Jesus como o cumpridor do Antigo Testamento

Jesus e nicodemus

TEMOS NOS AFASTADO DESTE DEUS (NÃO TEMOS?)

Jesus Como O Cumpridor Do Antigo Testamento

As Dádivas dos Judeus

Em 16 de Fevereiro de 1809, John Adams escreveu uma carta a F.A. Vanderkemp em que ele insistiu que “os Hebreus tem feito mais para civilizar o homem do que qualquer outra nação”. Não somente as suas leis ajudaram a trazer uma influência civilizatória às nações, mas eles preservaram e propagaram à humanidade “a doutrina de um supremo, inteligente, sábio, majestoso soberano do universo, que eu creio ser o grande principio essencial de toda a moralidade e conseqüentemente de toda a civilização.”[1]

Em seu fascinante livro The Gifts of the Jews [As Dádivas dos Judeus], Thomas Cahill reforça esse argumento. Essa antiga tribo nômade do deserto ajudou a introduzir na humanidade um sentido da história – passado, presente e futuro – a idéia que a história está indo a algum lugar, que ela tem um ponto.[2] Para os Mesopotâmios, Egípcios, e outros povos antigos, o tempo era cíclico – repetitivo. Podemos dizer o mesmo sobre muitas filosofias ocidentais e religiões de hoje; eles defendem a doutrina do carma com seus ciclos de reencarnação, nascimento, morte e renascimento. Além do mais, o Antigo Testamento revela um Deus que tem um plano global (cósmico) e que envolve os humanos como participantes na formação da história nesse plano. Sim, os seres humanos são importantes. As genealogias do Antigo Testamento refletem o importante papel que os humanos desempenham no desdobramento dos propósitos de Deus.

No topo, os judeus introduziram um monoteísmo robusto. Ao invés de ser somente um deus em um panteão de outros ou somente uma deidade regional, Yahweh era/é a única deidade importante. De fato, ele é o único que existe. Somando a isso, os judeus introduziram uma nova forma de experimentar a realidade. Existe um ser divino que regularmente, pessoalmente se envolve com os seres humanos, cujas escolhas realmente fazem a diferença. As decisões que os seres humanos fazem, tem grande significância e Deus entrelaça essas escolhas em seu plano abrangente. Nós não somos os peões do destino ou nos favores dos caprichos dos deuses. Por outro lado, os humanos não são tão poderosos para que possam manipular a Deus para fazer suas vontades. Esses temas são algumas das dádivas dos judeus ao resto do mundo.

As dádivas dos cristãos

Horrível, ações anti-cristãs foram realizadas em nome de Cristo: as Cruzadas, a Inquisição, caça as bruxas ou a luta entre Católicos e Protestantes na Europa poderiam ser mencionadas. Não que Jesus quer ser identificado com esse tipo de zelo religioso. Muitas coisas podem ser feitas em nome de Deus que pode fazer com que seu nome seja “blasfemado entre os gentios” (Rm 2.24).

O problema com as declarações de Christopher Hitchens que “a religião envenena tudo” é que tanto é vaga quanto extrema. O termo religião na literatura existente é notadamente vaga e difícil de se definir. E se Dennett e Hitchens sugerem que Stalin era “religioso” de alguma maneira, então, neste ponto, nós levantamos nossas mãos em perplexidade. A declaração de Hitchens sobre a influência nociva da religião também é extrema em seu desequilíbrio. A religião envenena tudo e não trás benefício algum? Mais pensativos, ateus sofisticados discordariam fortemente. Como o filósofo ateu Walter Sinnott-Armstrong responde, esse slogan de que a religião envenena tudo é “impreciso e insultante”. Ele aconselha os ateus a não aplaudir ou rir das brincadeiras de Hitchens, nem devem permanecer em silêncio. Para Sinnott-Armstrong, a crítica da religião de Hitchens é “como um parente decrépito” que está constantemente fazendo “afirmações bizarras”; sua apreciação nem é justa, nem muito esclarecedora.[3]

Ironicamente, as granadas morais dos Novos Ateus arremessadas contra a fé Cristã em nome da moralidade, estão, na verdade, historicamente fundamentadas sobre a mesma fé que eles criticam. Historiadores tem documentado que os valores dos direitos humanos, tolerância, justiça social e reconciliação racial são legados da fé Cristã, não alguns ideais iluministas seculares. Apesar de todos os seus defeitos, a igreja Cristã desempenhou uma parte importante em trazer enormes benefícios para a civilização. Esse impacto, com freqüência, tem sido inspirado pela devoção a Cristo que transborda o amor ao próximo para a glória de Deus.

