O termo judaísmo deriva-se da palavra Judá. Para todos os propósitos práticos, pois Judá tornou-se a nação de Israel. E então os termos judeu a israelita tornaram-se intercambiáveis. Isto posto, o termo judaísmo vem a designar tudo quanto diz respeito a Israel. A história judaica, a sociedade judaica, a sua forma específica de governo (teocracia), e as crenças e costumes religiosos fazem parte do que se chama judaísmo. Dentro do próprio judaísmo desenvolveu-se todo um conjunto de idéias filosóficas, embora o judaísmo não fosse especificamente, uma filosofia.
Com um grupo de fiéis espalhados pelo mundo todo e sempre na berlinda de movimentos históricos dramáticos, o judaísmo é berço das mais importantes tradições religiosas: Cristianismo e o Islamismo. Pela primeira vez na História revela-se e constitui seu próprio povo, falando com ele por intermédio de líderes e profetas, cujas palavras ecoam vivas e atuais. Cinco deles têm importância fundamental: Abraão, que obedeceu à ordem de deixar tudo e partir para a Terra Prometida: ora, o Senhor disse a Abraão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei (Gênesis 12.1), tornando-se assim Pai do povo Escolhido; os patriarcas Isaac e Jacó (este pai das 12 tribos de Israel); Moisés, instrumento da aliança feita no monte Sinai, que introduziu a lei, e Davi.
II – As Origens do Judaísmo
Historicamente, o judaísmo veio à existência quando foi firmado o pacto abraâmico. Desde o começo o judaísmo foi uma religião revelada e não uma religião natural ou filosófica.
Acredita‑se ser descendente de uma tribo que viveu em Canaã, englobando atualmente a maior parte de Israel, Jordânia e Síria. Os judeus crêem ser descendentes de Abraão ao qual Deus fez uma aliança e prometeu‑lhe uma terra da qual jorrasse leite e mel. Embora os judeus jamais tenham sido, em todo registro histórico, os únicos donos do território, a terra permanece crucial para sua auto‑representação.
A partir do chamado de Abraão, para ser o pai de uma nação particular, (a Palestina), a qual constituíra a Terra Prometida, Deus revelou uma mensagem na História que se destinava a tornar‑se aplicável universalmente a todas as nações e todos os povos.
Vemos em Deuteronômio 26.5 que a nação de Israel formada pelo povo judeu veio a ser grande e poderosa. Então testificarás perante o Senhor teu Deus, e dirás: Arameu, prestes a perecer, foi meu pai, e desceu ao Egito, e ali peregrinou com pouca gente, porém ali cresceu até vir a ser nação grande, poderosa, e numerosa.
Cumprindo‑se assim a promessa de Deusa Abraão (Gênesis 12.1), na origem do judaísmo, de que dele sairia uma grande nação.
III – Um Povo Monoteísta
Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor (Deuteronómio 6.4).
É bem provável que o clã que se tornou no povo israelita foi subindo do politeísmo para o henoteísmo, e daí para o monoteísmo veio a ser o conceito central do judaísmo: não há Deus fora de Yahweh.
Através da História, os judeus resistiram, muitas vezes com suas próprias vidas, à diluição ou modificação desta idéia sublime. Nós, cristãos, nos consideramos monoteístas, mas aos olhos deles somos considerados politeístas, pois apreciamos e cremos na trindade.
Monoteísmo autêntico e inflexível é uma proposta profundamente enraizada e evidente por si mesma para os judeus.
Sendo a pureza do monoteísmo judaico um selo de autenticidade de fé, o judaísmo se recusa a adorar a Jesus, não somente devido ao seu repúdio à doutrina da encarnação, mas também devido à sua resistência, desafiadora a toda e qualquer tentativa de atribuir qualidades e honras divinas a meros mortais.
IV – A Importância Crucial da Lei
Os judeus são muitas vezes descritos como o povo do livro, porque baseiam suas vidas pela revelação de Deus na Torá. A Torá são os cinco livros da Bíblia conhecidos como Pentateuco, que além da história contêm 613 mandamentos (ou obrigações). Nos livros encontram-se, leis, rituais, regras de higiene e leis morais. Para os judeus, as leis fazem parte de uma revelação de aliança com Deus. Como seu povo escolhido, eles devem observá-las integralmente.
São bem interessantes os capítulos da moral judaica referentes à família, ao matrimônio, ao papel da mulher na sociedade. O que, porém, se distinguem na moral judaica são a sede e fome de justiça que satisfaçam as exigências dos homens.
A lei mosaica predominava em Israel. Para tanto, havia necessidade de uma estrutura eclesiástica. No começo Moisés foi o supremo legislador. Aarão, seu irmão, foi nomeado sumo sacerdote. O judaísmo posterior passou a formar o ofício formal dos rabinos. Eis algumas de suas funções:
Rabinos – Eram juízes civis e mestres religiosos, ao mesmo tempo.
Sinédrio – Estavam acima dos rabinos, formavam o corpo governante máximo do judaísmo, bem atuante na época do surgimento do Cristianismo e possuíam autoridade tanto civil quanto religiosa.
Sumo Sacerdote – Era tanto o chefe do Estado quanto o chefe religioso.
Escribas – Trabalhavam com os textos bíblicos, copiando-os e fixando a forma da lei e das Sagradas Escrituras, além de também serem os mestres populares.
Finalmente surgiram partidos, como o dos fariseus e dos saduceus, que lutavam pela hegemoma no tocante à liderança civil e religiosa, e cujas idéias religiosas e filosóficas por muitas vezes entraram em choque. Nesse conflito, os fariseus, finalmente, levaram a melhor, pois o judaísmo moderno é apenas uma versão do farisaísmo.
V – Os Dez Mandamentos na Perspectivas do Povo Judeu
Os Dez Mandamentos constituem as leis fundamentais dos judeus, embora elas sejam muitas vezes vistas como princípios universais destinadas a criar e manter uma sociedade civilizada. Analisaremos a seguir os Dez Mandamentos na visão judaica.
1º a 2º Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra (Êxodo 20.3-4).
Sem imagens – O primeiro e o segundo mandamentos dizem que os judeus devem adorar o único Deus verdadeiro e que não devem adorar os ídolos ou reverenciar ídolos de outros povos. O verdadeiro Deus é por demais grandioso para caber em uma imagem; Ele só pode ser adorado em espírito e em verdade.
