo que:

1) Delin retrata Adão, Eva e todos os seus descendentes;

2) o seu hediondo crime fala dos nossos pecados;

3) a pena capital à qual ele foi sentenciado, refere-se à condenação à eterna separação de Deus, cuja conseqüência é o Inferno;

4) a morte substitutiva de Paião ilustra o sacrifício vicário de Cristo;

5) a absolvição de Delin diz respeito à nossa salvação através da morte de Jesus;

6) o arrependimento e o pedido de perdão, exigidos do delinqüente, como condição sine qua non para que o Rei concretizasse o seu desejo de morrer pelo jovem da presente parábola, representa a condição imposta por Jesus, para que os benefícios oriundos da Cruz nos sejam aplicados.

Delin tinha que se converter para Paião morrer por ele; nós, porém, temos que nos converter porque Jesus morreu por nós. Logo, porque Delin se converteu, Paião morreu por ele; e, porque Paião morreu em seu lugar, Delin foi salvo. Delin deve, pois, a sua salvação exclusivamente à morte de seu pai. É verdade que o Rei só morreu por ele porque ele se converteu, mas ele só foi salvo porque o Rei morreu. Não adiantaria ele se regenerar, se o Rei não morresse por ele. Por conseguinte, sempre que alguém lhe inquirir sobre o porquê de sua absolvição, ele nunca poderá dizer que foi porque ele se converteu. A sua conversão causou a morte do Rei, não a sua absolvição. Então, a seqüência correta é: 1) conversão de Delin; 2) morte do Rei; 3) absolvição de Delin. Já a salvação em Cristo obedece outra seqüência. Ei-la: 1ª) morte de Cristo; 2ª) nossa conversão; 3ª) nossa salvação. Mas, tal qual Delin, não podemos atribuir nossa salvação à nossa conversão, e sim, à morte de Cristo. A nossa conversão foi meramente a condição imposta por Deus para que os méritos do sangue de Cristo nos sejam creditados, não a causa meritória. Esta é a Cruz de Cristo, só a Cruz de Cristo e nada mais que a Cruz de Cristo. É que assim como Paião só morreria por Delin se este se convertesse, Cristo só aplica os méritos de Seu sacrifício, na vida de quem se converte a Ele. Altera-se a ordem, mas o raciocínio é o mesmo: a nossa fé, o nosso arrependimento, a nossa regeneração e as nossas boas obras, embora não atuem como coadjuvantes do sangue de Cristo na efetuação da nossa salvação, são, contudo, condições impostas e, portanto, imprescindíveis. Para nos salvar, Cristo entra com o mérito do Seu sangue, e nós entramos com o nosso vale-nada, já que este vale, além de não poder nos salvar sozinho, nem mesmo ajuda Cristo a nos redimir, embora seja indispensável, visto que o Senhor impõe esta condição.

 

PENSAMENTOS

1) Jesus não veio ensinar você a se salvar, mas sim, salvar você;

2) Jesus não veio ensinar o Caminho da salvação, e sim, construí-lo. O Seu sacrifício vicário é que é o Caminho; e apelar para esse sacrifício, é entrar na Trilha e percorrê-la;

3) Jesus não veio ensinar o que você precisaria fazer para se salvar, mas sim, fazer o que precisava ser feito, para que você possa ser salvo;

4) Jesus não veio apontar ou indicar o caminho da salvação, pois como apontar ou indicar algo inexistente?

5) Quem tenta fazer por onde merecer a sua salvação, ao invés de merecê-la, aumenta a sua indignidade;

6) Cristo recebeu o que não merecia_ a condenação _, para que nós recebamos o que também não merecemos_ a salvação;

7) Deus, por ser o Justo Juiz, não pôde perdoar a nossa dívida; e, por ser amor, não pôde se esquivar de pagá-la;

8) O pecador (isto é, cada ser humano), por ser mendigo em termos espirituais, não tem com que pagar a sua dívida; daí, o tormento eterno;

9) Jesus é o Justo Juiz que nos sentenciou ao suplício, bem como o Advogado que cumpriu a pena em nosso lugar;

10) Fazer por onde merecer a salvação é cometer o grave pecado de subestimar o sangue de Jesus;

11) Quem faz por onde merecer o perdão dos seus pecados, comete mais um;

12) A graça só se obtém pela graça, visto que à parte da graça, só há desgraça;

13) Todos os pecadores que não buscam a salvação, estão indo para o Inferno na velocidade =“x”; os pecadores que dão tudo de si para merecer a salvação, estão indo para o Inferno numa velocidade > “X”; mas os que apelam para a graça que procede da Cruz, já mudaram de direção!;

14) O pecador já está atolado. Se ele não se mexer, continuará afundando. E, se ele se mexer, afundará mais rápidoa. Mas, se ele se valer do mexer-se de Cristo, sairá do atoleiro;

