A busca pela fórmula mágica do crescimento instantâneo levou homens a se esquecerem do verdadeiro compromisso com a pregação do Evangelho. Vimos no capítulo anterior alguns líderes que ensinam a adaptar a mensagem aos ouvintes, a fim de agradar a multidão.
Um dos piores problemas do movimento G-12 é o de levar em conta números como sinal do agir de Deus. Essa premissa criou um paradigma crônico no movimento e com a retirada de reuniões que edificam mais o corpo no conhecimento, a maior perda se deu no quesito qualidade.
É bastante tentador ser o líder de uma grande massa (não que eu seja contrário a grandes igrejas), pois a possibilidade ser bajulado, reconhecido pelos homens e exercer bastante poder é muito alta.
Nosso adversário sabe dessas coisas, utilizou dessa técnica contra vários homens e arriscou usá-las contra Jesus. No quarto capítulo do Evangelho segundo escreveu Lucas, lemos que satanás tentou de seus ardis por três vezes contra o Mestre enquanto Ele estava no deserto.
Na primeira tentativa o diabo vendo que Jesus tinha fome, tratou de sugerir que transformasse Seu desejo fisiológico em realidade. É assim que ele age ainda hoje. Percebe que alguns homens têm uma pré-disposição para o materialismo e apenas sugere que esses desejos consumistas sejam colocados em prática.
É assim que a teologia da prosperidade vem ganhando espaço a cada dia em nosso meio, vindo ao encontro das necessidades exteriores do homem.
O “evangelho” do ter é o que faz mais sucesso entre os homens, em detrimento do genuíno Evangelho do ser. Cheguei a questionar, no bom sentido da palavra, esse tipo de mensagem ao meu antigo pastor, mas ele respondeu que com o dinheiro da multidão dá para fazer mais coisas.
Infelizmente muitos estão se vendendo diante do vislumbre financeiro que as maiores entradas de dinheiro podem proporcionar.
Ao invés de dar ouvidos ao tentador, Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem”. O Dr. Hendriksen parafraseou a resposta de Jesus assim: “tentador, você está laborando sobre a falsa premissa de que o pão é absolutamente necessário para que um ser humano sacie sua fome e se mantenha vivo. Ante essa equivocada idéia, eu afirmo agora que não é o pão, mas o poder criador, vivificador e sustentador de meu Pai, a única fonte indispensável para a vida e o bem-estar tanto do homem e quanto meus”.[1]
A segunda tentação (de acordo com Lucas) foi a proposta de dar toda a autoridade e glória dos reinos do mundo que mostrou a Jesus. A maioria dos homens não sabe lidar com a fama e acaba se tornando escravo dela.
Da mesma forma que o sucesso leva para o alto, também destrói o caráter de muitos. Receber a glória dos homens é algo que massageia e cega o ego. Assim, para não se perder posição, o que acaba sendo negociado mascaradamente é o Evangelho. Ainda hoje, o diabo oferece as mesmas coisas: autoridade (poder) e glória (reconhecimento humano).
A resposta de Jesus foi: “Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás”. Alguns podem achar exagero, mas Jesus foi bem claro que não se pode servir a dois senhores, isto é, a Deus e as riquezas.
Já na terceira tentação, o diabo sugere que Jesus provasse o Pai, pois havia uma promessa no Salmo 91 e versículos 11 e 12.
Isso me faz lembrar certo movimento que influencia várias igrejas evangélicas, a Confissão Positiva, o qual, aliás, é bastante difundido pelos gedozistas.
Esse papo de colocar Deus contra a parede e reivindicar o cumprimento de Suas promessas é balela e já fora descartado pelo próprio Jesus há mais de 2000 anos, quando respondeu: “Não tentarás o Senhor teu Deus”.