3º Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão (Êxodo 20.7).
Nome sagrado de Deus – O terceiro mandamento lembra aos judeus que Deus é por demais grandioso para que Seu nome seja pronunciado em vão. Por tradição, os judeus não usam jamais Seu nome, mas falam em Adonai (o Senhor) ou Hashem (O Nome).
4º Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Êxodo 20.8).
Sábado Santo – O quarto mandamento assevera que os judeus devem guardar o sábado como dia santo. Assim como Deus fez o sétimo dia de Sua criação, eles devem descansar após seis dias de trabalho.
5º Honra teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá (Êxodo 20.12).
Honrando os Pais. O quinto mandamento diz que os filhos devem honrar os pais. Em muitas sociedades, os pais dependem dos filhos na velhice e, assim como os filhos, quando jovens, dependem de seus pais.
6º Não matarás (Êxodo 20.13).
A vida é sagrada. O sexto mandamento diz que a vida humana deve ser respeitada e o assassinato é condenado. No entanto, há divergências dentro da comunidade judaica quanto à aplicação do mandamento a situações como a pena capital e o aborto.
7º Não adulterarás (Êxodo 20.14).
Respeito aos Laços Matrimoniais – O sétimo mandamento proíbe o adultério. O adultério (relação sexual fora do casamento) é muito mais condenável do que a fornicação (relação sexual antes do casamento). Isso porque, tradicionalmente, os judeus casam-se muito jovens e também porque o adultério pode suscitar a questão da legitimidade dos filhos.
8º Não Furtarás (Êxodo 20.15).
Preservando a Propriedade – Na interpretação dos rabinos, isso significa que qualquer tipo de roubo é condenado, inclusive o plágio, o roubo de idéias. Eram criados complicados sistemas de compensação, e o ladrão não podia ser perdoado até que tivesse recompensado a vítima.
9º Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (Êxodo 20.16).
A Importância da Confiança. Em uma sociedade civilizada, os tribunais devem ser o começo do culto judaico.
Foi depois do retorno da Babilôma que começou a se desenvolver a religião a que costumamos chamar de judaísmo. O núcleo do judaísmo era a vida na sinagoga (a palavra grega para congregação ou assembléia, local de estudo). Este tipo de serviço religioso surgira por necessidade durante o exílio babilônico, uma vez que ali os judeus não tinham um templo onde orar.
O grande templo de Jerusalém, destruído durante a conquista babilônica de 587 a.C, foi reerguido em 516 a.C, sendo destruído posteriormente em 70 a.D.
10º – Não cobiçarás a casa de teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo (Êxodo 20.17).
Evitando Inveja e Ciúme – No décimo mandamento, Deus ordena a Seu povo que evite cobiçar os encantos da mulher do próximo.
5.1 – A Torá
Nenhuma palavra na religião judaica é tão indefinível e, ainda assim, tão indispensável quanto a palavra Torá. Ela tem sido, durante todas as épocas, a soma e a substância do estudo e da erudição judaicas.
Para que os judeus cresçam piedosos, considera-se essencial que saibam os 613 preceitos da Torá, a lei judaica que, segundo o livro do Êxodo, foi dada a Moisés por Deus. Desde tempos antigos, os judeus são notáveis por sua educação. Todos sabiam ler e escrever (pelo menos os homens), e o ensino começava cedo. Atualmente, a maioria dos jovens judeus não vai tão longe na educação religiosa, mas a tradição de respeito pelo aprendizado se mantém. A maioria dos judeus espera educar-se no mínimo até o nível superior.
São os pais que, principalmente, têm o dever de ensinar a Torah aos filhos. Todo Israel, tanto os ricos como os pobres, devia ocupar-se da Torah e estudá-la durante toda a vida. Para essa atividade, o dia privilegiado é o sábado.
A Torá é tradicionalmente escrita em pergaminhos que são mantidos na sinagoga em um móvel chamado Arca. Quando não estão em uso, os pergaminhos são enrolados e cobertos. Durante o serviço na sinagoga os pergaminhos da Torá são cerimoniosamente erguidos, e a congregação, em pé, declara: Esta é, pois, a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel (Êxodo 4.44).
A Torá é composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis (Bereshith), Êxodo (Shemoth), Levítico (Wayyiqra), Números (Bemiddar), e Deuteronômio (Debarim).
Para o Cristianismo, a Torá desempenhou um importante papel. O próprio Jesus disse: Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir (Mateus 5.17). Este texto nos mostra que Cristo reinterpretou a lei radicalmente, a qual se cumpriu em sua própria pessoa. Esta interpretação foi seu ensino de que a mera observância externa não estava de acordo com o sentido real da lei. Deus tencionava que sua palavra fosse guardada no coração de seu povo. Jesus considerava a ira e o ódio atitudes tão pecaminosas quanto o homicídio (Mt 5.21), ou a concupiscência tão condenável quanto o adultério (Mt 5.27). Cristo classificou a Lei oral como tradição de homens (Mc 7.8-13). Os religiosos profissionais, tais como os escribas e fariseus, erigiram um muro ao redor da Torá, como os escribas, e fariseus, inacessível às pessoas comuns.
5.2 – A Cabala
A Cabala é o nome dado ao conhecimento judaico místico, originalmente transmitido de forma oral. O misticismo gnóstico já se fazia presente na Haggadah (livro que narra o Exodo e apresenta a ordem de Sêder – as bênçãos, símbolos, orações e principalmente a exposição rabínica do tema) (“Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia”; RN. Champlin, Ph.D – J.M. Bentes; Volume 3 – Editora Candeia, p. 615).
As pessoas buscavam a presença de Deus. Essa presença substituía toda a erudição e todo o esforço humanos. A alma humana entraria assim em harmonia a união com o Ser divino. As pessoas andavam atrás da perfeição, da santidade e da autopurificação, como maneiras de chegarem à presença de Deus. O instrumento usado para isso era a Cabala que, naturalmente, incorporava muitas idéias pagãs, no campo dos conceitos, como a adivinhação. A cabala era usada como a Bíblia do misticismo.