Essas conquistas documentadas incluem o seguinte:[4]

É difícil exagerar o impacto que Jesus de Nazaré teve sobre a história e as incontáveis vidas impactadas pela vida e ensino deste homem – certamente o poder transformador da cruz e da sua ressurreição. O historiador Jeroslav Pelikan observou que pela mudança do calendário (para a.C. e d.C. segundo “o ano do nosso Senhor”) e outras formas, “todos são compelidos a reconhecer que por causa de Jesus de Nazaré a história nunca mais será a mesma”.[5]

Dawkins está completamente errado em afirmar que a fé cristã – como o Islã – foi espalhado pela espada.[6] Se ele deu uma olhada honesta na história cristã, ele teria que reconhecer que o movimento cristão primitivo era desautorizado socialmente e politicamente. Este movimento foi primeiro chamado de “o Caminho” (Atos 19.9, 23; 22.4; 24.14,22) em honra de seu salvador (João 14.6), e com freqüência reuniu a si mesmo escravos e membros das classes mais baixas. Nos primeiros três séculos, a igreja cresceu pelas obras de amor e misericórdia e pela proclamação das boas novas de Jesus. Guerras santas não tiveram nenhum lugar nesse movimento pacifico.

Rodney Stark – o respeitado gigante entre os sociólogos – mostra em seu livro The Victory of Reason [A Vitória da Razão] como o “sucesso do ocidente, incluindo a ascensão da ciência, repousou inteiramente sobre fundamentos religiosos, e as pessoas que a trouxeram foram cristãos devotos.”[7] Mas não tome somente a palavra de um Sociólogo Cristão acerca disso. Jürgen Habermas é um dos mais proeminentes filósofos da Europa hoje. Outro fato sobre Habermas: ele é um ateu extremado. Ainda, ele destaca o fato histórico inescapável que a fé bíblica foi a profunda influência que modelou a civilização. Considere cuidadosamente sua apreciação:

O Cristianismo tem funcionado para um auto entendimento normativo da modernidade como mais do que um precursor ou um catalisador. O universalismo igualitário que espalhou as ideias de liberdade e solidariedade social de uma conduta autônoma de vida e emancipação, a moralidade individual de consciência, direitos humanos e democracia são herdeiros diretos da ética Judaica de justiça e da ética Cristã do amor. Este legado, substancialmente inalterado, tem sido objeto de apropriação crítica contínua e reinterpretação. Ainda hoje, não há nenhuma alternativa a isso. E a luz dos desafios atuais de uma constelação pós-nacional, nós continuamos a recorrer ao conteúdo dessa herança. Tudo o mais é somente conversa pós moderna ociosa.[8]

Nas palavras do estudioso dos direitos humanos Max Stackhouse, “A honestidade intelectual exige o reconhecimento do fato que se passa como princípios ‘seculares’ ‘Ocidentais’ dos direitos humanos básicos desenvolvidos em nenhum outro lugar do que nas vertentes chaves das da religião enraizada bíblicamente”.[9]

Considere três fatos históricos fundamentais. (1) Fala dos direitos naturais emergidos na teologia Católica na Idade Média, uma linguagem que em si mesmo foi construída sobre o entendimento bíblico da imagem de Deus em todos os humanos. (2) Os principais impulsionadores que estabeleceram A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (que fala dos seres humanos “dotados de razão e consciência”) foram primeiramente coalizões de igrejas e líderes cristãos individuais que trabalharam juntos com alguns rabinos Judeus para criar a “nova ordem mundial” dos direitos humanos. (3) Até mesmo a ênfase do alegado Iluminismo secular dos direitos humanos universais tem raízes teológicas profundas; isto é completamente óbvio em dois principais documentos do século 18: A Declaração de Independência (que fala do ser humano “dotado por seu Criador com certos direitos inalienáveis”) e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (afirmando os direitos humanos “na presença e sob os auspícios” de Deus, “O Ser Supremo”). Em resumo, a marca Judaico-Cristã sobre os direitos humanos no presente é vital para corrigir muitos ataques seculares a religião.[10]