O Dr. George Peters diz o seguinte acerca do perigo da inversão de valores Quantidade x Qualidade:
O crescimento quantitativo (…) pode ser enganador. Pode não ser mais do que a proliferação de um movimento social ou psicológico macanicamente induzido, uma contagem numérica, uma aglomeração de indivíduos ou grupos, um crescimento de um corpo sem o desenvolvimento dos músculos e órgãos vitais. Talvez se trate de uma forma de cristandade, mas não da emergência do cristianismo verdadeiro. Muitos movimentos que alcançaram os povos no passado, tais como os movimentos comunitários e tribais, foram assim. Um exemplo disso encontra-se nas adesões em massa da Europa, em especial na França e na Rússia quando muitos foram levados ao batismo e trazido para dentro da igreja, resultando em um grande número de pessoas que professam a cristandade, mas não resultando em uma dinâmica, vibrante e crescente e responsável Igreja de Jesus Cristo… Precisamos admitir (…) que, em grande parte a expansão da forma, da profissão e do nome da cristandade manifesta pouca semelhança ao cristianismo definido no Novo Testamento e à igreja retratada no livro de Atos . De muitas formas, a expansão da cristandade veio em detrimento da pureza do Evangelho e da verdadeira ordem e vida cristã. A igreja tornou-se infestada de práticas e crenças pagãs e sincretista em sua teologia (…) Grandes segmentos tornaram-se cristo-pagãos.[2]
Pai de Grandes Multidões
No movimento dos 12 até as músicas são voltadas para o tema multidões.
A pastora Ludmila Ferber, por exemplo, em seu cântico “Multidões”, contido no álbum Nunca pare de lutar, repete o título da canção por várias vezes. Veja um trecho abaixo:
Alarga o espaço da tua habitação
Alarga tua tenda, não impeça o mover de Deus
Porque vem chegando:
Multidões (7 x)
Não pára por aí, o Apóstolo Gilmar Britto, ministro de louvor do MIR também segue o mesmo exemplo, conforme podemos ver a seguir no trecho da canção “Grande multidão” do álbum Gerando Pérolas:
Te chamei pelo teu nome, te ungi pra conquistar
Te escolhi nesta geração, te plantei pra frutificar
Grande multidão (6 x)
Eu serei pai de grande multidão
Quero deixar claro que não tenho nada contra esses dois ministros de louvor, mas apenas analisar como o movimento G-12 inverte os valores bíblicos, levando os líderes a se esquecerem do que é mais importante do que números.
Não adianta se preocupar excessivamente em encher a igreja de membros e deixar de lado a estrutura.
É o mesmo que tentar construir um edifício de trinta andares, com um acabamento de primeira, com as janelas bonitas, elevadores de última tecnologia, um projeto cheio de beleza para os olhos humanos, sem, no entanto, preparar uma base que suportará todo o prédio.
Castellanos não se preocupa com esse fator, antes declara:
Muitos dizem: ‘não me importa a quantidade, senão a qualidade’. Importou a Moisés se o povo contra o qual tinha que ir era pouco ou numeroso, uma vez que tinha sido chamado a conquistar grandes povos.[3]
Ele diz mais ainda:
Só aqueles que se movem guiados por um espírito de conformismo argumentarão que é mais importante a qualidade do crente do que a quantidade em uma igreja.[4]
A visão celular, segundo seu fundador, precisa ser aplicada na íntegra para funcionar, seu sucesso depende dessa implicação.[5]
Este tipo de declaração demonstra como o modelo celular é perigoso, pois exige obediência cega às doutrinas. Uma frase que ouvi por várias vezes no movimento é “não negocio a visão”.
No começo achava essa frase bonita, demonstrava como éramos fiéis à denominação, aos líderes e à própria visão. Mas ela está completamente errada. O que não podemos negociar não é a visão e sim a Palavra de Deus. Infelizmente essa é a posição assumida pela maior parte dos líderes.