A especulação cabalística conheceu seu clímax nos séculos 16 e 17. Muitos estudiosos acreditavam estar vivendo os dias finais e saudaram a chegada do autoproclamado Messias, Shabbetazi Zevi. O mundo judaico vivia em estado de excitação, com sua chegada. Mas em 1666 ele foi decapitado pelos turcos ao lhe ser dada a escolha: a morte ou a conversão ao islã. Escolhendo o islã, caiu em desgraça.
Para isto nos serve a advertência do apóstolo Paulo em sua carta aos Colossenses: Tende cuidado, para que, ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (Cl 2.8).
5.3 – Talmude
Além da Torá escrita, os judeus também tinham regras e mandamentos transmitidos oralmente. Segundo a tradição judaica, no monte Moisés recebeu não apenas a Lei Escrita de Deus, mas ainda a Lei Falada.
Depois que os judeus se dispersaram pelo mundo, decidiram registrar estes ensinamentos para que não se perdessem. Esse material se chama Talmude, a palavra hebraica que significa estudo. Ele contém regras, preceitos morais, comentários e opiniões legais, mas também histórias e lendas. É bem sabido que o Talmude não é, em si, um livro de ensinamentos, e sim um texto usado pelos rabinos para orientação dos fiéis em determinadas situações.
5.4 – O Tabernáculo
Deus deu instruções detalhadas para a construção do Tabernáculo ou tenda do Senhor (posteriormente o Templo).
Por todo o Antigo Testamento o derramamento de sangue para remissão de pecados era fundamental para aceitação diante de Deus (Lv 17.11). O capítulo seis de Levítico mostra detalhadamente a necessidade do sumo sacerdote de entrar nos Santos dos Santos uma vez por ano para oferecer uma oferta pelo seu próprio pecado. Depois, eram selecionados dois bodes. Fazia-se o sorteio, um seria separado como oferta e o outro como emissário. O significado do Tabernáculo continuou no Cristianismo, mas com uma importante diferença. A atividade do templo foi incorporada na pessoa de Jesus (Jo 2.18-21). O Livro de Hebreus apresenta uma extensa argumentação para que os judeus reconhecessem Cristo como o Sumo Sacerdote.
No momento da morte de Jesus, a cortina que separava o Santo dos Santos rasgou-se ao meio (Mt 27.51). Os cristãos interpretam este evento como uma demonstração de que, através de Cristo, o Santo dos Santos, acessível apenas ao sumo sacerdote uma vez por ano, não existe mais, o próprio Jesus tornou-se o Santo dos Santos e o acesso não é mais exclusivo dos judeus. A promessa de Deus a Abraão, de que em sua descendência todas as nações da Terra seriam benditas, agora se cumpre.
5.5 – Culto Judaico
Foi depois do retorno à Babilônia que começou a se desenvolver a religião a que costumamos chamar de judaísmo. O núcleo do judaísmo era a vida na sinagoga.
Numa sinagoga não há imagens religiosas, nem objetos no altar, pois, como vimos, as imagens são proibidas (é o segundo mandamento). Desde os três anos de idade os judeus são incentivados a elevar orações a Deus.
No serviço da sinagoga, nas manhãs de sábado, há um grande cerimonial em torno da leitura da Torá. Ali se lê uma passagem do texto em hebraico. De modo que no período de um ano se lê toda a Torá.
Além da leitura da Torá, o serviço contém orações, salmos e bênçãos, todos reunidos num livro especial chamado Sidur. Outro foco importante é o credo, o Shemá.
Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando‑te e levantando‑te.
Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas casas (Dt 6.4‑9). O sermão e o ensino da Lei são de responsabilidade dos rabinos, sempre homens instruídos e de alta escolaridade.
Os serviços da sinagoga podem ser realizados diariamente, três vezes por dia, contanto que dez homens estejam presentes. As mulheres não desempenham parte ativa no serviço e são segregadas nas congregações ortodoxas, ficando, em geral, numa galeria, com as crianças. Segundo o Talmude, o livro judaico de leis do século 6, essa separação remonta aos dias do Templo de Jerusalém e foi estimada porque se considera que as mulheres distraem os homens da oração.
Depois da destruição do templo de Jerusalém em 70 a.D, os sacrifícios rituais, que já não podiam mais ser realizados, foram substituídos pela prece matutina, vespertina e noturna. Estes refletem os dias dos sacrifícios no templo. O comparecimento às sinagogas é visto como meritório, e o serviço completo não pode se realizar sem um minyan (dez homens). Diz‑se que Deus fica irado se visita uma sinagoga e não vê um minyan.
A oração pode se dar em qualquer hora e lugar, mas por todo o mundo judaico a sinagoga tornou‑se o centro de estudo e do culto.
5.6 – Os Treze Artigos da Fé
Uma das grandes figuras da história judaica foi Moisés Maimônides, um judeu espanhol que viveu no século 12 a.D. Pensador sistemático, procurou condensar as crenças básicas do judaísmo, sob a forma do credo:
1 – A crença na existência de Deus.
2 – A crença na unicidade de Deus.
3 – A crença na incorporalidade de Deus.
4 – A crença na eternidade de Deus.
5 – A crença de que somente Deus deve ser adorado.
6 – A crença na profecia.
7 – A crença em Moisés como o maior dos profetas.
8 – A crença em que a Torá foi dada por Deus a Moisés.
9 – A crença em que a Torá é imutável.
10 – A crença na onisciência de Deus.
11 – A crença em que Deus recompensa e castiga.
12 – A crença na vinda do Messias.
13 – A crença na ressurreição dos mortos.
Ao fim da lista, Maimônides comenta:
Quando todos estes princípios tiverem sido seguramente adquiridos por convicção dos mesmos, bem estabelecido em um homem, ele entra para o corpo geral de Israel. E nós temos o dever de amá‑lo, cuidar dele e fazer por ele tudo que Deus ordenou fazer uns pelos outros em termos de afeição e simpatia fraternal. E isto, ainda que ele seja culpado de todas as transgressões possíveis, quer por causa do poder do desejo ou das paixões naturais. Ele será castigado segundo a medida de sua perversidade, mas terá um quinhão no mundo vindouro, mesmo que seja um dos transgressores de Israel. Quando, porém, um homem se ajusta de qualquer modo a um destes princípios fundamentais, então se diz que ele saiu do corpo geral de Israel e que nega a verdadeira raiz do judaísmo…(“Bem-vindo ao judaísmo” Maurice Lamn, Editora e Livraria Sêfer, 1a Edição, p. 265).