Até mesmo os não Ocidentais tiveram que reconhecer o extraordinário impacto da fé Cristã no Ocidente. O respeitado correspondente da revista Time David Aikman relatou um resumo de uma palestra de um erudito chinês a um grupo de 18 turistas americanos:

“Uma das coisas que nos foi pedido para olhar foi o responsável pelo sucesso, de fato, a preeminência do Ocidente sobre o mundo todo”, ele disse. “Nós estudamos tudo o que podíamos de uma perspectiva histórica, política, econômica e cultural. A principio nós pensamos que era porque vocês tinham armas mais poderosas do que nós. Daí nós pensamos que era porque vocês tinham o melhor sistema político. Depois enfocamos sobre o seu sistema econômico. Mas nos últimos vinte anos percebemos que o coração de sua cultura é sua religião: O Cristianismo. Este é o motivo do Ocidente ser tão poderoso. O fundamento moral cristão da vida social e cultural foi o que fez possível a emergência do capitalismo e então a bem sucedida transição a política democrática. Nós não temos nenhuma dúvida sobre isso”.[11]

Esse palestrante não era nenhum maluco mal informado. Ao contrário, ele representava uma das principais organizações de pesquisas acadêmicas da China – a Chinese Academy of Social Sciences (CASS). Nós não somente encontramos suporte acadêmico no Ocidente a favor de uma cosmovisão Judaico-Cristã. Nós encontramos no Oriente também!

Jesus como o clímax

As Escrituras começam com a afirmação da criação, que todos os seres humanos são feitos a imagem de Deus. De muitas maneiras, as melhorias do Antigo Testamento sobre boa parte das outras antigas legislações do Oriente Próximo foram um movimento significante em direção ao ideal. O Antigo Testamento nos fornece perspectivas duradouras sobre a dignidade e o estado caído humano, para não mencionar insights morais com respeito a justiça, fidelidade, misericórdia, generosidade e afins.

No entanto, se nós pararmos no Antigo Testamento, nós não veremos toda a linha histórica como ela trás o cumprimento em Jesus. O Antigo Testamento foi, em muitas maneiras, uma antecipação de algo maior. Então, se Jesus verdadeiramente trouxe um Novo Pacto para o verdadeiro Israel e começou a renovar a criação como o segundo Adão, então, nós devemos nos preocupar como sua encarnação, ministério, morte expiatória e ressurreição lança luz lá atrás, no Antigo Testamento, com toda a sua desorganização. Parar nos textos do Antigo Testamento sem permitir Cristo, o segundo Adão e o novo e verdadeiro Israel para os iluminar, nossa leitura e interpretação do Antigo Testamento será grandemente empobrecida e, em certas maneiras, deturpada.

Um dia iremos desfrutar plenamente a realização de uma bondade pura e paz. Nos novos céus e nova terra, nenhuma discriminação social ou racial existirá. As espadas serão transformadas em arados. A paz reinará. Em seus dias, Jesus reafirmou os textos do Antigo Testamento sobre amar a Deus e ao próximo e conclamou Israel a voltar a viver pelos projetos criativos de Deus. Isso foi no passado, mas os corações endurecidos ainda estão conosco hoje. Contudo, a abordagem de Jesus do Antigo Testamento deveria nos instruir, os cristãos, a viver no já/ainda não. Nós ainda estamos vivendo com muitos benefícios da cruz de Cristo (já), mas, ainda estamos vivendo em um mundo caído, porém, ainda esperamos os novos céus e nova terra e os nossos corpos ressurretos (ainda não).

Embora os Neo Ateus não pretendam isso e embora eles com frequência o fazem de forma equivocada, eles podem servir como um desafio adequado a nós, Cristãos. Como? Nos lembrando a ser mais contemplativos em nossa fé, a viver vidas centradas no Reino com grande paixão e consistência Cristã, aprofundar nosso compromisso com a justiça e se opor a opressão, pensar por meio dos obstáculos contemporâneos a fé e oferecer uma visão mais convincente nas palavras e ações a um mundo que observa. Todos nós precisamos dar um novo olhar em Jesus, fixar nosso olhar nele e moldar nossa devoção a ele, nosso amor aos outros (mesmo nossos inimigos), e nossa preocupação pela cultura e pelo mundo em que nos encontramos. O escritor e pastor Tim Keller nos dá um inicio para a nossa reflexão;

