Jejum e oração

Desejo entender duas citações de Jesus, na primeira ele diz não ser necessário o jejum, na segunda citação, ele recomenda o jejum e a oração. Como entender estes dois versículos?

As duas citações se encontram em Mateus 9.14-15 e 17.21, onde lemos: Vieram, depois, os discípulos de João e lhe perguntaram: Por que jejuamos nós, e os fariseus muitas vezes, e teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus: Podem, porventura, andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? e Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum. Os israelitas tinham o costume de fazer diver­sos jejuns durante o ano. Geralmente, esses jejuns eram expressões de arrependimento e lamentação, por exem­plo, no dia da Expiação era conclamado um jejum nacional, também havia outras ocasiões onde lamentavam o cativeiro da Babilônia.

Além disso, uma das características dos fariseus era a ostentação religiosa, portanto faziam jejuns duas vezes por semana (Lucas 18.12). Essa atitude orgulhosa foi con­denada por Jesus. Em Mateus 6.17-18, o Senhor orien­ta que um jejum aceitável seria de um coração contrito e oculto, ou seja, com o objetivo único de clamar a Deus em secreto. Este era um dos motivos para os dis­cípulos não jejuarem segundo os costumes da época.

Mas o fator mais importante encontra-se na declara­ção do Senhor Jesus em Mateus 9.15: Podem, porventura, andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Real mente, não era possível. A presença de Jesus, o Cristo, no meio dos discípulos, era motivo de alegria, contudo, viria o dia em que lamen­tariam, como Ele mesmo salientou: Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.

Após o Pentecostes, encontramos a Igreja orando e jejuando como prática comum. Uma ocorrência muito interessante encontra-se em Atos 14.23, onde lemos: E, havendo-lhes por comum consentimento eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido. Será que há algum poder místico no jejum?

O princípio do jejum é clamor. O jejum sempre es­teve, nas Escrituras, ligado ao clamor, à busca de Deus, e é uma maneira de dizer: ‘de mim mesmo nada pode­rei fazer’. Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, per­doarei aos seus pecados e sararei a sua terra (2 Crôni­cas 7.14). Evidentemente, o jejum deve ser banhado de oração (Jeremias 33.3).

Não há poder místico no jejum, como alguns que­rem ensinar que o jejum ‘move’ a Deus. Isso não é verdade, o que ‘move’ a Deus é o arrependimento, um coração contrito e a obediência, como podemos averiguar no contexto dos versículos. A chave está em sujeitar-se a Deus e obedecê-lo, assim lemos em Tiago 4.7-10: Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós, de duplo âni­mo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.

Movimentos estranhos têm aparecido no meio evangélico, prometendo ‘libertações’, grupos que têm retiros em regime fechado, modas têm surgido trazen­do a receita do ‘esquema’ certo para resolver os pro­blemas. Mas como lemos em Tiago 4.7-10, o segredo de chegar-se a Deus é o mesmo! Um coração contrito, e a vida no altar, amando ao próximo e ajudando o irmão mais fraco.

Aliás, o jejum pode ser até mesmo abominação ao Senhor, se não houver um coração com uma atitude correta, conforme podemos ver no capítulo 3 do livro de Zacarias.

Contudo, alguns têm se tornado legalistas neste as­sunto, exigindo de si mesmos e de outros que sigam determinadas regras, afirmando que foram ‘revelados’ que deveriam jejuar de determinada maneira, a ponto de negarem comunhão aos que não aderiram a tal ponto de vista. Isto é legalismo e não está de acordo com as Escrituras Sagradas.

Talvez alguma igreja poderá convidar os membros para levantarem um clamor a Deus, e pode estar envol­vido uma manhã ou várias, de jejum. Algumas denomi­nações têm o costume de fazer consagração na manhã da Santa Ceia. Não estamos questionando isto, pois, como vimos, a Igreja Primitiva, ao resolver assuntos importantes, sempre buscava a Deus com oração e je­jum. A comunhão que temos com nossos irmãos em nossa igreja local é essencial para nossa saúde espiri­tual. Quando encontramos irmãos que nos ajudam em oração e até se dispõem a jejuar conosco, sentimo-nos amados e fortalecidos! Já experimentou ajudar alguém com jejum e oração? O apóstolo Paulo escreveu: Alegrai- vos com os que se alegram e chorai com os que cho­ram (Rm 12.15).

FONTE: REVISTA “DEFESA DA FÉ”  ANO 4 – N°21

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