VI – Os Momentos Mais Imortantes na Vida de um Judeu
Os quatro momentos mais importantes na vida judaica são: nascimento, início da vida adulta, casamento e morte. Analisemos:
Nascimento – Oito dias após o nascimento os meninos são circuncidados, conforme o mandamento da Torá: Esta é a minha aliança que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo homem entre vós será circuncidado (Gn 17.10).
A criança recebe um nome judaico e todos oram para que ela seja abençoada com o estudo da Torá, com casamento e com boas ações. Uma menina pode receber o nome na sinagoga por seu pai, logo após o nascimento ou em uma cerimônia especial.
Início da vida adulta – (Bar Mitsud e Bat Mitsud). Aos 13 anos, o menino judeu se torna um Bar Mitsuá, expressão em hebraico que significa filho do mandamento. Um ano antes deve receber aulas de um rabino, para aprender as leis e os costumes judaicos. Depois da cerimônia, é hábito oferecer uma festa à família e amigos.
Uma menina se torna automaticamente Bat Mitsuá (filha do mandamento), quando completar 12 anos. Por volta dos 15 anos elas aprendem o principal da história e dos costumes judaicos, particularmente as regras alimentares, que são responsabilidade da mulher.
Casamento – O casamento é considerado o modo de vida ideal de Deus. E é o único tipo de coabitação permitido. Os judeus têm por obrigação casar com judias, porém os casamentos mistos estão se tornando comuns.
Alguns dias antes do casamento a mulher deve tomar um banho ritual. No dia do casamento, o noivo e a noiva ficam em jejum até o final da cerimônia.
Os noivos compartilharão do mesmo copo de vinho, em sinal de que irão dividir tudo o que a vida lhes trouxer. Então o noivo põe a aliança no dedo da noiva dizendo em hebraico: Eis que tu és consagrada a mim por esta aliança, segundo a lei de Moisés e de Israel.
Nesse ponto a Ketubá (contrato de casamento), que é assinada pelo noivo antes da cerimônia e reúne todos os seus deveres para com a noiva (“O Livro das Religiões”– Victor Hellern; Henry Notaker; Jostein Gaarder – Cia. das Letras, 1ª Edição, p. 114).
O casamento propriamente dito começa com a leitura de sete bênçãos especiais. O noivo então quebra um copo com o pé, em memória da destruição do Templo. Em seguida, são levados para um quarto onde podem quebrar o jejum e ficar a sós.
Morte – A cremação não é permitida, mas alguns progressistas permitem. Os homens são enterrados envolvidos com seu xale de oração.
Não se usam flores nem música na cerimônia. São jogadas três pás de terra sobre o caixão enquanto se recita: O Senhor dá e o Senhor tira ‑ bendito seja o nome do Senhor (mesmo livro citado, p. 114). Após o funeral, a família fica de luto por uma semana, e os parentes mais próximos acendem uma vela todos os anos e faz‑se uma prece especial na data da morte.
VII – Regras Alimentares (Kosher)
Os alimentos que podem ser comidos são chamados Kosher (adequado ou permitido).
A carne só pode provir de animais que ruminam e têm o casco partido. Sendo assim se excluem o porco, o camelo, a lebre, o coelho e outros. Das aves, pode-se comer as não predatórias. Dos peixes, são permitidos apenas os que possuem escamas e barbatanas; logo estão eliminados polvos, lagostas, mariscos, caranguejos, camarões etc.
Toda comida feita com sangue é proibida, já que a vida está no sangue (Lv 17.11). É proibido comer qualquer carne que não tenha sido obtida de um animal abatido segundo as regras. As frutas e verduras são todas permitidas, bem como a maioria das bebidas alcoólicas e não alcoólicas, salvo algumas exceções.
Além dessas regras, os judeus não comem derivados do leite com derivados da carne. Algumas pessoas chegam a ter duas geladeiras e duas lavadoras de louça, para que não se misturem.
VIII – Ética Judaica
Os judeus não possuem uma separação nítida entre a parte ética e a parte religiosa de sua doutrina. Tudo pertence à Lei de Deus. Existem 248 ordens positivas e 365 proibições, totalizando 613 mandamentos. Também são regulados por muitos costumes e práticas que surgiram ao longo da História. Diz-se que um costume judaico é tão obrigatório quanto uma lei.
Dão muita ênfase à generosidade, hospitalidade, boa vontade para ajudar, honestidade e respeito pelos pais. Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor (Lv 19.18).
Muitos judeus dão o dízimo (10%). Para eles, dar esmolas não é fazer caridade, e sim cumprir o dever de combater a pobreza, baseado na Palavra de Deus: Quando entre ti houver algum pobre, na terra que o Senhor teu Deus te dá não endurecerás a tua mão e teu irmão que for pobre (Dt 15.7).
Como há muitos mandamentos, é natural que em certas circunstâncias eles entrem em conflito. Quando isto acontece, a vida humana está acima de tudo.
IX – Festividades Judaicas
- 1 – As Festas da Peregrinação
Três vezes no ano me celebrareis festa (Êx 23.14). Quando o templo ainda estava em pé, os judeus faziam peregrinação a Jerusalém para fazer oferendas nas três festas: Pessach, Shavuot e Sucot. Os que viviam fora de Israel tinham de vender parte de sua colheita e enviar o dinheiro para comprar oferendas e ajudar a cuidar do Templo e dos sacerdotes. Agora que não há mais Templo, os judeus celebram essas festas em casa e na sinagoga.
9.2 – Páscoa (Pessach)
Na primavera, um novo mundo nasce na terra, a terra verdejante, o brotar discreto, a grama verde nova. Este é o anúncio feito pela natureza. Para os judeus, a natureza e a História se unem para celebrar novos inícios.
O Êxodo tornou-se o foco da história judaica; a Redenção, o tema da teologia judaica.
A Páscoa em hebraico é chamada Pessach, que significa passar por cima. E uma referência ao relato da Torá sobre o anjo do Senhor que passou por cima das casas dos israelitas e, desse modo, só os primogênitos egípcios morreram.