Castellanos valoriza tanto a quantidade que até critica os pastores que “lamentavelmente têm poucos seguidores”.[6] É nessa inversão de valores e na adaptação do Evangelho, através do âmago de querer ser grande que, as multidões realmente vêm.
As religiões orientais são bastante atrativas por causa da maneira pela qual tratam as pessoas, usando de técnicas psicológicas de auto-ajuda. “Você é grande. Você é importante. Você é… Você é… Você.. Você.”. Temos até pregadores “evangélicos” sugerindo que somos deuses. Desta forma, multidões têm vindo, mas não necessariamente se convertendo dos seus maus caminhos.
A primeira vez em que foi sugerido ao homem ser um deus, está relatado em Gn 3.5: “Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”, disse a serpente.
O Bispo Earl Paulk, falecido em 2009, foi um dos fortes representantes do movimento neo-pentecostal e pastoreou uma das primeiras mega-igrejas independentes dos EUA.
Dentre suas várias controvérsias, ele chegou a afirmar em uma de suas obras que “Até que compreendamos que somos pequenos deuses e comecemos a agir como pequenos deuses, não podemos manifestar o reino de Deus”.[7]
Como alguns líderes não se preocupam com a qualidade dos frutos e ainda interpretam que estes estão ligados a quantidade, Paulk chegou a tornar-se referência internacional, em função do sucesso numérico.
O movimento de adaptação do Evangelho visa tão somente encher seus templos, pois além do resultado numérico há o retorno financeiro.
Paulk também defendeu a teologia da inclusão gay e embora isso tenha trazido sérias críticas a seu ministério, continuou a ser referência para muitos.
No G-12, a cobrança pelo cumprimento das metas, tem levado as pessoas ao antinomianismo. Várias pessoas vem para a denominação, tornam-se 12 de alguém, são batizados independentemente da maneira como estão vivendo (fumantes, casais amaziados, etc) e entram para o hall de membros.
Entenda, caro leitor. Todas as pessoas são chamadas para o Evangelho e devem vir a Cristo com estão, mas “se alguém está em Cristo, Nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Isso significa que nossas igrejas estão abertas para o homossexual, para o idólatra, para o ladrão, para a prostituta, enfim, para quem quer que seja, mas que devemos pregar a Palavra viva do nosso Deus, a qual gera homens e mulheres mudados, ex-homossexuais, ex-idólatras, ex-ladrões, ex-prostitutas, ex-mundanos, homens e mulheres regenerados, isto é, nascidos de novo.
O bom cristão não se conforma com o mundo, mas possui uma nova mente, transformada e renovada, a mente de Cristo (Rm 12.2; 1 Co 2.16).
Ante essa fome pelos números, pela multidão, vemos o próprio Jesus ensinando acerca do verdadeiro camimho que conduz à salvação. Ele mostra que existe um largo, através do qual muitos são os que passam por ele.
Todavia, o verdadeiro caminho, é estreito, apertado, mas conduz à vida e poucos são os que seguem esse trajeto (Mt 7.13,14). Não invertamos os valores; negociemos visões humanas e não abramos mão de seguirmos a Palavra que é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos.
[1] HENDRIKSEN, Willian. Comentário do Novo Testamento – Lucas, Volume I. Cultura Cristã. São Paulo, 2003, p. 321.
[2] PETERS, George. A theology of Church Growth. Grand Rapids, Michigan. Zodervan, 1981, p. 23-24.
[3] CASTELLANOS, César. Liderança de Sucesso Através dos 12. Palavra da Fé Produções. São Paulo, 2000, p. 156.
[4] CASTELLANOS, César. Sonha e ganharás o mundo. Palavra da Fé Produções. São Paulo, 1999, p.68.
[5] CASTELLANOS, César. Liderança de Sucesso Através dos 12. Palavra da Fé Produções. São Paulo, 2000, p. 225.
[6] Ibid. p. 197.
[7] PAULK, Earl. Satan Unmasked, 1984, p. 97.
Extraído do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto