O livro de Tiago nos ensina algo sobre a inteligência espiritual quando fala da oração. No capitulo 4, verso 3: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal.” Há, portanto, um pedir bem, um saber pedir. Uma maneira inteligente de levar nossas petições ao Pai. Uma determinada sabedoria que Tiago define no capitulo 1, verso 5. Deus a concede a qualquer um, culto ao inculto, rico ou pobre, sábio ou indouto. Ela é definida no capitulo 3, verso 17: “Mas a sabedoria que vem do alto é principalmente pura, depois, pacifica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia”.
O assunto é tão interessante que mesmo os pensadores seculares estão preocupados com essa sabedoria, que podemos chamar também de inteligência espiritual.
Segundo a psicóloga e filosofa americana Danah Zohar, autora do livro Inteligência Espiritual, lançado no Brasil, essa capacidade se caracteriza pelos seguintes traços: capacidade de ser flexível; grau elevado de auto-conhecimento; capacidade de enfrentar a dor; capacidade de aprender com o sofrimento; capacidade de se inspirar em idéias e valores; relutância em causar danos aos outros; tendência para ver conexões entre realidades distintas; tendência a se questionar sobre suas ações e seus desejos, com perguntas como “por que agir de tal maneira? ” ou “o que aconteceria se agisse de outra maneira?”; capacidade de seguir as próprias idéias e ir contra as convenções.
Jesus Cristo tinha todas essas características levadas à perfeição. E como ele é nosso Salvador e Senhor, devemos aprender a ser o mais próximo possível igual ao nosso Modelo. “Mas aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso para as vossas almas”, ensina em Mateus 11.29b.
Esse é o ponto de partida para cultivar a inteligência espiritual em nós mesmo e em nossos queridos. Como pais, lideres e irmãos em Cristo, cabe-nos sempre essa preocupação. Mas será a inteligência do Espírito de Deus em nós igual à preconizada pela autora do livro citado acima? O psicólogo batista Jailton Menegatti diz que não e explica por quê:
“A psicóloga Danah Zohar defende a existência de um “ponto Deus” no cérebro humano e a Bíblia afirma que ao aceitar Jesus Cristo como Salvador e Senhor, o Espírito de Deus faz do corpo do crente o seu templo e começa a transformação da nova criatura”, explica.
Mas Jaiton concorda com o termo “inteligência espiritual”.
– Durante muito tempo, o mundo viveu ma verdadeira obsessão por testes para medir o quociente de inteligência (QI), baseados na compreensão e manipulação de símbolos matemáticos e lingüísticos. Nos anos 90, descobriu-se, no entanto, que QI elevado não era sinônimo de sucesso. Os estudiosos levantaram uma outra ferramenta para medir o sucesso de uma pessoa. Entrou em moda a inteligência emocional (QE), ou seja, ter autoconhecimento, autodisciplina, persistência e empatia, explica o psicólogo.
Agora, o que psicólogos, filósofos e teólogos estão dizendo é que QI e QE podem trazer crescimento profissional e financeiro, mas, para ter paz interior e alegria, o ser humano precisa ter também inteligência espiritual. “Para a autora norte-americana, que não se apresenta religiosa, a inteligência do espírito é a capacidade de encontrar um propósito para a própria vida e de lidar com os problemas existenciais que surgem em momentos de fracasso, de rompimentos e de dor”, acrescenta Jaiton Menegatti.
Para nosso consultor, o melhor exemplo bíblico de um servo de Deus dotado de inteligência espiritual é o rei Davi, aquele que é chamado de o homem segundo o coração de Deus. “Seus salmos são exemplos da fé em Deus acima de qualquer circunstancia, boa ou ruim”.