É celebrada no mês de Alisam (março-abril). O trecho de Deuteronômio 16.1-4 mostra-nos como deve ser observada.
A Páscoa também é denominada festa do pão ázimo, pois celebra a ocasião em que os judeus saíram do Egito às pressas, sem tempo para esperar o pão fermentar e crescer.
A tradição cristã foi profundamente influenciada pela judaica. Jesus escolheu a noite antes da Páscoa para celebrar a Ceia do Senhor (Mt 27.62; Mc 15.42; Lc 23.54; Jo 19.31). Os primeiros cristãos judeus conectaram a morte a ressurreição de Jesus como a nova Páscoa de Deus. Em vez de trazer e morte sobre todos os pecadores, por causa de Cristo, Deus passa por cima dos pecados de todo o que está coberto com o sangue de Jesus, como o novo cordeiro pascal.
Assim falou o apóstolo Paulo sobre Jesus: Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós (1 Co 5.7).
9.3 – A Festa das Semana (Shawot)
Também chamada de festa do Pentecostes, pois se realizava após a Páscoa, se dava ao fim da sega do trigo, ou dia 6 do terceiro mês, Sivã (junho).
Esta festa comemora a ocasião em que a Torá foi dada ao povo no monte Sinai.
As sinagogas são decoradas com flores lembrando como o monte Sinai foi decorado por Deus para o milagre. É costume comer derivados do leite, como torta de queijo.
9.4 – A Festa dos Tabernáculos
Também chamada festa das tendas, realizava-se de 15 a 22 do sétimo mês; Tisri, ou Etanim (outubro), (Lv 23.39-43).
Nela se constroem cabanas de folhas no jardim da casa ou próximo à sinagoga. Isso é feito em memória das tendas onde os judeus moravam durante sua peregrinação no deserto e do cuidado que Deus dedicou a eles. Também se celebra ações de graça pelas colheitas.
Foi a esta festa que os irmãos de Jesus se referiram quando insistiram com Ele para que seguisse para Jerusalém (Jo 7.1-9).
9.5 – Outras Festas Judaicas
Existem muitas festas que não estão na Torá, mas que existem há centenas de anos. Analisemos algumas delas:
9.5.1 – O Ano-Novo (Rosh há- Shaná)
O significado de Rosh há-Shand é Cabeça do ano, trata-se do dia de Ano Novo do calendário judaico. E celebrado nos dois primeiros dias do mês de Tishai (setembro-outubro).
Esta festa lembra o momento em que teve início a criação do mundo. Nesse dia, cada um é convidado a refletir sobre o ano transcorrido e deixar o pecado para voltar-se a Deus. Na sinagoga, prevalece a cor branca, símbolo da penitência e pureza. Toca-se o shofar (chifre de carneiro) repetidas vezes para incitar ao arrependimento. Os dias que vão do Ano Novo ao Kippur lembram que o arrependimento do homem pode modificar a sentença do divino Juiz.
9.5.2 – O Dia do Perdão (Yom Kippur)
O Yom Kippur é o dia mais santo do ano, o dia da expiação. É comemorado dez dias após o Rosh há-Shaná (Cabeça do ano). Os judeus se dedicam à confissão de pecados e a reconciliação com Deus. Neste dia, se lê a passagem que se comenta sobre o jejum de Isaías 58.5-7.
Passam de crepúsculo a crepúsculo sem provarem comida ou bebida.
Vale observar que o perdão é uma realidade espiritual, que só pode partir de Deus. Se o indivíduo não se arrependesse não seriam os sacrifícios e os jejuns que iriam purificá‑lo. Tudo isto prefigurava o sacrifício de Cristo. E o que é perfeito já veio e a expiação se cumpriu totalmente na pessoa de Jesus Cristo. Assim sendo, não é mais necessário observar‑se esse símbolo.
9.5.3 – Festa das Sortes (Purim)
Realizava‑se nos dias 14 e 15 do décimo segundo mês Adar (março).
Esta festa anual é uma alegria derivada de uma das mais pavorosas e graves situações ocorridas na história judaica.
O dia anterior a Purim é um dia de jejum, mas um jejum menor, observado apenas entre o nascer e o pôr‑do‑sol, denominado jejum de Ester. Segundo o livro de Ester, foi este dia que Haman, o primeiro‑ministro da Pérsia, havia designado para o assassinato de todos os judeus do reino da Pérsia. A rainha Ester, que era judia, convocou todos os judeus a jejuar com ela e, assim, evitou o mau decreto. Alguns estudiosos levantam a hipótese de que a Festa dos Judeus, mencionada em João 5.1, seja uma referência ao Purim, mas isso é pouco provável.
X – Divisões no Judaísmo
Como resultado de sua história de dispersão e exílio, há comunidades judaicas na maioria dos países. Ao longo dos séculos, costumes diferentes se desenvolveram em diferentes comunidades, e embora os judeus tenham um forte sentimento de serem um só povo, há também muitas divisões entre eles.
10.1 – Judaísmo Conservador
O judaísmo conservador é uma espécie de feliz meio‑termo entre o judaísmo ortodoxo e o judaísmo reformado. Não é uma seita específica dentro do judaísmo, mas uma escola de pensamentos.
Seus primeiros expoentes foram Isaque Bernays (1792-1849) e Zacarias Frankel (1801‑1875).
Teve início no começo do século 19 como reação às reformas feitas pelos rabinos. Na América, este movimento é chamado de Sinagoga Unida da América.
10.2 – Judaísmo Ortodoxo
É a forma mais antiga do judaísmo. É formado pelos judeus tradicionalistas, unidos em torno da lei de Moisés. Observam a maioria das leis dialéticas e cerimoniais tradicionais do judaísmo.
De todo judeu ortodoxo espera‑se que seja um estudioso das Sagradas Escrituras e das tradições judaicas. A esperança messiânica e o retorno à Palestina são doutrinas que tanto os judeus ortodoxos, como indivíduos, quanto às comunidades a eles pertencentes, sempre fizeram questão de manter.