Se seu fundamento é um homem morrendo na cruz por seus inimigos, se o próprio coração de sua autoimagem e sua religião é um homem orando por seus inimigos assim como ele morreu por eles, se sacrificou por eles e os amou – se isso adentra o fundo do seu coração, irá produzir o tipo de vida que os primeiros cristãos produziram. A vida mais inclusiva possível fora da afirmação mais exclusiva possível – isso é que é a verdade. Mas o que é a verdade? A verdade é um Deus que se torna fraco, amor e sofredor pelas pessoas que se opuseram a ele, morrendo e os perdoando.[12]

Enquanto podemos tropeçar ou sermos incomodados quando lermos certas passagens do Antigo Testamento, podemos as colocar em uma perspectiva apropriada olhando nos lugares certos. A última resolução é encontrada na palavra esclarecedora de Deus a nós e Aquele que se tornou carne e viveu entre nós, que morreu e ressuscitou por nós. O Deus que os Novos Ateus consideram um monstro não é deve ser reconhecido apenas como um Deus santo, mas de amor, um Deus que se auto sacrifica e nos convida a ser reconciliados com Ele.

Sugestão de Leitura adicional

Hill, Jonathan. What Has Christianity Ever Done for Us? Downers Grove, IL: InterVasity, 2005.

Schmidt, Alvin. How Christianity Changed the World. Grand Rapids: Zondervan, 2004.

Starks, Rodney. The Victory of Reason. New York: Random House, 2005.

Wright, N. T. Evil and the Justice of God. Downers Grove, IL: InterVarsity, 2006.

Por Paul Copan

Tradução Walson Sales

Fonte: COPAN, Paul. Is God a Moral Monster? Making sense of The Old Testament God. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2011, pp. 216-222

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Notas

[1] John Adams, The Works of John Adams, Second President of the United States: with a Life of the Author, Notes and Illustrations, by his Grandson Charles Francis Adams, vol. 9 (Boston: Little, Brown, and Co., 1856). Disponível em http://oll.libertyfund.org/index.php?option=com_staticxt&staticfile=show.php&title=207.

[2] Thomas Cahill, The Gifts of the Jews (New York: Anchor, 1999).

[3] Water Sinnot-Armstrong, Morality without God (Oxford: Oxford University Press, 2009), 154.

[4] Jonathan Hill, What Has Christianity Ever Done for Us? (Downers Grove, IL.: InterVarsity, 2005), 176-77. Para uma documentação completa sobre este fenômeno, veja Alvin J. Schmidt, How Christianity Changed the World (Grand Rapids: Zondervan, 2004).

[5] Jaroslav Pelikan, Jesus through the Centuries (New York: Harper & Row, 1985), 33.

[6] Richard Dawkins, The God Delusion (Boston: Houghton Mifflin, 2006), 37.

[7] Rodney Stark, The Victory of Reason (New York: Random House, 2005), xi.

[8] Jurgen Habermas, Time and Transitions, ed. E trad. por Ciaran Cronin e Max Pensky (Cambridge: Polity, 2006), 150-51.

[9] Max Stackhouse, “A Christian Perspective on Human Rights,” Society (January/February 2004): 25.

[10] Ibid., 24. Veja também Max L. Stackhouse e Stephen E. Healey, “Religion and Human Rights: A Theological Apologetic,” em Religious Rights in Global Perspective, ed. J. Witte Jr. e J. D. van der Vyer (Dordrecht: Kluwer, 1996), 486; e Mary Ann Glendon, The World Made New: Eleanor Roosevelt and the Universal Declaration of Human Rights (New York: Random House, 2001).

[11] David Aikman, Jesus in Beijing: How Christianity Is Transforming China and Changing the Global Balance of Power (Washington, DC: Regnery, 2003), 5. Esta citação serve como um ponto de exclamação para completar o estudo de Rodney Stark, The Victory of Reason: How Christianity Led to Freedom, Capitalism and Western Success (New York: Random House, 2005), 235.

[12] Tim Keller, “Reason for God,” The Explorer (Veritas Forum) (Outono de 2008), www.veritas.org/explorer/fall2008.html#story1.

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