Fundador de seita que se espalha pela Amazônia nunca conseguiu ser padre
José Fernandes Nogueira, autoproclamado José Francisco da Cruz, nasceu em Cristina (MG) no dia 3 de setembro de 1913. Desde a adolescência tentou ingressar na carreira sacerdotal, sem sucesso. Casou-se, teve sete filhos e, em 1944, diz que recebeu uma “visão celestial” que o instava a seguir pelo mundo pregando a cruz e o evangelho.
Foi o que fez –primeiro organizando romarias a Aparecida do Norte (SP) e depois pelo interior de Minas. Nos anos de 1950 abandonou a família e passou a peregrinar munido de uma cruz.
Segundo o pesquisador Ari Pedro Oro, ator de “Tükuna Vida ou Morte” (1977), Nogueira vestiu a batina em 1960 e “nunca mais a tirou do corpo”.
Passou por São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e depois subiu para a Amazônia, tanto brasileira quanto peruana.
No Peru, foi acolhido pela Igreja Católica até abandonar tudo e voltar ao Brasil para fundar a seita, em 1972.
Antes disso tentou chegar à Venezuela e à Colômbia, onde iria se “encontrar com anjos”.
No Brasil, moldou a Ordem Cruzada, Católica, Apostólica e Evangélica com os conhecimentos de pré-seminarista. O rito mais marcante determinava “plantar” a cruz nas aldeias no último dia da missão, às 15h.
SEITA RESSURGE EM MAIS DE 170 ALDEIAS DA AMAZÔNIA
Fez batismos e casamentos por onde andou, sempre com reprovação da Igreja Católica. Foi preso, apedrejado e idolatrado.
No final dos anos de 1970, fundou uma comunidade –a Vila UPA– num braço do igarapé Juí, batizado por ele de Lago Cruzador. A sede espiritual da Irmandade Santa Cruz está lá até hoje.
O arcebispo de Tabatinga, Dom Alcimar Caldas Magalhães, ouviu as primeiras pregações de José da Cruz na região nos anos de 1970 e lembra que o pastor falava baixo, de forma quase inaudível.
“O pouco que se ouvia não fazia nenhum sentido. Mesmo assim, as pessoas adoravam a pregação. Ele nunca se proclamou um curandeiro. As pessoas é que acreditavam nisso”, relembra Dom Alcimar.
O sociólogo e professor Pedrinho Guareschi, que escreveu o livro “A Cruz e o Poder” (1985) sobre a congregação, diz que a seita sempre aproveitou o misticismo das populações indígenas para exploração econômica.
“Já nos primórdios, servia aos interesses dos coronéis do barranco porque levou os índios de volta ao aldeamento e à produção agrícola, que era explorada por esses comerciantes. Agora é pelo dízimo mesmo. Todos esses dogmas têm motivação econômica”, assegura.
Texto extraído do site do UOl em 13/02/2016