10.3 – Judaísmo Reformado
O judaísmo reformado é a ala liberal do judaísmo. Surgiu como uma tentativa das comunidades judaicas na Europa ocidental de ajustarem-se intelectual, cultural e espiritualmente ao Iluminismo. Assim o judaísmo reformado é produto indireto do Iluminismo europeu. É como se fosse a reforma protestante do judaísmo. A ênfase recaía sobre a razão e a reformulação da liturgia.
Os cultos religiosos começaram a ser efetuados nas línguas vernáculas locais, e não no hebraico bíblico ou no aramaico. Moisés Mendelssohn foi uma figura importante nos primórdios desse movimento.
O judaísmo tradicional tem sido a pedra fundamental do judaísmo reformado. Porém, o ensino fundamental do judaísmo tem sido reinterpretado mediante a razão e a interpretaçâo científica das Escrituras. A esperança messiânica é ali espiritualizada, sendo vista como o esforço do judaísmo em cooperar com todos os homens no estabelecimento do Reino de Deus na face da Terra.
XI – Estatísticas Judaicas
De acordo com as estatísticas feitas em 1999, existem aproximadamente 18 milhões de judeus no mundo. Esse número se divide da seguinte maneira:
África…………………………………… 320. 000
Ásia…………………………………… 5.375. 000
Europa……………………………….. 1.460. 000
América Latina……………………. 1.050. 000
América do Norte………………… 6.900. 000
Oceania……………………………………. 95.000
Ex-União Soviética………………. 2.200. 000
(“Dicionário e Religiões, Crenças e Ocultismo”; George e A. Mather & Larry A. Nichols; Editora Vida, pp. 254-255).
XII – Analisando as Doutrinas do Judaísmo
12.1 – Pecado
O judaísmo não enfatiza o pecado original, mas a virtude e retidão originais. Embora no judaísmo seja reconhecido que o homem comete atos e pecado, não há o senso de que o homem é totalmente depravado e indigno, segundo se vê na teologia cristã. No judaísmo, a expiação pelo pecado é obtida por meio da retidão pessoal, o que inclui o arrependimento, orações e boas obras. Não havendo, assim, necessidade de um Salvador.
Vejamos o que Trude Weiss Rosmarin disse:
O judaísmo exalta a justiça como um dos alicerces do Universo (p. 66).
A rejeição até mesmo dos mais antigos vestígios de mediação ou intermediação acabou por dar origem a um dos conceitos éticos mais sublimes: a certeza de que a redenção do pecado está totalmente em poder do pecador (p. 71).
Resposta Apologética:
A Bíblia nos diz: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Rm 5.12). Deixando-nos claro que herdamos a culpa, por causa do pecado de Adão. Disse Davi: Eis que em iniquidade fui formado, eem peca do me concebeu minha mãe (Sl 51.5). Deixando-nos claro que herdamos uma natureza pecaminosa.
A teoria de que a certeza que a redenção do pecado está em poder do pecador, dá base para a salvação através da justiça própria a partir das obras, o profeta Isaías nos diz: Mas nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia, e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam (Is 64.6). Como vimos, embora do ponto de vista do judaísmo, as pessoas possam ser capazes de fazer o bem, o profeta Isaías afirma que todas as nossas justiças, são como trapo da imundícia.
12.2- Unidade e Tri-unidade
Para os judeus, Deus é Pessoal, Todo-Poderoso, Eterno, Misericordioso. Mas não é a Trindade.
Para o incondicional monoteísmo judaico, a doutrina da Trindade é profundamente objetável porque se trata de uma concessão ao politeísmo ou, de certa maneira, uma adulteração da idéia de um único indefinível e indivisível Deus.
Resposta Apologética:
Com poucas exceções, geralmente se acredita entre os judeus que os cristãos crêem em três deuses diferentes. Essa impressão surgiu devido à fé cristã na Doutrina Bíblica da Trindade: crença num único Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O objetivo desta matéria é mostrar que a Doutrina Bíblica da Trindade não deveria ser estranha aos judeus que conhecem e compreendem e crêem nas Escrituras do Antigo Testamento, mas também faz parte do contexto dos escritos de Moisés e dos profetas.
Uma das razões por que os judeus deixaram de estar familiarizados com a doutrina do Deus Trino se encontra nos ensinamentos de Moisés Maimônides. Ele compilou os artigos de fé do judaísmo, que os judeus aceitaram e incorporaram em sua liturgia. Um desses artigos é: Creio com perfeita fé que o Criador (abençoado seja Seu nome) é um ser único (hebraico: yachid). Isso tem sido repetido diariamente pelos judeus em suas orações, desde o século doze, a época em que viveu Moisés Maimônides. Essa expressão yachid – único é absolutamente oposta à Palavra de Deus, a qual ensina enfaticamente que Deus não é um Yachid, isto é, único no sentido de unidade absoluta e, sim, Achad, cuja significação é unido no sentido de unidade composta.
Em Deuteronômio 6.4, Deus apresentou a seu povo um princípio que certamente é superior ao de Moisés Maimônides, visto que é originário do próprio Deus. Lemos nessa passagem: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. A palavra único no texto hebraico é achad – unido (unidade composta) e não yachid, conforme a interpretação de Moisés Maimônides.
Yachid – unido (unidade composta) e Achad – único (unidade absoluta).
Desejamos agora acompanhar essas duas palavras yachid e achad, em suas ocorrências no Antigo Testamento, verificando em que contexto e sentido são empregadas, a fim de nos certificarmos de seu verdadeiro significado.
Em Gênesis 1.13 lemos: … E foi a tarde e manhã, o dia primeiro. No texto hebraico primeiro é achad, o que subentende que a tarde e manhã ou ainda o dia e noite — duas coisas – são chamadas como se fossem uma só, mostrando assim claramente que o termo achad não significa único (unidade absoluta), mas sim unido (unidade composta). Novamente em Gênesis 2.24 lemos: Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar‑se‑á à sua mulher, e serão ambos uma só carne. Aqui também verificamos o uso da palavra achad, que fornece outra prova que significa unido (unidade composta), pois se refere a duas pessoas.
Yachid nas Sagradas Escrituras.
