“O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo; Quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo, Quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra. Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo; Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens”. Pv 8.22-31
As Testemunhas de Jeová alegam que a pessoa identificada como “sabedoria” neste texto é Jesus. Uma vez que foi dito que a sabedoria foi criada (v. 24), isso significa que Jesus teria sido um ser criado. “Ele era uma pessoa muito especial, pois foi criado por Deus antes de todas as outras coisas… Por incontáveis bilhões de anos, antes mesmo que o universo físico fosse criado, Jesus viveu como um ser espiritual no céu, e desfrutou de íntima comunhão com o seu Pai, Jeová Deus, o Grande Criador — Provérbios 8.22”.
RESPOSTA APOLOGÉTICA:
Essa passagem tem sido o tema de muitas disputas entre os amigos e os inimigos da divindade de Cristo. Por volta do ano 320 d.C., Ário de Alexandria concluiu a partir do verso 22 que Jesus era uma criatura, negando a doutrina bíblica da Trindade. Na Bíblia Hebraica, entretanto, a palavra usada não significa “criou”, mas sim “possuiu”.
O melhor — em vista do contexto e da natureza poética do livro de Provérbios — é não tomar essa passagem como uma referência direta a qualquer pessoa. Expressões poéticas frequentemente falam de uma ideia abstrata como se esta fosse uma pessoa. Essa “personificação” é um modelo comum da literatura de sabedoria hebraica. A sabedoria a que o texto se refere não é Jesus. Antes, é a personificação da virtude ou do caráter da sabedoria, com o propósito de dar ênfase e gerar impacto.
Além disso, os nove capítulos iniciais do livro de Provérbios personificam a sabedoria, logo não faria muito sentido dizer que qualquer desses capítulos se refere diretamente a Jesus. Depois de tudo, a sabedoria é retratada como uma mulher que clama nas ruas (1.20-21), da qual diz-se que “habita” com a prudência (8.12). É digno de nota que nenhum dos escritores do Novo Testamento aplica Provérbios 8 a Jesus Cristo.
Independentemente do verso se referir ou não a Jesus, o bom senso nos diz que a sabedoria deve obrigatoriamente ser tão eterna quanto o próprio Deus, que é a fonte suprema de toda a sabedoria. Nesse sentido, não podemos permitir que Provérbios 8 sequer dê suporte à ideia de que a sabedoria tenha sido criada. Mais precisamente, o termo hebraico utilizado nessa passagem indica que a sabedoria foi “trazida à luz” para desempenhar um papel na criação do universo (Pv. 3.19). Desse modo, alguns comentaristas têm visto apenas um paralelo entre essa passagem e Jesus, a sabedoria de Deus (ICo. 1.24; Cl. 2.2-3), que foi o instrumento através de quem o universo foi criado (Jo. 1.3; Cl. 1.16).
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Fonte: Resposta Às Seitas, Norman L. Geisler e Ron Rhodes, CPAD, 2000 – Texto compilado e adaptado pelo Pr. Edison Miranda da Silva. Bíblia Apologética, ICP, 2000.