A passagem de Marcos 4.12,13 relata uma fala de Jesus, no tocante ao entendimento de seus ensinos por meio de parábolas, por parte dos discípulos e a falta de compreensão “aos que estão de fora”. Numa leitura fria, isolando o versículo em questão, sem levar em consideração seu contexto e o cenário em que a passagem se desenrola, é provável que o leitor seja impelido à interpretar que Jesus estaria excluindo de alguns a possibilidade de compreensão da mensagem do Reino e consequentemente possam se converter. Dessa forma, os tais estariam destinados a perdição, uma vez que foram impedidos de responder a mensagem do Reino. Seria esta a forma exegética correta de interpretar as Escrituras?
Pois bem, partindo do pressuposto que a Bíblia jamais se contradiz e que nenhum texto, pode se anular o outro, embora aja situações em que aparentemente isso ocorra, devemos ter em mente alguns princípios Bíblicos, quanto à salvação, providenciada por Deus e respondida pelo homem à luz das Escrituras.
1° DEUS DESEJA QUE TODOS RESPONDAM SEU CHAMADO
Por ser um Deus bondoso e misericordioso, partiu do Senhor a atitude de providenciar um meio de resgatar o homem que estava perdido, imerso no pecado, morto em seus delitos e ofensas (Ef 2:1). Embora, vivendo o homem uma situação de cegueira espiritual, praticando deliberadamente as obras da carne, ainda assim, Deus os alcança com sua longanimidade, os exortando por meio de seus servos que se arrependam, conforme o relato de Paulo: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo o lugar, que se arrependam” (At 17:30).
Desta forma, tendo por base este princípio, Jesus não poderia endurecer o coração dos ouvintes das parábolas, pelo fato de ser a vontade de Deus que todos respondam ao seu chamado através da obra salvífica Cristo, como está escrito: “(Deus) quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm 2:4).
2° O HOMEM TEM PARTICIPAÇÃO NESSE CHAMADO
Como foi citado, a obra da salvação é exclusivamente divina, não houve qualquer ação humana para que isso ocorresse, o que o homem pode fazer é apenas aceitar, este favor imerecido que lhes é oferecido, sem qualquer limitação, que as Escrituras denominam como Graça. Entretanto, esta dádiva divina pode ser rejeitada. Com esta ideia em mente, escreveu Hunt: “Não há qualquer indicação de que a graça de Deus é imposta irresistivelmente a pessoa alguma. Cada um deve, de bom grado, optar por recebê-la“.
Há alguns grupos heterodoxos, influenciados pela doutrina de Agostinho que defendem a ideia da graça irresistível, mas as Escrituras mostram exatamente o inverso. Conforme os relatos abaixo:
“Mas vós tende rejeitado hoje a vosso Deus, que vos livrou de todos os vossos males e trabalhos” (1 Sm 10.19a).
“Jerusalém, Jerusalém que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados. Quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos, como a galinha ajunta seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste” (Mt 23.37).
“Homens de dura cerviz, incircuncisos de coração e ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis” (At 7.51).
Há outros textos que mostram que o homem pode resistir a graça de Deus, rejeitando dessa forma a salvação.
Assim é necessário que o homem aceite esse dom que desce do alto, respondendo ao chamado de Deus, por meio de Cristo, dessa forma, passando do estado de condenado, para o de herdeiro das mansões celestiais, tornando-se assim filho de Deus: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (Jo 1:12).
3° A EXEGESE DO TEXTO
O texto deve ser interpretado à luz de Isaías 6: 9,10 – “Então disse ele, vai e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhes os ouvidos, e fecha-lhes os olhos; não venha ele a ver com seus olhos, e a ouvir com seus ouvidos, e a entender com seu coração, e a converter-se, e a ser sarado“.
Como no Antigo Testamento, os judeus haviam endurecido seus corações, a ponto de não serem capazes de responder ao chamado de Jesus. Eles tinham ouvidos, mas eram surdos à voz de Deus. Diante disso, após inclinarem seus corações ao endurecimento à voz de Deus, o Senhor endureceu ainda mais seu coração para não responderem ao seu chamado.
Assim ocorreu com o faraó que por diversas vezes endureceu seu coração, chegando ao ponto de o próprio Deus endurecê-lo e trazendo o juízo por tal insensibilidade ao obedecer a voz de Deus.
Portanto, Jesus não negou aos ouvintes de suas parábolas a compreensão e a consequente conversão, mas os próprios homens, de dura cerviz, com o coração obstinado se fizeram surdos, no tocante à resposta de salvação, oferecidas por Jesus.
– REFERÊNCIAS:
[1] HUNTER, Dave. Que amor é este? A falsa representação de Deus no Calvinismo. Editora reflexão, pág. 532.
[2] KEENER, Craig. Comentário histórico-cultural da Bíblia. Novo Testamento. Editora vida. nova, pág.156.
[3] STAMPS, Donald. Bíblia de estudo pentecostal. Editora CPAD.
– Por. Edson Moraes | Via Josué Luiz Amaral