Vejamos, agora, onde a expressão yachid‑ único (unidade absoluta), pode ser encontrada. Em Gênesis 22.2, lemos: E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e... Aqui encontramos a palavra yachid. O mesmo termo é repetido no versículo 12 desse capítulo: … e não me negaste o teu filho, o teu único filho. No Salmo 25.16: Olha para mim, e tem piedade de mim, porque estou solitário e aflito, a palavra é outra vez aplicada a uma só pessoa, e também em Jeremias 6.26, onde lemos: … pranteia como por um filho único ...A palavra único é aqui expressa pelo hebraico yachid. Essa palavra aparece ainda com o mesmo significado em Zacarias 12.10: … e olharão para mim, a quem traspassaram; e pranteá‑lo‑ão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigénito …
E assim concluímos que Moisés Maimônides, apesar de sua grande sabedoria e erudição, incorreu num sério erro ao prescrever para os judeus uma confissão de fé na qual é dito que Deus é yachid‑ único (unidade absoluta), afirmação essa absolutamente oposta à Palavra do Deus vivo, que declara que Deus é achad – unido (unidade composta). E os judeus, seguindo fielmente o chamado segundo Moisés, mais uma vez demonstram suas antigas tendências em interpretar a Palavra de Deus de maneira que lhes convém. O Espírito Santo declarou acerca deles por intermédio do profeta Jeremias, dizendo: …pois torceis as palavras do Deus vivo, do Senhor dos Exércitos, o vosso Deus (Jr 23.36).
A Crença Cristã é Correta
Essa, pois, é a crença do verdadeiro cristão. Ele não tem três deuses, e, sim, um só Deus, de acordo com as Sagradas Escrituras, em hebraico expresso pela palavra achad – unido (unidade composta). Um único Deus, eternamente subsistente em três pessoas, conforme veremos nas Escrituras que seguem:
No primeiro versículo da Bíblia, Deus é apresentado com o nome hebraico Elohim. Em Gn 1. 1, o verbo está no singular (criou) e o sujeito no plural (Deus). Elohim é a forma plural de Eloah, mas o significado é o mesmo: Deus. Quando analisamos o contexto bíblico (Gn 1.26; 3.22; 11.7), podemos compreender a unidade composta de Deus na Trindade. Embora o nome Elohim por si só não prove a unidade composta, o contexto apóia a unidade composta de Deus: façamos… nossa (Gn 1.26-27); eis que o homem é como um de nós (Gn 3.22); desçamos e confundamos (Gn 11.7).
O Que Diz o Sagrado Livro Judeu – “Zoar”
Certamente interessará ao leitor saber que o mais sagrado dos livros judaicos – o “Zoar”, faz o seguinte comentário de Deuteronômio 6.4: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor (em hebraico: a palavra Senhor é YHWH). E o Zoar comenta: Qual a necessidade de mencionar o nome de Deus três vezes nesse versículo? Segue-se então a resposta: O primeiro YHWH – Senhor é ao Pai nos céus. O segundo é a raiz de Jessé, o Messias que deve sair da família de Jessé por meio de Davi. E o terceiro é o caminho na terra (significando o Espírito Santo, que nos mostra o caminho) e esses três são um.
Por conseguinte, em conformidade com o “Zoar”, o Messias não somente é chamado de YHWH como também está em união com o próprio YHWH Trino. Esse ensinamento do “Zoar” está baseado na Palavra de Deus falada por Jeremias 23.6, onde ao dar a promessa da segurança de Israel por intermédio do Messias, declara: …e este será o seu nome, com que será chamado: YHWH é a nossa justiça.
A doutrina bíblica da Trindade é apresentada na Bíblia em muitos trechos.
Por exemplo, Gn 1.26: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. O que significa o verbo (façamos) e o pronome (nossa), ambos no plural? Tentam afirmar que se trata de plurais majestáticos, forma de falar que um rei usaria ao dizer, por exemplo: Temos o prazer de atender-lhe o pedido. Mas no Antigo Testamento hebraico não se encontravam outros exemplos em que um monarca use verbos no plural ou pronomes plurais para referir-se a si mesmo nessa forma. A melhor explicação é que temos aqui uma indicação da pluralidade de pessoas no próprio Deus.
Também acontece em Gênesis 3.22: Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente; Gn 11.7: Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro, e Isaías 6.8: Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós?Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim (Repare a combinação de singular e plural).
Em certas passagens, duas pessoas distintas são denominadas Deus. Observe: Tu amas a justiça e odeia a impiedade; e por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros (Sl 45.7). Observamos claramente por isso Deus, o teu Deus duas pessoas denominadas Deus, indicando assim um plural de pessoas. Importante observar, que no livro de Hebreus o autor cita esta passagem e a aplica a Cristo: Hebreus 1.8.
O ensimamento de Deuteronômio 6.4 é um sumário bem abreviado de um grande número de passagens espalhadas por toda a Bíblia com relação ao Deus Trino – único Deus eternamente subsistente em três pessoas. Por causa da fraqueza de nossos olhos, Deus não deixa que o sol apareça subitamente pela manhã, mas vai aparecendo gradualmente, a fim de não cegar-nos pelo súbito relampejar de luz tão gloriosa. Como exemplo, podemos citar a gloriosa manifestação da pessoa do Messias, o Filho da justiça, por uma apresentação repentina do mesmo nas Escrituras, mas foi desdobrando linha após linha, apresentando-o gradualmente até que nossa compreensão ficasse bem preparada para entender a revelação em sua inteireza: Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei (Gl 4.4).
12.2.1 – Outros Exemplos da Pluraridade de Pessoas na Unidade Dividade
Abraão a os Três Mensageiros
Maravilhosamente Deus se revelou a Abraão como homem, está em Gênesis 18, onde o Senhor Deus apareceu a Abraão como três homens (anjos, mensageiros). No primeiro versículo lemos: Depois apareceu o Senhor nos carvalhais de Manre… e no versículo 2: E levantou os seus olhos, e olhou, e eis três homens em pé junto a ele… e embora sejam três homens, ou seja, três pessoas, Abraão se dirigiu a eles no singular, dizendo: Meu Senhor… (Gn 18.3).
Assim é que Deus apareceu a Abraão em três pessoas. Em outras palavras, o Deus que apareceu a Abraão, e os três homens que Abraão viu quando levantou os olhos, são o Deus único que subsiste em três pessoas.