A inteligência espiritual, também chamada de QS (do inglês spiritual quocient), é a inteligência que leva o ser humano, segundo Zohar, a criar situações novas, a perceber, por exemplo, a necessidade de mudar de rumo, de investir mais num projeto ou de dedicar mais tempo à família. Se é nas crises que o ser humano pode demonstrar o seu QS, foi na maior delas – quando se arrependeu do adultério e do homicídio a partir de uma ilustração contada pelo profeta Nata em 2 Samuel 12 – o rei Davi mostrou que o auge da inteligência espiritual está na sua capacidade de arrependimento. Formada na Universidade Harvard e no MIT (Massachusetts Institute of Technology), Zohar descobriu a importância da inteligência espiritual durante seu trabalho como professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e como consultora de liderança estratégica para grandes empresas como Shell, Philip Morris e Volvo. “Eu estava falando com um grupo de executivos bem-sucedidos, e um deles, com cerca de 30 anos, disse que tinha um alto salário, uma família legal, mas sentia um buraco no estômago. E todos os outros fizeram um gesto com a cabeça, concordando com ele”, contou Zohar.
PROVAS CIENTÍFICAS
Enquanto o QI resolve primordialmente problemas de lógica e o QE nos ajuda a avaliar as situações e a reagir a elas de forma adequada, levando em conta os próprios sentimentos e os dos outros, o QS serve quando nos sétimos num impasse, quando esfrenamos as armadilhas de velhos hábitos ou quando temos problemas co doenças ou sofrimentos. O QS nos mostra que temos problemas existenciais e nos aponta os meios de resolvê-los, explica Zohar. Embora a expressão “inteligência espiritual” só tenha surgido na virada para o século 21, a necessidade humana de encontrar um sentido mais amplo para a vida acompanha o homem desde o seu surgimento, afirma Zohar.
A novidade, agora, é que alguns cientistas americanos estão começando a encontrar evidencias de que o cérebro foi programado biologicamente para fazer perguntas como: “Quem sou?”, “Por que nasci”, “O que torna a vida digna de ser vivida?”. No inicio dos anos 90, o neuropsicólogo americano Michael Persinger e , mais recentemente, em 1997, o neurologista Vilayany Ramachandran, da Universidade da Califórnia, identificaram no cérebro humano um ponto chamado de “ponto Deus” ou “módulo Deus”, que aciona a necessidade humana de buscar um sentido para a vida. Para nós, crentes, a inteligência espiritual não é algo abstrato, uma faculdade do cérebro, mas ela existe é na pessoa de Jesus Cristo, como define tão claramente a Bíblia. “Em Cristo estão escondidos todos os tesouros inexplorados da sabedoria e do conhecimento” (Colossensses 2.3 –BV).
Como é que as crianças adquirem a inteligência espiritual?
Eis uma boa pergunta, e a Palavra de Deus nos ensina que a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus. Quanto mais uma criança ouve a Palavra, mais ela terá um instrumental básico para qualquer grande servo: a fé. Essa qualidade é tão importante que o apóstolo Paulo, ao se despedir, fala que terminou a carreira e guardou a fé comparando-a a um tesouro que tem que ser guardado, do contrário arriscamos a perde-lo.
Para Jailton, em primeiro lugar, é importante que os pais tenham uma boa relação com Deus, distante da culpa. Assim, estarão desenvolvendo na criança a confiança no Pai eterno. “O QS atua no nível emocional, e quanto mais a criança se sentir ameaçada, menos confiança terá em Deus, porque o sentir-se ameaçada tem a ver com a culpa”, explica o psicólogo batista.
Uma passagem bíblica que mostra o coração de Deus e a sua natureza de perdão e graça é a parábola do credor incompassivo (Mateus 18.23-35) para Jailton. “Deus é sempre magnânimo, mas nós, mesmo em relação aos nossos filhos, agimos como credores incompassivos.”
Fé, amor, esperança, perdão, capacidade de arrependimento (diferentemente de culpar-se), humildade, mansidão são manifestações de inteligência espiritual, por isso devem ser desenvolvidas. Jailton Menegatti, contudo, vai mais longe. “O Pai espera de nós o desenvolvimento integral, espírito, corpo e mente, através da educação intelectual, bíblica, o corporal e o emocional. Não podemos dividir o homem”, ensina, “mas uma coisa e certa: manter a comunhão com Deus é básico para cultivar a inteligência espiritual. Jesus vivia em comunhão com o Pai, ele é o nosso exemplo.” E, finalmente, praticar aquilo que Davi ensinou nos seus salmos: “Minha alma espera somente em Deus”