“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no ‘ teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.42,43 – ARC).
Essa passagem de Lucas 23.42,43 tem sido objeto de muitas discussões e de acalorados debates na história do cristianismo.
De um lado, estão os mortalista, os quais creem que, por ocasião da morte do corpo o homem deixa de existir pelo fato de acreditarem que a morte é a aniquilação completa do ser humano, o qual só volta a existir por ocasião da ressurreição dos mortos, onde os ímpios ressurgirão para serem atormentados no inferno apenas até o pagamento da pena e depois deixam de existir; enquanto que os justos ressurgirão para a vida eterna. Estamos de acordo com essa afirmação apenas no que diz respeito à ressurreição dos justos, a qual também defendemos que é a ressurreição para a vida eterna. O restante dessa afirmação precisa ser analisado à luz das Escrituras Sagradas.
Do outro lado, estão os imortalistas (os que defendem a imperecibilidade da alma), os quais acreditam que a alma é uma entidade imaterial que sobrevive, de modo consciente, à morte do corpo, por ser ela imortal (Mt 10.28). Ao passo que as almas dos ímpios, imediatamente após a morte do corpo, vão direto para o inferno (Lc 16.22-31), o qual ainda não é o inferno escatológico, isto é, o Geena, mas apenas um lugar provisório de tormento, visto que o próprio inferno será lançado no lago de fogo, o qual é a segunda morte (Ap 20.14,15). e de onde ninguém pode sair ou escapar (Lc 16.26), onde elas sofrerão o castigo eterno (colasin aíonion) de acordo com Mateus 25.46; 2Tessalonicenses 1.9; 20.10; 21.8. Assim, como dissemos, as almas dos justos, após a morte do corpo, vão direto para o paraíso (Lc 16.22; 23.43; Fp 1.23), num estado de bem-aventurança, na presença de Deus (Ap 6.9-11), de onde ficarão aguardando o retorno de Jesus, que transformará os seus corpos corruptíveis num corpo de glória, para se encontrarem com as suas almas (ITs 4.14) e assim estarão para sempre com o Senhor (ITs 4.13’18; ICo 15.50-54).
Diante desse dilema, surge a seguinte pergunta: Jesus levou o ex- ladrão, a quem a tradição dá o nome de Dimas, naquele mesmo dia ao paraíso, conforme Ele havia prometido (Lc 23.43), ou o ex-ladrão, por ocasião da sua morte, deixou de existir e, como foi dito, de acordo com os mortalistas, ele só voltará a existir por ocasião da volta de Jesus, quando, então, ele será levado ao paraíso?
Por não concordar com a doutrina bíblica da imortalidade da alma, os mortalistas têm apresentado vários argumentos contrários à possibilidade de Jesus, conforme Ele prometeu (Lc 23.43), ter levado o ex-ladrão, naquele mesmo dia, ao paraíso. Pois admitir a entrada dele no paraíso, por ocasião da sua morte, naquele mesmo dia, seria admitir que a alma é imortal. Verdade bíblica com a qual eles não estão de acordo. Os argumentos dos mortalistas são os seguintes:
O EX-LADRÂO NÂO MORREU NAQUELE MESMO DIA, POIS UM CONDENADO LEVAVA DE TRÊS A NOVE DIAS PARA MORRER
Essa objeção é extremamente frágil e não se sustenta à luz das evidências bíblica e histórica. É bem verdade, de acordo com os historiadores, que um condenado à pena de morte, por crucificação, poderia levar de três a nove dias para morrer. Mas o caso do ex-ladrão, crucificado ao lado de Jesus, é uma exceção à regra. Conforme podemos depreender do texto de João 19.31, sexta-feira, como sabemos, era a parasceve, isto é, o dia da preparação e, logo em seguida, vinha o sábado da Páscoa, quando, de acordo com Deuteronômio 21.22,23, os corpos não deveriam ficar expostos na cruz, mas deveriam ser retirados naquele mesmo dia e ser sepultados. Atendendo ao pedido dos judeus (Jo 19.31), Pilatos mandou aplicar o crurífragium, ou seja, quebrar as pernas dos crucificados, a fim de apressar a sua morte que ocorreria dentro de alguns minutos, após esse ato cruel. Como podemos perceber, de acordo com João 19.32 os soldados quebraram as pernas do ex-ladrão, bem como a do seu companheiro de cruz, com exceção das pernas de Jesus, para se cumprir a profecia de que nenhum dos seus ossos seria quebrado (Jo 19.36). Logo, uma vez que as pernas do ex-ladrão foram quebradas, de acordo com os fatos históricos, ele, obrigatoriamente, morreu naquele mesmo dia e, portanto, foi levado naquele mesmo dia ao paraíso, conforme Jesus havia prometido (Lc 23.43).
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Fonte: Livro – Perguntas Difíceis de Responder – sobre a imortalidade da alma entre a morte e a ressurreição, Elias Soares de Moraes, Editora Beit Shalom, 2016.