O Senhor Jesus é chamado, ainda, de primogênito: “o qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (CI 1.15). Esse, porém, é um dos versículos prediletos das testemunhas de Jeová, pois elas acreditam que essa passagem bíblica apoia a sua teologia, pois afirmam que Jesus não pode ser Deus porque é chamado na Bíblia de “o primogênito da criação“, sendo assim, seria criatura, e não eterno. Esse pensamento está baseado numa interpretação errada. O texto diz que Jesus é o primogênito de toda a criação, e não o primogênito de Deus.
A “imagem do Deus invisível” fala da divindade de Jesus. A palavra grega eikõn, “imagem, semelhança, arquétipo” (BALZ & SCHNEIDER, 2001, vol. I, p. 1 180), expressa duas ideias, ambas compatíveis com Cristo e sua obra: aparência e manifestação, pois ele é a expressa imagem de Deus (Hb 1.3) e também a sua manifestação (lo 1.18; 1 Jo 1.1-3). O Novo Testamento ensina a manifestação de Deus em Cristo, o Deus que assumiu a forma humana: “aquele que se manifestou em came” (1 Tm 3.16); “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19).
A Bíblia emprega o termo hebraico bekôr, “primogênito, primeiro, filho mais velho” (HARRIS; ARCHER, JR.; WALTKE, 1998. p. 181); “excelente” (BOTTERWECK & RINGGREN, 1990, vol. 11, p. 126) e o grego prótotokos, “o primeiro em nascer, o primogênito” (BALZ & SCHNEIDER, 2002, vol. II, p. 1248): “primogênito, primeiro, chefe” (BAILLY, 1950, p. 1694). Os escritores sagrados usaram essas palavras com o sentido de importância, prioridade, posição, primazia, preeminência. Assim, o termo “primogênito” aplicado a Cristo, em nada desabona a sua eternidade por duas razões principais: a Bíblia mostra a eternidade do Filho (ls 9 6; Mq 5.2; Hb 13.8; )0 1.3) e os vocábulos bekôr e prótotokos nem sempre significam o “filho mais velho”, mas o que tem primazia e preeminência.
O termo “primogênito” aparece com o sentido de destaque, por exemplo: Davi é o filho mais novo de Jessé (1 Sm 16-11), entretanto é chamado de “primogênito“, como afirma o salmo 89.27: “Também por isso lhe darei o lugar de primogênito; fá-lo-ei mais elevado do que os reis da testa“. Esse primogênito não quer dizer o mais velho ou o primeiro numa série, mas uma posição de destaque, uma preeminência, uma posição de cena primazia. Significa domínio.
Sabemos que o povo de Israel não foi o primeiro povo da terra. Antes mesmo de Abraão já existiam os sumérios, os acádios, os amorreus. Nos dias de Abraão havia os egípcios, os cananeus, os heteus e muitos outros povos. O povo de Israel, no entanto, é chamado de primogênito em Êxodo 4.22: “Assim diz o SENHOR; Israel É meu filho, meu primogênito. Da mesma forma acontece com Efraim, embora fosse filho mais novo de José, nascido no Egito (Gn 48.13, 19) é chamado de primogênito. A Bíblia declara: “… Porque sou um pai para Israel. e Efraim é o meu primogênito” Jr 31.9).
Esse conceito está presente, também, no Novo Testamento e pode ainda ser vão com relação à igreja, cujos membros são chamados de primogênitos, em Hebreus 12.23, que diz: “a universal assembleia e Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus“. Agora, procure o leitor dar o sentido de “o mais velho” ou ”o primeiro de uma série ao vocábulo primogênito, e veja o absurdo! Substitua a expressão “primogênito” por ‘mais velho” em Hebreus 12.23 e veja a confusão. A Igreja de Jesus Cristo é formada de primogênitos, afirma essa passagem. Qual pois, é o sentido dessa palavra? Esaú jogou fora seu direito de primogenitura (Hb 12.16. 17), nós, como membros do corpo de Cristo, desfrutamos os privilégios de primogênito, isso fala de posição, excelência e não deidade. Devemos, portando, guardar essas prerrogativas para não a jogarmos fora essa conquista em Cristo (Ap 3.11).
O apóstolo Paulo chama Jesus de ”o primogênito de toda criação” (Cl 1.15), não que seja a primeira criatura, ele faz questão de deixar isso claro nos versículos seguintes, Analisando Colossenses 1.15, à luz do próprio texto fica claro que ninguém pode afirmar e negar uma coisa ao mesmo tempo. Jesus é apresentado como Criador e não como criatura: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16). No versículo seguinte, ele é apresentado de maneira categórica como ser que transcende à criação, Jesus não faz parte da criação, é um Ser à parte da criação: “E ele é antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17); e conclui: “e ele é a cabeça do corpo da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1.18). O texto ensina, aqui, que Jesus é o Criador, o Preeminente sobre todas as suas criaturas. A Bíblia não ensina em nenhum lugar ser Jesus uma criatura de Deus; antes, o contrário, ensina que ele mesmo, isto é, Jesus Cristo, é Javé-Deus.
Autor: Pr Esequias Soares