15) A salvação não depende só da parte de Deus, mas também da nossa. Jesus já fez a parte que Lhe tocava; só nos resta agora, que façamos a nossa. E a nossa parte, é crer que Cristo fez a nossa parte;

16) A única obra que produz salvação é a Obra de Cristo na Cruz;

17) No que diz respeito à salvação, há tanto uma causa meritória, quanto uma condição imposta: esta é a nossa fé na Cruz de Cristo; e aquela, a Cruz de Cristo;

18)  A salvação não é pelas obras, mas sim, pela Obra, a saber, a Obra de Cristo no madeiro;

19) A salvação é tanto dádiva quanto pagamento. Quando Deus nos salva pela fé, Ele está pagando a Cristo pelo bom serviço prestado na cruz, ao passo que Cristo está nos presenteando algo que Lhe custou caro: o Seu sangue;

20) A salvação de nossas almas é o salário de Jesus (Is. 53:11);

21) A salvação nunca foi à parte do sangue de Jesus. Os patriarcas e profetas do Antigo Testamento se salvaram pelo sangue que no futuro seria derramado por eles; o ladrão do qual trata Lc. 23:43, foi salvo pelo sangue que no presente estava sendo derramado por ele; e nós, servos de Deus da atualidade, somos salvos pelo sangue que no passado foi derramado por nós. Deste modo, uns olham para frente, outros olham para o lado, e outros para trás, mas os olhares de todos os salvos convergem-se para a cruz do Calvário, pois dela, e somente dela, procede a vitória para todos nós!

22) Os que fazem boas obras por serem salvos, serão galardoados agora e, especialmente, na eternidade (Ap. 22:12); mas os que fazem boas obras para se salvar, já estão condenados (Ef. 2:8-10; Rm. 11:6; At. 10: 1-6; 11: 14; Tt. 3: 5);

23) Embora os que fazem boas obras para se salvar, já estejam condenados, os tais podem sair da condenação, trocando suas obras, por melhores que sejam, pela Obra de Cristo na cruz;

24) Cristo é o Caminho que nos conduz a Si próprio, pois é exclusivamente pelo Seu sacrifício vicário que temos acesso à Trindade, da qual Ele é parte integrante. Eis o porquê dEle haver dito que “Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14:6). Ele disse “vem”, e não “vai”. Logo, só por Ele podemos ir a Ele. Ele é o único caminho que nos leva ao Pai, isto é, à Divindade, que é Ele e os outros dois Membros da Trindade: o Pai e o Espírito Santo. Uma prova disso é o fato dEle haver dito que só o Pai sabe do dia e da hora da vinda do Filho (Mt 24:36). Ora, segundo a Bíblia, cada Membro da Trindade sabe de todas as coisas (Cl 2:3; 1 Co 2:9). Assim sendo, se entendermos que a locução “só o Pai sabe”, se refere exclusivamente à primeira Pessoa da Trindade, estaremos cometendo o grave erro de tentar limitar tanto a infinita sabedoria do lado Divino do Filho, como também negando a Onisciência do Espírito Santo. A locução “só o Pai”, significa “só Deus”. E, como sabemos, cada membro da Trindade é Deus, assim como também toda a Trindade.

25) Todos os que crêem em Cristo, crêem que Cristo existe, mas nem todos os que crêem que Cristo existe, crêem em Cristo;

26) Para muitos dos que se dizem cristãos, todas as igrejas são boas, mas os verdadeiros cristãos só reconhecem a Igreja de Cristo. E esta não está na rua tal número tal;

27) Da nossa passividade na transação da salvação, Cristo não abre mão. Logo, os ativos ainda não pactuaram com Cristo;

28) A salvação não é a recompensa dos que pecam pouco, tampouco o galardão dos que cometem pecados menores, mas sim, o dom (presente) dos que apelam para o Calvário;

29) Já que todo o mundo peca, mas há salvos e perdidos, pergunta-se: Até aonde posso ir no erro e ainda ser salvo? Quais os pecados que fariam de mim um perdido? Resposta: Tanto a salvação, quanto a condenação, não são proporcionais à quantidade e tamanho do pecado. O pecado, por menor que seja, traz no seu bojo total condenação. É, pois, o sangue de Cristo que nos dá absolvição;

30) Tudo que um homem consegue, quando dá tudo de si para não cometer um só pecado sequer, é pecar menos, o que não o torna menos digno da condenação. Logo, será condenado mesmo assim, visto que o Justo Juiz não pode nos dar o que não merecemos. Mas, como a Cruz de Cristo nos torna dignos da absolvição, nós, os cristãos, seremos salvos, já que o Justo Juiz não pode nos dar o que não merecemos. Sim, sou digno em Cristo! Sim, a Cruz de Cristo me confere mérito. Sim, se estou à sombra da Cruz, é injusto me condenar!

31) Falo como cristão: A minha pena não está por cumprir, pois já foi cumprida por Cristo!

Extraído do livro O ESPIRITISMO KARDECISTA E SUAS INCOERÊNCIAS, Pr. Joel Santana

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