Jacó e o Lutador Celestial
Em Gênesis 32.25-32, encontramos um misterioso personagem a lutar com Jacó, o qual depois implorou sua bênção. E Jacó nomeou aquele lugar de Peniel, cuja significação é a face de Deus, pois declara: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva (Gn 32.30). Vemos a mesma idéia ainda mais claramente declarada por Jacó em Gênesis 48.15-17. Antes de sua morte, Jacó abençoou a José e seus dois filhos. Ele começa referindo-se ao Deus de seus pais, Abraão e Isaque, e então fala no Deus que me sustentou durante a minha vida até este dia. Em seguida explicando quem é esse Deus, invoca-O com as seguintes palavras: O anjo que me livrou de todo o mal, abençoe estes rapazes… (Gn 48-16). Certamente Jacó estava se referindo aqui ao misterioso personagem com quem se empenhou em luta, e que o redimira de Esaú; e, no entanto, identifica-o com o Deus de seus pais, Abraão e Isaque. E assim, as três diferentes definições de Deus nesta passagem não podem significar outra coisa senão a Santa Trindade.
12.3 – Sábado
O povo judeu foi orientado por Deus em Êxodo 20.10: Mas o sétimo dia é o Sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Eryeh Kaplan diz: Dentro do judaísmo existe uma porção de atividades que não se pode fazer no Sábado, entre elas estão: Transportar, queimar, extinguir, fazer acabamento, escrever, apagar, cozinhar, lavar, costurar, rasgar, amarrar, desamarrar, moldar, orar, plantar, segar, colher, debulhar, joeirar, escolher, peneirar, moer, amassar, pentear, fear, tingir, fazer ponto em série, urdir trama, tecer, desembaraçar, construir, demolir, pegar em armadilha, cortar, abater, esfolar, curtir o couro, amaciar o couro e marcar (“Shabat dia de Eternidade”, Eryeh Kaplan, Editora Maayanot, 1a edição, pp. 39-40).
Declaram que o Sábado é o motivo de sua sobrevivência, Sem o Shabat, o judeu teria desaparecido. Foi dito que assim como o judeu manteve o Shabat, o Shabat manteve o judeu (“Shabat dia de Eternidade”, Eryeh Kaplan, Editora Maayanot, 1a edição, p. 9).
Resposta Apologética:
O Sábado da Lei, como sombra das coisas vindouras, prefigurava Cristo. Como relata Paulo em sua epístola aos Colossenses. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é Cristo (Colossenses 2.16-17).
Jesus condena claramente o cerimonialismo no dia do Sábado. Acusado pelos judeus de violação do Sábado, Jesus afirmou que: Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Porque o Filho do homem até do Sábado é Senhor (Mt 12.7-8).
Todo este cerimonialismo a tradição resulta de não terem recebido o Messias que é Jesus.
12.4 – Messias
A palavra grega Christos significa Messias, e usar qualquer um dos dois termos para Jesus é uma confirmação da fé cristã e um anátema a tudo que é sagrado no judaísmo (“Bem-vindo ao Judaísmo Retorno e Conversão”, Maurice Lamm, Editora a Livraria Sêfer LTDA., 1a edição, p. 278).
Para as pessoas que vêm de um ambiente onde se assume sem discutir que Jesus é o Próprio Deus, ou, pelo menos, um profeta, é necessário afirmar que, no judaísmo Jesus não é Deus nem faz parte da Divindade, não é profeta e definitivamente, não é o Messias (Mesmo livro citado pp. 276 e 277).
Resposta Apologética:
O messianismo manteve vivas as esperanças de Israel e garantiu sua existência até a época de Cristo. A esperança de Israel, entretanto, fixava-se na restauração da nação. A libertação do povo podia ser compreendida por três formas diferentes: terrena, segundo as leis da história humana; sobrenatural, numa terra milagrosamente transformada; transcendente, com a ressurreição dos mortos e realizada no céu.
Ao que vemos, os judeus não entenderam as profecias que apontavam para o Messias, dentre elas: Jesus seria a semente da mulher em Gênesis 3.15; o descendente de Abraão, Isaque e Jacó que iria finalmente abençoar todas as nações (Gn 12.2-3; 22.18); o profeta semelhante a Moisés (Dt 18.15); seria crucificado (Sl 22); o menino de Deus que teria um reino eterno (Is 9.6-7); que seria transpassado e moído pelas nossas transgressões para que fôssemos curados pelas suas pisaduras; sobre quem o Senhor fez cair a iniqüidade de toda humanidade (Is 53); o Renovo justo, o Rei sábio, que será chamado Senhor justiça Nossa (Jr 23.5-6); seria morto o Ungido depois de 483 anos (Dn 9.24-27); reinará sobre Israel, nascido em Belém Efrata (Mq 5.2).
As evidências nas Escrituras hebraicas provam que Jesus é o Messias. Deste modo, todas estas profecias, e muitas outras não mencionadas, mostram, de maneira que não deixa dúvida, que o Messias de Israel já veio.
Em Levítico 17.11, lemos que: sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados. Então onde está o sangue? Os judeus tinham o templo de Salomão, os sacerdotes, os sacrifícios, mas tudo isto desapareceu. Por quê? A razão é que o Messias já veio ao mundo, e se tornou, ao mesmo tempo o tabernáculo (Ap 21.3), o sacerdote (Hb 10.21), e o sacrifício (Ef 5.2). Através do sangue imaculado do Messias de Israel, Deus providenciou o meio de perdoar os pecados dos judeus e da humanidade inteira.
Hoje, o lugar onde era o templo está ocupado por uma mesquita muçulmana,e não temos mais sacerdotes, nem apresentamos sacrifícios de animais.
No evangelho de João se lê que veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1.11). Em outra passagem Jesus faz uma advertência quanto a sua aceitação: Quem me rejeitar a mim,e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue, a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia (João 12.48). E para aquele que o aceitasse, o apóstolo João diz: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome (João 1.12).
Sendo assim, a maior dádiva de Deus a Israel, foi rejeitada.
Na cruz do calvário o Messias morreu uma vez por todos os pecados da humanidade e ali consumou para sempre a obra redentora predita nas escrituras do Antigo Testamento (Hb 10.4-31; 9.23-28; Ap 1.7-8,18).
Extraído da Série Apologética do ICP